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Alguns usos do livro

Clotilde Tavares | 11 de julho de 2023

Usos do livro? Como assim, pergunta você, meu razoável e esclarecido leitor. Livro é uma coisa que tem somente um uso, e que se resume à leitura do seu conteúdo. Você entende a importância da leitura, sabe que o livro é um veículo adequado à transmissão e à propagação do conhecimento; que é um objeto que tem muitas características, quanto a tamanho, aparência, número de páginas, e aos diferentes conteúdos, mas uso mesmo você não consegue imaginar outra coisa para fazer com o livro a não ser lê-lo, ou ignorá-lo, se for o caso em que o conteúdo não lhe desperte interesse. Nesse caso, coloca-se o livro em algum lugar e esquece-se dele.

Agora em abril contei os livros que tenho em casa. São cerca de 2.300, de todo tipo e gênero, e alguns eu tenho desde a minha mais antiga infância. Já tive mais, já tive mais de três mil, mas sempre estou doando. Pois bem: eu, que tenho livros em casa, vou lhe contar alguns usos deste objeto que você nem imagina, e que não têm nada a ver com o ato da leitura.

Quem tem TOC, mesmo na sua forma moderada, pode usar uma quantidade boa de livros para se distrair catalogando, colecionando, descobrindo formas de organizar o acervo. Organizar uma coleção de dois mil e tantos livros: supremo prazer. Isso requer toda uma operação prévia de planejamento, porque os métodos consagrados pela biblioteconomia jamais servem para os nossos próprios livros. A nossa forma não só é a melhor, como a mais funcional e produtiva, e a gente simplesmente não entende porque não é adotada ainda pelas grandes bibliotecas do país. E assim, começamos geralmente pelos critérios que iremos adotar para arrumá-los, como autor, estilo, ou gênero, clássicos ou contemporâneos, ensaio, poesia ou ficção, deixando juntos todos os de Cascudo, os de Borges, os de Suassuna, os de teatro – e agora, como fazer? O Auto da Compadecida fica junto com os de teatro ou com os de Suassuna? Devo comprar um segundo exemplar, para que nenhuma das categorias fique inferior à outra? E mergulhada nessas questões vejo passar a tarde, ou a noite, e a diversão é garantida.

Outro uso do livro é ocupar as mãos enquanto a cabeça precisa resolver um problema. Nesses casos, é preciso colocar uma mesinha auxiliar junto da estante, e ir tirando os livros da prateleira, com lentidão e carinho, um a um, folheando, revendo dedicatórias, procurando grifos antigos ou papeizinhos entre suas páginas, ou simplesmente tendo-os entre as mãos, distraída, como se alisasse o dorso de um gato ou brincasse com as orelhas de um cachorro. Os livros vão se amontoando sobre a mesa, a prateleira fica nua, pronta para o pano que vai tirar aquela poeira – e nada de pano úmido porque umidade não combina com livro. A cabeça, cercada pela afetuosa presença e manuseio dos livros queridos, fica relaxada, confortável, tranquila e de repente, voilá! Aparece a solução perfeita para aquilo que estava exigindo uma decisão, uma resposta, um encaminhamento.

Quando a leitora é jovem, os livros servem para assustar os namorados. Eu nunca compreendi porque aquelas criaturas cujos cérebros louros e bronzeados que só entendiam de marés e pranchas achavam que tinham que ler para poder namorar uma leitora. Entravam na minha casa e diziam: Mermão, vou ter que ler isso tudo? Era o comentário dos filhos de Poseidon, semideuses das ondas e dos ventos, ao se depararem com aquelas paredes cobertas de livros. Eu perguntava: Rapaz, eu vou ter que me equilibrar numa prancha e surfar? Claro que não, diziam. Aí eu encerrava: Então você não precisa ler tudo isso. Bora ali, bora conversar um assunto – e a gente ia brincar de Eduardo e Mônica.

Um dos meus usos preferidos para o livro é quando acordo de manhã e abro a porta do quarto para o resto do apartamento, cheio de livros, que passaram a noite ali, fechados, exalando e concentrando seu maravilhoso cheiro de madeira adocicada. Eu inspiro e encho o pulmão com o melhor perfume do mundo, odor de árvores antigas, de mel, de sementes doces, olhando aquelas lombadas amadas, berço de histórias lidas, relidas ou ainda não lidas, mas que já estão comigo, e que me cercam de doses de carinho e afeto cuja intensidade os humanos desconhecem.

Mas o melhor momento é quando paro a leitura porque um trecho me emocionou ou me fez refletir, e coloco o livro aberto sobre o peito, sincronizando meu coração com o dele. Desce sobre mim a calma dos abençoados, cerro devagar os olhos, e tenho a certeza de que, enquanto o mundo ferve lá fora, eles sempre estarão ali comigo e nunca, nunca, nunca irão embora, nunca me deixarão sozinha.

————-

***ALGUNS USOS DO LIVRO***
por Clotilde Tavares Publicado no dia 06/06/2023 no blog Típico Local <tipicolocal.com.br> e no Facebook

*A foto, feita na mesma data, mostra uma das minhas estantes.

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arrumar estantes, biblioteca, biblioteconomia, catalogação de livros, estante, leitura, livro, Memória

O “textão”

Clotilde Tavares | 6 de abril de 2021

Pessoas me mandam mensagens no privado: – Clotilde, pelamor, diminua o tamanho desses textos.

Rapaz, eu sou uma escritora.

Então, pedir a mim para escrever textos menores é a mesma coisa que…

… pedir a um cantor para cantar somente a metade da música.

… pedir a um engenheiro para construir somente a metade de uma ponte.

… pedir à costureira para fazer uma calça somente com um perna.

… pedir ao cirurgião para operar e deixar a ferida aberta.

… pedir ao padre para encerrar a missa antes da comunhão.

… você já entendeu.

Ninguém é obrigado a ler textão.

Há outras mídias onde os textos são limitados, como o twitter, onde só cabem 280 caracteres – aí o pessoal do textão inventou o artifício do “fio”, ou “thread”, pra poder encompridar a conversa.

Finalmente: eu escrevo do meu jeito e do tamanho que gosto. E você também lê do jeito e do tamanho que quiser. Se a gente se encontrar no meio do caminho dessa leitura, seremos felizes juntos. Se não, seremos felizes separados.

Simples assim.

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Oito livros

Clotilde Tavares | 7 de janeiro de 2011

As pessoas não tomam jeito na sua curiosidade e no seu voyeurismo.

Não acho isso nada demais. Eu mesma sou uma curiosa sem concorrentes, e se não sou voyeur é porque talvez não ache a vida alheia suficientemente interessante a ponto de deixar de viver a minha vida para espionar a dos outros.

Pois então: como falei que havia trazido uns livros para este meu isolamento, já teve gente que queria saber que livros eram!

Como não é segredo, vou informar aos curiosos as minhas escolhas.

O primeiro deles foi o texto de William Shakespeare “Tróilo e Créssida”, uma peça pouco conhecida e que eu nem sequer me lembrava da história. Tinha começado a ler em Natal, e hoje de manhã li o 4º. e o 5º. ato, concluindo a obra. Trouxe também o DVD, que vou ver mais tarde.

Trouxe três livros que me ajudam na construção da narrativa que estou esboçando. São livros que sempre estou lendo e relendo, e que toda vez que os abro saio cheia de insights poderosos: A Cultura Popular na Idade Média e no Renascimento, de Mikhail Bakhtin; As Raízes Históricas do Conto Popular, de Wladimir Propp; e Fábulas Italianas, de Ítalo Calvino.

Outros três livros, esses novos, que comprei ou ganhei, e que estou doida para ler: Leite Derramado, de Chico Buarque, presente de amigo secreto da maravilhosa Atalija Lima; Uma Viagem pela Idade Média, organizado por Adriana Zierer, da Universidade Estadual do Maranhão, que comprei diretamente à autora pela Internet; e Minha Vida Meu Tudo, memórias de Francisco Nunes da Costa, que o autor me deu de presente antes de ontem e que eu já li bem umas 50 páginas.

Tem ainda um ensaio “Contra o Amor”, de Laura Kipnis, que já comecei trocentas vezes, que acho ótimo, mas que sempre acontece algo para interromper essa leitura. Esse livro é muito, mas muito bom mesmo.

Pronto, meu curioso leitor. Eis aí o que estou lendo. Pensei que eram dez, mas são só oito.

Satisfeito?

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Adriana Zierer, Atalija Lima, Bakhtin, Chico Buarque, Ítalo Calvino, Laura Kipnis, leitura, Literatura, livros, Nunes da Costa, Propp, Troilo e Cressida, William Shakespeare
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O texto e o som

Clotilde Tavares | 26 de abril de 2010

Eu estava navegando na internet e li uma notícia muito interessante. Richard Johnston, um estudante de pós graduação em Harvard e coordenador de um projeto sobre Shakespeare, recomenda a leitura e a audição ao mesmo tempo da peça Hamlet. É só fazer o download para o seu e-reader (o meu é o PRS-600 da Sony) do texto e do audio-book.

O e-reader permite a execução simultânea de ambos – som e texto – e deve ser interessante, pelo menos para mim, que estudo o texto do Hamlet há bastante tempo e nunca tinha tido essa idéia. E é claro que isso pode ser feito com muitas outras obras. Já existem audio-books disponíveis para download de muitas obras clássicas em português e é uma forma interessante de unir Literatura e tecnologia. Não precisa ter e-reader. O áudio, geralmente em MP3, pode ser ouvido enquanto se lê o livro de papel.

Penso que isso poderia ser utilizado para que os alunos pré-vestibulandos tivessem um acesso mais “suave” às obras que devem obrigatoriamente ler para o vestibular. Isso tem a ver comigo neste ano pois o meu livro A Botija foi indicado para o vestibular 2011 da Universidade Federal de Campina Grande, e já começam a chegar ao meu email pedidos para que eu “ajude” professores e alunos a “transformar” o livro em “peça-de-teatro”.

Entre os professores de colégios e cursinhos há uma tendência em se transformar os livros em peças de teatro para que os alunos “conheçam a história” e “mantenham o pique” nas aulas de Literatura. São coisas que a gente ouve comumente na TV, nas matérias dos telejornais, quando se aproxima a época das provas. Um dia desses vi um dos professores entrevistados sobre o tema dizer que dessa forma “os livros ganham vida”.

Ora, minha gente! Eu milito tanto no campo do Teatro como no campo da Literatura, e fico bem à vontade para falar sobre ambos. Os romances não são meras “histórias” e não é bastante saber “o que aconteceu”. Um romance é o estilo, é a forma de contar a história, de costurar o enredo, é o uso precioso da linguagem. Um romance pode ser adaptado para o teatro, mas o resultado não vai nunca ser o romance: vai ser uma outra obra, usando uma linguagem diferente, a linguagem da cena.

E desde quando os livros só “criam vida” se forem representados no palco? Os livros criam vida na tela da nossa mente, que se torna um palco interior, povoado pelas imagens evocadas por aquilo que lemos.

Parece que o problema está aí. Entendo a imaginação como a capacidade de criar imagens mentais, e penso também que essa capacidade anda um pouco atrofiada nas mentes dos espectadores em que nos transformamos todos. Nossa vida moderna depende sempre de um écran, de uma tela: televisão, computador, games, vídeos, mostrador de celular e os inúmeros monitores espalhados pelo ambiente urbano que nos dizem o que queremos ou precisamos saber.

Então, o cérebro se acostuma a receber essa imagem já pronta e perde a capacidade de formar suas próprias imagens a partir de mensagens escritas. Por isso, o prazer dos romances deixa de existir, e é preciso transformar esse romance em “imagem” (a peça de teatro) para que ele possa tornar-se “vivo”.

Um dia desses ouvi na livraria uma jovem dizendo a outra, que manuseava um romance: “Ver um filme, tudo bem, mas ler um livro desse inteirinho… Sem condição!” E eu concordo que realmente não há condição da criatura ler um livro de trezentas páginas se ela não consegue visualizar, imaginar, criar mentalmente cenas e personagens.

É uma pena, pois além dos jovens estarem perdendo essa capacidade com a omissão ou concordância do sistema de ensino, a imagem que as telas de todo tipo jogam na mente deles já vem pronta, acabada, carregada de um conteúdo que, muitas vezes, ele não pode nem sabe criticar.

Nesta semana uma simpática jovem me enviou um email, pedindo-me para “ajudar” o grupo de alunos a transformar o meu livro em peça, num Seminário de Literatura do qual iam participar. Aí eu perguntei se, como se tratava de um seminário de Literatura, por que queriam transformar um livro em teatro? Seria a mesma coisa que, num seminário de Teatro, em vez de apresentarem as peças, as transformassem em livros e dessem para a platéia ler!

E você? O que pensa disso tudo?

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Hamlet, leitura, Literatura, livros para vestibular, teatro, vestibular
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Eu e meu duplo

Clotilde Tavares | 27 de outubro de 2009

No tempo em que eu ainda estava na ativa como professora da UFRN, tirei três meses de licença prêmio, à qual eu tinha direito. Os colegas perguntavam: “E então, Clotilde, vai fazer o que com esses três meses de folga? Vai viajar? Vai aproveitar para escrever um livro?” e ficavam chocados quando eu respondia que não ia fazer nada, que ia ficar à toa, que tinha tirado a licença exatamente para isso. “Mas fazer nada como?” perguntavam, como se tivessem esquecido do supremo deleite que é ficar estirada na rede branca armada na varanda, empurrando de leve o pé na parede para desfrutar do balanço suave e do rangido do armador.

Essa incapacidade de relaxar, de entregar-se ao ócio, é uma constante nesses tempos turbulentos e apressados em que vivemos. O cotidiano assume uma velocidade, uma intensidade, uma concentração tal que fica difícil desligar-se disso nos momentos de lazer. Então, para acompanhar o ritmo, busca-se também diversões agitadas, velozes, barulhentas e concentradas. Não se admite mais um lazer onde não haja barulho, agitação e movimento.

Além disso, é importante mostrar-se ativo, sociável, extrovertido. Olha-se com desconfiança as pessoas contemplativas, que amam a solidão, o sossego, o silêncio. Um sujeito que passa o fim de semana lendo em vez de sair para a balada, principalmente se é jovem, é olhado com estranheza pelo grupo, e os amigos dizem: “Precisamos arrancar Fulano de casa, do meio desses livros, e levá-lo para se divertir”, como se os livros não fossem uma diversão tão aceitável como qualquer outra.

Na verdade, as diversões desses dias de hoje são cada vez mais desgastantes pelo tempo que perdemos tentando nos divertir, ou lutando para chegar no local da diversão. São horas perdidas em filas para comprar ingressos, em congestionamentos no caminho para a praia ou enquanto aguardamos uma mesa no nosso restaurante predileto. A diversão termina sendo mais cansativa do que o trabalho, mas é preciso se divertir, é preciso freqüentar, é preciso aparecer nos lugares, é preciso dançar a noite inteira, é preciso ir ao restaurante da moda, à buate do momento. É preciso manter a fama de ativo, participante, sociável.

Ah, meu caro leitor, ficar sozinho exige competência. Dedicar o fim-de-semana a arrumar os armários exige coragem. Entregar-se à leitura, à contemplação, enquanto todos estão na praia ou na balada, exige um espírito forte, disposto a enfrentar críticas de todo tipo. Finalmente, ficar à toa, sem fazer nada, simplesmente, é um suicídio social.

Esquecem-se os baladeiros de que é nos momentos de solidão que pensamos, criamos, questionamos. É nesses momentos que acontece o encontro mais importante, o encontro da gente com a gente mesmo, com o nosso duplo, que nos observa do fundo do espelho, que tem coisas para nos dizer mas precisa de silêncio e de calma para se expressar. Dessa conversa, sempre saímos mais fortes, mais calmos, mais vivos e criativos. Experimente. É um bom programa para qualquer fim de semana.

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O doce prazer da leitura

Clotilde Tavares | 2 de agosto de 2009

Viciada em livro que sou, quando começo com esse assunto não consigo mais parar. Para mim, uma das melhores formas de passar o tempo é ler, e através da leitura e usando um lugar mais do que comum, “viajar nas asas da imaginação”.

Bienal do Livro da PB, em 2006.

Bienal do Livro da PB, em 2006.

Passando a vista no “Como e por que ler”, do crítico Harold Bloom, fiquei pensando como é bom um “livro sobre livros”, como é o caso deste. O bom deste tipo livro, pelo menos para mim, é que ele me remete a leituras que nunca mais eu tinha feito, como Jorge Luís Borges. Reli com extremo prazer “Tlön, Uqbar, Orbis Tertius”, recomendado por Bloom, e de quebra li outras coisas das quais gosto muito, como “Funes, o Memorioso” e “Aproximação a Almotásim”. Aí, acontece que dei por falta na estante dos meus exemplares de “O Aleph” e “História Universal da Infâmia”. Emprestados não foram, pois tomo nota de todos. Devem estar perdidos em outras estantes, quem sabe entre os livros de teatro ou de folclore.

Falando sobre o hábito da leitura, Bloom diz que crianças criadas em frente da TV e que passam a adolescência na frente do computador realmente não formam esse hábito, e chegam à Universidade completamente refratárias a esse estranho objeto chamado livro.

Crianças atenta á contação de histórias na Bienal da PB em 2006.

Crianças atentas à contação de histórias na Bienal da PB em 2006.

Eu que o diga, que quando ensinava na UFRN sempre passava a cada nova turma pelo mesmo tormento de explicar aos meus alunos que um curso universitário implica em leitura, sim; e que não podemos ler apenas um livro por semestre. Muitos achavam “absurda” a “exigência” de que eles lessem de três a quatro livros sobre os temas estudados.

Quem não lê não sabe o que está perdendo. A leitura nos livra da solidão, nos faz viajar sem gastar dinheiro e ajuda a gente a se entender melhor, e a compreender os outros.

Na entrevista que li do Harold Bloom, ele diz que “uma democracia depende de pessoas capazes de pensar por si próprias. E ninguém faz isso sem ler.”

Passo sem computador e sem Internet. Mas sem livros, não me atrevo sequer a pensar.

As fotos são minhas. A Bienal Nacional do Livro da Paraíba realizou-se em maio/junho de 2006, no Espaço Cultural. Atuei como curadora do evento.

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Um casamento feliz

Clotilde Tavares | 31 de julho de 2009

Nas minhas estantes, tenho mil e oitocentos livros. Sei disso porque contei-os, um a um, num dia desses em que estava contrariada com o que havia ouvido numa reunião de amigos: “Você, Clotilde, acumula livros demais. Devia doar pelo menos a metade às bibliotecas de bairros, tão carentes.”

Bem, se as bibliotecas são carentes a culpa é dos governantes e secretários da área, que não as equipam de forma adequada. Não é minha obrigação suprir essa lacuna. Pago meus impostos em dia, todos eles, sendo isso sim a minha obrigação. Mesmo assim fui à estante ver do que podia abrir mão. E encontrei alguns livros, não muitos, que separei para um biblioteca dessas aí que me recomendaram.

Mas a questão que quero falar aqui nessas poucas linhas é outra. É sobre o apego aos livros. Não me considero apegada a nada, no sentido de que penso que nenhum objeto material é fundamental para a minha felicidade. Tenho, gosto de ter, mas se não tenho ou não puder ter não fico infeliz. Sou há anos leitora de Khrishnamurti, que prega o desapego. E desapego não tem nada a ver com você dar as coisas, mas com você não precisar delas para ser feliz. Sou colecionadora incurável, e há uma série de objetos que venho juntando dentro de um contexto de coleção. Já falei aqui sobre essas coleções. Mas sou organizada, e minha casa não tem excesso de nada.

A pessoa da frase acima disse que eu doasse “livros que jamais iria abrir de novo”. Aí eu pergunto: o que é isso? Nas décadas de 1970/1980 li todos os livros das memórias de Pedro Nava. São seis volumes: “Baú de Ossos”, “Balão Cativo”, “Chão de Ferro”, “Beira-Mar”, “Galo das Trevas” e “O Círio Perfeito”. Numa dessas arrumações das estantes, há uns dez anos, dei todos. Supostamente, eram livros que eu jamais iria abrir de novo.

Alguns dos tais 1.800.

Alguns dos tais 1.800.

Depois disso comecei a estudar Genealogia e a escrever minhas memórias; de repente os livros do Pedro Nava começaram a se tornar indispensáveis. Lá fui eu e comprei tudo outra vez. Mas a edição moderna veio num tipo muito pequeno que eu não conseguia ler com conforto. Então, doei os seis novos e comprei de novo os seis da edição antiga.

Por essas e outras é que continuo com meus 1.800 livros, nesse casamento tão feliz.

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Cascavilhando…

Clotilde Tavares | 24 de abril de 2009
Biblioteca Digital Mundial: uma grande viagem.
Biblioteca Digital Mundial: tela de abertura.

Biblioteca Digital Mundial: tela de abertura.

Quando um dia eu morrer e chegar no outro mundo – céu, inferno, ou o que seja – a minha primeira pergunta vai ser: “Onde fica a biblioteca?” E se o cara lá responder que não tem biblioteca eu sei que estou frita porque devo estar mesmo no Inferno, da Terceira Caldeira pra lá.

O meu consolo é que, como dizem que o Diabo é o pai do rock, devo encontrar por lá alguns amigos roqueiros e a possibilidades de uns shows bem trash-metal, do jeito que eu gosto.

Mas voltando ao assunto bibliotecas, ando nesses dias navegando na Biblioteca Digital Mundial.

É uma iniciativa da UNESCO e da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, reunindo como parceiros a Biblioteca de Alexandria, a Biblioteca Nacional do Egito, a Biblioteca Nacional da Rússia e a Biblioteca Nacional do Brasil.

Antigos manuscritos

Antigos manuscritos

São documentos, cartas, fotos, mapas. Tudo é apresentado nas seis línguas oficiais da ONU (inglês, francês, espanhol, árabe, chinês e russo) e mais o português. O Brasil participa do projeto, por intermédio da Fundação Biblioteca Nacional.

Nesta primeira fase, somente a parte brasileira é constituída por 1.500 mapas raros dos séculos XVI a XVIII e 42 álbuns com cerca de 1.200 fotografias pertencentes à Coleção Thereza Christina Maria, doada pelo Imperador D. Pedro II à Biblioteca Nacional.Esta coleção de fotografias foi registrada como Patrimônio da Humanidade no Programa Memória do Mundo da UNESCO.

Imagine o acervo dos outros países.

writer03Eu ando assim: as colunas para os jornais atrasadas, o arroz queima no fogão, as camas não são mais forradas, a roupa lavada dorme três dias dentro da máquina sem que eu me lembre de pendurar no varal e filhos e amigos pensam que eu sumi do mapa. Mas não é não: estou lá, na tal Biblioteca Digital.

Você pode ir direto lá, clicando aqui. Mas eu escolhi umas duas coisinhas pra você ir direto.

Christine de Pisan

Christine de Pisan

A primeira é o livro “Crônica de Cavaleiros em Armadura”, escrito por volta de 1410 pela francesa Christine de Pisan, uma das primeiras mulheres a ganhar a vida como escritora. Trata sobre o modo de conduta apropriado para um cavaleiro e foi traduzido para o inglês e impresso em 1489, por ordem de Henrique VII, que desejava torná-lo disponível aos soldados ingleses.

O livro continha não apenas regras de conduta, tais como um cavaleiro vitorioso deveria tratar um prisioneiro de guerra, mas também informações práticas que Pisan havia adquirido a partir de vários textos clássicos, por exemplo, como escolher o melhor local para armar uma tenda e como evitar que um castelo fosse cercado. Eu não entendo uma palavra desse inglês do século quinze mas, e daí? Só olhar praquilo, mesmo na tela, me dá um prazer que só um bibliófilo entende.

A outra jóia rara que trago para voccê é um arquivo sonoro, para ouvir. É uma das primeiras gravações da Marselhesa, o glorioso hino da França composto por Rouget de Lisle em abril de 1972 1792.

Então está esperando o quê? Vai lá cascavilhar no site.

Este post é dedicado a Regina Cascão Viana, que vive cascavilhando.

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