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Começando pelas coisas primeiras

Clotilde Tavares | 1 de agosto de 2020

Sobre o livro Poética, de Aristóteles.

Este é o primeiro parágrafo da Poética.

“Falemos da poesia – dela mesma e das suas espécies, da efetividade de cada uma delas, da composição que se deve dar aos mitos, se quisermos que o poema resulte perfeito, e, ainda, de quantos e quais os elementos de cada espécie e, semelhantemente, de tudo quanto pertence a esta indagação – começando, como é natural, pelas coisas primeiras.”

Vejam a simplicidade: se você eliminar o que tem entre os travessões, o que você vai ter?

“Falemos da poesia começando, como é natural, pelas coisas primeiras.”

Isso é o objetivo do livro, condensado em uma frase simples, com a beleza de “começar pelas coisas primeiras”, que dá todo o sentido à prática da compreensão de qualquer tema.

O que há entre os travessões pode ser enumerado em tópicos, que são os tópicos que ele vai desenvolver no trabalho. Quer ver?

“dela mesma e das suas espécies, da efetividade de cada uma delas, da composição que se deve dar aos mitos, se quisermos que o poema resulte perfeito, e, ainda, de quantos e quais os elementos de cada espécie e, semelhantemente, de tudo quanto pertence a esta indagação”

  1. dela mesma e
  2. das suas espécies,
  3. da efetividade de cada uma delas,
  4. da composição que se deve dar aos mitos, se quisermos que o poema resulte perfeito, e, ainda,
  5. de quantos e quais os elementos de cada espécie e, semelhantemente,
  6. de tudo quanto pertence a esta indagação

Então, a leitura fica fácil quando perdemos o medo de “não entender”. Só aqueles experientes entendem da primeira vez.

Sentiu alguma dificuldade? Leia em voz alta. As palavras adquirem sentido, forma, som e cor. Cuidado com a pontuação: vírgula é uma pausa curta e, depois dela, sempre vem mais alguma coisa. O ponto fecha a ideia.

Este texto se destina às pessoas que estão inscritos no Grupo Teatro Grego.

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Clotilde Tavares | 8 de julho de 2020
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Os sussurros das mulheres.

Clotilde Tavares | 3 de junho de 2020

Inaugurando hoje o podcast do ***Umas&Outras***, com assuntos variados. Toda semana um episódio novo. Nesta semana, falo sobre as mulheres escritoras que precisaram se esconder atrás de um pseudônimo masculino para terem suas obras aceitas e publicadas.

É só clicar no link.

https://youtu.be/N8zlps0l7WM

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A TECEDEIRA

Clotilde Tavares | 26 de outubro de 2019

IMG_6124 (1)

Eu vivo carregando nos ombros a coerência do mundo. Calada. Sem dar um pio.

Tem hora que o peso é tão grande que eu acho que o mundo vai desabar.

Ninguém presta atenção em mim, sentada nesse lugar, tecendo, mas sou eu que garanto a fala de qualquer um aqui, mesmo o mais pequeno.

Sou em quem põe a mesa todo dia pro banquete dos sonhos.

E quando tu sai de casa, vê o semáforo? Sou eu que mantenho ele aceso, pra evitar os desatinos nas encruzilhadas.

Tem hora que a gente sente que tem uma coisa dentro da gente que tá à beira de desmoronar.

Mas é preciso segurar. Eu mesma não quero gritar e me desesperar no meio dos escombros, no meio das ruínas.

Não!

Minha tarefa é cuidar, cuidar, cuidar das receitas, dos cadernos, dos desenhos, dos esquemas. Essas coisas, elas têm um espírito, e sem esse espírito elas viram sombras.

Aí o que eu faço: cuido, pra que o Espírito não fuja das cidades, das arquiteturas, dos corpos, e vá morar em outros países.

Tu quer saber meu nome? Por que?

A primeira coisa que acontece quando a gente dá um nome a uma coisa é se separar dessa coisa. Tu quer se separar de mim? É, porque eu já tou aí dentro de tu.

Eu vermelha, tu branco, aquele preto, o outro amarelo, algum azul e aquela ali verde, gente de toda cor. E aqui todo mundo é índio, exceto quem não é.

Ah. Tu não acredita. Tu já sabe de tudo. Tu é um herói do teclado. Faz assim: vai lavar a louça, juntar a roupa suja e tirar o lixo. Depois tu vai pro teclado, vai jogar, ver a temporada nova, o episódio novo.

E te cuida, visse, pra não embarcar nessa onda de ódio. Odiar quem odeia? Sem pensar em que é que isso vai dar?

Não basta tu saber que eu tou aqui, tomando conta da felicidade? Que eu tou de olho nos assassinos que querem acabar com ela?

Tu não acredita na minha (tua) alma invencível?

Existe uma vida secreta, umas perguntas novas, uns desejos…

Presta atenção. Escuta.

Ontem eu subi num alto, senti o vento no rosto… Foi tão bom!

(Respira.)


Texto que performei no palco da Casa da Ribeira, em 1º de maio de 2019, escrito por mim, baseado no primeiro capítulo de “A Cultura no Plural”, de Michel de Certeau.

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Vem aí livro novo!

Clotilde Tavares | 18 de outubro de 2019

ninho da escritora

(Na foto, o lugar onde invento minhas histórias).

Em meados de dezembro, se tudo der certo e se houver uma real e efetiva little help from my friends eu quero estar de livro novo e autografando no dia do meu aniversário.

Dia 22/10 estarei lançando a campanha de financiamento coletivo no Catarse e conto firmemente com você para apoiar o projeto e tornar possível esse livro.

Aguarde. Você receberá as informações necessárias para apoiar.

DE REPENTE A VIDA ACABA é um romance que conta a história de Maria Eulina. Durante toda a vida, ela quis ser escritora, sem nunca ter conseguido realizar esse desejo. Vive entre desacertos, dilemas e insatisfações, refém de um passado que não consegue superar. A ação ocorre na época atual, mas parte dela se situa em meados da década de 1980, quando o Brasil se defrontava com a redemocratização, a Nova República, e os planos econômicos.

 

Trecho:

“… “…Eu acho que fiz muito mal para essa menina. Talvez por isso ela seja assim distraída, sem objetivo, sem ambição. Pessoas dizem que não, que não é por isso, que há pais que fazem tudo certo, que se dedicam, e o filho termina sendo lá o que ele quer, não importa a criação. Pode até ser, mas eu sinto que no meu caso a culpa é minha mesmo. Mimei demais, dei atenção demais, quis para ela mais do que o universo dela comportava. E ela não é nem minha filha. É afilhada, ou melhor, afilhada não, ela me chama de Madrinha mas nunca houve um batizado. Eu acho tão pobre e tão brega essa coisa de madrinha. Coisa de tabaréu, de gente do interior. A mãe era uma mulher muito boa e foi minha empregada por anos, morreu de câncer de mama, coitada, e eu tomei conta da menina, que já vivia comigo e aqui em casa quando a mãe morreu, e já me chamava de Madrinha. Eu perguntava: Dora, quem é o pai dessa menina? Você não vai me dizer nunca? O pai dessa menina se chama um litro de rum montila, pronto, a senhora agora está satisfeita? Não sei quem é, não sei o nome, nunca vi, foi uma farra na comunidade, um baile, e eu bebi e trepei com esse homem, peguei um bucho. Não sei quem é, nunca mais vi, não procurei, não quero ver, não vou ver de novo. Mas criatura, procure ele, pode ser que ele possa lhe ajudar, que tenha emprego, que lhe ajude a criar. Não quero, não me interessa, a menina é minha, só minha. E se abalava para a área de serviço, resmungando, pegava a cria no braço e apertava com força, eu ia atrás morrendo de rir, mas criatura, você está pensando que o pai vai chegar aqui agora para levar a menina com ele? Largue ela no berço e cuide do almoço, olhe a panela derramando. E ela me olhava com olhos de raiva, beijava a cabecinha da filha e dizia, é minha, só minha.  Mas terminou sendo minha, a menina. Minha, e não dela. A menina filha do litro de rum montila, a menina que nasceu depois que o meu menino foi embora. Esse sim, meu, feito da minha carne e do meu sangue e também da carne e do sangue não do litro de rum montila mas do litro de uísque drurys que bebi naquela noite. Filhos do álcool, que coisa. Tem os filhos da guerra, os filhos da ditadura, os filhos da pobreza, os filhos do álcool ninguém fala neles. Ninguém menciona essas criaturas que surgem do nada e encarnam em uma mulher solitária e embriagada, que busca nos desvãos da noite um aconchego, um abraço. A dela, a de Dora, minha empregada, filha do litro de rum montila; o meu, o meu menino, filho do litro de uísque drurys.

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SALVE-SE QUEM SALVAR

Clotilde Tavares | 28 de agosto de 2017

 

Vejo sempre na TV uma propaganda da organização Médico Sem Fronteiras que diz assim: “ – Só quem pode salvar um ser humano é outro ser humano.”

Nesses tempos insanos, de “caça ao outro”, onde a gente tem medo de ir à esquina, de ficar numa parada de ônibus, onde os professores têm medo de entrar na sala de aula, onde dar uma opinião nas redes sociais pode desencadear uma guerra, pois bem, nestes tempos dá vontade de gritar SALVE-SE QUEM PUDER ou CORRAM PARA AS MONTANHAS, o que se traduz na prática por enterrar a cabeça na areia do medo e da desesperança e fazer de conta que está tudo bem.

Mas eu não. Eu repudio o medo.

Para fazer frente ao medo, eu tenho a esperança.

Contra o ódio, eu tenho a doação amorosa da Arte, do que sei fazer, do que faço com prazer, do que me ilumina e é como um farol, iluminando também o meu redor.

Escrevo, e falo.

E não me calo.

Eu vez do SALVE-SE QUEM PUDER eu proponho o SALVE-SE QUEM SALVAR. Só podemos nos salvar salvando o outro, seja ele quem for, sem ódio, sem medo, e sempre pela via da Ética e da Democracia.

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Moda e geografia

Clotilde Tavares | 31 de maio de 2014

 

Ela pode!

Ela pode!

Eu tenho birra e impaciência com o atendimento em lojas. Não gosto que perguntem meu nome, porque não estou ali para fazer amizade e sim para fazer uma compra, Também me sinto estranha quando uma mocinha que eu nunca vi e provavelmente não vou ver de novo fica me tratando pelo meu primeiro nome, Clotilde-pra-lá, Clotilde-pra-cá. Algumas me chamam até de “Matilde”. Fazer o quê? Trato todo mundo com delicadeza, de Senhor e Senhora, até que a pessoa me dê cabimento. Se não dá, continuo na cerimônia. E gosto de ser tratada do mesmo modo. Mas agora, comprar qualquer coisa numa loja é iniciar um processo de relacionamento com o vendedor, um processo às vezes inusitado. Já falei sobre isto neste blog, aqui e aqui.

Terça feira que passou fui comprar uma sandália. Entro numa dessas franquias de calçados do shopping e a vendedora, por não ter em estoque sandália no meu número, me ofereceu uma bota. Cano longo, segundo ela, ficaria ótima para mim. 

Isso me lançou numa dúvida estética terrível, porque sempre achei que eu, com um metro e cinquenta e sessenta e nove quilos, pernas curtas e grossas, não fico muito bem com uma bota de cano longo. Como recusei, e ela insistiu, aleguei que queria mesmo uma sandália. A gentil vendedora usou então outro argumento. Você já sabe qual: o argumento de que a bota é o calçado mais apropriado para o inverno.

– Mas inverno aqui em Natal? –  pergunto eu.

E ela, didática:

– Bem, “Clotilde”, nós trabalhamos com as coleções de inverno porque nos baseamos nos lançamentos da última moda na Europa, e lá agora é inverno.

Então pirei de vez, caro leitor. Sempre pensei que nessa época fosse primavera na Europa, preparando um verão para o mês de julho, agosto, mais ou menos. Como já cheguei à conclusão de que não entendo de moda, devo estar desatualizada também quanto ao clima e à geografia.

Preciso com urgência me atualizar. Para os assuntos de moda, tenho a minha amiga Gladis Vivane e seu maravilhoso blog Salto Agulha. Mas para Geografia, ainda não sei a quem recorrer. Quem se habilita?

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atendimento em lojas, Moda, padrão de atendimento, vendedor
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Retrospectiva 2013

Clotilde Tavares | 31 de dezembro de 2013

Hoje acaba 2013, ano cheio de realizações e alegrias entre amigos. Então, é preciso fazer um balanço e agradecer ao Universo pelo privilégio de continuar “viva e bulindo” aos 66 anos de idade – mas conservando diante do mundo o deslumbramento de uma criança pequena.

Em 2013,

– Escrevi duas peças de teatro, que foram montadas com sucesso, reafirmando minha parceria com a Casa da Ribeira e o diretor Henrique Fontes: “Os Perigos de Vitória” (março) e “A Estrada” (dezembro);

– Mais uma peça “A Farsa dos Opostos”, que estreou em 2012, e em 2013 circulou o país com o grupo Imbuaça, de Aracaju, dirigida por João Marcelino;

– Publiquei “Águas do Tempo”, livro escrito para a família Costa Silva/Rabelo, do Recife;

– Concluí a novela “O Monstro das Sete Bocas”, na mesma linha de “A Botija”, que sai em março de 2014;

– Em junho tornei-me, com muita honra, Cidadã Natalense, através de projeto do vereador Hugo Manso;

– Operei os olhinhos, e com a visão livre das cataratas da idade, aposentei de vez os óculos de grau que usava desde os 16 anos de idade;

– Dei cursos, oficinas e palestras – teatro, cultura popular e literatura foram meus temas;

– Li, escrevi, vi filmes, vi séries de TV, bordei, aprendi receitas novas, dormi bastante, engordei, enchi a varanda de plantas, viajei – pouco, mas com prazer – fiz novos amigos;

E o lado ruim, não tem? Só aconteceu coisa boa? – você pergunta. Tem o lado ruim sim, mas eu só contabilizo as coisas boas. As coisas ruins, aprendo com elas o que tinha de aprender e depois deleto!

Em 2014, o ano vai ser meu. Os projetos de teatro e de literatura já estão escritos e encaminhados. Nasci com Júpiter, Mercúrio e o Sol na Casa 11 e tenho Iansã na cabeça. Então não posso esperar nada menos do que muita coisa boa num ano regido por Júpiter, Xangô e Iansã. O Arcano do Tarô que preside o ano é Arcano VII – O Carro, em cujas rédeas venho praticando há anos o aprendizado do equilíbrio.

E você, que me acompanha, chegue junto porque 2014 promete!

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Eu, personagem.

Clotilde Tavares | 11 de setembro de 2013

Rosenda von Kraken, em 1993.

Rosenda von Kraken, em 1993.

Eu sou atriz. Em cima do palco já fui muita gente. Fui, por exemplo, Estragon. Fui Rosenda von Kraken, Carlota, Antonieta, Sílvia. Fui Gipsy, personagem que inventei e que saiu do palco do teatro para a rua e para os livros. Fui também um cara super-divertido, o Coronel Olegário, Corno e Latifundiário, que atirava de revólver e cantava rock and roll. Fui mais um monte de gente que nem me lembro mais. Mas a experiência de ser um personagem eu mesma, interpretada por outra pessoa, é novidade para mim.

Gipsy, no ar de 1996 até hoje.

Gipsy, no ar de 1996 até hoje.

Pois as professoras da Escola Ulisses de Góis, em Natal-RN, no desfile comemorativo da Semana da Pátria no dia 5 de setembro último, organizaram um “pelotão” representando autores do Rio Grande do Norte, com os alunos caracterizados como o escritor.

E eu estava lá, representada pela linda Rebeca, aluna da escola, que encarnou com graça e simpatia (e uma beleza que não tenho nem nunca tive) a minha desataviada pessoa.

Uma experiência a mais, numa fase da vida em que é difícil acontecer uma novidade.

Eu adorei.

A aluna Sayonara, de preto, cinto dourado e mão na cintura, encarnando esta escriba que vos tecla.

A aluna Rebeca, de preto, cinto dourado e mão na cintura, encarnando esta escriba que vos tecla.

O original!

 

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Província Submersa

Clotilde Tavares | 9 de setembro de 2013

Hoje trago para você a notícia de um livro: “Província Submersa”, de Octacílio Alecrim, publicado numa edição conjunta do Instituto Pró-Memória de Macaíba/RN e Senado Federal. É uma segunda edição, com 278 páginas; a primeira saiu em 1957, como edição especial do Proust Clube do Brasil, em tiragem limitada e fora de comércio.

Sobre o autor, o primoroso e elucidativo texto do jornalista Vicente Serejo, que abre esta a edição, traça com maestria o perfil deste que, nascido em Macaíba, cidade que fica pertinho de Natal, em 1906 e falecido no Rio de Janeiro em 1962, foi “talvez o maior proustiano no Brasil do seu tempo, ao longo das décadas de quarenta e cinqüenta.” E continua: “Sua importância não se consagra apenas nos textos que escreve e publica, mas na grande presença nas bibliografias dos estudos impressionistas e acadêmicos sobre o romance de Marcel Proust.”

Mas o bom mesmo é este livro “Província Submersa”, um delicioso relato da infância e juventude do autor, que extrapola o simples memorialismo e, nas entrelinhas dos fatos pessoais, retrata a história sócio-cultural e econômica daquela região, nas primeiras décadas do século XX, quando se ia de Macaíba a Natal de barca, pelo rio Jundiaí, que afluía ao Potengi. São histórias de famílias, descrição de tipos populares, relatos de brincadeiras, códigos de comportamento e vida social, descrições tão reais e detalhadas que parecemos estar vivendo junto com o autor os fatos que descreve.

Octacílio Alecrim (1906-1968)

Octacílio Alecrim (1906-1968)

E isso sem abrir mão nem por um instante da prosa elegante, da sintaxe escorreita, das imagens vívidas, tudo denotando um memorialista completo, bem no espírito da “Recherche…” de Proust, de quem Octacílio Alecrim foi, como já falei, um dos mais competentes exegetas. É um livro que agrada ao intelectual, ao estudioso, que se deleita com a erudição demonstrada, os achados estilísticos; e o leitor comum também encontra aí a história de um menino, um menino como os outros, nascido e criado no interior, tal como o Carlinhos de Zé Lins, e com ele se identifica, pois todos nós fomos um dia meninos e meninas, mergulhados na doce inocência da infância, e sentimos, através das memórias de Otacílio Alecrim, o cheiro suave de lavanda que emanava do colo da nossa mãe, o gosto do leite morno tomado ao pé da vaca em caneca de flandres, o contato áspero do tropical agajota do terno do pai, a feira, as cavalhadas, as histórias ouvidas da boca das empregadas e amas, o mistério das noites estreladas de um infância onde não havia shopping-centers, nem computador, nem videogames.

Um livro para se ler devagar, saboreando, degustando, relembrando e reconhecendo nesta “Província Submersa”, de Octacílio Alecrim, além do seu alto valor literário, uma fonte abundante de cultura e de prazer.

Rua da Conceição. Macaíba, 1898.

Rua da Conceição. Macaíba, 1898

Nesta quinta-feira, 12 de setembro, estarei falando sobre este livro e este autor na Academia Macaibense de Letras, às 15 horas, no sessão comemorativa de aniversário da Instituição. A reunião será no Pax Clube de Macaíba.   

 

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