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Trabalho e prazer

Clotilde Tavares | 30 de setembro de 2009

Tem gente que adora o que faz no trabalho; outros odeiam, mas ganham muito bem, e continuam fazendo. A sabedoria popular é quem diz que “quem faz o que gosta não precisa trabalhar”. Mas infelizmente muitas vezes não é possível trabalhar naquilo que gostamos. Em épocas de crise como a nossa, precisamos trabalhar no que aparece e não naquilo em que preferiríamos.

A necessidade de refletir sobre o trabalho é imprescindível para viver bem nos dias de hoje. O mundo do trabalho, dos empregos, está mudando. Um conceito que prevalece mais e mais a cada dia no mundo dos negócios é o conceito de “trabalho prazeroso”. Isso quer dizer que só vale a pena trabalhar se esse trabalho der prazer. O empresário antenado com as mudanças não está mais interessado no “empregado”, que é aquele que “se puder, trabalha menos”. O interesse hoje é no “empreendedor”, que é aquele que “se puder, trabalha mais”.

E qualquer um de nós só trabalha além do mínimo se gostar do que faz. Os empresários estão procurando para contratar pessoas que trabalhem como os artistas. Ora, como é que um artista trabalha? Um cantor, um músico, um ator, um artista plástico, geralmente se entregam à tarefa que fazem – cantar, tocar, atuar, pintar – com um grande prazer e uma dedicação integral.

Você já reparou como é apertada a agenda de muitos artistas? Já reparou que eles trabalham num ritmo que muitos de nós, simples mortais, jamais pensaríamos em conseguir no nosso trabalho normal? O que acontece é que na nossa sociedade, há um grande preconceito contra o trabalho prazeroso. Desde que Adão foi expulso do Paraíso com as palavras terríveis “Comerás o pão com o suor do teu rosto” ainda ecoando nos ouvidos que o homem associa o trabalho com o sofrimento e o sacrifício.

Isso se complica quando um jovem quer trabalhar em coisas que, para a geração mais velha, não são necessariamente “trabalho”. Quando um jovem resolve ser músico, o pai pergunta: “Tudo bem. Mas quando é que você vai arranjar um trabalho de verdade?” Isso é dito como se tocar profissionalmente não fosse um trabalho muitas vezes mais cansativo do que frequentar uma repartição pública das oito às doze e das duas às seis. Ficamos também desconfiados quando vemos alguém feliz com o trabalho. Pensamos lá com os nossos botões: “Bem, se é tão agradável assim, não deve ser trabalho.”

Conheço uma jovem que é especialista em Biologia Marinha, e trabalha de biquini, pé de pato e máscara de mergulhador. A família não aceita essa atividade como trabalho e sempre se refere a ela como “as férias eternas de fulana”, muito embora ela ganhe mais dinheiro do que o seu irmão, que é advogado.

As empresas não estão mais interessadas em “mão de obra” mas em seres humanos empreendedores, felizes e criativos e isso só se consegue se o indivíduo estiver envolvido afetivamente com o seu trabalho. É preciso então seguir as inclinações do nosso coração, ao escolher algo em que vamos trabalhar, muitas vezes para o resto das nossas vidas. O trabalho que nos dá prazer é, assim, uma garantia de felicidade.

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empreendedorismo, trabalho, trabalho prazeroso
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Seis meses blogando todo dia

Clotilde Tavares | 29 de setembro de 2009

Quando comecei este blog, em 26 de março deste ano, não achava que fosse póssivel levar a cabo o que me propus: colocar todos os dias um assunto novo à disposição do leitor, para que ele adquirisse o hábito de vir aqui diariamente, na certeza de encontrar sempre uma novidade, algo novo para ler. Pois não é que, contrariamente a essa minha previsão pessimista, venho conseguindo manter o blog no ar e atualizado?

E para quem chegou aqui recentementemente, eu preciso dar umas informações. A primeira delas é que este blog Umas & Outras não tem um tema definido. São crônicas sobre o cotidiano, observações que faço quando vou a algum lugar ou simplesmente vagueio pela cidade, comentários sobre livros, filmes e programas de TV, e, obviamente, textos opinativos, porque tenho minhas opiniões sobre ass coisas e gostos de expô-las.

Há seis meses, completados antes de ontem, que escrevo aqui todo dia, excetuando pouquíssimas ocasiões em que estava doente e completamente sem condição de escrever. Sempre honrei este compromisso com você com textos escritos ou visuais – e chamo de textos visuais àqueles posts onde coloco só figuras, mas figuras expostas dentro de uma temática, dentro de um contexto, costuradas por uma idéia. E esses textos visuais feitos somente com figuras me dão mais trabalho do que simplesmenete escrever!

O Umas & Outras, exercício literário que quero fazer durante um ano, já chegou na metade do caminho. Cerca de 600 a 700 internautas me visitam todo dia. Poucos deixam comentários, mas um número razoável escreve direto pro meu email e comenta.

Então, meu caro leitor, continue por aqui. Volte sempre e traga os amigos. Estarei aqui todo dia, trocando uma idéia, comentando sobre a vida, opinando, escrevendo, compartilhando este pedaço da minha vida com você.

Veja também:

O primeiro post deste blog

Dois meses no ar

Um post só de figuras

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Vaidade das vaidades

Clotilde Tavares | 28 de setembro de 2009

A maioria das pessoas alimenta o sonho de ficar rico. Por isso é que as mega-senas da vida têm tanto sucesso e aceitação. Nada de mais. Ficar rico, ter muita grana, poder fazer o que quiser sem as limitações impostas pela ausência do vil metal deve ser bom demais.

Só que riqueza é uma coisa muito relativa. Uma revista norte-americana mantém atualizado um ranking de ricos, medido pelo tamanho da fortuna em dólares, quero dizer, em bilhões de dólares. Na minha terra, em Campina Grande, onde o povo é exagerado, os ricos também o são; e ouvi dizer que um deles, ao construir a casa nova, nela incorporou não mera e comum quadra de volei ou tênis, mas um campo de futebol nas dimensões oficiais, e chamou Pelé, o rei Pelé, para dar o chute inaugural. Outro – esse eu vi – estava bebendo em um bar nas cercanias de Mamanguape-PB, com a camionete cabine dupla estacionada em frente. Mal vestido, de chinelas, não parecia ter grana. O garoto que atendia às mesas duvidou que o carro fosse dele e ele, o rico, para mostrar que o era, pegou do chão uma pedra e destruiu o para-brisa do próprio carro somente para comprovar sua propriedade.

Qualquer coluna social de província – porque elas estão cada vez mais extensas e variadas, invadindo o espaço dos cadernos culturais dos jornais – exibe os símbolos de riqueza material que enchem os olhos dos deslumbrados: festas descritas em detalhes onde os ditos “ricos” degustam champanhe, crentes que pertencem a uma camada especial da humanidade. Mas no outro dia, meu caro leitor, você vê esse povo todo no trampo, trabalhando, ralando, nos escritórios, consultórios, jornais, empresas, indústrias e outras instâncias da produção de riqueza. No outro dia lá estão todos eles, ainda um pouquinho ressacados, mas suando – pouco – a camisa no ar condicionado, com obrigações, agendas, compromissos e reuniões de trabalho.

Jorginho Guinle

Jorginho Guinle

Ai eu pergunto: e será isso riqueza? Será que esses são realmente os ricos? Rico trabalha? O pobre quer ficar rico para deixar de trabalhar; aí ele descobre que ser rico – pelo menos na província – também dá muito trabalho. Quem estava certo era Jorginho Guinle, rei dos play-boys brasileiros: ser rico é não precisar trabalhar e ele se gabava de nunca ter trabalhado um só dia na sua vida.

Imediatamente me lembrei de Lady Caroline Astor, dama da alta sociedade norte-americana na década de 1890 e que reinava soberana do alto da sua opulenta mansão vitoriana onde passava o verão em Newport, Rhode Island. Foi dela a idéia de criar o “400”, o primeiro índice de “colunáveis” dos Estados Unidos. O índice continha apenas 400 nomes porque era o número de pessoas que cabiam no seu salão de baile. Neste salão, com mais de 600 metros quadrados, havia 833 janelas e espelhos e ser convidado para as recepções de Mrs. Astor em Beechwood – que era o nome da mansão – era quase como ser promovido a santo: significava ser admitido numa classe especial de gente que era diferente dos mortais comuns e, principalmente, para diferenciá-los dos ricos que não eram ricos de verdade.

Beechwood

Beechwood

O conceito de riqueza de Mrs. Astor que norteava a escolha dos seus quatrocentos eleitos era simples: ter pelo menos um milhão de dólares (que no final do século XIX era dinheiro) e não ter trabalhado por três gerações, o que quer dizer que além do camarada não trabalhar, seu pai e seu avô também não deveriam ter trabalhado. O escolhido, além de ser ocioso de carteirinha, tinha de ser também ocioso hereditário.

Essas histórias me vêm à cabeça sempre que vejo aqui na província essas festas descritas nas colunas sociais ou quando ouço alguém dizer que comprou um sofá por dez mil reais.

Futilidade,vaidade, insulto terrível e sem perdão a quem ganha salário mínimo nesse país de desvalidos, todos esses pecados acabo de cometer quando ocupo seu tempo e este espaço para essa minha breve digressão entre os ricos de verdade e os ricos de mentira. Mas não sou santa, meu caro leitor, e como você também não é, espero que tenha se distraído um pouco com este papo fútil, para animar esse início de semana onde estamos todos no final do mês e, ricos ou pobres e remediados, esperamos com ansiedade o nosso contra-cheque.

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O baobá, gigante vegetal

Clotilde Tavares | 27 de setembro de 2009
Os baobás da Lagoa do Piató, em Assu-RN.

Os baobás da Lagoa do Piató, em Assu-RN.

Andei um dia desses falando aqui sobre as árvores, comemorando o seu dia; aí hoje me lembrei de uma paixão que tenho por uma árvore muito especial: o baobá, que é uma árvore sagrada para muitas culturas. Sua altura descomunal e sua circunferência avantajada o tornam um gigante entre as outras espécies, elevando-o a objeto de culto entre as tribos da África, de onde parece ser nativo. Para essas culturas, não é somente uma árvore: é portadora de uma grande e poderosa energia, e em muitas comunidades é considerada um “espírito protetor”.

Somente no Rio Grande do Norte existem, catalogados, dez baobás, sendo que sete deles se encontram no município de Assu, na fazenda Curralinho, às margens da lagoa do Piató. Existe mais uma dessas árvores em Jundiaí, outra em Nísia Floresta – cuja idade real provavelmente é muito maior do que aquela que está registrada na placa que existe na árvore – e o famoso “Baobá do Poeta”, que o poeta e advogado Diógenes da Cunha Lima em boa hora salvou do sacrifício comprando o terreno onde a árvore “residia” quando o proprietário, querendo construir no local, ameaçava derrubar a árvore.

O prof. John Rashford e o poeta Diógenes da Cunha Lima. Atrás, o "Baobá do Poeta".

O prof. John Rashford e o poeta Diógenes da Cunha Lima. Atrás, o "Baobá do Poeta".

Diógenes comprou a área, mandou cercar e tomou o baobá como seu filho adotivo. Ele lá está na rua São José, quase na esquina da Avenida Alexandrino de Alencar. Sempre passo por ali para ver como vai a imponente árvore e você que está lendo, se planeja visitar Natal, não deixe de ver essa preciosidade. Não sou botânica, nem agrônoma, mas amo as árvores e elas se entendem muito bem comigo. O baobá me disse, da última vez que passei por lá, que está tudo bem, embora esteja atravessando um período de seca, natural numa espécie acostumada com os rigores do clima africano.

Por conta desse meu amor pelas árvores, fotografei os baobás de Assu e coloquei-os no meu site. Lá, eles foram descobertos pelo professor John H. Rashford, da Universidade de Carolina do Sul nos Estados Unidos. Esse cientista é especialista em baobás e árvores sagradas, e estava para fazer um levantamento dos baobás existentes na América Latina e Caribe. Viu os baobás do Rio Grande do Norte no meu site, e veio parar aqui em Natal onde peregrinamos durante dois dias, sob os auspícios de Diógenes da Cunha Lima, medindo e fotografando todas essas árvores. Segundo o Dr. Rashford, o “baobá do poeta”, o filho adotivo de Diógenes, aquele mesmo que está aqui bem pertinho de nós é o segundo maior da América Latina e Caribe.

O Prof. Rashford mede a circunferência do "Baobá do Poeta".

O Prof. Rashford mede a circunferência do "Baobá do Poeta".

Então, minha gente, uma vez atualizados os nossos conhecimentos sobre o baobá, eu vou aproveitar a manhã para fazer uma visita à árvore, com calma, matando as saudades, como se estivesse visitando um parente muito velho, com muita coisa para me ensinar. Vou permanecer em silêncio ao lado desse gigante vegetal, regular o meu vermelho e agitado coração com o verde e calmo coração da planta e deixar brotar em a coragem dos chefes guerreiros que, nos tempos primitivos, eram sepultados de pé, com todas as suas armas, nas fendas da árvore. E sei que vou ficar feliz de pertencer a um mundo que nos dá de presente tantos e tão inusitados prodígios.

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baobá, baobá do poeta, Diógenes da Cunha Lima, John H. Rashford
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O que você leva na bolsa?

Clotilde Tavares | 26 de setembro de 2009

Esse meme andou circulando por aí, tem um tempo, e em tudo que é de blog as pessoas postaram fotos dos objetos que carregam na bolsa. E o curioso é que, ao contrário do que se apregoa, as bolsas femininas andam muito organizadas sim senhor.

As mulheres muitas vezes carregam artigos de maquilage e cuidados pessoais numa enorme variedade, mas a maioria das que eu vi estavam todos muito bem organizados e separados em “necessaires”. Os homens também são organizados, e eu lhe envio para dois exemplos: a bolsa de Jady, do blog Between Us e a mochila de Augusto Campos, do blog Efetividade.net. Por que eles? Ora, minha gente, por que são blogs que gosto e visito todo dia e nada melhor do que fazer com que você os visite também. Há também um Flickr onde as pessoas postam o conteúdo das suas bolsas e o blog Xeretando Bolsa, de Fabiana Martins.

Mas eu, o que levo na bolsa? Já escrevi um grande e minucioso artigo sobre “Bolsa de Mulher” que você pode ler completo aqui, no site da Rainha Denize Barros, o La Reina Madre. O artigo foi escrito há uns dois anos e eu nem sei mais se o que eu levava naquele tempo é o mesmo que levo hoje. Então, vamos lá.

Levo na bolsa hoje a carteira com dinheiro, cartões de credito, documentos, cartões de visita, moedas. Dentro dela ainda carrego um pendrive de 1 Giga. Além da carteira, o celular, um leque, as chaves da casa, do carro e do portão do prédio, tudo em um chaveiro muito feio e sem graça (aceito um novo de presente…). Os óculos escuros, um estojo com batom e espelho, uma “piranha” para o cabelo, a Moleskine vermelha (do modelo Pocket Weekly Notebook) e umas duas ou três canetas Stabile point 88 (só uso esse tipo). Levo ainda uma lanterna, pois esse meu prédio é velho e assombrado, e se eu ficar presa no elevador ou tiver de descer ou subir pela escada escuríssima, tenho a minha lanterna salvadora.

Só isso meu caro leitor, só carrego isso. Como não trabalho fora nem passo o dia na rua, sou poupada de ter de carregar outras coisas que as outras pessoas precisam levar. Somente em casos especiais – ida a consultorio médico, por exemplo – levo um livro ou a Moleskine preta, maior, na qual escrevo.

E você? Leva o que na bolsa? Confesse aqui nos comentários.

O que eu levo na bolsa.

O que eu levo na bolsa.

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bolsa de mulher, Moleskine
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Gripe suína: muito barulho por nada

Clotilde Tavares | 25 de setembro de 2009

virusHoje tenho uma pergunta que pode parecer boba, mas que vou fazer aqui: alguém me dá notícias da gripe suína? Aquela que ocupou todos os espaços da mídia há poucos meses, que foi comparada à epidemia de gripe espanhola de 1918, que ia causar espetacular mortandade entre os chamados grupos de risco?

Sem a menor explicação, a mídia silenciou a respeito, pararam de noticiar os óbitos com estardalhaço, deixaram de mostrar gente de máscara na TV, talvez porque as próprias pessoas, vendo o descabido dessas medidas, tenha por si só raciocinado com bom senso e deixado de usar as tais máscaras que, a rigor, só funcionam se o mascarado estiver doente ou se teve contato com gripados e está em fase de incubação do vírus; a máscara é usada não para proteger a ele, mas aos outros, isso valendo em qualquer doença respiratória de alto contágio como, por exemplo a já citada gripe e tuberculose pulmonar.

Desde o início não acreditei em nada disso. Tenho olho para estatística e experiência como epidemiologista, uma vez que tenho formação na área, embora não atue como tal há muitos anos. A maioria dos óbitos que foram citados nos telejornais eram de pessoas suscetíveis a ter complicações respiratórias em caso de virose; as pessoas faleciam e no mesmo dia o noticiário dizia que elas haviam tido como causa de morte a gripe suína, quando o exame laboratorial que comprova esse diagnóstico demora pelo menos 10 dias. E tudo que a mídia propaga com tanto barulho deve ser sempre muito bem analisado antes de achar que aquilo é a verdade absoluta.

Pois bem: é isso que está aí. Ninguém mais fala da tal gripe, a “pandemia” resolveu-se por si própria, os fabricantes do tamiflu e de álcool-gel devem ter enchido as burras de dinheiro e, para não dizer que não restou nenhum benefício disso tudo talvez essa pretensa epidemia tenha contribuído para formar nas nossas crianças o hábito de lavar as mãos com frequência, hábito desejável em qualquer situação.

Quanto ao mais, é como o título daquela peça de Shakespeare: muito barulho por nada.

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gripe, gripe suína, tamiflu
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Honra e dignidade

Clotilde Tavares | 24 de setembro de 2009

De todas a coisas que atrapalham e perturbam a nossa vida, penso que uma das mais difíceis é a falta de habilidade que temos para lidar com o outro, com as outras pessoas, com aquelas a quem comumente chamamos “o próximo”.

É tão difícil lidar com o outro ser humano que está ao nosso lado, ou à nossa frente, que quando por algum motivo se juntam dez ou mais pessoas para fazer um trabalho ou qualquer atividade juntas é preciso contratar um “animador”, um profissional com experiência em dinâmica de grupo para quebrar as barreiras que existem entre as pessoas.

Saber se relacionar, conviver, tratar bem, é um talento cada vez mais difícil de ser encontrado. Há tempos, era natural. O cavalheirismo, a polidez, a cerimônia, o esmero no trato com os semelhantes, eram sinais de boa educação e não tinham a ver com classse social, pelo menos na minha época e no meio em que fui criada, estudando em escola pública e filha de uma família apenas remediada mas que levava essas coisas muito a sério. Tais costumes ainda permanecem quando você vai para o interior, para as brenhas, para os lugares “sem rádio e sem notícia das terras civilizadas”.

Modernamente, as relações se deterioraram. As palavras mágicas “desculpe”, “por favor”, “com licença” e “muito obrigado” estão virando coisa do passado. Só tratamos bem ao outro quando queremos um favor, quando queremos conseguir alguma coisa, quando estamos lidando com alguém que achamos que é superior a nós. Para esses reservamos reverências e salamaleques. Já para os que consideramos abaixo de nós, usamos palavras bruscas, desdém e pouco caso.

Isso me faz lembrar um trecho do “Hamlet”, do grande William Shakespeare. No segundo ato, no episódio em que um grupo de atores chega ao castelo para uma apresentação, o príncipe Hamlet ordena a Polônio, um cortesão, que os aloje a alimente, recomendando que os trate bem. Polônio responde que os tratará segundo o merecimento de cada um.

Hamlet então retruca: “Por Deus, homem! Tratai-os melhor! Muito melhor! Se fordes tratar cada homem segundo o seu merecimento, quem escapará da chibata? Tratai-os segundo vossa própria honra e dignidade. Quanto menos eles merecerem, maior será vossa generosidade.”

E depois das palavras de Shakespeare, o que me resta dizer? Apenas, e citando novamente o poeta inglês: “O resto é silêncio.”

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Comercial Havaianas e cenas de hipocrisia explícita

Clotilde Tavares | 23 de setembro de 2009

Penso que todo mundo já viu o comercial das sandálias Havaianas que estava passando na TV. Leve, divertido, bem humorado, foi criado pela AlmapBBDO e tem a presença do ator Cauã Reymond, que vira o foco de uma conversa entre avó e neta na mesa de um restaurante. Se você não viu, deve vê-lo clicando abaixo, antes de continuar lendo. É rápido, tem apenas 32 segundos.

http://www.youtube.com/watch?v=u9G5NHkhsFI&feature=related

Pois bem: o comercial foi retirado do ar. As chamadas pessoas “de bem”, baluartes da moral e da pureza, acharam que a peça publicitária ofendia a “sagrada” instituição do casamento e pressionaram a empresa, que achou melhor suspender a exibição, no que eu não a condeno uma vez que precisa vender seu produto e não vai brigar com supostos clientes, sejam eles hipócritas ou não. E chamo sim essas pessoas de hipócritas porque se julgam mais puros e decentes de que os outros e nessa tentativa de impor seus valores atropelam os valores das outras pessoas. Veja abaixo o vídeo que está disponiblizado no You-Tube contra o comercial, com direito a citações bíblicas e tudo o mais. Dura 2 minutos.

http://www.youtube.com/watch?v=vs2vmr7vZeE

O video começa com a declaração: “Fui obrigado a falar de sexo com minha filha de 5 anos!” Ora, minha gente! Qual o problema? Todo mundo sabe que é nessa idade que as crianças começam a perguntar sobre “aquilo que papai e mamãe fazem quando se trancam no quarto”, sem precisar da televisão para que essa curiosidade seja despertada. A clareza e a sinceridade nas respostas vai determinar no futuro a atitude saudável ou não dessa criança em relação ao sexo. Mas o video continua dizendo que a criança viu “uma avó dizer à neta que fazer sexo é moderno!” Na verdade, a avó não disse isso. Dise que ela, a avó, era moderna, porque convenhamos: fazer sexo é a coisa mais antiga que existe.

Eu duvido que a criança tenha perguntado isso aos pais. A referência a sexo é rápida, casual e sutil, dentro da conversa, e tenho certeza de que a criança não atentou pra isso. E se atentou? E se perguntou? Qual o problema de uma criança de cinco anos perguntar o que é sexo e a mãe responder? E será que e só esse comercial a única referência ao sexo que há na TV, cuja programação a criança assiste inteirinha enquanto os pais trabalham? E os comerciais de outros produtos, como os de cerveja, por exemplo, carregados de conteúdos eróticos?

O pior de tudo é que o vídeo traz o exemplo da criança de 11 anos, estuprada e engravidada pelo padastro pedófilo. O que o video quer demonstrar aqui? Que as crianças, conhecendo o sexo tão cedo, e preferindo o sexo ao casamento, se fazem estuprar e engravidar de propósito pelo inocente padastro, aprisionado nas garras da menininha que aprendeu sexo na TV?

O mundo está cheio desse tipo de hipocrisia, meu caro leitor. O mundo nestá lotado de pessoas puras e melhores do que as outras, que vêem pecado e sujeira em tudo, porque o pecado e a sujeira está dentro dos seus corações e mentes, toldando sua visão, distorcendo a sua forma de ver a realidade e prejudicando toda a sociedade.

Para concluir, veja como a empresa contornou com elegância a situação, tirando o comercial do ar mas o substituindo pelo apresentado abaixo.

http://www.youtube.com/watch?v=q4Lsk_cEdQA

UPTADE: (24/09)

Quero agradecer a todos que participaram desta discussão. Tenho lido atentamente todos os posts e justamente por essa leitura notei que os argumentos começam a se repetir. Considero que, uma vez que as diversas opiniões, contra, a favor, mais ou menos, quase, em certos casos e talvez já foram apresentadas, replicadas e treplicadas, chegou a hora de encerrar. Agradeço a todos, e aproveitem para visitar os outros 172 posts deste blog, sobre temas variados. Mais uma vez, muito obrigada.

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Como fazer a verdadeira tapioca nordestina

Clotilde Tavares | 22 de setembro de 2009

Não sou daquele tipo de gente que gosta de café da manhã variado. Não gosto de frutas de manhã, pois sou do tempo em que a gente acorda com o corpo “quente” e fruta é uma comida “fria”, aí não combina. Sei que isso não tem fundamento científico mas fazer o que? Meu corpo se arrepia à qualquer sugestão de fruta no café da manhã. Então: meu desjejum é iogurte com linhaça, depois café, pão e queijo. E só.

Hoje não tinha pão, mas tinha goma na geladeira e eu fiz uma tapioca bem gostosa, recheei com queijo e ficou tudo tão saboroso que não resisti à tentação de fazer inveja aos meus amigos do Twitter, principalmente à jornalista Ariane Mondo, que mora na Alemanha e é doida por tapioca. Então algumas pessoas me pediram a receita, tudo gente de outros países, pois aqui no país do Nordeste todo mundo sabe fazer tapioca.

Eu já publiquei essa receita no meu livro “A Agulha do Desejo” e em alguns jornais nos quais escrevo, mas não me custa nada ensinar aqui tudo de novo. E saiba que a tapioca é uma iguaria tipicamente nordestina e de origem indígena, com surpresas de simplicidade e requinte, como você vai ter oportunidade de ver.

Primeiro é preciso goma de mandioca, fresquíssima, “verde”, com chamam lá no interior, peneirada em peneira bem fina. Aí você pega uma frigideira de uns 17 centímetros de diâmetro, bem limpinha, e coloca no fogo mas atenção: nada de óleo, manteiga ou gordura. Muita gente faz tapioca numa chapa, usando um aro de metal de uns 10 cm de diâmetro para delimitar o lugar onde se coloca a goma. Isso é coisa moderna e eu não gosto. Tapioca para mim tem que ter o formato de uma panqueca, um “tortilha”, um disco fino de massa de cerca de uns 15 centímetros de diâmetro com no máximo 3 ou 4 milímetros de altura.

Quando a panela está bem quente, você pega um punhado da goma, já peneiradinha, e espalha na assadeira, preenchendo todo o fundo desta com uma camada mais ou menos uniforme da goma. Com muito carinho e precisão, tome entre os dedos uma pitada de sal e espalhe sobre a goma. Usando as costas de uma colher, nivele – mas sem apertar muito – a superfície da tapioca e pronto: está na hora de virar. Nesse momento, respire fundo, tome a assadeira pelo cabo e balance delicadamente para soltar a tapioca; aí, com um gesto rápido, atire a tapioca para cima, observe com espanto ela se virar no ar e a deixe cair suavemente na panela para cozinhar o outro lado. Balance um pouco a frigideira, veja se ela já solta da superfície e pronto: a tapioca está pronta. Passe para um prato, pegue um pano de prato bem limpinho e seco e com ele esfregue a assadeira para tirar qualquer fragmento de goma, colocando-a de novo no fogo para fazer a próxima.

Enquanto a panela esquenta outra vez, adube a tapioca, passando manteiga e dobrando-a ao meio, ou enrolando-a. A tapioca também pode ser feita no coco; aí, enquanto ela está no fogo, coloque um pouquinho de coco ralado espalhado sobre a massa e depois cubra o coco com um pouquinho da massa antes de virar. Mas cuidado: essa versão no coco é complicada em relação à acrobacia aérea descrita antes. Nesse caso, é melhor virar com a espátula. Depois dela pronta – se for recheada com coco – também se usa jogar sobre ela algumas colheres de leite de coco diluído em água e açúcar. Eu prefiro a tapioca com manteiga ou – numa extrema concessão – requeijão ou queijo em fatia finíssima.

Quanto às tapiocas com dezenas de recheios variados e diferentes, acho que tudo isso é modismo de verão, inventado num dia e abandonado no outro para agradar turistas e visitantes. O bom mesmo é a tapioca simples, nordestina, sem enfeites, mas guardando um tesouro de sabor, textura e cor que você não encontra nessas novidades. Um poema de alvura e sabor, derretendo na boca: esta é a sincera tapioca nordestina.

Neste vídeo você pode ver como se faz ao vivo; foi o vídeo mais parecido que eu achei com a minha receita, muito embora o seu resultado seja uma tapioca recheada com leite condensado e não haja acrobacias aéreas. Há outros vídeos sobre o tema no You-Tube. Mãos à obra, e bon appetit!

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comida típica, goma de mandioca, receita de tapioca, tapioca
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Dia da Árvore

Clotilde Tavares | 21 de setembro de 2009

Sou apaixonada por árvores. Hoje, no Dia da Árvore, convido a todos os leitores a fazer comigo um exercício, uma reflexão. Convido todos a sair de dentro de casa, procurar uma árvore qualquer e olhar para ela.

Geralmente, quando fazemos isso, quando olhamos para uma árvore vemos, por exemplo, a possibilidade que tem de nos fornecer madeira, cola, lenha, ou frutos para a nossa alimentação. Podemos também avaliar a sua capacidade de nos dar sombra para o descanso ou até mesmo um galho jeitoso para armar a nossa rede. Essa forma de olhar para a árvore é uma forma utilitária, econômica, onde a árvore desperta a nossa atenção somente pelo proveito que podemos tirar dela. Olhamos não a árvore, mas a sua utilidade em relação a nós. A pergunta que fazemos é: para que serve esta árvore?

Vamos imaginar agora que, em lugar de perguntar à árvore para que ela serve, nos interessemos por outro aspecto, e queiramos saber que tipo de árvore é essa, qual é a espécie vegetal a que ela pertence, a sua idade, suas relações com o meio ambiente, de que forma ela cresce, toda aquela história de xilema e floema, vasos lenhosos e liberianos. Esse é o olhar científico, e a pergunta que fazemos é: como esta árvore funciona?

Nessas duas formas de olhar, vemos a árvore como uma coisa, um objeto, apenas mais uma árvore entre tantas. Ao longo da nossa vida, vamos fazendo assim com todas as coisas que nos cercam, e até mesmo com as pessoas. Olhamos, e não vemos. Analisamos, e não sentimos. Dessa maneira, o mundo vai ficando chato, sem graça, sem encanto.

Mas quando olhamos para essa árvore e procuramos ver o seu Mistério vivo, sem nos interrogarmos para que ela serve ou de que forma ela funciona, quando procuramos perceber nessa árvore um universo de imagens e de formas que contém uma mensagem íntima e secreta, devolvemos a ela o seu encanto, e a pergunta que fazemos é: o que esta árvore me revelará?

Passamos assim a aprender a escutar o Universo e perceber a imensa poesia e o deslumbrante fascínio que existe por trás de todas as coisas. E recuperamos, com esse olhar encantado, a possibilidade de voltar ao Paraíso.

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A Magia do Cotidiano, árvore, dia da árvore, reencantamento do mundo
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