Homenagem a um morto querido
Clotilde Tavares | 2 de novembro de 2011Ao contrário da maioria das crianças, eu não comecei a ler Monteiro Lobato pelo primeiro livro da série, que é “Reinações de Narizinho”. Eu devia ter uns dez anos e havia acabado se sair do internato quando Papai me deu “Emília no País da Gramática”. Não era o meu primeiro livro, leio desde muito pequena, acho que desde os quatro ou cinco anos de idade, mas fiquei imediatamente apaixonada pela história das palavras e não esqueço das ilustrações, onde as palavras eram representadas por figuras humanas, com atitudes físicas que tinham a ver com o significado delas. Uma maravilha.
Depois papai trouxe “Viagem ao Céu”, e eu me apaixonei por Astronomia, mania que tenho até hoje. E em seguida veio “O Minotauro”, e nova paixão: a mitologia grega. Só aí então é que li – dessa vez eu pedi, e papai trouxe – “Reinações de Narizinho”. Li todos, depois desse. A coleção que eu tinha, já muito estragada, desapareceu no pó dos livros velhos, mofados e estragados que, quando eu saí de casa para estudar fora, sucumbiram à umidade de um daqueles rigorosos invernos de Campina Grande. Mas Monteiro Lobato mora no meu coração até hoje, como um tio velhinho, carinhoso, e cheio de histórias pra contar. Quando penso nelo, sou novamente menina, sempre.