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Os maremotos da saudade

Clotilde Tavares | 6 de janeiro de 2018

balaustrada getulio vargas

Último dia do ano e eu resolvi dar uma volta de carro pela minha cidade Natal. Quase sem sentir, fui na direção dos bairros de Tirol e Petrópolis, onde gastei praticamente dez anos da minha juventude, tendo o Hospital das Clínicas e a minha casa na Pinto Martins como pontos de referência. Estava tudo lá como no passado, e passei por ali sem ver os edifícios, nem as estruturas de vidro fumê, nem o que foi acrescentado depois. Vi Natal dos anos 1970, e me vi também, com meus 45 quilos de pura energia, subindo e descendo aquelas ruas, a pé, carregada com os pesados livros de Medicina, indo para a rua do Motor onde eu atendia as crianças no Centro de Recuperação Nutricional da UFRN, ou o Pronto Socorro do Hospital das Clínicas, a Maternidade-Escola, a Pediatria. Passei de carro hoje, devagar, pela avenida Getúlio Vargas e olhei o mar – igualzinho ao daquele tempo, as nuvens cheias, e o céu com uma Lua ainda tímida e desbotada, a me espiar lá de cima. E antes que os maremotos das saudade agitassem meus olhos com o sal das lágrimas, prudentemente tomei a Prudente de Morais e voltei ao abrigo uterino dest’A Bolha onde, na poltrona macia e entre séries e livros, pretendo esperar o Ano Novo.

Publicado no Facebook em 31 de dezembro de 2017.

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Os objetos misteriosos

Clotilde Tavares | 16 de novembro de 2017

Uma das características principais do conto maravilhoso é a presença do “objeto mágico”, que permite ao herói realizar tarefas difíceis, senão impossíveis. Vladimir Propp dedica todo um capítulo do seu livro “As Raízes Históricas do Conto Maravilhoso” ao que ele chama de “auxiliares mágicos”, mostrando que o conto atinge seu apogeu quando tais auxiliares – que podem ser animais ou objetos – são colocados à disposição do herói. As reminiscências me trazem a voz pausada de Severina de João Congo, uma das contadeiras de história da minha infância, que dizia: “Aí a velha entregou a Juvenal um fio do cabelo dela, um cabelo muito comprido, e disse que aquele cabelo tinha a força de mil correntes…”

São inúmeros os exemplos de objetos mágicos no conto maravilhoso. No folheto “História de João Moleque e a princesa Lindalva”, de João José da Silva, há uma touca mágica, presente de Nossa Senhora, que torna o herói invisível: “Quando chegou no jardim/ A mulher estava ainda/ Esperando a sua volta/ Com uma alegria infinda/ Ele chegou, ela deu-lhe/ Uma touca muito linda// E disse: esta touca tem/ Uma força benfazeja/ Pois ela em tua cabeça/ Não há diabo que te veja/ Pois ficarás invisível/ Vencerás qualquer peleja.”.

Já na história de “A Princesa Rosamunda ou a Morte do Gigante”, de José Pacheco, o gigante Aranol possui um espelho de prata que tem o poder de desencantar a princesa, transformada em pedra pelo poder da magia: “Sou eu, Aranol, o chefe/ E o que pretendes mais?/ Hidelbrando respondeu-lhe:/ És um gigante voraz/ Dá-me o espelho de prata/ Que desencanta os mortais.// Minha irmã, a princesinha/ Tão inocente e tão boa/ a bruxa Zoraina Preta/ Há dias petrificou-a/ Só o teu espelho faz/ Voltá-la à mesma pessoa.”

João Martins de Athayde refere-se a um anel que transporta a pessoa para qualquer lugar, em “Raquel e a fera Encantada”, que nada mais é do que mais uma versão do conto “A Bela e a Fera”: “Disse a voz: no travesseiro/ Encontrarás um anel/ Um objeto distinto/ Um amigo tão fiel/ Que livrará o teu pai/ Daquela morte cruel// Este anel é encantado/ A pessoa que tiver/ Com ele se livrará/ Dos obstáculos que houver/ Se transporta em dez minutos/ Para o local que quiser.”

Há um folheto onde esses objetos assumem condição de protagonistas: “Josimar e os 4 Objetos Misteriosos”, de Silvino Pereira da Silva. O herói, ao perseguir um veado com intenção de matá-lo, presencia a sua queda em um poço. Penalizado, resolve salvar o animal e deixá-lo livre. Este, em recompensa, lhe dá os quatro objetos que dão título à história. “Outra voz chegou e disse/ Ninguém mais lhe atrapalha/ Aqui quem chegar com fome/ Come muito e não trabalha/ Em paga do benefício/ Dou-te esta linda toalha// Josimar, esta toalha/ Pertence à alta magia/ Quando estiveres com fome/ Seja de noite ou de dia/ É bastante dizer: Põe-te/ Cheia de comedoria.”

E o folheto continua: “Apareceu outra voz/ Num som vibrante de moça/ Dizendo: Vós viverás/ Sem precisar fazer força/ Conduzindo com cuidado/ Esta linda e rica bolsa.// Ela é misteriosa/ E fará tua defesa/ No ato de precisão// Podes dizer com certeza/ Ó bolsa te enche para/ Acabar minha pobreza.// Assim outra voz lhe disse/ Recebes o meu conselho/ Aceitas esse objeto/ Um misterioso espelho/ É de grande utilidade/ Este belíssimo aparelho.// Sendo magnetizado/ Dos mais antigos sistemas/ Se vê as cenas dramáticas/ Das artistas de cinema/ Também vê-se a deusa Vênus/ Cantando lindos poemas.// Ele ouviu alguém dizer/ Josimar, a hora é esta/ Recebes esta rabeca/ Que faz parte da orquestra/ E prossigas na viagem/ Pois já terminou a festa.// Saibas que esta rabeca/ Tem o nome de vingança/ É um objeto mágico/ E de muita confiança/ Precisando tocar nela/ Quem estiver por perto dança.”

O conto maravilhoso, nas suas narrativas fantásticas e encantadoras, apresenta uma enorme variedade de objetos. Além dos já citados, há outros mais, uma infinidade deles. A pedra de fogo, que quando atritada “encandeia todo mundo” ou dela “surgem dez soldados armados até os dentes”. A varinha mágica, a bengala, o chicote, a espada, a água que devolve a vida e a luz dos olhos, a maçã envenenada, as botas de sete léguas, o porrete que sozinho luta e destrói os inimigos á força de pancadas, e… o pavão misterioso.

“O Pavão Misterioso”, folheto de cordel da autoria de José Camelo de Melo Rezende, é a história da Condessa Creuza, a moça mais bonita da Grécia, conservada pelo pai trancada desde a infância no mais alto quarto do sobrado.Uma vez no ano, a moça aparece por uma hora ao povo, que vem de longe, só para contemplar-lhe a beleza. Um retrato dela chega até a Turquia, onde mora Evangelista, que se apaixona pela bela figura da jovem. Dirigindo-se à Grécia, ele encomenda a um engenheiro um mecanismo alado – o Pavão Misterioso do título – a bordo do qual consegue chegar até o quarto da moça, raptando-a, depois de vários perigos e dificuldades.

“O Pavão Misterioso” é um folheto cujos “objetos misteriosos” possuem um quê de realidade, demonstrando uma vez mais que a magia é parceira e precursora da ciência. Na verdade, se pensarmos bem, o espelho de Josimar, “…magnetizado…(onde) se vê as cenas dramáticas das artistas de cinema…”, sendo inclusive chamado de “aparelho”, nada mais é do que as telas, monitores e écrans que estão presentes em nossa vida. N’O Pavão Misterioso está onipresente a tecnologia, a ciência, e uma exposição clara da mágica subjacente aos objetos. Pode-se dizer que, n’O Pavão, a Ciência assume o status da magia, realizando prodígios, apontando soluções, desenvolvendo estratégias.

O pavão do título não é a ave mágica e mítica que sai de dentro de um ovo para levar o herói no seu dorso até os confins do mundo. É nada mais do que um helicóptero, um aeroplano, que pousa e decola verticalmente. É inventado a pedido do herói pelo Dr. Edmundo, um “engenheiro profundo” que reside na “Rua dos Operários”. O poeta explica com riqueza de detalhes: “O grande artista Edmundo/ Desenhou nova invenção/ Fazendo um aeroplano/ De pequena dimensão/ Fabricado em alumínio/ Com importante armação.// Movido a motor elétrico/ Depósito de gasolina/ Com locomoção macia/ Que não fazia buzina/ A obra mais importante/ Que fez em sua oficina.// Tinha a cauda como leque/ As asas como um pavão/ Pescoço, cabeça e bico/ Alavanca, chave e botão/ Voava igualmente ao vento/ Para qualquer direção.” E é o próprio inventor, que não é um mágico ou uma bruxa, mas um inventor, um engenheiro, um artista, que termina a explicação: “Eu fiz um aeroplano/ Do formato de um pavão/ Que se arma e se desarma/ Comprimindo em um botão/ E carrega doze arrobas/ Três léguas acima do chão.” É o triunfo da técnica dando suporte às soluções miraculosas.

Além do pavão propriamente dito, há ainda no folheto a presença de uma serra, facilmente identificável com nossas atuais serras portáteis: “Edmundo ainda lhe deu/ Uma serra azougada/ Que serrava caibro e ripa/ Sem que fizesse zoada/ Tinha dentes de navalha/ De gume bem afiada.” Com ela, Evangelista, o herói, depois de aterrar silenciosamente com seu pavão-helicóptero na cumeeira do palácio do Conde, praticava uma abertura pela qual podia descer e contemplar a sua amada Creuza. Ao aparecer o feroz Conde, pai da moça, entrava em cena o outro objeto: “Deu-lhe um lenço enigmático/ Que quando Creuza gritava/ Chamando pelo pai dela/ Aí o moço passava/ Ele no nariz da moça / Com isso ela desmaiava!” Um lenço enigmático, meu caro leitor, que nada mais devia ser do que um lenço embebido em clorofórmio, anestésico e desmaiante.

Outras menções à tecnologia acontecem no folheto. Logo no início, a presença dos fotógrafos que se atropelam uns aos outros para tirar o retrato de Creuza e depois vendê-lo; a indelével “banha amarela” que a moça, meio a contragosto, mas obedecendo ao pai, passa na cabeça de Evangelista para que ele possa ser identificado depois; e mais detalhes do pavão: “Com pouco o conde acordou/ Viu a corda pendurada/ Na coberta do sobrado/ Distinguiu uma zoada/ E as lâmpadas do aparelho/ Mostrando luz variada.// E a gaita do pão/ Tocando com rouca voz…” As luzes, os faróis, e a buzina, ou a “gaita” do aparelho, em plena atividade, voando, elevando-se ao céu com o casal de amantes fugitivos. Até os aspectos técnicos da decolagem de um aparelho são mostrados, na visão dos soldados: “Os soldados da patrulha/ estavam de prontidão/ Um disse: Vem ver, Fulano/ Lá vai passando o pavão/ Veja como ele faz curva/ para tomar direção.” Finalmente, um telegrama substitui o “mensageiro” ou o “portador”, levando as notícias no final da história.

Vladimir Propp salienta que o uso do objeto mágico não diminui a glória do herói, sendo esse objeto a pura expressão de sua força e de seus talentos. Através deles, que são extensões dos sentidos e capacidades humanas, pode o herói conseguir seus objetivos, matar a fera e casar-se com a princesa, nessas histórias que encantaram nossa infância e que continuam encantando a vida adulta daqueles que mantêm a criança viva e brincante dentro de cada um.

Ítalo Calvino é quem afirma: “As fábulas são verdadeiras.” E continua: “São uma explicação geral da vida, nascida em tempos remotos e alimentada pela lenta ruminação das consciências camponesas até os nossos dias.” Os contos dão sentido às nossas experiências existenciais numa fase da vida em que não temos ainda o pensamento racional muito bem elaborado; eles nos fazem entender a dicotomia entre ricos e pobres, entre reis e vassalos, entre o amor e o sofrimento, entre a vida e a morte. E nos mostram, ainda segundo Calvino, “o esforço para libertar-se e autodeterminar-se como um dever elementar, junto ao de libertar os outros, ou melhor, não poder libertar-se sozinho, o libertar-se libertando.” Os contos são o “catálogo do destino” que pode caber a um homem e a uma mulher, entreabrindo o véu que recobre o mundo oculto e nos permitindo, mais do que qualquer outra coisa, vivenciar o mistério da nossa alma, reconhecer suas sombras e escuridões e integrá-las à luz, na busca da Paz e da Felicidade.

 

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SALVE-SE QUEM SALVAR

Clotilde Tavares | 28 de agosto de 2017

 

Vejo sempre na TV uma propaganda da organização Médico Sem Fronteiras que diz assim: “ – Só quem pode salvar um ser humano é outro ser humano.”

Nesses tempos insanos, de “caça ao outro”, onde a gente tem medo de ir à esquina, de ficar numa parada de ônibus, onde os professores têm medo de entrar na sala de aula, onde dar uma opinião nas redes sociais pode desencadear uma guerra, pois bem, nestes tempos dá vontade de gritar SALVE-SE QUEM PUDER ou CORRAM PARA AS MONTANHAS, o que se traduz na prática por enterrar a cabeça na areia do medo e da desesperança e fazer de conta que está tudo bem.

Mas eu não. Eu repudio o medo.

Para fazer frente ao medo, eu tenho a esperança.

Contra o ódio, eu tenho a doação amorosa da Arte, do que sei fazer, do que faço com prazer, do que me ilumina e é como um farol, iluminando também o meu redor.

Escrevo, e falo.

E não me calo.

Eu vez do SALVE-SE QUEM PUDER eu proponho o SALVE-SE QUEM SALVAR. Só podemos nos salvar salvando o outro, seja ele quem for, sem ódio, sem medo, e sempre pela via da Ética e da Democracia.

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Amor, paixão, essa-coisa.

Clotilde Tavares | 1 de agosto de 2017

namorados

Hoje o assunto é o amor.

Ô assunto complicado. Uns chamam de amor, outros chamam de paixão, outros de afinidade, outros de escrito-nas-estrelas. É essa coisa misteriosa, essa força centrífuga que lhe arranca de onde você está e lhe joga em cima de outra criatura, muitas vezes exatamente o oposto daquele ser ideal que você sonhava para a sua vida. Ai, amor, a quanto obrigas! Ai, surpresas do amor.

A criatura está assim distraída, à toa na vida, sentada no shopping ou no restaurante, quando aparece aquela pessoa que, assim que você põe o olho em cima, seu corpo se liquefaz, se derrete, que nem uma lava de vulcão, escorre pelo chão ficando na cadeira somente o vestido inútil, a bolsa esquecida, o relógio, o colar. Você não existe mais, derreteu-se, liquefez-se, desmanchou-se, apaixonou-se, incendiou-se.

Enquanto o amor-paixão-essacoisa consome a mata atlântica da sua vida com suas chamas incontroláveis, você descobre que a vida é boa, que você pode até morrer mas nem liga, que é preciso comprar novas taças, novos lençóis, novos óleos e incensos perfumados.

Tem coisas das quais você não abre mão – você continua sendo #ForaTemer – mas no resto, ah, no resto, o que é o amor senão dar razão a quem não tem? Se você quer ter razão, não serve pra amar, vá procurar outra coisa pra fazer.

Mas o bom é que tudo isso um dia passa. A ficha cai, a razão volta, o fogo recua e se solidifica outra vez, dando novamente uso ao vestido, à bolsa, ao relógio, ao colar. E você está pronta para outra, e você se lembra de Guimarães Rosa, quando disse que “o amor é um pássaro que põe ovos de ferro”.

Apois.

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amor, apaixonar-se, armadilhas do amor, Guimarães Rosa, paixão
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VIAJAR: A MELHOR COISA É A VOLTA

Clotilde Tavares | 14 de junho de 2017
Museu Palácio Salinas

Museu Palácio Salinas – Sevilha, ES.

Ainda estou aqui tentando organizar o caos. Não o caos físico, pois deixei o apartamento arrumado e assim o encontrei quando cheguei na madrugada do dia 9: tudo no lugar. Mas voltei em caos mental, lotada de imagens, ideias, insights, sons, palavras, vozes, textos, histórias, melodias, um pout-pourri cultural tão diferente do meu e ao mesmo tempo tão igual porque a região que visitei, na Espanha, a Andaluzia, que fica no Sul, é tão parecida com este meu Nordeste em alguns aspectos que parece que eu, em vez de ter ido à Europa, fui somente acolá, no meu Cariri amado.

Necessito de tempo para desligar esse liquidificador da minha cabeça e depois deixar assentar, coar, filtrar, entender, relacionar, deduzir, essas coisas que só quem tem a cabeça como a minha, moendo o tempo inteiro, pode entender.

Para mim, não adianta colocar aqui na timeline um monte de fotos sem dizer o que são, sem contextualizar, sem explicar; e somente aos poucos é que vou conseguir destilar tudo isso que ainda ferve dentro e ao meu redor.

Do ponto de vista prático, voltei antes do prazo pois fui derrotada sumariamente pelas escadarias (jardins e castelos não têm elevador) e os longos trajetos a pé. Não sou realmente uma viajante que se preza, pois minha capacidade de andar a pé é mínima, a comida diferente sempre me faz mal e estranho muito as diversas camas nas quais tenho que repousar à noite meus cansados ossos. Nada demais, considerando que não sou mais aquela jovem de décadas atrás – felizmente, porque aquela vivia lisa, cheia de problemas e não sabia o que fazer com a vida.

A FOTO: Detalhe do pátio do palácio Salinas, hoje museu. Veja a fonte, presença indispensável nos pátios andaluzes. O piso é um mosaico romano do século III que o proprietário incluiu quando fez a restauração e que foi “trazido” de Itálica – antiga cidade romana das proximidades e que foi praticamente “saqueada”, tendo suas riquezas trazidas para propriedades particulares. Pelo menos foi isso que eu entendi e que ainda não tive tempo de pesquisar a real história. A imagem no nicho é a Virgen de los Remedios e reza a tradição que diante DESTA MESMA imagem Cristóvão Colombo rezou e pediu proteção antes de sair para descobrir a América. Eu adoro essas histórias. 

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Andaluzia, Cristóvão Colombo, Espanha, Itálica, mosaico romano, Museu Salinas, Palacio Salinas, Sevilha, Viagem, Virgem dos Remédios
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Estresse no shopping

Clotilde Tavares | 17 de maio de 2017

 

IMG_1995

Aí a criatura está em casa numa boa e resolve botar uma roupinha, um batom e ir no shopping comprar um cartucho pra impressora, uma meia, uma garrafinha térmica, umas coisinhas. Chega lá, compra as coisas, olha as lojas, encontra a maravilhosa Adriana Lamartine e toma um café junto com ela exercendo o doce ofício da amizade.

Adriana foi embora pegar Julia na escola e eu entrei na Centauro pra comprar um maiô de natação. Aí começou a confusão. Umas vinte pessoas entram gritando e correndo na loja, e você fica assim meio desnorteada sem saber o que é, até que uma vendedora lhe pega pelo braço, e diz, vamos, senhora, para o fundo da loja, venha, venha, e você vai com a sua salvadora pois todos já estão gritando que está havendo um assalto e que há tiroteio. Nos fundos da loja outros infelizes e aturdidos frequentadores estão lá tão apavorados quanto esta que vos tecla, um casal com uma criancinha de uns 15 dias, e o gerente já mandou baixar a porta de metal da loja e parecemos estar seguros lá dentro.

Depois de uns dez minutos, porta de metal levantada, tudo parece ter voltado ao normal, e a gente sai assim meio desconfiada para o corredor, onde há muitas pessoas andando desorganizadamente, olhando-se assustadas, ainda sem saber o que aconteceu – se é que já aconteceu, se é que já terminou. As coisas vão se acalmando, ninguém sabe o que foi, as hipóteses giram em torno de assalto a carro-forte, arrastão no piso 1 – que é o térreo, mas estamos no piso 2 – e finalmente a informação que foi uma pessoa que soltou umas bombas – de São João? – na parada de ônibus em frente causando susto e correria.

Tudo está bem quando acaba bem, já dizia W. Shakespeare, mas eu diria diferente: vivemos num mundo onde nos assustamos com tudo e onde o perigo ronda a todo tempo. Peguei minhas sacolas e vim para casa, lugar tranquilo e seguro, esperando ansiosamente o dia em que embarcarei para países estrangeiros onde vou passar um mês, desfrutando da experiência que é viver em paz e sem medo de tiros ou de balas perdidas.

Foi isso.

TEM MAIS: A minha salvadora na loja Centauro chama-se Joyce, e eu diria ao gerente que fique de olho nessa garota porque ela tem valor e boas qualidades. Foi rápida, bondosa, cuidadosa, proativa. Depois volto lá para comprar a ela. #Centauro #LojasCentauro

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Viajar: o que levar na mala.

Clotilde Tavares | 16 de maio de 2017

lv_tech_suitcase

A internet está cheia de listas como essa e eu andei zapeando por algumas. Tem coisas muito engraçadas, como listas diferentes para quem vai “à praia” ou “à montanha”. Listas do que levar, do que não levar, do que levar na bagagem de mão, do que levar na nécessaire.

Tenho algumas características que não cabem em nenhuma dessas listas pois todas dizem: esqueça o notebook. Mas como viver sem ele, sem essa telona e esse teclado maravilhoso? Tem gente que escreve um livro inteiro no teclado no celular, mas eu preciso de espaço e amplidão. Então meu notebook 15” pesando 2,8 kg vai, sim senhor, junto comigo para onde quer que eu me desloque. Levo também meu travesseirinhho, porque como qualquer criança pequena sabe, não durmo sessoalem ele. E caderno, lápis e canetas, o caderninho de desenho (não sei desenhar mas gosto de fingir que sei), a caixinha de som bluetooth para ouvir música via celular, um binóculo minúsculo que me acompanha sempre e agulha 0,6 e novelo pequeno de linha fina para crochê, para me distrair quando nada mais me satisfizer e as mãos ficarem inquietas pela atividade da cabeça.

O resto, é coisa que todo mundo leva, e que eu resumo ao mínimo do mínimo. A malinha não pode pesar mais de 12 quilos, senão não posso levantar do chão quando for preciso, e vou pegar trem e ônibus aí pelo caminho. Geralmente compro aqueles coletores para exame de urina que custam 1,99 nas farmácias e neles levo xampu, condicionador e cremes. Cabe 80 ml em cada um, e se o produto acabar compro lá onde estiver.

Não vejo a hora de embarcar, o que farei à meia noite do sábado para o domingo. Chego em Lisboa ao meio dia do domingo e vou direto para o apartamento do Rui, no qual aluguei um quarto pelo AirBnb. Ele é jornalista e o apê é lotado de livros, igualzinho à Bolha. Passo dois dias em Lisboa antes de partir para Sevilha e não sei se dá pra ver muita coisa; mas o que der, eu vou ver, com prioridade para o Mosteiro dos Jerônimos e a Igreja da Sé. Se eu conseguir ver COM CALMA essas duas coisas estou satisfeita – isto é: se os livros do Rui não me mantiverem em cárcere privado voluntário durante esses dois dias…

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Morrer absolutamente

Clotilde Tavares | 18 de março de 2015

giselda

Daqui a cem anos, ninguém se lembrará de mim. Ninguém saberá quem eu sou nem associará meu nome a coisa alguma. Talvez eu sobreviva na lembrança de algum tetraneto, o que acho difícil, pois nem meus netos se lembram de mim agora, que estou viva e nas redes sociais! Se por acaso meu nome for parar numa placa, dando nome a algo, daqui a cem anos quem saberá de quem se trata? Morta há pouco mais de 30 anos, a Dra. Giselda Trigueiro, inteligente, culta e elegante, deu nome ao hospital de doenças infecciosas da cidade. As pessoas se referem a ele como “o Giselda”. “Vou passar no Giselda”, “está interno no Giselda”, assim, com o artigo flexionado no masculino. Pois é. Melhor morrer definitiva e totalmente, morrer absolutamente, como dizia Manuel Bandeira, morrer sem deixar sequer esse nome.

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Toda mulher precisa de um colar de turquesas

Clotilde Tavares | 25 de fevereiro de 2015

cate_necklace

Na entrega do Oscar a Cate Blanchett apareceu como sempre deslumbrante, toda em negro com um colar na cor turquesa. Enquanto as outras usavam pedras – diamantes, topázios, rubis e esmeraldas – a Cate usavam um colar que parecia, segundo as fashionettes de plantão, “comprado na 25 de março.”

Aí eu me lembrei de um conto de Guy de Maupassant onde ele conta a história de uma socialite conhecida nos salões pelo seu estilo, pela sua elegância, por usar os melhores vestidos e as mais lindas joias. Aí ela foi convidada para um recepção onde estaria presente uma mulher famosa mundialmente e que ditava a moda no circuito dos grandes salões da Europa, uma espécie de Anna Wintour dos dias atuais. Aflita por arrasar e por impressionar a tal figura, a nossa heroína (que como toda heroína do século XIX não tinha renda própria) começou a pressionar o marido por uma toalete nova. O marido a fez lembrar que ela tinha um vestido caríssimo, criado exclusivamente para ela por um costureiro famoso, comprado há pouco tempo, mas a criatura alegou que já havia usado duas vezes, não podia usá-lo de novo, e que toda a cidade já a havia visto com o vestido e etc. Ele, que estava apertado com dinheiro mas não conseguia negar nada à esposa, lhe deu a grana e ela disparou para uma dessas maisons de alta costura onde tratou de adquirir a toalete completa. Faltava ainda uma pequena quantia que ela conseguiu negociando o vestido famoso mas já usado no mesmo costureiro onde fora comprado.

No dia da festa, ataviada da cabeça aos pés, elegantíssima e chique, entrou no salão com pompa e circunstância e foi conduzida pelos anfitriões para ser apresentada à tal bam-bam-bam da moda que – vocês já adivinharam – usava e reinava com o vestido de segunda mão que a outra havia dispensado.

Ou seja, se a Cate comprou o colar na 25 de março, qual o problema? Na verdade, como se diz lá no Cariri, “é o pescoço quem enfeita o colar”, e estamos conversados.

E a quem interessar possa, o colar azul da Cate era um Tiffany, uma obra de arte em turquesas, águas-marinhas e diamantes, cujo preço deixo à sua imaginação.

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Ernesto e o Oscar 2015

Clotilde Tavares | 22 de fevereiro de 2015

vendofilme

Todo ano nessa época eu “baixo” os filmes do Oscar e assisto todos. Por “filmes do Oscar” eu entendo não só os indicados a melhor filme como também aqueles que tem indicações de Melhor Roteiro e outros. Então, nesta última semana, foi uma maratona aqui na Bolha, onde eu e Ernesto vimos TREZE filmes.

Aqui na minha telona rolaram “American Sniper”, “Birdman”, “Boyhood”, “Selma”, “O Grande Hotel Budapest”, “O Jogo da Imitação”, “A Teoria de Tudo”, “Whiplash”. Desses, amei O Grande Hotel Budapest pela direção de arte, chorei feito boba com A Teoria de Tudo e como sou fã de Clint Eastwood achei American Sniper o melhor dos oito. Ernesto dormiu pesado aos 30 minutos de Birdman – eu ainda aguentei 40 minutos, mas me cansei com o diálogo excessivo e a câmera inquieta e também apaguei; e depois de ver uma hora de Boyhood ele e eu desistimos do resto quando vimos que o filme tinha mais de duas horas de duração com aqueles temas mais-do-mesmo.

Registro aqui que sentimos falta dos nossos diretores preferidos: os irmãos Cohen e Tarantino que, junto com Eastwood, fazem o cinema que gostamos de ver. Além desses vi ainda Foxcatcher, O Juiz (palmas para Robert Duval), Garota Exemplar (com alguns furos de roteiro mas se salvando no final), O Abutre (que concorre a melhor roteiro original e é bem interessante) e Into The Woods (vi mais por obrigação porque não tenho muita paciência com musical). Ernesto queria ver esse filme com Julianne Moore (Para Sempre Alice) pois ele é um fã ardoroso da atriz, mas quando eu descobri que era sobre uma pessoa com Alzheimmer vetei a exibição, porque tenho medo que atraia.

Neste domingo à noite estarei a postos para ver a premiação na TV. Eu não sou daquele tipo de gente que “torce” pela premiação, aposta e entra em bolão. Pra mim, o importante é ver os filmes, que considero uma boa seleção do caminho que a indústria cinematográfica está querendo seguir – o que, muitas vezes, se distancia do caminho da arte cinematográfica.

Mas isso é outra história.

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