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Ouviram do Ipiranga

Clotilde Tavares | 7 de setembro de 2009

O povo heróico, cujo brado retumbante foi ouvido um dia às margens plácidas do Ipiranga, anda cansado. Heróico, mas cansado, oprimido e estarrecido em meio aos escândalos que superaram o nonsense bigbrotheriano na TV, em meio ao custo de vida sempre crescente, aos impostos mais altos, e à violência das grandes cidades. O brado nem retumba mais: o que retumbam são os disparos nas madrugadas, nas cidades sitiadas pela violência. As margens também não são mais tão plácidas, porque os rios estão sendo assoreados pelo desmatamento ou mergulhados na lixívia da poluição.

Quanto ao sol da liberdade, seus raios fúlgidos persistem em brilhar no céu da Pátria mas não para todos, uma vez que há muitos vivendo na escuridão dos casebres, favelas, cabeças-de-porco e outros tipos de habitações sub-humanas. Há ainda a escuridão do analfabetismo, da ignorância e da brutalidade em que muitos vivem mergulhados. Os braços outrora fortes que conquistaram o penhor dessa igualdade estão cansados de lutar sem ver nenhum resultado, e o nosso peito, que desafiava a morte no seio da liberdade, está fraco, combalido, quase mudo.

Mas ainda te amamos, Pátria. E queremos que te salves, salve, salve!

Ah, Brasil! Do teu formoso céu, risonho e límpido, onde resplandece a imagem do Cruzeiro, desce à terra um sonho intenso, um raio vívido de amor e de esperança. És tão grande, tão enorme, de uma natureza tão rica e tão grandiosa, colosso impávido, tão belo, tão forte! Será que o teu futuro vai espelhar esta grandeza? Minha terra adorada, minha Pátria, gentil mãe dos filhos deste solo, meu Brasil… Será, Brasil, que estás te preparando para esse futuro, que deverá um dia espelhar tua grandeza? Será que já não permaneces há muito tempo deitado em berço esplêndido, ouvindo o marulhar das ondas e perdido na contemplação do céu profundo, fulgurando como verdadeiro florão da América iluminado ao sol do Novo Mundo?

Tuas terras não são mais tão garridas, invadidas pela grilagem e pela especulação, enquanto as flores dos teus campos foram calcadas pelos pés daqueles que não têm terra para nela morar e trabalhar. E onde está a vida dos nossos bosques, contrabandeada em gaiolas para o estrangeiro, que vive e registra nossos produtos como sendo deles, que se alimenta e enriquece às custas da apropriação da nossa biodiversidade? Nossa vida, que em teu seio deveria ser repleta de amores, está cada vez mais farta em suores e cansaço na dura labuta que nos fornece apenas o pão de cada dia, o duro catre para o repouso e uma existência sem perspectivas.

Mas continuamos te amando, Pátria idolatrada. Mesmo que seja cada vez mais difícil ver como símbolo de amor eterno tua bandeira, que ostentavas com orgulho cheia de estrelas, e o verde e ouro que prometia paz no futuro e glória no passado. Essa bandeira que serve de pano de fundo para as solenidades oficiais, onde figurões engravatados e desonestos simulam governar para o povo e em nome deles, mas fazem a clava forte da justiça se erguer apenas em defesa dos ricos e poderosos. Teus filhos estão quase sem energia e disposição para irem à luta, temerosos da morte e do esquecimento, e acham que a batalha não vale a pena pois estão certos de que estarão dando a vida por uma ficção, uma miragem, uma figura de linguagem.

Ah, terra adorada! Entre outras mil, és tu, Brasil? Ó Pátria amada, serás mesmo mãe gentil dos filhos deste solo? Pátria amada? Brasil?


Este texto foi escrito e publicado no dia 7 de setembro de 2005, na Tribuna do Norte/Natal-RN. Como continua atual, publico novamente.


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7 de setembro, Brasil, hino nacional brasileiro, Independencia do Brasil, Independencia ou morte, patriotismo
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