Carnatal: outra visão.
Clotilde Tavares | 3 de dezembro de 200922h45
Acaba de passar o último trio da noite. Último é maneira de dizer, porque agora vai passar tudo de novo… Até agora, o som da festa não me incomodou. Ocorre acima da minha casa; o vento passa primeiro aqui e depois lá. Mas há muita gente que deve estar muito pê da vida com essa zada toda, gente, o barulho deve ser infernal para quem está da área de som dos trios.
Eu estou ficando com sono. Se eu sumir daqui, você já sabe: capotei.
21h05
O segundo trio acaba de passar pela minha esquina; como são cinco trios, e todos passam duas vezes – é minha gente: você vê e depois tem que ver denovo! – e como é cerca de meia-hora entre um e outro… esse moído deve estar terminando lá pra uma hora da manhã.
Uma amiga me questiona sobre a minha aversão por axé – olha o comentário que fiz abaixo. E diz que axé é pra pular, não pode ser levada a sério. Ah, bom. O frevo, por exemplo: é pra pular, mas é muito mais rico de que o axé, em harmonia, melodia, letras… Foi isso que falei. Música é alimento da alma, e para mim deve ser levada a sério sim.
Já fui uma grande foliã, sempre brinquei Carnaval. Eu disse Carnaval. Já falei porque não gosto do carnatal, essa festa que está ocorrendo agora – veja o post anterior a esse.
20h30
Descobri que tenho um aliado: o vento, que leva o som dos trios para o lado oposto ao do meu prédio. Agora se aproxima o Chiclete, com aquele rapaz que usa um pano na cabeça há quarenta anos e conversa mais do que canta…
19h50
Ouço ao longe os trios, que cada vez se aproximam mais. Agora me diga, e perdoe o meu gosto e a minha opinião, se a sua for diferente: tem coisa mais pobre musicalmente, letramente e esteticamente do que axé?
19h10
Continuam a passar as levas e levas de foliões em busca do local de concentração dos seus blocos. Vizinho ao meu prédio, a dez metros da minha janela, um cantinho no prédio vizinho já virou banheiro público. Muitos homens já entraram lá, ocultos pelo muro, e dali saíram abotoando a bermuda… Imagine isso amanhã como vai estar!
18h15
Continuam a passar os foliões e as pessoas que vão vender cerveja, empurrando seus carrinhos de mão com isopor em cima. É o trampo de quem precisa descolar uma grana na festa.
17h45
Começam a passar os foliões, vestidos com os abadás dos seus blocos. A maioria jovens.
17h05
Aumenta o número de passantes. A rua já está interditada para carros: só passa quem tem o adesivo escrito MORADOR. Muita gente para lá e para cá, mas trabalhando, empurrando carrinhos de mão com gelo e bebidas, policiais, e pessoas com camisetas que não é de bloco: deve ser de gente que vai varrer ou prestar outro tipo de serviço. É isso aí: minha rua é a “cozinha” da festa…
E veja o camarada que devagarinho montou seu botequim na esquina!
15h25
O chamado “corredor da folia tem seus “camarotes temáticos”, do mesmo jeito que no Carnaval do Rio de Janeiro. Luxuosos, caros, com presença de celebridades. Mas ao longo das avenidas também brotam estruturas improvisadas de madeira, cobertas de plástico, onde pessoas vão ficar em posição de ver os trios – ou quem vai em cima deles – com facilidade. São umas “marmotas”, feias , improvisadas, não sei como aquilo tudo não vai ao chão assim que se enche de gente.
E no início da Miguel Castro, antes de interromper o trânsito, policiais degustam o famoso “piucolé caseiro de Caicó”.
14h50
Começam a chegar as pessoas que trabalham no evento. Esses aí que enchem a rua são os “cordeiros”, o pessoal que fica nas cordas dos blocos. O primeiro bloco desfila às 18h30, mas essa galera já começa a trabalhar agora. O trânsito ainda flui normalmente. No canto superior esquerdo, veja os tapumes que obstruem – e defendem – a frente dos edifícios. Veja também as lâmpadas acesas, desde ontem. Policiais se preparam para interditar a rua.
14h30
Você também pode me seguir no twitter: http://twitter.com/ClotildeTavares .A hashtag é #festcarn
14h25
A partir de agora, vamos atualizar de hora em hora falando sobre o Carnatal. A minha visão é de quem está de fora mas não pode sair de dentro.
Desde manhã cedo que pessoas passam empurrando carrinhos de mão carregados de latas de cerveja. Na esquina da Miguel Castro c/Romualdo Galvão, um camarada está montando um bar na calçada, descarregando cadeiras e bebidas. E encostados aos muros da Miguel Castro, já estão alguns carrinhos, desses que vendem churrasquinhos, ainda fechados, mas já “guardando o lugar”. As luzes dos “cordões-de-luz”, luzes incandescentes, ligadas ontem no final da tarde, continuam acesas até agora, mesmo com dia claro.
10h00
Pessoas que leram esse post me telefonaram dizendo que estou falando sem conhecimento de causa, uma vez que o evento ainda vai ocorrer, começando hoje no final da tarde; e que eu não posso fazer esse tipo de comentário sem ter vivido a situação eu mesma. Então hoje eu vou ficar no apartamento e a partir das 15 horas estarei postando minhas impressões aqui, num post atualizado de hora em hora. Também estarei relatando tudo no twitter (http://twitter.com/ClotildeTavares). Ficarei para “conhecer a causa”. Se estiver errada, dou a mão a palmatória e reconheço, porque sempre tive facilidade para reconhecer quando estou errada, o que é mais frequente do que você imagina e do que eu gostaria que fosse…
Links:
Veja o que diz Pablo Capistrano.
Veja aqui o comunicado da Sociedade de Infectologia do RN sobre os perigos da disseminação do vírus H1N1 no Carnatal.
Entrevista do infectologista Henio Lacerda. Aqui.