Morrer absolutamente
Clotilde Tavares | 18 de março de 2015Daqui a cem anos, ninguém se lembrará de mim. Ninguém saberá quem eu sou nem associará meu nome a coisa alguma. Talvez eu sobreviva na lembrança de algum tetraneto, o que acho difícil, pois nem meus netos se lembram de mim agora, que estou viva e nas redes sociais! Se por acaso meu nome for parar numa placa, dando nome a algo, daqui a cem anos quem saberá de quem se trata? Morta há pouco mais de 30 anos, a Dra. Giselda Trigueiro, inteligente, culta e elegante, deu nome ao hospital de doenças infecciosas da cidade. As pessoas se referem a ele como “o Giselda”. “Vou passar no Giselda”, “está interno no Giselda”, assim, com o artigo flexionado no masculino. Pois é. Melhor morrer definitiva e totalmente, morrer absolutamente, como dizia Manuel Bandeira, morrer sem deixar sequer esse nome.