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Big Brother Brasil – O manual de comportamento

Clotilde Tavares | 31 de março de 2010

Ontem acabou o BBB, o BigBrotherBrasil 2010.

Eu sei que acabou por causa do Twitter, onde algumas das pessoas que sigo ficam freneticamente comentando o que está acontecendo no BBB. Eu mesma não assisto nem ao BBB nem ao restante da programação da TV aberta, só eventualmente um ou outro noticiário.

O que me deixa de queixo caído é o grau de envolvimento com esse tipo de programa demonstrado por gente que eu conheço e que considero com bastante noção. Eu respeito muito as escolhas e as preferências dos meus amigos, mas não posso dizer que entendo.

Para mim, eu disse para mim, o BBB é a soma de tudo que existe de baixo nível na TV brasileira, e que veicula valores absolutamente deturpados, o que termina por reforçar nas pessoas esses valores. Um monte de gente sem instrução, sem saber falar direito, cuja energia gravita em torno de sexo e competição – nada contra um ou outro, somente contra a forma como as pessoas são manipuladas pela mídia para expressar isso.

Ainda tenho que ouvir meus amigos discutindo sobre o que Pedro Bial disse! Minha gente, o que Pedro Bial diz é um risco na água. Não tem a menor importância nem permanência.

Mais ainda uma coisinha, que tem tudo a ver com isso que estou dizendo..

Nesse verão, um dia desses, fui a uma praia um pouco distante da cidade. Fiquei impressionada com o comportamento das hordas de banhistas e veranistas quando o assunto é usar o espaço público, o espaço coletivo, o espaço que é de todos e que parece, em certos momentos, pertencer apenas àquele que o usa de forma a perturbar todo mundo, coisa que somente ele não chega a perceber.

Param o carro no meio das estreitas vias enquanto a mulher calmamente tira a areia dos pés, calça as sandálias, veste a camisa no menino, dobra a cadeira, a toalha… e a fila de carros se encompridando atrás enquanto o sujeito esta lá, parado, esperando que a madame venha até o carro.

A pessoa que estava comigo comentou que deveria haver um manual ensinando as pessoas a se comportarem em público. Respondi que, se houvesse esse manual, as pessoas não saberiam ler; se soubessem, não o compreenderiam; se o compreendessem, não se importariam com ele.

Depois, refleti melhor e vi que o manual já existe, as pessoas o lêem diariamente e se comportam segundo ele. São os programas como o Big Brother, as músicas que transmitem o desrespeito e a vulgaridade, e o noticiário da TV, que mostra a impunidade, a corrupção, a safadeza e a bandalheira que corre solta no país. O povo vê, e reproduz. Infelizmente.

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BBB, Big Brother, comportamento humano, Pedro Bial
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De novo os ceresumanos

Clotilde Tavares | 14 de setembro de 2009

Saio pouco de casa. O mundo ultimamente se tornou um lugar barulhento, quente e sem vagas para estacionamento. Eu também fiquei mais velha, mais exigente, mais seletiva, mais comodista. Além disso, em casa tenho o mundo inteiro à minha disposição através da TV a cabo e da Internet, sem falar nos famosos 1.800 livros mencionados aqui tantas vezes. Quando saio, é para jantar ou almoçar com amigos, ir ao shopping ou livraria, dar uma volta de carro, visitar filhos ou amigos. Como não bebo nem gosto de balada ou noitadas, não vou a barzinhos; e qualquer reunião com mais de quatro pessoas para mim é evento, e não frequento eventos. Mas gosto muito de receber visitas, além de visitar muito também.

Enfim, estou caminhando para ser uma anacoreta urbana, empoleirada neste quarto andar, distante “do mundo e das suas pompas”, cumprindo o destino astrológico que colocou Vênus e a Lua em conjunção na minha décima segunda casa, só não me tornando uma freira por causa dos pecados cometidos na juventude e que, mesmo indo contra o bom-senso, estou doidinha para cometê-los de novo.

Oscar Wilde

Oscar Wilde

Reproduzo de memória um texto de Oscar Wilde em “O Retrato de Dorian Gray” – o livro está ali na estante mas estou com preguiça de me levantar para pegá-lo – sobre essa coisa dos pecados da juventude.

Num jantar, uma mulher já velhusca pergunta ao personagem:

– Como poderia sentir-me jovem outra vez?

– Oh, Lady X., lembra-se de alguma grande loucura que tenha cometido na juventude?

– É claro.

– Então cometa-a novamente…

Outra coisa que me assusta no mundo exterior é a presença dos ceresumanos, criaturas que parecem comigo mas que definitivamente não pertencem à minha espécie sendo, como já disse, meus “dessemelhantes”. Ontem, no supermercado mais alinhado da cidade, encontrei cinco espécimes. Três rapazes, duas moças, todos na casa dos vinte anos. Lindos, altos, bem proprocionados, bem vestidos, roupas caras, as garotas muito manicuradas e penteadas, roupas de griffe, bolsas caríssimas, tudo de muito bom gosto; não eram certamente garotas de programa como alguns podem estar pensando.

Em bloco, essas cinco criaturas se deslocavam pelos corredores da loja, falando em tom altíssimo, zoando uns com os outros aos gritos, usando palavrões, desarrumando as prateleiras, arrotando alto e emitindo outros sons escatológicos, e imitando animais. Os rapazes latiam, miavam, esturravam; e as moças cacarejavam e grasnavam, numa barulheira infernal, inadmissível naquele local e tolerável apenas se fossem crianças muito pequenas, e olhe lá.

Os ceresumanos também são identificáveis no cinema, e Sandro Fortunato, do blog Algo a Dizer, registrou um dia desses a presença deles. Eu deixei de ir ao cinema também porque me assusta a convivência com esses meus dessemelhantes, cada vez em maior número e mais barulhentos, fazendo-me lembrar do clássico cinematográfico  “Invasores de Corpos”, onde seres alienígenas se apossam do corpo das pessoas.

Tenho paciência com muita coisa neste mundo. Mas com os ceresumanos, fruto da falta de educação, representantes da grosseria e da cafajestice, meu grau de tolerancia é zero.


Uma mulher já velhusca – assim como nós pergunta:
– Como poderia sentir-me jovem outra vez?
– Oh, Lady X., lembra-se de alguma grande loucura que tenha cometido na juventude?
– É claro.
– Então cometa-a novamente…
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anacoreta, anacoreta urbano, comportamento humano, Invasores de Corpos, O Retrato de Dorian Gray, Oscar Wilde, Sandro Fortunato, sem-noção, Sempre Algo a Dizer, tolerância zero
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Como fazer perguntas, como dar respostas

Clotilde Tavares | 10 de setembro de 2009

Nos meus tempos de médica, quando trabalhava atendendo populações carentes em consultórios nos bairros pobres, rolava uma espécie de anedota sobre a desinformação do médico recém-formado quando começa a lidar com uma população para a qual ele não foi preparado na universidade.

Dizia a história que a mãe chegava com a criança, fraca, mal-nutrida, doente, com todos os indícios de quem estava passando fome. Travava-se, então o absurdo diálogo.

“Esse menino está comendo?” – perguntava o médico.

“Está, sim senhor” – era a resposta da mãe.

“E ele come carne?”

“Come, sim senhor.”

“Toma leite?”

“Toma sim senhor.”

“Come feijão, arroz, verduras, frutas?”

“Come, sim senhor” – continuava afirmando a mãe.

Aqui,então, o médico expressava sua confusão:

“Então por que é que ele está tão magro e tão doente?”

E a mãe:

“Pois é, doutor, quando tem, ele come.”

Toda a confusão se dava pelo fato da mãe responder corretamente a pergunta do médico, e do profissional perguntar uma coisa quando na verdade queria saber outra. E quantas vezes isso não acontece na nossa vida? Quantas confusões e problemas ocorrem porque quem faz a pergunta não sabe formulá-la ou quem dá a resposta responde outra coisa, e não aquilo que foi perguntado?

É comum a seguinte cena: o adolescente chega em casa, às nove horas da noite. Está atrasado para o jantar. Pergunta então para a mãe:

“Mãe, tem jantar?”

A mãe, geralmente, responde uma coisa mais ou menos assim:

“Você pensa que eu sou sua escrava, ou sua empregada, ou sua garçonete, para ficar aqui de plantão até uma hora dessas esperando que você chegue para colocar seu jantar?”

Aí o menino olha assim de lado, meio desconfiado e diz:

“Mãe, eu apenas perguntei se tinha jantar, e você responde sim ou não. Se tiver, eu janto. Se não tiver, eu como qualquer coisa e vou dormir…”

E assim, prestando atenção à pergunta e respondendo apenas o que teria sido perguntado, muitas batalhas domésticas seriam evitadas.

Mas, para mim, a campeã dessas histórias aconteceu num desses colégios americanos onde o ídolo estudantil do futebol precisava ter um aproveitamento mínimo nas matérias para poder entrar em campo e defender as cores da escola. Louro, alto, forte, atlético, vivia tão concentrado nos treinos que relaxou com a prova de Filosofia e havia tirado zero. Era a final do campeonato e o garoto não podia entrar no campo, a não ser que se saísse bem numa prova de emergência que a direção havia permitido que ele fizesse. O estádio lotado, as animadoras de torcida no gramado fazendo suas coreografias, as equipes esperando e, no vestiário, todo paramentado para entrar em campo, nervoso, suando, o nosso herói esperava o professor de Filosofia que vinha aplicar a prova.

O professor chegou, afobado e foi logo comunicando:

“Vou lhe fazer apenas uma pergunta”, disse. “Se responder certo, entra em campo. Se não, não vai poder jogar.”

A tensão era visível em todos que ali estavam: o treinador, o massagista e um membro da direção, que havia vindo fiscalizar a prova.

O professor continuou:

“A pergunta é a seguinte: quero que você me diga tudo que sabe sobre Sócrates”.

O garoto ficou pálido.

“Sócrates? Tudo que sei sobre Sócrates?” Pensou um pouco. “Sócrates era grego e tomou veneno. Pronto. É tudo que sei sobre Sócrates.”

“Resposta certa”, disse o professor, exultante. “Podem deixá-lo entrar em campo.”

Pois é, minha gente. Saber perguntar, saber responder: uma arte, que todos deveriam praticar.

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como perguntar, como responder, comportamento humano, comunicação entre pessoas, Sócrates
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