Umas & Outras

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Estou…

Clotilde Tavares | 31 de maio de 2009

Uma das coisas que eu mais gostaria era de postar nesse blog todo dia de manhã. Mas isso nem sempre é possível. Hoje, domingo, um cerumano ligou um rádio em toda altura às cinco e meia da manhã aqui em algum dos apartamentos do prédio, e me acordou. Aí eu, que havia ido dormir tardíssimo, desorganizei o sono, fiquei acordada um pouco e depois dormi até quase as onze. Isso jogou para o alto todo o meu planejamento para este domingo e somente agora estou aqui mal e mal tentando escrever alguma coisa pois com a tosse que me ficou da gripe que tive durante toda a semana eu não consigo realmente engatar uma idéia na outra.

Assim, hoje é dia dos nossos famosos gerúndios.

ESTOU…

… COMENDO tapioca, arroz de leite, carne assada, pamonha e canjica (mas tudo light!).
… BEBENDO café sem cafeína com leite sem gordura. É de lascar!
… OUVINDO ao longe a cantoria de uma procissão de mulheres, que pelas ruas do meu bairro comemora o encerramento do mês de maio.
… LENDO ainda Pedro Nava, o terceiro volume, Chão de Ferro.
… ASSISTINDO os filmes da coleção lançada pela Folha de São Paulo. Ontem vi Grande Hotel, com Greta Garbo.
… CAMINHANDO meia hora por dia, mas somente a partir de amanhã.
… COMEMORANDO os dois quilos que eliminei graças à dieta e muita força de vontade.
… BEIJANDO ninguém. Com essa tosse, as pessoas nem encostam.
… DORMINDO quando os sem noção deixam.
… ESCREVENDO finalmente o que quero escrever, com regularidade, ritmo e inspiração.
… PESQUISANDO meus antepassados nos antigos livros de registro civil, agora à disposição na Internet.
… ESPERANDO as novidades que vêm por aí no cenário cultural paraibano.
… ORGANIZANDO novamente a vida, depois de dez dias de gripe.
… LUTANDO contra a preguiça, a gulodice, e uma ruma de outros pecados menores.
… ACREDITANDO que um dia vou me ver livre dessa tosse maldita.

Nicole Kidman by Annue Leibowitz

Nicole Kidman by Annie Leibowitz

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As coisas que gosto

Clotilde Tavares | 30 de maio de 2009
Café da manhã na varanda quando o dia está bonito...

Café da manhã na varanda quando o dia está bonito...

Claustro de conventos que chamam ao sossego e à meditação...

Claustro de conventos que chamam ao sossego e à meditação...

Meus meninos: Rômulo e Ana Morena.

Meus meninos: Rômulo e Ana Morena.

Depois de dar um curso, fotografar com os alunos...

Depois de dar um curso, fotografar com os alunos...

Família: irmãos, cunhados, sobrinhos...

Família: irmãos, cunhados, sobrinhos...

William Shakespeare, e sua obra...

William Shakespeare, e sua obra...

Atuar no palco...

Atuar no palco...

Árvores.

Árvores.

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Filme bom e filme ruim

Clotilde Tavares | 29 de maio de 2009

filmes01Fui cineclubista por muito tempo na minha vida, principalmente quando era mais jovem. Em Campina Grande, no final da década de 1960, era uma das atividades mais interessantes da cidade. Reuniões, discussões, cursos e, é claro, sessões e mais sessões de cinema, numa época em que não havia computador, nem vídeo, nem DVD.

Rômulo Araújo, prevendo o futuro, dizia para o porteiro do Cine Capitólio, em Campina: “Um dia ainda levaremos o filme para assistir em casa!” E o porteiro sorria e respondia: “Vocês são uns visionários…” Então, tenho alguma experiência. Para mim, um cineclube é filmes03um espaço para discutir e compartilhar conhecimento sobre cinema. E penso também que é preciso atrair as pessoas para lá, mas como atrair gente nova apenas com projeção de filmes? Sobretudo filmes sobre os quais ninguém tem informação, a não ser as pessoas da área, as que entendem de cinema?

Essa reflexão me veio através de uma lista de discussão que assimo, onde os organizadores de um cineclube se queixavam do pouco interesse de jovens pelas suas atividades e da dificuldade de levar gente nova para o cineclube.

filmes05Penso que discutir cinema é discutir todo tipo de filme. Querem atrair gente nova para o cinema? Discutam os filmes que gente nova gosta! Discutam Batman, Homem Aranha, Juno, Volverine, e outros. Discutam os filmes do Oscar. Por que esses filmes foram indicados? Discutam Tropa de Elite (bem, acho que já passou o tempo de discutir Tropa de Elite, mas o exemplo serve para entender o que estou dizendo: discutam o que está rolando nas telas).

Afastei-me do cineclubismo porque terminou virando uma masturbação mental, de poucos “iniciados” discutindo filmes04horas intermináveis sobre Glauber, ou Bergmann. Nada contra esses cineastas ou seus filmes, dos quais gosto muito, mas tudo tem limite. E penso que não se deve discutir somente filme bom não. É preciso discutir os filmes “ruins”, para ver porque são “ruins”.

Funciona muito também ter uns cursos de vez em quando para atrair gente, ou ciclos de palestras sobre, por exemplo, “A jornada do herói no Senhor dos Anéis: comparações com Guerra nas Estrelas”, ou “A escatologia no cinema brasileiro: análise de O Cheiro do Ralo e Amarelo Manga.” ou “Zé do Caixão e seus filmes”, ou ” A obra de Michael Moore”, ou “A evolução dos efeitos especiais no filme de aventuras”, ou “Filme pornô também é cultura” (eita! esse foi de lascar!) ou o que seja.

Eu poderia sugerir aqui uma lista interminável de títulos de palestras. E terminar dizendo que o cineclubismo é uma das atividades mais interessantes para se participar, pois abre para o mundo e para as idéias, através da instigante arte do cinema.

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Paisagens do Cariri

Clotilde Tavares | 28 de maio de 2009

O solo do Cariri
Na seca rude e deserto
Com poucas gotas de chuva
“Você pode ver de perto
Fica assim de boniteza
Desabrocha a  natureza
Como um paraíso aberto.”

cariri01

cariri02

cariri03

Essas fotos foram feitas em fevereiro de 2009, na região do Cariri Paraibano, por Inês Tavares.

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A linha genética: uma mão-na-roda para a pesquisa genealógica.

Clotilde Tavares | 27 de maio de 2009

Por mais que eu veja coisas estranhas, esquisitas, fora de propósito, sem noção, sempre consigo me surpreender com os episódios pelos quais sou obrigada a passar quando o telefone toca. O telefone, meus amigos, é um objeto mágico e cheio de poderes que até Harry Potter invejaria, pela capacidade que tem de trazer para dentro da nossa casa as coisas mais estranhas.

telefone1Pois ontem de noite foi assim. Estava eu quietinha sentada na frente da TV com o notebook no colo, procurando assuntos amenos e agradáveis para fazer este postzinho de hoje quando o telefone tocou.

raiva

Fui ficando estressada...

Um rapaz me disse que era da Oi e perguntou por Ana. Eu moro sozinha, disse que não havia aqui nenhuma Ana, então ele repetiu a pergunta, desta vez com o nome completo da minha filha, que se chama Ana. Aí começou um papo meio estranho, porque ele disse que havia um problema com um telefone, eu perguntei o número, ele me deu o número mas eu não reconheci, e ele não podia me dizer qual era o problema; e perguntou se eu era mãe da Ana e eu confirmei, em troca perguntei o nome dele, que era Mateus. Eu tentei saber novamente qual era o problema do telefone, ele não me disse. Ele quis mais informações sobre Ana, pediu o CPF dela para confirmar, eu me recusei a dar. Então, pedi o CPF e o RG dele, ele não me deu. Mas continuou querendo saber se eu era responsável pelo número que estava no nome de Ana, e eu não disse, e fui me estressando, e quis saber como ele tinha meu número, já que moro em outra cidade, e ele disse que a discagem tinha sido feita automaticamente, e eu perguntei se ele também funcionava automaticamente, ou seja, se era um robô, ou era gente, e ele disse que era gente, mas que a discagem era feita automaticamente e no meio desse dilema entre o automático e o humano eu terminei perdendo de vez a paciência e mandando ele e a máquina de discagem fazerem um com o outro uma atividade humana e animal que não vou descrever aqui e que nunca compreendi porque, sendo uma atividade tão agradável, é usada como forma de insulto.

Aí liguei para Ana, contei o caso, ela ligou para a Oi e descobriu que se tratava de um telefone antigo dela, que ela havia desativado mas que por um motivo qualquer ainda estava no sistema (Ah! O sistema! Um dia falaremos aqui sobre ele). Pois bem, ela esclareceu as coisas lá com o atendente e então perguntou:

mendel– Porque vocês ligaram para a minha mãe? Ela está morando por um tempo em outra cidade e não tem nada a ver com os meus negócios.

Ele respondeu:

– É porque nós temos aqui uma linha genética que, não encontrando alguém, conecta com o pai, o filho, etc.

Pronto, meus caros leitores.

Aí está a salvação da genealogia brasileira.

livrosantigosNós, incansáveis pesquisadores, não precisaremos mais ficar revirando velhos e empoeirados livros de registros, ou mergulhados em pilhas de documentos antigos cheios de mofo, que jazem há décadas em vetustas sacristias ou empoeirados cartórios.

Nossos problemas se acabaram. É só requisitar a Linha Genética da Oi. De forma automática, sem mofo, sem poeira e sem má-vontade, ela procura seus parentes, completa a ligação, estabelece os contatos e os valorosos garotos que estão ao telefone, que me incomodaram na terça-feira, 26 de maio, às oito e meia da noite, que me tiraram da frente da TV e do computador, que tiraram meu sossego e acanalharam com o meu bom-humor, provavelmente têm capacidade para acordar do sono eterno os nossos antepassados até a décima geração.

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Dois meses no ar!

Clotilde Tavares | 26 de maio de 2009

Há dois meses comecei mais essa experiência, com o meu já conhecido Umas & Outras, desta vez em forma de blog. Hoje, sessenta dias depois, o blog está com pouco mais de 6.300 visitas, o que dá cerca de 100 visitas por dia. Eu considero um privilégio e uma honra que cerca de cem pessoas deixam de fazer outras coisas para aprecerem por aqui para leitura ou para uma zapeada rápida.

aniversario3Só para esclarecer aos novos leitores, e como bem expliquei no primeiro post do blog, o Umas & Outras é um projeto de comunicação. Começou em novembro de 1999, com um boletim que eu fazia inicialmente em formato Word e que enviava por email toda semana para uma lista de uns 200 assinantes, pela Internet.

Depois, foi mudando de cara: virou boletim em HTML, site na Internet com diversos colunistas durante um ano e com atualização diária, boletim outra vez, blog sediado no Uol, boletim em HTML de novo… E sempre, sempre com as temáticas básicas concentradas em quatro pilares: Arte, Cultura, informação e Humor.

aniversarioEntão este blog é a nova cara do Umas & Outras, que está dando muito prazer a esta escriba que vos tecla. No início eu tinha dúvidas se não seria muito complicado manter a periodicidade diária; mas até agora não foi. Tenho escrito todo dia, muito embora os recursos do blog me permitam escrever, por exemplo, dez posts, e agendá-los para irem sendo “soltos” dia após dia. Quase nunca tenho usado essse recurso, porque o barato mesmo é escrever todo dia, sobre o tema que está em minha cabeça naquele dia.

aniversario5Tenho tentado diversificar os assuntos. Tem dia em que falo sério; tem dia que é só bobagem. Há posts em que discorro sobre um tema, defendendo uma opinião; em outros, apenas comento assuntos que estão em voga. Como sei que tem gente que tem preguiça de ler, ou não tem tempo de ler posts muito grandes, alterno os escritos com os posts de figuras, como as igrejas do interior, e outros posts de fotografia, artes plásticas ou retratos. E tem aqueles da série Gerundiando, onde abro um pouco minha vida pessoal para os voyeurs (alguém me socorra e me dê o plural correto desta palavra), como o jornalista Sebastião Vicente, que diz ser a seção que ele mais gosta. Aí do seu lado direito, na coluna categorias, os posts estão agrupados por temas.

42-15660713Algumas pessoas sugeriram que eu tocasse em temas de interesse diário da cidade em que vivo – a capital da Paraíba – denunciando abusos, apontando soluções para problemas urbanos, como já fiz em outros formatos do Umas & Outras. Eu agradeço a sugestão, mas prefiro me manter num nível mais geral, mais abrangente, sem descer ao nível local. Os problemas da cidade, do estado, da política, da nação estão aí, escancarados, para todo mundo ver, e todo mundo sabe quais são. Eu prefiro falar de outras coisas que vão além do cano estourado na esquina da rua Antonio Gama, que é a rua onde moro nesta deliciosa capital. Este não é um blog engajado, nem defende nenhuma causa. Existem muitos blogs assim na Internet, e eu frequento alguns diariamente porque acredito na seriedade deles. Vez por outra os cito aqui. São muito bons. Mas, repito, este não é um deles.

aniversario4Ontem recebi um email de um leitor que diz que eu escrevo demais. Escrevo mesmo. Sou escritora. É isso que eu faço. Fica difícil me pedir para escrever menos; é a mesma coisa que pedir a um músico que faça músicas mais curtas, ou ao pintor que pinte quadros menores. Recomendei ao leitor que esquecesse o blog e me acompanhasse pelo Twitter, onde só se pode escrever 140 caracteres. E já basta as duas colunas que escrevo toda semana para o Correio da Paraíba e para a União, onde tenho espaço limitado, tipo 32 linhas em Times 12, e não posso escrever nem 31 nem 33, tem que ser 32. Pelo menos aqui no blog o espaço é teoricamente ilimitado.  Ao leitor impaciente recomendo: olhe só os posts de figuras ou siga-me no Twitter, onde também mantenho uma postagem por dia.

aniversario7Aliás, e falando-se em leitores, eu respondo pessoalmente a todos os comentários que são postados aqui. Só respondo no blog quando o esclarecimento pedido interessa aos outros que também comentaram.

Uma coisa que faz a felicidade do blogueiro são os comentários. Então, se vocês gostam de mim e querem me agradar, o que não custa nada, comentem, que me faz feliz e dá status ao blog.

Então é isso, minha gente. Continuem vindo por aqui que eu estarei como escoteiro, sempre alerta, todo santo dia, sem respeitar domingo ou feriado, enquanto puder teclar, porque o meu projeto literário deste ano de 2009 chama-se: Umas & Outras: todo dia um post novo. Durante um ano.

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Estratégias da memória II

Clotilde Tavares | 25 de maio de 2009

Hoje vou continuar com o assunto da memória, porque no post de sábado eu esqueci (hahaha) de várias coisas que queria dizer, o que foi até bom, para o post não ficar muito comprido.

Gipsy, minha personagem preferida.

Gipsy, minha personagem preferida.

Lido muito com memória. Como sou atriz, uma das coisas que é preciso fazer no palco é ter o texto inteirinho na ponta da língua. Não somente o texto – as palavras – mas as intenções, os gestos, os olhares, a posição do corpo, o deslocamento no espaço, em suma, aquilo que chamamos “as marcas”. No teatro, todas essas coisas complementares, todo esse contexto ajuda a memorizar o texto em si, as palavras.

Outra coisa importantíssima em cima do palco é como lidar com o terror de todo ator, que é “o branco” – aquela situação em que você simplesmente não lembra de nada, esquece tudo. Penso que a única solução, o único remédio, é eliminar o estresse que é o maior causador dos “brancos”. Se você acha que não vai lembrar, não vai lembrar mesmo! “To play” tanto é “atuar”, como “jogar”, como “brincar”. Relaxar no palco, ver o trabalho do ator como uma doação amorosa da energia humana, integralmente a serviço da criação do personagem, não é uma coisa maravilhosa? Então como ficar nervoso com um fenômeno desse? O palco é uma festa, uma glória, um deslumbramento e o “branco” só surge quando a gente se estressa por querer impressionar, por colocar os objetivos do ator acima dos objetivos do personagem.

Com Jessier Quirino, poeta e declamador.

Com Jessier Quirino, poeta e declamador.

Vamos ver agora um outro caso de palco, o caso do declamador que, ao contrário do ator, não tem o auxílio do contexto. Aí, eu quando decoro algo para ser recitado diante de uma platéia, estabeleço comigo mesma algumas marcas e gestos mínimos, coisas que só eu sei, lugares pra onde olhar, e também me remeto ao formato da página onde o texto está escrito e à situação que o texto ocupa na página: página par, página ímpar, em cima, embaixo… São truques que todo artista tem e que não me incomodo de revelar. É assim que vou do começo ao fim, ao longo das cerca de 130 sextilhas do folheto de cordel O Pavão Misterioso, que sei todinho decorado. Além do “Pavão”, sei muita coisa decorado, mas se não houver uma constante repetição, a gente vai esquecendo. Por isso é preciso praticar.

Zé de Cazuza

Zé de Cazuza

Na poesia, elementos como a métrica e a rima falicitam a memorização e por isso as sagas e epopéias da Humanidade, no tempo da tradição oral, quando ainda não havia a escrita, eram formuladas em verso, para facilitar a memorização.

Conheço muitas pessoas que têm memória prodigiosa. A Rede Globo mostrou, no programa sobre a memória, o grande poeta popular Zé de Cazuza como exemplo. Mas conheço muita gente com memória igualmente prodigiosa. Meu pai, o jornalista e poeta Nilo Tavares, era uma dessas pessoas, recitando sonetos e mais sonetos, poemas e mais poemas, hora após hora. Olavo Bilac, Augusto dos Anjos, Emilio de Menezes e outros tantos dos seus poetas preferidos desfilavam na nossa frente enquanto ele, com sua voz forte e rouca para o homem tão pequeno que era, desfiava verso atrás de verso, quarteto atrás de quarteto, soneto atrás de soneto. Já velhinho, desmemoriado, sem conhecer ninguém, eu o ouvia falando baixinho. Ia devagar ao pé de sua cama e lá estava ele, repetindo seus sonetos preferidos, um depois do outro… Era como se estivesse desfiando o último fio da memória já deteriorada pela demência senil, a chamada “caduquice”, que o acometeu nos últimos dos seus 86 anos de vida.

pavaoO meu tio Cláudio Tavares, comunista histórico, vivendo em Recife durante toda a sua vida, também tinha esse tipo de memória, ainda melhor do que a de Papai. Ele decorou um dicionário inteiro, o “Dicionário da Fábula”, de Chompré. A pessoa abria o dicionário e dizia: página 86! E ele começava a dizer o que tinha escrito na página 86.

Uma ocasião tive uma doença infecciosa qualquer, uma inflamação de garganta. Fui ao médico, colega meu, da mesma turma. E ele então disse: “Mas Clotilde, isso que vc tem é a doença Fulana de Tal, que fica na página tal do livro de Veronesi!” referindo-se ao Tratado de Infectologia do professor Ricardo Veronesi, livro no qual estudamos no Curso de Medicina. Ele lembrava da página e da coluna do livro onde a doença era descrita. E tem mais: saiu recitando o texto do livro que se referia à descrição da doença como se o compêndio estivesse ali aberto na sua frente. Decoreba? Não, meu caro leitor: capacidade de memorizar e de ir buscar essa memória quando for preciso, coisa que não é todo mundo que tem.

numerosAs associações mnemônicas são outro tipo de estratégia que usamos para nos lembrarmos das coisas. Lembro-me das minhas aulas de Nutrição para o Curso Médico da UFRN onde eu recitava com facilidade o nome dos oito aminoácidos essenciais. Eu havia inventado três palavras com as três primeiras letras de cada um: TRIFENLIS TREVALMET ISOLEU. Então era fácil recitar para os alunos, bem naturalmente, como se não fossse decorado: Triptofano, Fenilalanina, Lisina, Treonina, Valina, Metionina, lsoleucina e Leucina…

Para as senha numéricas, inventei palavras parecidas com os números. Um é pum, dois é arroz, três é freguês, quatro é teatro, cinco é brinco, seis é reis, sete é valete, oito biscoito, nove é love e zero é nero.

Então uma senha por exemplo assim: 56923457 vira brinco reis love arroz fregues teatro brinco valete. Aí eu faço umas frases do tipo “o brinco dos reis love arroz, o freguês do teatro usa o brinco do valete”.

Eu adorava!...

Eu adorava!...

Já para aquela combinação de letras que fazem parte da senha, aquela de três letras, também formam frases. Lembro de que uma antiga minha, era AJG – digo aqui pois perdeu já a validade – na mesma época do sucesso da música de Los Hermanos. Então a senha virou Ana Julia Gostosa.

Parece doidice? Ora, meu caro leitor! Doidice é chegar no caixa eletrônico e não se lembrar da senha…

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Fora de combate!

Clotilde Tavares | 24 de maio de 2009

Estou completamente fora de combate por uma gripe – que não é suína, nem caprina e nem equina – que me asssltou desde terça-feira. Ontem estive melhor mas hoje, não sei porque, piorei.

Então lhe deixo sem post, prometendo voltar amanhã com o assunto da memória, que ainda rende umas coisinhas. Para não passar em branco, algumas imagens do meu baú.

Página do número 1 do Correio das Artes, suplemento literário d'A União-PB, que em 27 de março deste ano completou 60 anos de circulação ininterrupta. É o mais antigo de Brasil.

Página do número 1 do primeiro número do Correio das Artes, suplemento literário do jornal A União-PB, que em 27 de março deste ano de 2009 completou 60 anos de circulação ininterrupta. É o mais antigo do Brasil.

Túmulo de Monteiro Lobato, no cemitério da Consolação, em São Paulo. Foto de novembro de 2007.

Túmulo de Monteiro Lobato, no cemitério da Consolação, em São Paulo. Foto de novembro de 2007.

Isso aí é a flor do umbuzeiro, brotando. A foto é de Egberto Araújo.

Isso aí é a flor do umbuzeiro, brotando. A foto é de Egberto Araújo.

As Tavares: Maria Nayara (minha sobrinha, filha de Braulio), Inês (minha irmã) e esta que vos tecla. Ô povo bonito, minha Santa Zoraide!

As Tavares: Maria Nayara (minha sobrinha, filha de Braulio), Inês (minha irmã) e esta que vos tecla. Ô povo bonito, minha Santa Zoraide!

Teobaldo, um dos meus gatos, que só dorme onde quer...

Teobaldo, um dos meus gatos, que só dorme onde quer...

Casarões de Alcãntara, MA. Foto de Karl Leite.

Casarões de Alcântara, MA. Foto de Karl Leite.

A "Moça com Brinco de Pérola" e parte da minha coleção de caixinhas.

A "Moça com Brinco de Pérola" e parte da minha coleção de caixinhas.

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Estratégias da memória

Clotilde Tavares | 23 de maio de 2009

memo3Na noite de ontem (sexta-feira) me desliguei das séries na TV para ver o Globo Repórter. O sacrifício não foi tão grande porque na sexta-feira, com exceção de In Plain Sight no Canal AXN eu não acompanho nenhuma outra série, principalmente depois que deixou de passar Criminal Minds. Então, eu fiquei na Globo mesmo, vi um pedaço daquela alucinação visual/conceitual que é a novela Caminho das Índias e logo em seguida começou o Globo Repórter, com o tema A memória.

Não que haja muita profundidade científica num programa desses, e nem poderia, porque é dirigido às massas. Mas o tema me interessa mesmo numa abordagem superficial porque eu, aos 61 anos, tenho que ficar atenta para isso.

05A perda da memória não é exclusivamente uma consequência natural da idade, apesar de sabermos que, como todos os órgaos do corpo, o cérebro se deteriora ao longo dos anos e muitas das suas funções ficam prejudicadas. O programa de ontem mostrou como o estresse ou o uso de álcool e drogas podem lesar a capacidade de armazenar informações e resgatá-las depois, quando isso é preciso.

memo7Algo que muita gente não atenta, no caso da memória, é que não se trata somente de armazenar informações. É preciso ter a capacidade de resgatá-las depois, é preciso tê-las disponíveis quando você precisa delas. Eu comparo com uma pessoa que vai lendo livros, jornais e revistas, e armazenando cópias de artigos, trechos, textos e outros, mas tudo misturado, sem organização. No dia em que precisar de um texto tal, como irá encontrar? Fico completamente admirada quando vejo esse pessoal estudando para o vestibular, sem descanso, sem distração, quando uma parte do tempo deveria ser destinado a dar descanso ao cérebro para que ele pudesse processar a informação. O Globo Repórter mostrou isso ontem de forma muito didática e clara.

memo8Eu sou um pouco – só um pouco – obsessiva pela organização e vez por outra escrevo sobre isso. Tenho um arquivo onde coloco todos os meus papeluchos. Assim, estão disponíveis quando preciso deles, e não gasto mais do que 30 segundos para ter na mão tudo o que preciso, desde o recibo de setembro de 2008 da conta da luz até o telefone que aquela pessoa passou pra mim no último domingo num guardanapo de papel, e que eu anda não passei para a agenda. Qualquer dia faço um post aqui sobre o meu sistema, com fotos. E a quem interessar possa eu sigo o GTD adaptado às minhas necessidades.

O programa mostrou uma série de estratégias para não esquecer das coisas. Esses esquecimentos têm produzido piadas de todo tipos e eu mesma escrevi um texto muito engraçado baseado em outro que recebi pela Internet sobre a D.A.D.I.A – Síndrome de Desordem da Atenção Deficitária na Idade Avançada. Mas, brincadeiras à parte, não há nada pior do que viver esquecendo das coisas, deixar as panelas fervendo no fogão, as plantas esturricadas por falta de água, ou não saber onde colocou os óculos. E o mais desagradável é que quando isso acontece a uma pessoa jovem, é porque está estressada; na minha idade, dizem logo que é caduquice…

memo6Algumas coisas podem ajudar a quem vive se esquecendo das coisas. Uma das mais importantes é ter um lugar certo para cada coisa. Eu não vejo nada de perto, sou hipermétrope em alto grau. Dirijo sem óculos, mas até para comer preciso deles. É crucial que eu tenha um lugar certo para os óculos. Então é assim: um no rosto (o de andar em casa); outro na mesinha de cabeceira (o alinhado, de sair) e mais dois de modelo “fora-de-moda” dentro da primeira gaveta da cômoda. Quando viajo levo três, guardados em lugares diferentes da bagagem.

Meus remédios estão organizados assim: os de tomar de manhã, na mesinha da cozinha em que preparo o café. Os de tomar à noite na mesinha ao lado do sofá onde vejo TV. Não tem como esquecer. Quando estou tomando antibiótico, que tem que ser na hora certa, tomo a dose e coloco o celular para despertar no horário da próxima. Assim, nunca esqueço nenhuma.

As tesouras são três: uma na cozinha, outra no escritório, outra junto da máquina de costura. A coisa que eu mais odiava quando morava com a família – agora moro sozinha – era ficar procurando a tesoura, e não adiantava comprar DEZ tesouras; quando eu queria uma, nunca encontrava. Uma vez amarrei uma na cabeceira da cama; pois os terroristas domésticos, com a própria tesoura, cortaram o cordão e a levaram dali.

memo9Meus livros são organizados nas estantes por assunto, e ninguém é autorizado a mexer neles. Meus sapatos – todos – são colocados à vista, senão esqueço de que eles existem. A mesma coisa ocorre com as echarpes, colares e bijuterias. Colocar uma coisa numa caixa fechada é simplesmente bani-la do meu cotidiano. Meus armários de cozinha não têm portas, meu guarda-roupa não tem portas.

memo10Um problema grave que eu tinha era esquecer as panelas no fogo. Então comprei um timer, que achei no camelódromo por sete reais. Quando coloco água no fogo, ponho imediatamente o timer em cinco minutos. Se for arroz 20 minutos, e assim por diante. Quando preciso ligar para alguém, mas só pode ser daqui a meia hora, descobri um timer on-line que me avisa quando a meia-hora acaba. A campainha toca, e eu largo o que estou fazendo e faço a ligação. Ele serve também para limitar o tempo de algo que estou fazendo no computador. Por exemplo: adoro jogar sueca – um jogo antigo, que se jogava muito no interior quando eu era criança, ou então Mah Jong. Então, para não passar o dia todo na jogatina, regulo o timer-on-line. Por que não uso o timer da cozinha para isso? Elementar, meu caro Watson: o timer da cozinha é da cozinha…

bananameninaFora isso, para manter a mente ativa eu escrevo todo dia neste bloguinho, que hoje completou seis mil visitas em menos de dois meses, faço palavras cruzadas e sodoku, sou doida por enigmas e quebra-cabeças, faço leitura anotada de livros e sou muito, muito curiosa: quero saber de tudo um pouco. Alimento-me bem, e mantenho o bom-humor na maior parte do tempo.

Finalmente, se a memória serve para lembrar, também serve para esquecer. Ouvi ontem no noticiário que vai voltar a farra com as passagens internacionais para os políticos. Uma coisa dessas, meu caro leitor, é melhor esquecer pra não morrer de raiva ou de vergonha.

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Álbum de recordações

Clotilde Tavares | 22 de maio de 2009

Hoje é dia de remexer no baú e procurar coisas interessantes para mostrar. Poucas palavras e muita figura, para equilibrar com os quilométricos textos que posto aqui de vez em quando, como foi o caso de ontem.

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Carnaval de 1950. Estou com meus meus pais, Nilo e Cleuza, e a babá, passeando na rua Marques do Herval, em Campina Grande. A fantasia é de "havaiana", toda feita por Papai em papel celofane vermelho.

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Foto histórica, data do início dos anos 1960, com os jornalistas atuantes na cidade. Vemos Josusmá Viana, Nilo Tavares (meu pai), Luismar Rezende, Epitácio Soares, Ramalho Filho e Leonel Medeiros. Não consegui identificar a figura por trás, entre Ramalho e Epitácio. Talvez seja o motorista do táxi, que naquele tempo se chamava "carro-de-praça".

d

Minha mãe, Cleuza Santa Cruz Tavares, "a Marquesa", em foto de 1945, quando ela tinha apenas 24 anos de idade, com seu cachorro Pinóquio.

r

Meu filho Rômulo Tavares, aos sete anos de idade. Hoje ele é músico e publicitário, tem 41 anos, e mora em Natal.

poema

Carta-poema de 1946, escrita pelo meu avô Braulio Fernandes Tavares ao meu pai, Nilo Tavares, pedindo vinte mil réis para trocar a sola do sapato. Clique na imagem e veha em tamanho maior.

campina

Campina Grande-PB, meu berço natal, com o aspecto que tinha na década de 1950. A rua é a Floriano Peixoto - veja as torres da Matriz à esquerda.

Versos do meu avô Braulio para sua noiva Clotilde. A data é 1906, cento e três anos atrás.

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