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O texto e o som

Clotilde Tavares | 26 de abril de 2010

Eu estava navegando na internet e li uma notícia muito interessante. Richard Johnston, um estudante de pós graduação em Harvard e coordenador de um projeto sobre Shakespeare, recomenda a leitura e a audição ao mesmo tempo da peça Hamlet. É só fazer o download para o seu e-reader (o meu é o PRS-600 da Sony) do texto e do audio-book.

O e-reader permite a execução simultânea de ambos – som e texto – e deve ser interessante, pelo menos para mim, que estudo o texto do Hamlet há bastante tempo e nunca tinha tido essa idéia. E é claro que isso pode ser feito com muitas outras obras. Já existem audio-books disponíveis para download de muitas obras clássicas em português e é uma forma interessante de unir Literatura e tecnologia. Não precisa ter e-reader. O áudio, geralmente em MP3, pode ser ouvido enquanto se lê o livro de papel.

Penso que isso poderia ser utilizado para que os alunos pré-vestibulandos tivessem um acesso mais “suave” às obras que devem obrigatoriamente ler para o vestibular. Isso tem a ver comigo neste ano pois o meu livro A Botija foi indicado para o vestibular 2011 da Universidade Federal de Campina Grande, e já começam a chegar ao meu email pedidos para que eu “ajude” professores e alunos a “transformar” o livro em “peça-de-teatro”.

Entre os professores de colégios e cursinhos há uma tendência em se transformar os livros em peças de teatro para que os alunos “conheçam a história” e “mantenham o pique” nas aulas de Literatura. São coisas que a gente ouve comumente na TV, nas matérias dos telejornais, quando se aproxima a época das provas. Um dia desses vi um dos professores entrevistados sobre o tema dizer que dessa forma “os livros ganham vida”.

Ora, minha gente! Eu milito tanto no campo do Teatro como no campo da Literatura, e fico bem à vontade para falar sobre ambos. Os romances não são meras “histórias” e não é bastante saber “o que aconteceu”. Um romance é o estilo, é a forma de contar a história, de costurar o enredo, é o uso precioso da linguagem. Um romance pode ser adaptado para o teatro, mas o resultado não vai nunca ser o romance: vai ser uma outra obra, usando uma linguagem diferente, a linguagem da cena.

E desde quando os livros só “criam vida” se forem representados no palco? Os livros criam vida na tela da nossa mente, que se torna um palco interior, povoado pelas imagens evocadas por aquilo que lemos.

Parece que o problema está aí. Entendo a imaginação como a capacidade de criar imagens mentais, e penso também que essa capacidade anda um pouco atrofiada nas mentes dos espectadores em que nos transformamos todos. Nossa vida moderna depende sempre de um écran, de uma tela: televisão, computador, games, vídeos, mostrador de celular e os inúmeros monitores espalhados pelo ambiente urbano que nos dizem o que queremos ou precisamos saber.

Então, o cérebro se acostuma a receber essa imagem já pronta e perde a capacidade de formar suas próprias imagens a partir de mensagens escritas. Por isso, o prazer dos romances deixa de existir, e é preciso transformar esse romance em “imagem” (a peça de teatro) para que ele possa tornar-se “vivo”.

Um dia desses ouvi na livraria uma jovem dizendo a outra, que manuseava um romance: “Ver um filme, tudo bem, mas ler um livro desse inteirinho… Sem condição!” E eu concordo que realmente não há condição da criatura ler um livro de trezentas páginas se ela não consegue visualizar, imaginar, criar mentalmente cenas e personagens.

É uma pena, pois além dos jovens estarem perdendo essa capacidade com a omissão ou concordância do sistema de ensino, a imagem que as telas de todo tipo jogam na mente deles já vem pronta, acabada, carregada de um conteúdo que, muitas vezes, ele não pode nem sabe criticar.

Nesta semana uma simpática jovem me enviou um email, pedindo-me para “ajudar” o grupo de alunos a transformar o meu livro em peça, num Seminário de Literatura do qual iam participar. Aí eu perguntei se, como se tratava de um seminário de Literatura, por que queriam transformar um livro em teatro? Seria a mesma coisa que, num seminário de Teatro, em vez de apresentarem as peças, as transformassem em livros e dessem para a platéia ler!

E você? O que pensa disso tudo?

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Comportamento, Cultura
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Hamlet, leitura, Literatura, livros para vestibular, teatro, vestibular
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