O “meu” banco?
Clotilde Tavares | 30 de julho de 2010Hoje fui protagonista de uma aventura que muitos brasileiros fazem todo dia: fui ao banco pagar uma conta. Mais precisamente na agência do Natal Shopping, onde cheguei às 13h31 e fiquei na fila do atendimento por mais de uma hora e meia, tendo admitida à boca do caixa ás 15h05.
Tudo estaria normal se na minha cidade – Natal/RN – não existisse uma lei municipal que prevê que o tempo máximo que o cidadão deve permanecer na fila é de meia-hora. Meia-hora, meu caro leitor. TRINTA minutos. E hoje eu gastei exatamente NOVENTA E QUATRO minutos para chegar à boca do caixa, isso mesmo porque, como pessoa idosa, tenho direito a atendimento preferencial. Avalie quem tem menos de 60 anos o que não deve sofrer naquele banco.
Cerca de oitenta pessoas estava na agência, e esse número se manteve praticamente constante durante o tempo em que estive lá. Havia umas 50 cadeiras, e muita gente de pé, incluindo gente mais velha do que eu.
Quando passou da meia-hora, liguei para o Procom. O atendente perguntou meu nome, registou a reclamação e disse que a fiscalização estava indo para o banco. Isso foi às 14 horas, mas saí de lá 15h30, depois que fiz os meus pagamentos, e não vi fiscalização nenhuma chegar.
Nunca fiz reclamação ao Procom, por isso não sei qual é o “protocolo”. Hoje, fiquei insatisfeita por não ter retorno da minha demanda. Liguei para lá de novo, e o atendente – era outro – me disse que a fiscalização não tinha condições de atender a todos os chamados – o que é razoável; e que se eu quisesse podia ia lá registrar a queixa.
Fiquei sem saber se o banco vai ser multado ou não. Fiquei sem saber se a fiscalização foi lá ou não.
Era apenas três caixas funcionando no Banco, numa agência sempre muito movimentada e no último dia do mês.
Queixei-me à funcionária do caixa que me atendeu a respeito da demora e invoquei a lei do atendimento em meia hora. Com muita delicadeza ela me informou que “a pessoa que fez a lei nunca havia sido caixa de banco”, o que me lançou em profundas reflexões sobre o ato de legislar. Então só homicidas podem fazer leis sobre homicídio?
Outra coisa que a gentil funcionária me informou foi que eu “havia ido ao banco num dia ruim, o último dia do mês”. Eu contrapus que a lei não dispõe sobre isso; que não há nenhum artigo sobre a exigência dos trinta minutos ser dispensada no último dia do mês. Finalmente ela disse que isso – a demora no atendimento – só acontecia porque as pessoas não usavam as máquinas que o banco tão generosamente colocava à disposição de todos.
Ainda levantou a possibilidade – tudo com muita gentileza – de que talvez eu pudesse ter usado as máquinas para o pagamento que eu ia fazer. Eu, também muito gentilmente, mostrei a ela o aviso impresso no DARF que eu estava apresentando no caixa. Como eram impostos atrasados, eu era OBRIGADA a pagar na boca do caixa.
Do episódio todo, fiquei com as seguintes impressões:
– O Procom atende com gentileza mas a gente fica sem saber se a queixa surtiu efeito ou não.
– Não sei se há site do Procom na Internet no qual eu possa reclamar. O atendente não me informou.
– A funcionária do Banco, sempre com muita gentileza, procurou argumentar comigo como se eu fosse uma débil-mental.
– Não adianta de nada este banco abrir na tela do meu computador dizendo que é “o banco da Clotilde”. Não é mesmo! Como poderia ser, tratando-me assim?
– Perdi duas preciosas horas da minha vida, roubadas ao trabalho que estava fazendo.
– Das cerca de oitenta pessoas que estavam na agência, a não ser eu, nenhuma reclamou, e também eu não encontrei solidariedade de ninguém na hora que reclamei. As pessoas desviaram o olhar quando eu reclamei em voz alta.
– Enquanto todo mundo ficar calado e não reclamar, nada vai mudar. Eu fiz – e faço – a minha parte.
Tenho os comprovantes de atendimento fornecidos pelo Banco, com os horários discriminados, para comprovar tudo o que afirmei aqui.