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GERÚNDIOS

Clotilde Tavares | 21 de julho de 2024

ESTOU…

 

… BEBENDO o mar quando está salgado e o rio quando está doce.

… CONTANDO calorias e estrelas.

… COMENDO menos do que a fome pede e mais do que preciso para perder peso.

… ESCREVENDO pouco mas

… IMAGINANDO pra caramba.

… CAMINHANDO e cantando e seguindo a canção.

… LENDO o livro sobre história cultural do parto, da maravilhosa Simone Diniz.

… OUVINDO música revolucionário latino-americana.

… COMPRANDO objetos e utensílios de cozinha para mais uma experiência como dona-de-casa.

… PREPARANDO receitinhas no Air Fryer.

… SENTINDO que uma nova mudança em breve vai acontecer.

… ADIVINHANDO chuva.

… DORMINDO como criança.

… SONHANDO como adulta.

… ESQUECENDO de tudo minutos depois.

… ACOMPANHANDO o trajeto das nuvens e o rumor dos rios subterrâneos.

… PROCURANDO fatias do rio entre os edifícios que pontuam o horizonte.

… ACENDENDO velas para Santa Zoraide na tela do iPhone.

… ACREDITANDO em milagres, sempre.

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Comportamento, Cultura, Curiosidades, Humor, Pop-filosofia
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Gerúndios

Estranhas iguarias

Clotilde Tavares | 3 de julho de 2024
Uma das mais doces recordações da minha infância – e quando uso a palavra doce peço que me entendam literalmente – era quando minha tia Adiza, que morava conosco em Campina Grande, fazia uma de suas viagens ao interior da qual sempre trazia, como raro e precioso troféu, uma ou duas latas de chouriço. Esta estranha iguaria, que é na verdade um doce feito com sangue de porco, açúcar, farinha e especiarias era considerado artigo de luxo entre nós, pela dificuldade em obtê-lo, e vinha acondicionado em latas de leite em pó, que ficavam na mais alta prateleira do armário. Nada, porém, era suficientemente inacessível para a nossa gulodice e, armados de uma colher de sopa, abríamos as latas e mergulhávamos a colher naquela substância negra e macia, ornada de castanhas, e roubávamos uma ou duas colheradas. Era o bastante, pois a mistura era forte e podia nos colocar com os intestinos desregulados se comêssemos muito, denunciando o atentado ao doce patrimônio de Mamãe e Titia.
Há um doce muito parecido com esse no universo culinário nordestino: é um doce de gergelim, chamado “espécie”, que conheci já na idade adulta por um amigo que, indo ao confins paraibanos, trouxe para mim a preciosidade, que tem a mesma aparência do chouriço mas difere em relação à base, ao ingrediente principal, que no chouriço, é o sangue de porco e, na “espécie”, é o gergelim. Além disso, o chouriço é mais compacto, mais consistente e a “espécie” mais cremosa, e de sabor mais suave.
Cascudo define um e outro. Segundo o Mestre, chouriço é o mesmo que “morcela”, nome comum em Portugal, e dá a receita, constante no seu Dicionário do Folclore Brasileiro: uma tigela de farinha de mandioca peneirada e outra tigela contendo os seguintes ingredientes: erva doce, pimenta do reino, gengibre, cravo, castanha de caju assada bem seca, gergelim, tudo pilado junto e passado na peneira. Faz-se o mel de rapadura, esfria-se e mistura-se em fogo brando com o sangue de porco, mexendo para não encaroçar. Depois de fervido, coa-se, junta-se a farinha e os temperos, leva-se novamente ao fogo e vai-se despejando lentamente a banha derretida de porco, em fogo alto, mexendo-se vigorosamente até despregar do tacho, coisa que deve acontecer depois de umas duas horas. Come-se frio, com farinha fina.
E as quantidades, perguntaria você, meu caro e exatíssimo leitor. De que tamanho é essa tigela? Quantas rapaduras se usa para fazer o mel? Qual a quantidade de sangue de porco, e como se deve obtê-lo? E eu sei? Quem sou eu para saber de coisas tão misteriosas? Receitas como essas, feitas “no olho” durante tantos séculos, passadas de mãe para filha desde os tempos em que se amarrava cachorro com linguiça, nunca trazem as quantidades e para realizá-las você vai usando o bom-senso, repetindo o preparo e testando as quantidades até encontrar a medida certa.
Então, para a sua satisfação, passo-lhe também a receita do doce de gergelim, a famosa “espécie”, uma das muitas que existem na Internet, dessa vez com as quantidades exatas e perfeitamente passíveis de reprodução.
Coloca-se um copo americano (chama-se “copo americano” aquele comum, de bar) de gergelim em uma panela e leva-se ao fogo para torrar. Quando estiver estalando retira-se do fogo e mexe-se até esfriar um pouco quando se deve misturar uma colher de sopa de cravo da Índia torrado e meio copo americano de castanha de caju assada e sem pele. Passa-se tudo no moinho ou no liquidificador, coloca-se numa panela, junta-se uma colher de sopa de manteiga e quatro copos americanos de mel de rapadura. Leva-se ao fogo, mexendo sempre até aparecer o fundo da panela. Enfeita-se com castanhas. Quem ensina a receita, acrescenta que o gergelim pode ser moído ou liquidificado. Para não “embolar”, deve-se colocar no liquidificador, uma porção de gergelim e igual quantidade de farinha de mandioca, pois a farinha “enxuga” o gergelim.
Quanto ao chouriço, há o doce e há o embutido, uma espécie de linguiça, que recebe o mesmo nome. Tratei aqui somente do doce e, se for procurar a receita na Internet, fique atento para não confundir um produto com outro.
No mais, é ter muito cuidado com essas preciosidades culinárias pois são hipercalóricas, desequilibrando sem remédio qualquer dieta de emagrecimento. E bom apetite.
Ah, e esqueci de dizer que quem tiver acesso e quiser me dar um ou outro de presente, eu aceitarei de bom grado e garanto que lhe serei eternamente agradecida pela doce oferenda.
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Comportamento, Cultura, Curiosidades, Memória
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Campina Grande, chouriço, culinária nordestina, culinária popular, doce de gergelim, doce de sangue, espécie, receita de doce

Dia Mundial do Trabalho

Clotilde Tavares | 11 de julho de 2023

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Arte, Comportamento, Pop-filosofia
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ficar bem, poema, poesia, trabalho

Alguns usos do livro

Clotilde Tavares | 11 de julho de 2023

Usos do livro? Como assim, pergunta você, meu razoável e esclarecido leitor. Livro é uma coisa que tem somente um uso, e que se resume à leitura do seu conteúdo. Você entende a importância da leitura, sabe que o livro é um veículo adequado à transmissão e à propagação do conhecimento; que é um objeto que tem muitas características, quanto a tamanho, aparência, número de páginas, e aos diferentes conteúdos, mas uso mesmo você não consegue imaginar outra coisa para fazer com o livro a não ser lê-lo, ou ignorá-lo, se for o caso em que o conteúdo não lhe desperte interesse. Nesse caso, coloca-se o livro em algum lugar e esquece-se dele.

Agora em abril contei os livros que tenho em casa. São cerca de 2.300, de todo tipo e gênero, e alguns eu tenho desde a minha mais antiga infância. Já tive mais, já tive mais de três mil, mas sempre estou doando. Pois bem: eu, que tenho livros em casa, vou lhe contar alguns usos deste objeto que você nem imagina, e que não têm nada a ver com o ato da leitura.

Quem tem TOC, mesmo na sua forma moderada, pode usar uma quantidade boa de livros para se distrair catalogando, colecionando, descobrindo formas de organizar o acervo. Organizar uma coleção de dois mil e tantos livros: supremo prazer. Isso requer toda uma operação prévia de planejamento, porque os métodos consagrados pela biblioteconomia jamais servem para os nossos próprios livros. A nossa forma não só é a melhor, como a mais funcional e produtiva, e a gente simplesmente não entende porque não é adotada ainda pelas grandes bibliotecas do país. E assim, começamos geralmente pelos critérios que iremos adotar para arrumá-los, como autor, estilo, ou gênero, clássicos ou contemporâneos, ensaio, poesia ou ficção, deixando juntos todos os de Cascudo, os de Borges, os de Suassuna, os de teatro – e agora, como fazer? O Auto da Compadecida fica junto com os de teatro ou com os de Suassuna? Devo comprar um segundo exemplar, para que nenhuma das categorias fique inferior à outra? E mergulhada nessas questões vejo passar a tarde, ou a noite, e a diversão é garantida.

Outro uso do livro é ocupar as mãos enquanto a cabeça precisa resolver um problema. Nesses casos, é preciso colocar uma mesinha auxiliar junto da estante, e ir tirando os livros da prateleira, com lentidão e carinho, um a um, folheando, revendo dedicatórias, procurando grifos antigos ou papeizinhos entre suas páginas, ou simplesmente tendo-os entre as mãos, distraída, como se alisasse o dorso de um gato ou brincasse com as orelhas de um cachorro. Os livros vão se amontoando sobre a mesa, a prateleira fica nua, pronta para o pano que vai tirar aquela poeira – e nada de pano úmido porque umidade não combina com livro. A cabeça, cercada pela afetuosa presença e manuseio dos livros queridos, fica relaxada, confortável, tranquila e de repente, voilá! Aparece a solução perfeita para aquilo que estava exigindo uma decisão, uma resposta, um encaminhamento.

Quando a leitora é jovem, os livros servem para assustar os namorados. Eu nunca compreendi porque aquelas criaturas cujos cérebros louros e bronzeados que só entendiam de marés e pranchas achavam que tinham que ler para poder namorar uma leitora. Entravam na minha casa e diziam: Mermão, vou ter que ler isso tudo? Era o comentário dos filhos de Poseidon, semideuses das ondas e dos ventos, ao se depararem com aquelas paredes cobertas de livros. Eu perguntava: Rapaz, eu vou ter que me equilibrar numa prancha e surfar? Claro que não, diziam. Aí eu encerrava: Então você não precisa ler tudo isso. Bora ali, bora conversar um assunto – e a gente ia brincar de Eduardo e Mônica.

Um dos meus usos preferidos para o livro é quando acordo de manhã e abro a porta do quarto para o resto do apartamento, cheio de livros, que passaram a noite ali, fechados, exalando e concentrando seu maravilhoso cheiro de madeira adocicada. Eu inspiro e encho o pulmão com o melhor perfume do mundo, odor de árvores antigas, de mel, de sementes doces, olhando aquelas lombadas amadas, berço de histórias lidas, relidas ou ainda não lidas, mas que já estão comigo, e que me cercam de doses de carinho e afeto cuja intensidade os humanos desconhecem.

Mas o melhor momento é quando paro a leitura porque um trecho me emocionou ou me fez refletir, e coloco o livro aberto sobre o peito, sincronizando meu coração com o dele. Desce sobre mim a calma dos abençoados, cerro devagar os olhos, e tenho a certeza de que, enquanto o mundo ferve lá fora, eles sempre estarão ali comigo e nunca, nunca, nunca irão embora, nunca me deixarão sozinha.

————-

***ALGUNS USOS DO LIVRO***
por Clotilde Tavares Publicado no dia 06/06/2023 no blog Típico Local <tipicolocal.com.br> e no Facebook

*A foto, feita na mesma data, mostra uma das minhas estantes.

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Comportamento, Cultura, Humor
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arrumar estantes, biblioteca, biblioteconomia, catalogação de livros, estante, leitura, livro, Memória

Imagine um hipopótamo

Clotilde Tavares | 11 de julho de 2023

Pablo Escobar, o traficante colombiano de quem a maioria conhece a história, era doido por animal selvagem e montou um zoológico particular na sua propriedade, mandando buscar no continente africano girafas, zebras, elefantes, dromedários, búfalos, cangurus, flamingos, avestruzes e outros.
Trouxe também hipopótamos. Alguns acabaram por fugir e ao que parece já são cerca de 120 animais, habitando em liberdade e causando desequilíbrio ecológico ao longo do rio Magdalena. Se você teclar no |Google <hipopótamos de Pablo Escobar> vc vai encontrar muitos artigos e repoetangens que dão detalhes do caso.

No Spotify, no link a seguir, você também encontra a canção “A Hipótese do Hipopótamo Tartamudo”, criação genial de Braulio Tavares, que merece uma “oitiva” atenta. De tanto acompanhar as CPIs incorporei o termo oitiva ao meu vocabulário corriqueiro. <https://open.spotify.com/track/52BBz1rxn3WtslVR8XYldp?si=Mr-WDs0ySQKKmuvI6xkD6w&context=spotify%3Asearch%3Abraulio%2Btavares%2Bhipopotamo>

Eu queria muito falar mais sobre esses animais espetaculares, pelos quais tenho fascinação e encanto; mas meus poucos leitores vivem reclamando dos meus longos textos (ah, vou publicar algo sobre isso em breve); por isso vou economizar para transcrever abaixo um texto poético sobre o portentoso bicho, pescado diretamente do Livro de Jó, Capítulo 40, versículos 15 a 23, na tradução publicada na Bíblia do Peregrino (Editora Paulus, 3ª. edição, 2011), tradução que recomendo a quem, como eu, lê este livro espetacular pelo seu valor histórico, poético e literário..

“… Olha o hipopótamo,
que eu criei como a ti;
come erva como as vacas.
Olha a força de suas ancas,
a potência do seu ventre musculoso
quando ergue sua cauda como um cedro,
trançando os tendões das coxas.
Seus ossos são tubos de bronze,
sua ossatura, barras de ferro.
É a obra prima de Deus,
só seu criador pode aproximar dele a espada.
Os montes lhe trazem tributo,
os animais selvagens brincam junto a ele;
ele se deita debaixo dos lótus,
e se esconde entre os juncos do pântano;
cobrem-no os lótus com sua sombra,
envolvem-no os salgueiros da torrentes.
Embora o rio desça bravo, não se assusta,
está tranquilo, ainda que o Jordão
espume contra seu focinho. …”

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Comportamento, Cultura, Curiosidades
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biblia, biblia hebraica, Braulio Tavares, hipopótamo, imagine um hipopótamo, Jó, livro de Jó, pablo escobar, velho testamento, zoologico de pablo escobar

O teatro orgyástico e antropofágico de Zé Celso.

Clotilde Tavares | 8 de julho de 2023
JOSE CELSO MARTINEZ CORREIA (1937 – eternidade)
Dyoniso, o deus do teatro, veio entre chamas e arrebatou-o para o Olimpo. Meu coração sangra. Em 2007, após vê-lo numa apresentação, escrevi o texto abaixo, que consta das referencias sobre o dramaturgo na Wikipedia.
*** Os trechos entre-aspas foram tirados dos programas das peças,
Postado no Facebook em 6 de julho de 2023
——-
***O TEATRO ORGYÁSTICO E ANTROPOFÁGICO DE ZÉ CELSO***
Se a pessoa for a São Paulo e não sair para lugar algum, não for ao cinema, ao shopping, ao teatro, não encontrar ninguém, não ler um só jornal nem ver TV, e mesmo sem ter feito nada disso for assistir a uma peça de José Celso Martinez Correia, a vivência desse espetáculo lhe garantirá uma experiência total da cidade, dessa urbe cosmopolita e corrompida, inocente e safada, amordaçada pelos grilhões da grana mas com doses industriais de vida e tesão pulsando a cada arquejo. A experiência intelectual, artística, estética e, sobretudo, existencial, oferecida por um espetáculo de Zé Celso e seu grupo Uzyna Uzona, sediados no espaço do Teatro Oficina à rua Jaceguay, 520, Bixiga, é inigualável. Aliás, eu não entendo por que o pessoal de teatro das cidades não freta um ônibus, ou avião, ou seja lá o que for e não vai ver “Os Sertões”, da mesma forma que o povo de música se organiza para ir ver Rolling Stones, U2 ou Madonna.
Zé Celso é uma síntese. Ele simboliza a pulsão primitiva e orgiástica de uma cidade, uma urbe viva, que se vende e se curva ante a força da grana que ergue e destrói mas mantém a resistência surda dos seus guetos e muquifos, das suas favelas, vilas e cabeças-de-porco, com seus saberes e prazeres bem longe do cardápio dos deleites oficiais dos engravatados. Ou seja, o público de Zé Celso vai ao seu teatro porque sabe o que se passa ali dentro, porque assume participar – e há muitas formas de participação – daquele acontecimento teatral, onde nos reconhecemos como “… uma só nação de alvorotados, endividados, individuados, destroçados, solitários, no inferno de Dante Marcola Jabor.” Ao mesmo tempo, numa espécie de milagre interno, nos reconhecemos também como “células humanas que contagiam o organismo do país apodrecido aprontando-o para regeneração e crescimento.”
E que teatro é esse? O que propõe, o que quer fazer? Começa com o edifício teatral propriamente dito do Teatro Oficina que não é um teatro tradicional, modelo italiano, com platéia, camarotes, palco e cortina, como 90% das pessoas pensa que são todos os teatros existentes. O Oficina, a rigor, é um corredor de trinta metros de comprimento, com seis metros de largura, e uma altura total de uns dez a doze metros. Encostados às paredes mais compridas, bancos de madeira, com um balcão acima deles onde cabem mais bancos, tudo com um metro de largura, o que reduz o espaço cênico a um corredor comprido, de trinta metros por três. Os atores se deslocam acima e abaixo desse corredor, com piso de terra, que tem uma parte em declive. Há ainda uma fonte, com água corrente, lugar para os músicos num pequeno palco e todos os espaços podem e são utilizados pelos atores e pela cena.
Mas não pense que é um teatro tosco. Os espetáculos dispõem de moderníssimos aparatos tecnológicos, som perfeito, luzes espetaculares, projeção digital, e uma das paredes dessa estrutura, num trecho de uns dez metros, é de vidro, mostrando por transparência os prédios de São Paulo. Uma árvore imensa, com seus 15 metros de altura, também cresce no local e foi incorporada à estrutura do teatro. Mais do que o espaço, porém, é o que se passa ali dentro, colocando José Celso Martinez Correia na galeria dos grandes nomes do teatro brasileiro, com um poder quase metaplásico de renovação, de crescimento, de surpresa, de novidade.
O espetáculo “Os Sertões” demonstra isso. A rigor, não é “um espetáculo”: é um complexo, uma “pentalogia” de cinco espetáculos, cada um deles com seis horas de duração. O épico euclidiano se transforma num épico brasileiro/universal, dividido em “A Terra”, “O Homem I”, O Homem II”, “A Luta I” e “A Luta II”. Nessas trinta horas há uma síntese completa da nossa história como seres humanos, pertencentes à Humanidade, como brasileiros, e como seres pulsantes, cheios de tesão, de dores, de amores, de ambições e quimeras, de maldades e momentos de ternura. Há um sentido profundamente shakespeariano na obra, quando trata da luta do homem com o seu destino, essência da tragédia. Para quem conhece Shakespeare, é um prazer sem igual desfrutar das referências e interpolações, estabelecendo essa ponte viva entre o homem shakespeariano, hamletiano, renascentista, e o homem de hoje, proposto e desejado pelo teatro de Zé Celso, um homem renovado, refeito, renascido, “desmassacrado”. Zé Celso explica que, um dia, cansados, esgotados de trabalho, os atores pensavam que iam fazer um espetáculo fraco. Mas nada disso aconteceu. “Atingimos no ser-estar, serestando nos sertões nesta noite uma tranqüilidade na execução da peça, um estado de inocência criativa com o público junto que nos fez experimentar sem poder definir ainda o ‘desmassacre’, ou mais precisamente, o início do desmassacre. Dentro deste mundo sob o Terror, o nascimento de um sentimento novo, o fim absoluto da paranóia, do estresse, para a continuidade desta felicidade guerreira.”
E o “desmassacre” não acontece somente com os atores. O público que está ali, durante as seis horas que dura cada um desses espetáculos, é incorporado em uma experiência cheia de epifanias que faz o tempo voar. Começa às seis horas da tarde, e quando você vê é meia-noite, o espetáculo terminou, todo mundo dançando e celebrando, e você não quer ir para casa, quer ficar ali, morar ali, incorporar-se àquela trupe de loucos, como o vigia do estacionamento que virou ator e é uma das mais belas figuras do espetáculo. Uma “rave” movida a endorfinas, movida a Tesão, movida a Alegria, movida a Arte.
O público que vai a “Os Sertões” é completamente diferente daquele que vai a ver “Sweet Charity” o musical onde Claudia(canta-dança-sapateia-e-representa)Raia oferece às platéias de novos-ricos que pagam R$ 60,00 para ver esta edulcorada história de amor. No Teatro Oficina pagamos R$ 30,00 (eu, como sou da classe teatral, só paguei R$ 10,00) mas a quantia é irrelevante para a qualidade da vivência que temos ali. Nada tenho contra o teatro de entretenimento, sobretudo quando é de boa qualidade, como provavelmente deve ser o espetáculo de Cláudia Raia. Mas o teatro, enquanto Arte, tem outros objetivos. O teatro, em sua acepção mais profunda, tem como finalidade levantar o véu que separa o visível do invisível e deixar-nos ver dentro de nós mesmos, ainda que por um instante, quem somos, de que matéria somos feitos. Isso o teatro de Zé Celso faz com maestria.
Se quisermos, podemos sair do nosso banco e entrar em cena junto com os atores, como figurantes da construção do arraial de Canudos, ou situações outras propostas pela peça. Podemos entrar em cena, nos misturar à ação, experienciar com vividez o que está acontecendo, como no antigos rituais dionisíacos onde os homens experimentavam diversas alteridades, incluindo a divindade. Ser deus por um minuto, quem não gostaria de? Mas nada disso é obrigado. Se você, como público, quer ficar sentado no seu lugar, ninguém lhe aborrece, nem lhe obriga a nada. Mesmo assim, o véu se levanta e a pessoa que entra naquele espaço e comunga com aquela ação jamais sai dali a mesma. Sai se conhecendo mais, integrando suas experiências num outro nível, entendendo melhor seu semelhante, desfrutando mais dos seus momentos de Alegria e Tesão, sabendo-se homem, mulher, “demasiadamente humano… para a produção de uma paz sem pieguismo, uma paz de criação por devoração antropofágica e de vitória sobre o mais forte, não em poder de estrutura, dinheiro ou armas, mas em poder da presença trans-humana. Aqui se luta pelo apaixonamento da condição contraditória humana, através do re-apaixonamento pelos homens do seu planeta quase inviável, em sua Terra.”
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A convalescente

Clotilde Tavares | 8 de julho de 2023
Pode ser uma imagem de 1 pessoa
Nas três ultimas semanas
Andei daqui muito ausente
Sem postar, sem escrever
Nem uma linha somente
Nesse tempo decorrido
Eu que sou apenas gente
Feita de carne e de sangue
Como todo ser vivente
Contrário à minha vontade
Passei do status de gente
Para outra condição
De também ficar doente
Mas logo mais em seguida
Mais do que imediatamente
Fui promovida de novo
De doente a paciente
Os doutores me ajudaram
Com remédios competentes
Logo depois de alguns dias
Tornei-me convalescente
A doença se acalmou
Mas o corpo ainda sente
Parei tudo o que fazia
Até ficar mais potente
Mais disposta e mais feliz
Mais risonha e mais contente
Muito mais armorial
Muito mais inconsequente
Arengueira e atrevida
Isso é o que vem pela frente!
Você que está lendo isso
Me aguarde, que de repente,
Eu volto a ficar saudável
Curiosa, impertinente
Engraçada e encrenqueira
E escrever diariamente
Aqui deixo abraço e beijo
E voltarei brevemente.
*** Postado no Facebook em 4 de julho de 2023
*** Nessa foto eu era a cigana Gipsy, em performance solo na Casa da Ribeira.
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O primeiro violão

Clotilde Tavares | 15 de abril de 2022

Aos 35 anos, com meu Di Giorgio de estimação.

Tudo começou por causa de um curso que vou fazer em maio, pela internet, sobre Poesia Espanhola Medieval. E antes que você comece a perguntar coisas quero informar que colocarei todos os “links de curiosidade” no final da crônica. Mas só para ir adiantando, o curso A Grande Conversa Espanhola: Do El Cid ao Dom Quixote, é ministrado por Alex Castro, historiador e crítico literário, e tem a proposta de ser um curso de literatura espanhola medieval e moderna, com foco nas rupturas e continuidades com a literatura ocidental contemporânea. Já fiz outros cursos com Alex e posso garantir que são excelentes e imperdíveis.

Como nos outros cursos dele eu me amostrei bastante recitando trechos da Ilíada, Lusíadas e outras obras, o professor me pediu para eu gravar trechos do poema Cantar de Mio Cid, que é um poema épico do século XIII; e também alguns romances medievais, que são narrativas em versos compostas para serem cantadas. O conjunto desses romances recebe o nome de “romanceiro” e a pessoa que os canta e guarda na memória recebe também o mesmo nome. Lembram da nossa Dona Militana, “a maior romanceira do Brasil”? Pois é.

Uma vez que os romances são cantados, fui pegar o violão para ver se ainda sabia empunhar o instrumento, depois de mantê-lo tantos anos abandonado num canto da sala, entregue à poeira e ao esquecimento, usado apenas para emprestar à decoração aquele ar boêmio e descontraído que imagino combinar com a minha pessoa. Eu também pensava que, no dia em que eu abraçasse o companheiro dileto e tangesse as velhas cordas, elas me responderiam como sempre responderam, com sons claros e cheios de melodia, e o ritmo bem marcado nos bordões.

Que decepção! Descobri que, estando eu agora mais redonda, é difícil acomodar o violão no colo, que fica o tempo todo escorregando e ameaçando atirar-se ao piso, num suicídio instrumental; e os dedos desacostumados, finos e com a pele amaciada pelos cremes não conseguem um encontro firme com as cordas, escapulindo dos trastes, desencontrando-se das notas, tirando sons parecidos com o zumbido de um mosquito rouco. Abri mão das unhas, que foram limadas sem piedade pela tesourinha, e encontrei mais firmeza no pressionar das cordas, mas quem sofreu foram as pobres cabeças dos dedos, vermelhos e sulcados, prenunciando os futuros calos. Tudo isso sem falar no ombro direito, que entrou em crise na hora de movimentar o braço, em posições comuns para o violonista mas fora do cotidiano de quem opera apenas o teclado do notebook.

Esse é o castigo que todas as disciplinas oferecem quando você as abandona. O instrumento musical, o ballet, o atletismo, a desenvoltura em qualquer coisa que dependa da habilidade física exige prática constante, aplicação contínua, fidelidade mesmo nos feriados. E assim o violão se vingou do desprezo a que foi relegado durante anos, recusando-se a soar sob meus dedos, agora inábeis pela falta de prática. Os calos da mão esquerda demoram a surgir, e só surgem se a gente praticar todo dia. Sei disso porque minha história com o instrumento é antiga.

Eu tinha 15 anos quando ganhei meu primeiro violão. Titia, que morava conosco e era apaixonada por boleros me prometeu que, se eu conseguisse me acompanhar cantando uma música de Alcides Gerardi, cantor romântico de quem ela era fã, me daria um de presente. No outro dia, arrumei um violão emprestado e com um vizinho comecei o duro aprendizado dos calos, da mão esquerda em busca do Lá menor e do Dó maior, e da mão direita se atrapalhando entre prima e bordão, descobrindo a duras penas o ritmo. Com um mês, eu tinha domado a fera. Titia ouviu deliciada o bolero e me deu carta branca para escolher o instrumento e lá fui eu numa loja que havia na Monsenhor Sales, quase esquina com Marquês de Herval, comprar o violão bonito que eu vinha namorando há meses.

O primeiro de uma série. O ano é 1963, em Campina Grande.

A partir daí, a música fluiu. Nunca tive professor de violão oficial e convencional em escola de música, e aprendi assim, vendo os outros tocarem, experimentando, quebrando a cabeça. Aos 17 anos, dotada de algum atrevimento, fazia sucesso nas festinhas cantando bossa nova, MPB e Jovem Guarda, até que vieram os Beatles, Stones, a música de protesto… E nunca abandonei o bolero, o samba-canção e o repertório brega, porque vivia na boemia, nas rodas de violão, nos bares. Nunca fui uma grande violonista, mas era ousada e lá do meu jeito tosco de entender o braço do violão tocava qualquer coisa e acompanhava qualquer um que se dispusesse a cantar – em qualquer tom. Ouvido apurado sempre tive, e bastava o candidato a cantor entoar a primeira nota que eu corria o dedo no bordão e encontrava a canção.

Você então me perguntaria: e por que parou essa brilhante carreira etílico-musical? Pois é: fui ficando velha, e pelos 40 e poucos anos comecei a enjoar da boemia. Tudo demais é demais também, como se diz lá na Paraíba. E acabando a boemia acabou um pouco também o atrevimento. Além disso, a casa, que antes só tinhas crianças, passou a abrigar um músico erudito, cursando a Escola de Música, violonista espetacular, ledor de partituras – meu filho Rômulo, bendito seja – e eu terminei me encabulando de tocar minhas tosqueiras com ele por perto, escutando e arqueando as sobrancelhas. Depois chegou a baixista Ana Morena, minha filha, –bendita seja também! – mas essa, mais nova, menos exigente, mais descolada, nunca prestou atenção a qualquer coisa que eu inventasse de fazer ao violão, uma vez que se fez instrumentista quando eu já tinha incorporado o pinho à decoração do ambiente. É isso mesmo que você está pensando: as minhas crianças cresceram, e viraram músicos. Era violão demais na família.

E agora? Agora estou sozinha de novo. Posso tocar o que quiser, sabendo ou não, dominando ou não a técnica, que não há ninguém para arquear as sobrancelhas. Por isso não fiquei inibida de tirar o pó deste que agora me acompanha, um instrumento sem graça, sem pedigree, sem grife, duro, pedreira – mas eu prometo tratá-lo com carinho e insistir na dolorosa feitura dos calos e na construção da agilidade. Vou me agarrar com ele com toda a força, para que não se suicide no porcelanato, e confio na fisioterapia para me ajudar com o ombro endurecido. Sinto que ainda temos melodias a espalhar, harmonias a explorar, ritmos a aquecer quadris e coração. Penso em quantas canções novas surgiram enquanto ficávamos solitários, ele lá e eu cá, a olhar um para o outro sem a coragem do abraço. Há um universo musical a desbravar, e eu fico feliz por mais um desafio. Só que, desta vez, ele já me acompanha. Literalmente.

Esse texto foi publicado originalmente no blog de Cínthia Lopes, o Típico Local, em 7 de abril de 2022.

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Anacoreta urbana

Clotilde Tavares | 19 de junho de 2021

Tenho 73 anos de idade, e sou uma sobrevivente. Sobrevivi a uma ditadura militar, quatro casamentos, dois partos, uma dependência química, um grave acidente de carro, um tumor na coluna, vinte e seis anos de docência universitária que incluíram cerca de trezentas reuniões de departamento, trinta anos de teatro, onze cirurgias e doze anos de farra e loucura.

Tenho um passado, e isso me alegra, porque penso que não há coisa mais sem graça do que uma mulher sem passado.

Hoje, sinto que a vida é só isso: hoje. Aprendi com os monges a viver o presente, esse milagre que se reproduz a cada minuto, no suave pressionar das teclas pelos meus dedos. Aprendi também que a verdade, o tempo, o passado, tudo é construção. Mas isso eu só aprendi depois de ter acreditado muito, esperado muito, recordado muito. Venho aprendendo a construir minhas narrativas, minhas epopeias, meus dramas, que assim passam a me pertencer, de maneira inquestionável.

Esse roteiro que traço entre um fato e outro, essa intriga, como diria Paul Veyne, me ajuda a encontrar meu lugar no mundo. A cada ano que passa, vou me livrando da dimensão material, externa, e me expandindo no nível da introspeção, das viagens interiores, confirmadas pela presença de Netuno em Libra, na nona casa da minha carta astral.

A pandemia reforçou minha atitude de anacoreta urbana. Na Bolha, a cavaleiro de Petrópolis, vivo sozinha com minha nesga de mar e o farol, que sinaliza as distrações e aponta o caminho de casa para a minha mente, errante e navegante. Encontrei na crise do planeta a desculpa que eu precisava para me recolher com meus livros, meus filmes, meus cadernos, minhas traquitanas eletrônicas, meus quadros e plantas, e as pedras espalhadas por toda a casa, atestando que sou filha de Xangô, kawó-kabiesilé!

A vizinhança é silenciosa. Aqui, nas alturas do 10º, o passarinho fez um ninho na janela, a um metro de onde me sento para ler todo final de tarde, enquanto o sol se põe sobre esta cidade linda e impossível.

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Planejamentos

Clotilde Tavares | 18 de junho de 2021

PLANEJAMENTOS

Nesses próximos três meses – até final de agosto – estou cursando “o primeiro semestre de 2021” no meu curso de Bacharelado em História na UFRN. São quatro disciplinas – História Oral, História Urbana, História Antiga 2 (Grécia e Roma) e História da Igreja na Idade Média. Todos os professores são muito bons. Cada disciplina tem quatro horas de aula por semana, o que me dá 16 horas na frente da tela, atenta e concentrada. Cada aula dessas implica na leitura e fichamento de um texto – às vezes dois. Isso quer dizer que não vou ter tempo para mais nada.

No curso de História, a gente lê, lê, lê e lê. Depois escreve, escreve, escreve e escreve. Nada diferente do que eu já faço, mas o texto acadêmico muitas vezes é osso duro de roer, e quando o penitente vai ler Benjamin ou Certeau, muitas vezes a tarefa é desafiadora.

Mas eu sou aquela criatura que gosta de viver perigosamente. Então, como se não fosse suficiente, me matriculei num curso de Corte e Costura (agora se diz Modelagem) on line, para atualizar minhas habilidades costureiras, que há tempos não pratico.

Quando cansar dos textos acadêmicos, descanso costurando “umas brusinhas”.

Tudo isso porque #AVidaÉBoa

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