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Um duro ofício

Clotilde Tavares | 30 de janeiro de 2018

Balzac

Aqui escrevendo, rasgando, corrigindo, deletando, copiando, colando, me irritando, me aborrecendo, querendo desistir, jurando que vou fazer outra coisa. Aí vejo os originais do grande Honoré de Balzac – diz a lenda que ele corrigia as provas impressas até por 20 vezes e enlouquecia os editores. Relaxo, tomo um café e volto ao duro e delicioso ofício de inventar do nada personagens e situações, porque a história já está dentro da minha cabeça e se não sair termina me fazendo adoecer. #AVidaÉBoa #VidaDeEscritor#NóisSofreMaisNóisGoza

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atividade de escritor, balzac, copy & paste, correção, escrever, escritor, revisão, trabalho de escritor
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Ladybird – A Hora de Voar (Ladybird, 2017)

Clotilde Tavares | 26 de janeiro de 2018

Nunca consegui me entender direito com a minha mãe. Ela me amava, mas tinha um temperamento terrível. Eu também a amava, e tinha/tenho um temperamento igualmente terrível, herdado adivinhe de quem?

Pois é. As relações entre mãe e filha sempre dão bons temas para ficção, na literatura, no teatro, no cinema. É o caso de Ladybird – A Hora de Voar, (Ladybird, 2017), da diretora Greta Gerwig, filme que surge neste início de ano com cinco indicações ao Oscar: melhor filme, melhor diretor, melhor roteiro original (também da Greta Gerwig), melhor atriz (Saoirse Ronan, a filha) e melhor atriz coadjuvante (Laurie Metcalf, a mãe).

O filme traz o binômio mãe preocupada e cheia de trabalho/filha adolescente cursando a série final do ensino médio, com todos aqueles lugares comuns que estamos acostumados a ver nos filmes do gênero: primeiro beijo, a popularidade na escola, a necessidade de afirmação, o primeiro baile, o quarto sempre desarrumado, as melhores amigas, a inveja das garotas bonitas, as brigas com o irmão mais velho, as dificuldades financeiras da família e o centro de tudo: as brigas e desentendimentos com a mãe, já que o pai é o bonzinho da história, nas palavras da megera mal humorada que persegue a pobre menina nessa idade tão difícil. Mais do mesmo, diz você. Mais do mesmo, pensei eu.

Mas neste filme, tudo isso se passa sutilmente de outra forma, com algumas camadas a mais de profundidade, embaladas por um diálogo vivo e intenso e por situações comuns mas exploradas magistralmente pela diretora. E a Laurie Metcalf – que desempenho! – eu já a conhecia como a divertida fanática religiosa mãe de Sheldon Cooper em The Big Bang Theory (aliás, os coadjuvantes daquela série são um assunto à parte) mas nunca a havia visto em um papel dramático. Fiquei encantada. Sua interpretação de Marion, a mãe da adolescente Ladybird, é um dos grandes trabalhos que vi ultimamente no cinema e consegue construir com a Saoirse Ronan, também outra excelente atriz, uma cumplicidade e uma apropriação do texto e das situações que só consegue fazer quem domina a grande arte de representar.

Toda a história me tocou muito, e me revi na adolescente truculenta, teimosa, desaforada, lutando para ser alguém, para ter um nome e uma carreira, e trombando dia e noite com aquela criatura exigente, irascível, destemperada, mal-humorada e tão parecida com a minha mãe na maioria dos momentos. Mas não é para isso que o cinema serve? Não é para despertar em nós uma viagem, uma descoberta? Quando a obra de arte nos toca, nosso coração vive de novo, o sangue circula aquecido, o mundo se transfigura, enxergamos uma pouco mais além do que víamos antes. É o milagre da fruição artística.

Lindo filme, tocante emocionante, fabricador de lágrimas quentes de saudade pois Mamãe, minha irascível e difícil mãe, há muito me deixou. Como a personagem, na cena final, pude repetir também, sempre procurando as palavras, mas sempre sem encontrá-las: “Mãe, eu queria lhe contar… (Tempo) Eu te amo. (Tempo.) Obrigada, eu… (Tempo.) Obrigada.”

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cinema americano, conflito mãe e filha, Greta Gerwig, Ladybird, Laurie Metcalf, Oscar 2018, Saoirse Ronan
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A forma da água (The Shape of Water, 2017)

Clotilde Tavares | 24 de janeiro de 2018
The-Shape-of-Water-FX-featured
#semspoiler
Guillermo del Toro está de volta com mais uma de suas fantásticas fábulas, repetindo a estética de O Labirinto do Fauno (2006).
Lendo por aí nos fóruns de cinema, vi que pessoas bem humoradas dizem que este seu novo filme deveria ter como título Amélie Poulain encontra o Monstro da Lagoa Negra mas, piadas à parte, esse é um filme espetacular em todos os sentidos. Teve mais de dez indicações ao Oscar – filme, diretor, atriz, roteiro original, ator coadjuvante, fotografia edição e mais algumas indicações técnicas.
É claro que o Oscar obedece a alguns critérios que para mim continuam misteriosos no que se refere às indicações como, por exemplo, por que indicar um filme como Corra! (Get Out)? Interessante, assistível, mas nada que mereça um Oscar. Nesse caso, porém, a Academia acertou.
A Forma da Água começa por ser uma homenagem ao cinema. Ali estão os musicais, com Fred Astaire, Carmen Miranda, Shirley Temple, o sapateado, a dança com balde e esfregão, o cinema da época, e tudo na medida certa, sem cansar o olho do espectador.
O importante é que o filme é um exercício de empatia, uma forma de olhar para o outro vendo a essência, o que existe de verdadeiro no outro e não sua aparência. A faxineira muda, que não pode e não consegue falar por um trauma de infância, e o Monstro, também mudo porque monstro, não humano – mas ambos pensam, sentem, têm habilidades, amam.
Os coadjuvantes da trama: a mulher submissa ao marido, o artista incompreendido e superado pela tecnologia, o investigador bruto e sádico com sua família de comercial de margarina, o general doa-a-quem-doer, o cientista-espião que é agente de Moscou, o ambiente da Guerra Fria recriado tão bem.
Uma cenografia que em certas horas me lembrou Brasil O Filme (Terry Gillian-1985), cheia de canos e tubulações, meus Deus, o que circula dentro daqueles canos? Tudo uma metáfora do subterrâneos e desvãos da alma humana.
E quantos elementos emblemáticos! O ovo, que inicia e estabelece a relação entre os personagens principais e simboliza a nossa origem comum, animais que somos todos e, finalmente, o elemento água, mediador de emoções. A água, ou o estado líquido, veículo de tudo quem tem a ver com desejos e sentimentos: sangue, suor, lágrima, saliva, sêmen, secreções de glândulas… Somos seres aquáticos, crescemos na piscina do líquido amniótico de nossas mães e vivemos nos desmanchando em secreções o tempo todo. Quando secamos, sobrevém a morte.
A Forma da Água é nossa forma, ou, pelo menos, a forma que deveríamos ter. Veja, e dissolva-se.
#MaratonaOscar2018 #AdoroCinema #AVidaÉBoa

 

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A Forma da Água, Amélie Poulain, cinema, filme, Guillermo del Toro, O Labirinto do Fauno, O Monstro da Lagoa Negra, Oscar 2018, The Shape of Water
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Essa menina

Clotilde Tavares | 6 de janeiro de 2018

 

ESSA MENINA

Com uns dois meses de vida, rolou pela cama de casal onde eu a tinha deixado adormecida, caiu pela borda sobre o tapete e depois rolou novamente para debaixo da cama, onde eu a encontrei meia hora depois, toda coberta de poeira e teias de aranha, dormindo sossegadamente. Isso depois de eu quase enlouquecer pensando que alguém tinha entrado no apartamento e levado ela embora.

Com uns quatro anos de idade, ao ser proibida de fazer alguma coisa, ficava emburrada, pegava uma sacola onde colocava a fralda, a chupeta e a boneca e resolvia: “Vou para o Recife morar com meu pai!” Um dia, irritada com o desaforo, chamei um táxi e a levei até o portão. “Pronto, chegou seu taxi. Pode ir para o Recife morar com seu pai.” Ela parou, considerou a enormidade da situação e resolveu rápido: “Agora não. Depois eu vou.” E nunca mais repetiu a bravata.

Aos cinco aprendeu a ler, mas não entendia o que lia. “Mamãe, o que é morto-a-cacetadas-no-bairro-das-Rocas?” Era o que a leitora precoce queria saber, com a Tribuna do Norte nas mãos.

Aos cinco também me deixou plantada na porta da escola no primeiro dia de aula. Entrou alegre e satisfeita, enquanto todas as crianças berravam, sem quererem se separar dos pais. Mas no dia seguinte, quando a acordei para ir à aula, me perguntou espantada: “Ah! E é pra ir todo dia?”

Aos oito, no colégio, foi a única menina a escolher a aula de judô em vez do ballet. A diretora mandou me chamar, achando que havia algo “errado” com ela. Mas não era nada demais: ela apenas queria fazer aula junto com o namorado…

Aos nove, ganhou a primeira mesada e emprestou o dinheiro à coleguinha de classe, a juros de 50% a semana.

Aos onze, ia comigo para o ensaio do teatro, na Stabanada. Depois de uns quatro ou cinco ensaios, só assistindo, decorou a peça inteira e ganhou um papel depois que uma desistência desfalcou o elenco. Estreou aos doze anos no palco do Teatro Alberto Maranhão e logo depois no Festival de Inverno de Campina Grande.

Dali em diante, os palcos viraram o seu lar, e o resto é história.

 

Texto publicado no Facebook em 4 de janeiro de 2018, no aniversário da minha filha Ana Morena Tavares.

Foto de Ana aos 9 meses por Gleide Selma.

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Ana Morena Tavares, histórias de crianças
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Os maremotos da saudade

Clotilde Tavares | 6 de janeiro de 2018

balaustrada getulio vargas

Último dia do ano e eu resolvi dar uma volta de carro pela minha cidade Natal. Quase sem sentir, fui na direção dos bairros de Tirol e Petrópolis, onde gastei praticamente dez anos da minha juventude, tendo o Hospital das Clínicas e a minha casa na Pinto Martins como pontos de referência. Estava tudo lá como no passado, e passei por ali sem ver os edifícios, nem as estruturas de vidro fumê, nem o que foi acrescentado depois. Vi Natal dos anos 1970, e me vi também, com meus 45 quilos de pura energia, subindo e descendo aquelas ruas, a pé, carregada com os pesados livros de Medicina, indo para a rua do Motor onde eu atendia as crianças no Centro de Recuperação Nutricional da UFRN, ou o Pronto Socorro do Hospital das Clínicas, a Maternidade-Escola, a Pediatria. Passei de carro hoje, devagar, pela avenida Getúlio Vargas e olhei o mar – igualzinho ao daquele tempo, as nuvens cheias, e o céu com uma Lua ainda tímida e desbotada, a me espiar lá de cima. E antes que os maremotos das saudade agitassem meus olhos com o sal das lágrimas, prudentemente tomei a Prudente de Morais e voltei ao abrigo uterino dest’A Bolha onde, na poltrona macia e entre séries e livros, pretendo esperar o Ano Novo.

Publicado no Facebook em 31 de dezembro de 2017.

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