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Os sonhos da Onça-Parda

Clotilde Tavares | 14 de janeiro de 2010

Ainda estou horrorizada com as notícias do terremoto que aconteceu no Haiti. Um país já tão pobre, um povo já tão sofrido, e agora mais essa. As centenas de milhares de vidas perdidas são uma tragédia para a Humanidade, que soma a isso o sofrimento dos que ficaram e que terão agora que lidar com as perdas e a difícil reconstrução.

Quando houve o tsunami na Tailândia, escrevi o texto abaixo; hoje, repito-o aqui, por considerar adequado para a situação e porque eu mesma, ainda triste, não estou conseguindo comentar sobre a catástrofe.


Os sonhos da Onça-Parda (publicada na Tribuna do Norte-Natal/RN em dezembro de 2004)

No “Romance da Pedra do Reino” o escritor Ariano Suassuna, em um grande achado poético e metafórico, compara a Terra a “uma Fera estranha, uma Onça-Parda em cujo dorso habita a Raça piolhenta dos homens.”

A imagem me veio à mente depois dessa catástrofe que se abateu sobre a Ásia, em forma dos gigantescos “tsunamis” causados pelo terremoto de nove graus Richter ocorrido nas profundidades do Oceano Índico.

Tudo isso já foi visto e revisto pela televisão e os repórteres e comentaristas esgotaram o repertório de lugares comuns que se usa numa ocasião dessas. Mas uma coisa me chamou a atenção. Ao contrário dos desastres ecológicos causados pelo Homem, com sua ação predatória sobre o ambiente movido pelo lucro, pela cobiça e pela exploração, esse desastre foi uma fatalidade. Um acontecimento fortuito, devido ao Acaso e a fatores perfeitamente naturais.

A Onça-Parda, a Terra, até então sossegada e como que adormecida, contrai a musculatura do lombo, arrepia-se, treme, e por mais que a Raça piolhenta se agarre aos seus pelos é cuspida fora sem a menor contemplação, sem culpa, sem pena, sem pudor. É isso que somos: insetos microscópicos, aninhados no dorso desse gigantesco animal que, até dormindo, pode acabar conosco.

A Onça é democrática na sua coceira mortífera, atingindo desde o pescador na sua precária canoa até o iate principesco do milionário. Quando a onda vem, varre palhoças e hotéis de luxo com fúria igual. Para a Onça, somos todos ácaros desprezíveis, piolhos do nada, nenhum mais importante do que o outro. E depois de coçar-se, a Onça acomoda-se novamente para dormitar ao sol, não se sabendo quando vai remexer-se outra vez.

A Natureza deslumbrante daquela região banhada pelo Oceano Índico foi construída graças a essas convulsões violentas do planeta, rocha por rocha, laguna por laguna. A Beleza e o seu usufruto terminaram cobrando o seu preço em vidas e bens materiais.

A nós, insetos humanos, só resta contabilizar as perdas, ajudarmo-nos uns aos outros, reerguer dos escombros o que foi destruído e torcer para que a Onça-Parda tenha bons sonhos e não volte a estremecer tão cedo.

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