Trabalho em grupo
Clotilde Tavares | 2 de junho de 2009Quando ingressei na Faculdade, em 1970, fui apresentada a uma das entidades mais importantes da vida universitária: o trabalho em grupo. Os primeiros foram feitos na Disciplina de Fisiologia, no terceiro período do curso, e tínhamos uma equipe muito boa, de amigos, todos mais ou menos do mesmo nível de ineteresse e estudo. Além disso, os trabalhos sempre eram sobre algum procedimento prático que havíamos realizados em laboratório e eram muito, muito bem bolados.
Por exemplo: o grupo recebia um roteiro detalhado para fazer um determinado tipo de intervenção em um animal de laboratório, observando os resultados. Depois, era necessário buscar nos livros as explicações teóricas para os resultados encontrados, e descrever tudo minuciosamente num relatório, assinado pelo grupo, e em cima do qual era feita ainda uma arguição. Nossos professores, chefiados pelo Prof. Celso Matias, esclareciam, orientavam, levavam tudo aquilo muito a sério e era uma beleza o trabalho em grupo. Todos queriam aprender, ninguém se escorava em ninguém e como o grupo era muito homogêneo o aproveitamento era espetacular.
A nota cômica era dada por um dos colegas, que chegava para mim – sempre encarregada de uniformizar a redação final – pois bem, ele me passava discretamente uma listinha de palavras que ele achava “bonitas” para que eu as incluísse no texto final. Eram coisas como “destarte”, “concomitantemente” e outras pérolas da retórica.
Os trabalhos em grupo na época em que estudei – 1970 a 1975 – eram muito instigantes e sempre foi legal fazê-los, principalmente nas disciplinas iniciais do curso: Fisiologia, Farmacologia, Bioquímica. Depois, começou a ficar chato. Começou aquela impressão de que os trabalhos eram feitos em grupo apenas porque as turmas eram grandes e não porque o conhecimento precisava ser discutido em grupo. E eu comecei a ficar entediada, sem saco, achando aquilo tudo uma perda de tempo e sempre pensando que meu estudo rendia mais se eu ficasse sozinha com meus liuvros e anotações. Nos últimos anos do curso foi assim.
Todo esse bla-bla-bla foi causado por um post que vi ontem no blog da Lola Aronovich. Então você agora vai lá e lê o que ela escreveu porque é a perfeita descrição de um trabalho em grupo, a exemplo do que é feito hoje na maioria das universidades que eu conheço. E se você se der ao trabalho de olhar os comentários ao post dela vai ver que as pessoas concordam com isso.
Eu nunca passei trabalho em grupo para os meus alunos, a não ser sobre assunto eminentemente prático como os trabalhos que fiz há mais de 30 anos da disciplina de Fisiologia, sob o comando do Dr. Celso Matias e sua equipe, esse sim, um professor com P maiúsculo. Como docente, nunca tive preguiça de corrigir 80 ou 100 trabalhos por mês. O que se vê hoje é professor com uma turma de 50 alunos, dividindo-a em grupos de 6 ou 7 para facilitar e diminuir o tempo de correção; alunos construindo trabalhos Frankenstein – quem ainda não leu, leia o post da Lola – ou copiando e colando da Internet… e o ensino cada vez mais descendo para o esgoto.
Felizmente, estou aposentada desde 2002.