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Dia do professor

Clotilde Tavares | 15 de outubro de 2009
Dando aula. 1999.

Dando aula. 1999.

De todas as coisas que faço e fiz na vida, e eu garanto que são muitas, talvez a que goste mais de fazer seja ensinar. Ensinar, dar aulas, para mim, é uma das atividades mais importantes a que uma pessoa pode se dedicar. Não é simplesmente ensinar uma técnica, ou passar um conhecimento qualquer. Para mim ensinar é compartilhar experiências. Esse processo é uma coisa tão rica, tão fermentadora de novas idéias, de novas visões, de novos e maravilhosos insights, nos arremessando sempre a um nível mais elevado de existência, que não compreendo como é que ainda não existe a terapia do ensino.

Para mim, a sala de aula sempre funcionou como uma experiência quase transcendental de relação com o outro, de comunhão através das idéias. Por mais chateada, doente, ou estressada que estivesse, ao entrar na sala de aula sempre experimentei uma grande felicidade, e essa é uma das grandes perdas que eu tive com a aposentadoria. Procuro contrabalançá-la dando palestras aqui e ali, me comunicando com os jovens, mantendo viva a cpacidade de aprender/ensinar.

Palestra. 2007.

Palestra. 2007.

Como professora que fui/sou desde a minha juventude, penso que ninguém ensina nada a ninguém. As pessoas aprendem quando estão motivadas para isso e acho que essa é a verdadeira função do professor: motivar seus alunos a experimentarem a aventura do conhecimento. Eu gostava de dizer que meu objetivo como professora era “plugar” o meu aluno no Universo, coisa que a maioria não consegue fazer sozinho. Quando eu conseguia com que ele “se ligasse”, o trabalho estava feito, e daí em diante era só orientar a leitura, compartilhar experiências e conhecimentos, e ver o milagre daquela mente jovem descobrindo o Mundo.

Com alunos. 2006

Com alunos. 2006

Sempre tive dedicação integral aos meus alunos. Sempre acreditei que, como o professor de natação, qualquer professor não pode ficar na borda da piscina: tem que cair na água junto com o discípulo, e sempre estar disponível quando ele precisar. Aqueles que foram meus alunos e que lêem essas linhas sabem o que estou dizendo e é com prazer que os encontro no cotidiano, aqui e ali, já profissionais, e fico feliz de saber que contribuí para a construção daquele ser humano tão especial.

Como falei no início, ensinar é uma coisa tão rica e tão excitante que não sei como os médicos ainda não inventaram a terapia do ensino. Está estressado, doente, entediado, ansioso, angustiado? Dedique-se a ensinar a alguém qualquer coisa que você saiba fazer, qualquer conhecimento que você domine. Seja lá o que for, compartilhe com alguém. Garanto que você vai se sentir muito melhor.

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A música das manhãs

Clotilde Tavares | 14 de outubro de 2009

Acordei com a obrigação de enviar a minha coluna para o jornal, mas sem saber direito o que ia escrever. Em busca de inspiração, liguei a TV e o canal que estava sintonizado era um daqueles que passam filmes antigos. Em preto e branco, um musical daqueles em que os homens usam paletós com ombreiras largas e os vestidos das mulheres têm saias rodadas; os personagens estão conversando e de repente começam a cantar como se fosse a coisa mais natural do mundo – e é, nesses filmes.Uma das canções era “A música das manhãs”, onde o personagem, entregando leite de porta em porta, canta os sons matinais da cidade.

O caso é que acordamos sempre atrasados, correndo para o trabalho, tendo de deixar antes as crianças na escola, além de outras obrigações e terminamos por ficar surdo ao mundo que, junto conosco, desperta à nossa volta. Acredite, meu caro leitor, que é possível distinguir entre o ruído dos carros nas avenidas apinhadas, o cantar dos passarinhos e o rumor do vento nas folhas das árvores. Para mim, que não saio de casa de manhã, a música da manhã tem os bem-te-vis cantando e o vento na palmeira em frente à minha janela; como uma grande avenida está a menos de trinta metros, carros e ônibus se juntam à sinfonia, encarregados dos tons graves. Uma moto acelera na esquina, e a campainha do colégio no outro quarteirão chega aos meus ouvidos.

chaleira_vaca-709205Dentro do prédio, os pedreiros já começaram o trabalho no apartamento do final do corredor; ao longe, ouço o ruído surdo da porta do elevador quando alguém a deixa bater, e o portão eletrônico de saída dos carros toca sua rumba rascante, rolando sobre o trilho. Um flautim agudíssmo sobrepõe-se a tudo: é o apito da chaleira avisando que a água está pronta para ser despejada sobre o pó do café, já pronto sobre a garrafa, e o tlim-tlim do forno de microondas me diz que o pão está quentinho e o queijo deliciosamente derretido.

Uma voz forte de homem predomina agora: é o vigia do prédio em frente, falando com alguém; um cão late; e o ventilador, já velho, com defeito e ligado a esta hora, marca o tempo com seu estacato seco e duro, pois mesmo cedo o calor já é grande.

Esta é a música das manhãs, e este concerto de sons me traz a certeza de vida. Ouço, logo existo, e existo feliz nesse mundo variado, bom de viver, porque é o único mundo que conheço. Para completar, o recado de mais uma canção do filme, ingênuo e tolo, mas que me deu o assunto de hoje: “Entregue-se a esse gigante gentil chamado Amor… “

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Cappela degli Scrovegni

Clotilde Tavares | 13 de outubro de 2009

Existe na Itália, na cidade de Pádua, uma pequena capela decorada com pinturas de temática religiosa que é uma das obras primas da Humanidade. É a Cappella degli Scrovegni, trabalho sem igual da pintura do século XIV, ou “Trecento” italiano, realizado por Giotto e considerado o ciclo mais completo de afrescos realizado pelo grande mestre toscano na sua maturidade.

Tais pinturas exerceram uma influência marcante em todo o desenvolvimento da arte pictórica não somente na Itália mas também em outros países da Europa pela cor, pela luz, pela inovação da representação em perspectiva e pelos sentimentos que despertam em quem contempla essas cenas sagradas.

Foi construída pelo rico banqueiro italiano Enrico Scrovegni em 1303, anexo ao palácio da família, com a intenção de salvar das chamas do inferno o seu pai, um agiota, morto há pouco tempo. Nessa época, Giotto já era um artista célebre: havia trabalhdo para o papa na Basílica de São Francisco em Assis, em São João de Latrão em Roma, e em Pádua na Basílica de Santo Antonio e no Palácio Comunal. Ao encomendar a obra, o banqueiro pediu a Giotto para representar uma sequência de histórias do Velho e do Novo Testamento, culminando com a morte e a ressurreição do Filho de Deus e o Juízo Final, com o objetivo de levar os visitantes que penetravam na capela a meditarem sobre o sacrifício de Cristo para salvar a Humanidade.

Concluído em apenas dois anos, o ciclo pictórico da capela é dividido em três temas principais: os episódios da vida de Joaquim e Ana (pais da Virgem Maria) e os acontecimentos da vida e morte de Cristo. Além disso, há ainda uma série de pinturas que ilustram alegoricamente os Vícios e as Virtudes, culminando com a representação do Juízo Final.

No século 19 o patrimônio foi abandonado e começou a se deteriorar. As pinturas se esfarelavam e se transformavam em pó, correndo risco de destruição total. A Prefeitura da cidade de Pádua interveio e tombou a construção, mas as restaurações realizadas não obtiveram êxito. Finalmente, as modernas tecnologias mobilizadas conseguiram, no ínício do ano 2000, estabilizar o monumento, impedir a deterioração e, em seguida, realizar a restauração.

Atualmente, a Cappella degli Scrovegni está restaurada com suas vívidas cores originais e aberta à visitação pública, mas de uma forma muito especial: quem quiser visitá-la precisa agendar essa visita com antecedência, e são permitidos apenas 25 visitantes de cada vez no seu interior. Antes de entrar no recinto da capela propriamente dita, a pessoa deve permanecer por 15 minutos numa sala especial para estabilização do microclima interno; somente então pode ser admitido no recinto da capela propriamente dita, onde não pode permanecer mais de 15 minutos.

Fora isso, o visitante pode ter acesso a uma sala multimídia onde, através de vários instrumentos de informação – videos, imagens, reconstrução virtual – toma conhecimento detalhado das pinturas, do trabalho de Giotto e do contexto no qual ele produziu suas obras. O preço da visita é de 12 Euros e é possível agendar através do site oficial do monumento.

Quando vejo essas coisas, além da paixão que me move pela Arte daquele período, vem imediatamente à minha lembrança o costume do nosso público de entrar nos teatros, muitas vezes seculares, portando refrigerantes e salgadinhos, ou de reclamarem quando em outros locais se proíbe a etnrrada com qualquer tipo de alimento. Retornam à minha mente cenas que já vi, de pessoas esfregando o dedo em quadros expostos em museus, colocando os pés em cima das cadeiras nos teatros, vandalizando, destruindo, contaminando, uns por ignorância e falta de educação, outros pelo prazer de destruir.

Ainda estamos muito distantes dos visitantes da capela italiana, que se submetem a ficar durante quinze minutos trancados em uma sala climatizada com a finalidade de equilibrarem a temperatura de seus corpos para que a umidade gerada não danifique as obras de arte!

Penso que a nossa caminhada na construção de um comportamento civilizado é muito longa ainda, meu caro leitor, mas tenho esperança de que um dia chegaremos lá.

Aproveite e veja o video sobre a Capela.


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Ventiladores

Clotilde Tavares | 4 de outubro de 2009

Estava eu sem assunto no dia de hoje. Aí, no meio do calor, fiquei assim olhando para o circulador de ar que torna a minha vida suportável e, zapeando pelos sites, encontrei esses ventiladores para refrescar o seu domingo.

Em forma de galo…

De paisagem, com bonequinho Hello Kitty…

Mais um Hello Kitty…

Esse para colocar na aba do boné…

Este com mensagem…

E finalmente a felicidade do cachorrinho desfrutando o vento!

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Telefone

Clotilde Tavares | 5 de setembro de 2009

Alguns modelitos interessantes.

Antigamente, todos eles eram assim.

Antigamente, todos eles eram assim.

Depois o design foi se modificando. Esse é bem anos 60.

Depois o design foi se modificando. Esse é bem anos 60.

Ficaram coloridos...

Ficaram coloridos...

Engraçados...

Engraçados...

Esquisitos...

Esquisitos...

Salvos de contaminação humana...

Salvos de contaminação humana...

Alinhados...

Alinhados...

... e objeto do desejo desta que vos tecla. Eu quero um desse!

... e objeto do desejo desta que vos tecla. Eu quero um desse!

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Com certeza

Clotilde Tavares | 31 de agosto de 2009

Nessa nossa época de muitos meios de comunicação, tudo se propaga com a maior rapidez. E, de repente, coisas estranhas e às vezes sem sentido ou sem fundamento passam a ser incorporadas ao nosso comportamento ou à nossa linguagem, sem que a gente saiba direito porque isso acontece. Não é culpa nossa, nem é porque somos colonizados, ou coisa que o valha. Isso se dá pelo imenso poder que têm os meios de comunicação de impregnar nossos sentidos, invadir nossa cabeça, e tal coisa acontece mesmo quando somos bem informados e temos consciência do processo. Avalie quem não toma consciência disso! Repete e macaqueia sem nem sequer saber o que está fazendo.

Quer ver? Pense nas coisas que a gente diz quando fala. Refiro-me às expressões que muitas vezes são puramente regionais, como o clássico “É ruim!”, que é a cara do carioca. O “É ruim!” fica absolutamente sem sentido quando pronunciado sem a entonação correta, que só o carioca “da gema” sabe dar. Então, um nordestino dizendo “É ruim!” é tão estranho quanto um carioca dizendo “Oxente!” Mas, e daí? A gente termina dizendo, mesmo com o sotaque errado, mesmo sem saber direito o sentido, porque a gente ouve na novela, e termina incorporando ao nosso falar.

Há também as expressões que substituem o pensamento. Tenho um amigo que tudo que a gente pergunta ele responde: “Sóóóóóóó…” “E aí, Fulano, vai à praia?” E ele: “Sóóóóóóó…” “Gostou da música nova da banda Tal?” E ele: “Sóóóóóóó…” O “Sóóóóóóó…” do meu amigo, assim com esse “óóóóóóó” comprido e acompanhado de um olhar enviezado e preguiçoso é como se o dispensasse de pensar na pergunta que está sendo feita, liberando seus neurônios para outras atividades que só ele sabe. Esse “Sóóóóóóó…” é mais ou menos igual ao “Hum-hum…” com o qual algumas pessoas respondem a tudo, quando não querem responder. Conheço muita gente que faz isso e tem horas em que eu perco a paciência e pergunto: “Hum-hum é sim ou não?” Pois é.

talking-through-micMas, para mim, a praga das pragas é o famigerado “Com certeza”. Ora, minha gente! “Com certeza” quer dizer exatamente isso: com certeza. Você vai sábado para a festa? Com certeza. Ou seja, vou para a festa sim, é certo que eu vá. Mas hoje, usa-se o “Com certeza!” para tudo. Ligue a TV e veja as pessoas sendo entrevistadas nas ruas: “O que a senhora acha dos juros da casa própria?” “Com certeza. Os juros estão muito altos.” ou “Você vai fazer vestibular para qual curso?” “Com certeza, para o Curso de Medicina”, ou ainda “O que você acha da política com toda essa sujeira que está acontecendo?” “Com certeza. Acho que vou votar nulo no próximo ano.”

Uma praga, uma pobreza, uma simplificação burra da linguagem, um vírus que corrói nossa forma de expressão, nos tornando mais pobres verbalmente e atrofiando cada vez mais nossa capacidade de pensar. Com certeza.

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Meio que sem tempo

Clotilde Tavares | 29 de agosto de 2009

As coisas às vezes nos atropelam e bagunçam com nosso planejamento.

Por isso, ando sem tempo de blogar.

Para você não perder a viagem, a visão de sonho do castelo de Chantilly, na França, onde eu queria estar agora, deitada numa daquelas camas com dossel de veludo vermelho, cochilhando na obscuridade, só na preguiça; ou tomando um chá numa porcelana de Sévres com croissants fresquinhos numa das varandas.

Castelo de Chatilly, França

Castelo de Chantilly, França.

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Marte, a Lua e a mamografia

Clotilde Tavares | 25 de agosto de 2009
Impossível!

Impossível!

Depois de amanhã, na noite de 27 de agosto, muita gente vai ficar de olhos pregados no céu por toda a madrugada atendendo a um boato que se espalhou pela Internet. A notícia – que todo ano chega às nossas caixas de e-mails e é repassada por gente crédula – é de que Marte vai surgir no céu quase do tamanho da Lua, em virtude de nesta data o planeta se encontrar na sua maior aproximação com a Terra. A notícia diz ainda que tal evento teria ocorrido pela última vez há quase sessenta mil anos e que o fenômeno só se repetirá daí a outros tantos anos.

Não há terreno mais propício à disseminação de boatos e maluquices do que a Internet. Tudo que ali (aqui) se coloca se espalha em progressão geométrica, principalmente – e muito curiosamente – se for algo ilógico e difícil de acreditar por pessoas que tenham o mínimo de sensatez. Toda semana sai um boato diferente, e quanto mais estranho e inverossímel for, mais rapidamente se espalha. As pessoas acreditam por uma simples razão: não usam o bom senso, não refletem sobre o que lêem, acreditam em tudo que lhes dizem e que lhes chega por e-mail.

Assim é mais razoável...

Assim é mais razoável...

Essa história de Marte, por exemplo. Para que o planeta vermelho pudesse aparecer do tamanho da Lua no firmamento, ele teria que estar tão perto que a interferência da sua gravidade sobre os oceanos terrestres causaria cataclismas que deixariam o tsunami da Tailândia no chinelo. É só conhecer o conceito da atração gravitacional que as massas exercem umas sobre as outras e ter noção das massas da Terra, de Marte e da Lua, coisas que, aliás, todo mundo aprende nos primeiros anos da escola e que até eu – que já passei da idade de ter obrigação de me lembrar das coisas – ainda me lembro.

A explicação científica deixo por conta dos pesquisadores do céu, que fui buscar no site do INPE. Eles explicam: “O tamanho aparente (no céu) de Marte varia de 3,1 segundos de arco a 25,1 segundos de arco, devido à variação contínua de sua distância à Terra. Por outro lado, o tamanho da Lua no céu é, em média, de 30 minutos de arco.” (Lembrem-se de que um grau equivale a 60 minutos de arco ou 3.600 segundos de arco, coisa básica de primeiro grau). “Isto significa que, mesmo em sua máxima aproximação da Terra, o planeta vermelho ainda continua sendo mais do que 70 vezes menor do que a Lua no céu.”

O site Quatrocantos também explica o fato, em linguagem mais acessível.

Achei aqui.

Achei aqui.

Finalmente isso me faz lembrar um trote que teria sido dado em Portugal. Foi notícia do jornal “O Globo”. Diz a matéria: “A ciência tem avançado tão rapidamente que algumas pessoas começam a exagerar na credulidade em relação ao alcance da tecnologia. O jornal português “Correio da Manhã” disse que dezenas de mulheres de São Bartolomeu de Messines tiraram a parte de cima da roupa em quintais, varandas, janelas e até mesmo na rua para fazer exame de “mamografia via satélite, pelo raio laser”. Em reportagem intitulada “Mamas ao léu”, o jornal garantiu que as portuguesas foram convencidas a tirar a roupa por uma mulher que, por telefone, se identificava como médica e elogiava as vantagens da “nova tecnologia de mamografia por satélite”. Para que se submetessem ao novo exame, a suposta médica afirmava, segundo o “Correio da Manhã”, que elas precisavam apenas ficar “num local visível”, de onde o “satélite as pudesse captar”.

Tudo não passou de um trote, é verdade, motivado apenas pelo pouco uso do bom senso e pelo desejo de acreditar e prodígios e fatos miraculosos. E, pelo visto, a epidemia desse tipo de trote apenas começou.

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Dia Internacional do Folclore

Clotilde Tavares | 22 de agosto de 2009

Uma das coisas de que eu mais gostava na minha meninice era quando Mamãe me levava para os pequenos lugarejos perto de Campina Grande, no domingo, para ver as corridas de argolinha. Lugares como São José da Mata, Pocinhos, Lagoa Seca, todos pertinho de Campina, ainda tinham esse divertimento tradicional que misturava habilidade, destreza, tradição e um pouco de romance.

Corrida de argolinha em Janduís-RN

Corrida de argolinha em Janduís-RN

Para quem não sabe, a corrida de argolinha tem sua origem nos antigos torneios medievais, quando os cavaleiros demonstravam suas habilidades no manejo da lança, montados em seus corcéis. Consiste em um arco, ou poste todo enfeitado de papel colorido, do qual pende amarrada por um barbante uma pequena argola, do tamanho de um anel, que deve ser retirada com a ponta da lança pelo cavaleiro em disparada. A argola é então presenteada a alguma moça com a qual o moço simpatize.

Segundo Cascudo, que dedica à corrida de argolinha um dos verbetes do seu insubstituível Dicionário do Folclore Brasileiro, o divertimento aparece no Brasil inteiro desde o século XVI, em pontos variados do seu território, mantendo praticamente as mesmas características, sendo uma “sobrevivência” das justas travadas na Idade Média.

Era assim que a argolinha se apresentava para mim na infância. Nos dias de festa, as corridas tomavam um aspecto mais tradicional, com cavaleiros vestidos de branco e divididos em times nas cores azul e encarnado (porque no interior não é vermelho: o nome é “encarnado”). Mamãe, minha primeira professora de folclore, explicava: os azuis são os cristãos e os encarnados são os mouros, os pagãos, que não acreditam em Deus. Mesmo assim com essas explicações ela torcia pelo encarnado “porque era uma cor mais bonita” e eu torcia também, e torço até hoje.

Era uma beleza de se ver aqueles rapazes enormes em cima dos poderosos cavalos – era assim que me parecia, na pequenez dos meus cinco, sete anos de idade. Eles disparavam deixando atrás de si rolos de poeira, os cavalos em tropel tirando lascas do solo, a comprida lança de madeira enfeitada de fitas, mirando algo tão pequeno que eu não conseguia enxergar de onde estava. E depois lá ia o herói, suado, no resfolego da montaria, entregar à namorada a pequena argola dourada.

Com este registro quero hoje, 22 de agosto, Dia Internacional do Folclore, louvar todos os que fazem a cultura popular: artistas, brincantes, artesões, e demais agentes que, de forma rica, profunda e tradicional trasmitem arte, cultura, conhecimento, práticas e saberes. Também faço esta louvação aos pesquisadores – entre os quais me incluo – que fazem por onde a cultura popular seja valorizada, que a estudam, documentam e refletem sobre ela.

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O poder de síntese da poesia nordestina

Clotilde Tavares | 21 de agosto de 2009

Uma coisa que sempre me surpreende na poesia popular nordestina é a capacidade de síntese dos poetas. Em poucas palavras, arrumadas em um estrofe de seis linhas conhecida como sextilha, o poeta consegue expressar de forma completa um pensamento, um sentimento, uma idéia ou até mesmo resumir uma história.

Veja, por exemplo, a primeira estrofe do folheto de cordel “O Pavão Misterioso”, da autoria de José Camelo de Melo Rezende, folheto esse que deve ter sido publicado nas primeiras décadas do século XX:

“Eu vou contar a história
De um pavão misterioso
Que levantou vôo da Grécia
Com um rapaz corajoso
Raptando uma Condessa
Filha de um conde orgulhoso…”

Apenas com uma estrofe o poeta situa a história, transmite o clima de aventura e perigo e introduz o conflito da trama, que se estabelece entre o rapaz e o conde, em disputa pelo amor da Condessa; de quebra, caracteriza os personagens, atribuindo coragem ao rapaz, orgulho ao conde e beleza à tal condessa, é claro, que ninguém vai se dar ao trabalho de raptar mulher feia.

Quer outro exemplo? Pergunte a qualquer pessoa quais são as três piores coisas do mundo, e peça para explicar por que. Nove entre dez mortais vão passar uma hora explicando e gastando palavras. O poeta não. Veja essa décima (estrofe de dez linhas) atribuída a Louro Branco que responde à sua pergunta:

“Um grande sábio profundo
Me perguntou certa vez
Se eu conhecia as três
Piores coisas do mundo
Lhe respondi num segundo
E lhe dei explicação:
– Doido, mulher e ladrão.
Doido não tem paciência
Ladrão não tem consciência
E mulher não tem coração.”

Sintético, enxuto, exato, na medida. Uma estrofe perfeita.

Outra da qual gosto muito é uma sextilha atribuída ao poeta pernambucano Antonio Marinho, sogro do não menos famoso vate Lourival Batista, dos Batistas de São José do Egito. Sobre a saudade, fala Antonio Marinho:

“Quem quiser plantar saudade
Escalde bem a semente
Plante num lugar bem seco
Quando o sol tiver bem quente
Pois se plantar no molhado
Ela cresce e mata a gente.”

A quem estiver estranhando essa coisa de “atribuído a…” explico que na poesia popular essa questão de autoria é assim mesmo meio nebulosa, meio confusa, meio incerta. Para não errar, prefiro dizer que o verso é “atribuído a” do que fechar questão quanto ao autor.

Outro primor da síntese é uma estrofe que escutei por aí, da qual não sei o criador:

baralho(1)

“O baralho tem quatro ás
Quatro dois e quatro três
Quatro quatro e quatro cinco
Quatro nove e quatro seis
Quatro oito e quatro sete
Quatro dez, quatro valete
Quatro dama e quatro reis.”

Não poderia concluir este registro sem falar em Rosil Cavalcanti, compositor genial de obras musicais como “Sebastiana”, “Tropeiros da Borborema”, e tantas outras. Basta dizer que Rosil foi aceito na Academia de Letras de Campina Grande apenas pelas suas letras, apenas pelas suas composições, sem nunca haver escrito um livro. A cadeira do qual foi patrono e fundador foi depois ocupada por meu pai, o jornalista e poeta Nilo Tavares, coisa que muito nos gratificou. Rosil Cavalcati é o autor de “Moxotó”, cuja letra é um verdadeiro e estudo sociológico da região que ele descreve na canção, com todas as suas características geográficas, econômicas, antropológicas e sociais:

“Você precisa conhecer uma terra boa
Você precisa conhecer o Moxotó
Pra ver o cabra entrar no mato encourado
Derrubar touro montado
Pegar cobra e dar um nó.
Lá tem vaqueiro que emborca no carquejo
Quebrando arapiraca
Tem sim senhor
Tem caçador que pega onça de mão
E sangra de faca
Tem sim senhor
Tem fazendeiro que morre e não sabe
Quantas reses tem
E tem morena de fala doce e amena
Que em outra terra não tem
Isso também tem…”

Oitenta palavras e toda a região passa como um filme, à sua frente! Genial.

Lagoa do Puiú, município de Ibimirim-PE, em pleno Moxotó, onde meus parentes ainda habitam, criam e cultivam.

<br>
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