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A arte de conversar

Clotilde Tavares | 11 de agosto de 2009

Nos dias de hoje, existe uma febre de aprender que toma conta de todas as pessoas, principalmente aquele tipo de conhecimento que a gente não sabe direito se precisa dele mas mesmo assim vai atrás. Os livros que começam por “Como fazer…” enchem as estantes das livrarias, desde o pioneiro “Como fazer amigos e influenciar pessoas”, de Dale Carnegie, passando por coisas práticas do tipo “Como resolver o problema de insônia do seu filho”, “Como se faz uma tese”, “Como lucrar na crise”, e chegando a títulos mais sugestivos: “Como se dar bem com as mulheres”, “Como desmanchar feitiços” ou “Como falar com seu anjo”.

Entre tantas coisas que as pessoas podem aprender a fazer, eu quero sugerir algo que, nos últimos trinta anos, parece que se desaprendeu um pouco: conversar. Isso mesmo, conversar, bater papo, dialogar. A conversação é uma arte, que se aprende, se pratica, se desenvolve como dom. Conversar é como jogar tênis, porque os conversadores hábeis, os bons de papo, fazem o possível para manter a bola no ar, sem deixá-la cair no chão do silêncio, da falta de assunto ou do monopólio da palavra.

As pessoas, principalmente os mais jovens, não sabem mais conversar porque não sabem escutar, uma vez que a arte de conversar inclui também os momentos de escutar o que o outro diz. Hoje, interrompem sem necessidade, não prestam atenção ao rumo da conversa, se irritam, esbravejam e tentam impor suas opiniões.

Montaigne

Montaigne

Montaigne, no capítulo VIII do Livro III dos “Ensaios” diz que a conversação é o mais proveitoso e natural exercício do espírito. Mas é preciso, para usufruir das benesses de uma boa conversa, estar atento para alguns detalhes. É importante discutir as coisas no plano do universal, sem puxar para o particular.

Por exemplo: a discussão sobre as vantagens e desvantagens do casamento pode ser interessante, mas começar a esmiuçar os detalhes do casamento da vizinha transforma a conversa em fofoca. E só podemos conversar se houver diferença de opiniões. Se todo mundo estiver de acordo não há necessidade de falar: basta ficar em silêncio e comungar espiritualmente com quem esteja do seu lado, uma vez que não há opiniões para serem confrontadas.

Para quem tiver interesse, recomendo três livros: “A Arte da Conversação”, de Peter Burke (UNESP); “A arte de conversar”, de Alcir Pecora (Martins Fontes), e “A Arte de Conversar”, de James A. Morris Jr. (Record). No mais, é praticar essa arte cujas regras de ouro são: não monopolizar, não interromper, não teimar, não tentar impor seu pensamento. Você vai ver como é bom.

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Faltou família

Clotilde Tavares | 10 de agosto de 2009
A Escola de Atenas, de Rafael.

A Escola de Atenas, de Rafael.

Nas aléias ensombradas da Grécia Antiga, mestres e discípulos caminhavam juntos e conversavam, discutiam. A cada resposta dada pelo aluno, o mestre o remetia a nova problematização que gerava nova pergunta, e que suscitava outras perguntas, outras reflexões. Discípulo e mestre, envolvidos pelo suave ar da tarde e pelos temas discutidos, tornavam-se amigos, cúmplices, companheiros de aventura.

Conheci um rapaz, aprovado num dos cursos da UFRN, que se matriculava aleatoriamente em todas as disciplinas que pudesse cursar e que lhe interessassem, independentemente de serem ou não do seu curso. Quando alguém observava que desse jeito ele jamais iria se formar, respondia que isso não importava: ele gostava mesmo era de aprender coisas novas.

O escritor e critico Edson Nery da Fonseca diz que a sua idéia de Universidade é uma imensa biblioteca, onde os alunos lêem durante uma boa parte do tempo e depois voltam às salas de aula apenas para discutir as idéias suscitadas por essas leituras.

O pescador leva para o meio do oceano seu filho de oito anos, que o acompanha na pesca e, junto com o pai, fazendo e experimentando, aprende os segredos das ondas, dos cardumes, da direção do sol e dos ventos.

Volto no tempo e vejo os serões da minha infância. Papai, sentado na sala, ouvia rádio, e lia, interrompendo a leitura para ler um trecho para minha mãe em voz alta. Nós, crianças, fazíamos nossos deveres de casa, e Mamãe e Titia nos ensinavam. Havia tempo para isso e a TV não roubava a atenção de toda a família. Quando ficamos maiores, as noites eram animadas com jogos de palavras, adivinhações, recitativos, histórias. Toda noite recitávamos um soneto que havíamos decorado durante o dia e é assim que eu ainda hoje sou capaz de recitar horas a fio, porque aprendi na infância. Mamãe nos mandava fazer a conta para pagar ao leiteiro: um litro e meio por dia, a tantos cruzeiros o litro… e corríamos a pegar um lápis e um papel, para ver quem dava o resultado primeiro. E eram charadas, palavras cruzadas, logogrifos, consultas aos dicionários. Papai era charadista, e cedo nos iniciou nos mistérios da enigmística. Havia também um grande Atlas em casa, e papai nos mandava procurar as cidades no mapa. “Encontre… Adis-Abeba!” “Onde é isso, papai?” “No mapa da África.” E começava a competição para ver quem encontrava primeiro. Assim íamos aprendendo geografia.

Afastada da sala de aula desde 2002, quando me aposentei da docência universitária, continuo refletindo sobre o processo de ensino-aprendizagem, que foi meu “métier” durante quase trinta anos. A agenda das crianças é uma loucura, sobrecarregada de atividades extra-classe e sem tempo para brincar. As tarefas caseiras são feitas sempre com a televisão ligada porque a mãe ou o pai, quando está ali ensinando, não quer perder o episódio da novela ou do reality-show da hora. E os pais sempre se estão esperando mais da escola do que ela pode dar, mais do que ela tem a obrigação de dar.

Meus pais nunca delegaram à escola o compromisso de me educar. Eles me educaram em casa, e na escola eu fui aprender a conviver com crianças da minha idade, adquirir informações sobre temas que meus pais não dominavam e ter experiências relacionais que o espaço familiar não permitia. Mas educação, formação, essa foi doméstica mesmo.

Hoje, vemos adolescentes e jovens se comportarem como verdadeiros trogloditas nas praias, nas festas, na sociedade e também na escola, onde são selvagens, truculentos, agressivos e mal-educados. Os professores estão aterrorizados dentro das salas de aula, temendo processos e ações se levantarem a voz para os alunos; e as famílias continuam exigindo da escola o que não quiseram, não souberam ou não puderam dar em casa, quando deveriam, ou seja, desde a mais tenra, tenríssima idade de seus filhos; ou então vemos pais e mães acuados, cheios de culpa porque trabalham fora e tentando se compensar dessa culpa dando aos filhos tudo que eles pedem.

Técnicos e governantes vão para a TV dizer que a educação é a base de tudo, e etecetera e quás-quás-quás; e que as escolas precisam melhorar e que está na hora de investir mais em educação para que não faltem escolas.

Mas eu acho que não está faltando escola não. Está faltando família.

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Ode ao gato

Clotilde Tavares | 29 de julho de 2009
Julio Braga III, "Olhinhos Ternos"

Julio Braga III, "Olhinhos Ternos"

Muitos estudos científicos têm mostrado que aquelas pessoas que possuem animais de estimação são menos estressadas e têm menos tendência às doenças cardíacas. Muita gente não vive sem o seu bichinho: cachorro, gato, passarinho e peixinho no aquário são os mais comuns, embora eu já tenha visto gente criando toda espécie de bicho esquisito, incluindo aí um jacaré, que o dono, conhecido meu, conduzia por uma coleira, como se fosse um cão, enquanto o bicho brincava de abocanhar os calcanhares de quem estivesse por perto.

Já tive toda espécie de bicho. Desde a cadela Tirolesa e o galo-de-campina cantador na minha infância ao cachorro Sultão na adolescência e depois os gatos, inúmeros, na casa da minha mãe e depois na minha própria casa, além dos peixinhos de aquário.

Everaldo Tavares

Everaldo Tavares

Mamãe tinha mania por bichos, e lembro-me de Balalaika, a cotia, que viveu conosco muito tempo; uma coruja; e até o jabuti, que atende pelo nome de Tupiara, velhíssimo, quase da minha idade, que ainda vive na minha casa em Natal.

Irlanda santa Cruz e Teobaldo Capuleto

Irlanda santa Cruz e Teobaldo Capuleto

Mas a minha paixão mesmo são os gatos. Muitos já fizeram parte da minha vida. Galileu, sábio, pintado de preto e branco; Everaldo, o gato cinzento que me abandonou uma noite e nunca mais voltou; Júlio Braga III, o gato amarelo, terceiro com este nome, cujo apelido era “Olhinhos ternos”; e Teobaldo, o rei dos gatos, o rei do pedaço, ainda vivo e deslumbrante com seus líquidos olhos contornados de preto, sensual como uma odalisca.

Considero o gato uma das criações mais perfeitas da natureza. É limpo, elegante, preciso, silencioso, auto-suficiente, o que não acontece com os cachorros, que dão mais trabalho do que uma criança pequena e levam todo o tempo livre a cavarem o jardim em busca de ossos inexistentes.

Um beijinho em Galileu...

Um beijinho em Galileu...

Para encerrar essa conversa sobre gatos, recomendo a leitura do belíssimo poema de Pablo Neruda “Ode o gato”onde, entre outras coisas, ele diz: “Não há unidade / como ele, / não tem / a lua nem a flor / tal contextura: / é uma  coisa só / como o sol ou o topázio, / e a elástica linha em seu contorno / firme e sutil é como / a linha da proa de uma nave. / Os seus olhos amarelos / deixaram uma só / ranhura / para jogar as moedas da noite . // Oh pequeno imperador sem orbe, / conquistador sem pátria, / mínimo tigre de salão, nupcial / sultão do céu / das telhas eróticas, / o vento do amor / na intempérie / reclamas / quando passas / e pousas / quatro pés delicados / no solo, / cheirando, / desconfiando / de todo o  terrestre, / porque tudo / é imundo / para o imaculado pé do gato.”

E Mark Twain, outro apaixonado por gatos, completa: “Se fosse possível cruzar o homem com o gato melhoraria o homem, mas pioraria o gato.”

E eu assino embaixo.

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Criatividade em 140 caracteres

Clotilde Tavares | 28 de julho de 2009

Andei lendo por aí que o ganhador do Nobel, o escritor português José Saramago, disse numa entrevista ao jornal O Globo, que o uso do Twitter ia causar uma involução da comunicação que terminaria por levar a Humanidade a se entender através de grunhidos.

Para quem não sabe, o Twitter é uma das mais recentes ferramentas da Internet, e funciona como um micro-blog onde você só pode escrever 140 caracteres. Para participar, não precisa ser convidado por ninguém: você vai no endereço do site <http://twitter.com>,  faz uma conta, cria um nick e pronto: já está participando. Pode postar, seguir outros twitteiros que você considerar interessantes e por sua vez ser seguido por outros se eles acharem que vale a pena.

O Twitter não é bom nem ruim: é apenas um dos inúmeros recursos de comunicação que existem na rede, e você pode usá-lo como bem entender, como se faz com blogs, sites, MSN, orkut e outras ferramentas semelhantes.

Sou twitteira há quase seis meses, e, contrariando Saramago, provo por A mais B que é possível ser criativo em 140 caracteres. Veja abaixo uma seleção das minhas postagens, incluindo algumas em versos, pois descobri que cabe uma sextilha inteira em 140 caracteres! Sugiro que leia os versos em voz alta, para erceber a cadencia e as rimas.

1 – Fato real acontecido em João Pessoa:

Jibóia de três metros de comprimento passeia sossegadamente em bairro residencial de João Pessoa, mas morre atropelada ao atravessar a rua. (23-07-2009)

2- Perguntava-se: “Qual é sua idade mental?”

“Idade mental”? Minha idade é a seguinte: pernas e pés com 280 anos; coluna com 100; coração com 30; sentidos com 2; e juízo de 14 anos. (23-07-2009)

3 – Twitteiros respondiam um teste na Internet que estimava a data da morte.

Quando eu vou morrer? Quando ninguém mais se lembrar de mim. Aí, estarei definitivamente morta, mortinha da silva.(22-07-2009)

4 – Sobre o “namoro” de Lula com Sarney e Collor:

“Lula defende Sarney e abraça Collor”. Quem se espanta com isso? Os homens são todos iguais! E esses aí são mais iguais do que a maioria… (17-07-2009)

5 – No Dia Mundial do Rock:

O rock está comigo desde os meus 12 anos de idade. Tenho 61. Acabou o sexo, acabaram as drogas, permanece o rock and roll. (13-07-2009)

6 – Olha a sextilha para o “Fora Sarney!”

Escutando a voz das ruas/Lá se grita uma só lei:/Combater o senador/Que quer direitos de rei/Grite comigo nas praças/ Bem alto: Fora, Sarney!! (29-06-2009)

7 – Saindo da dieta:

Um Eskibon pesa 48 gramas, tem 150 calorias e toneladas de culpa.(09-06-2009)

8 – As drogas e eu:

Depois de tantos anos de abstinência e dieta, basta cafeína e açúcar preu ficar completamente de barato. Triste fim para esta velha junkie. (18-05-2009)

9 – Decepcionada com Gabeira:

Na noite da ceia larga/Judas vendeu e traiu/E quando Cristo foi preso/Pedro temeu e mentiu/No festival das passagens/Até Gabeira caiu… (22-04-2009)

10 – E finalmente a de hoje sobre a gripe suína:

A tal da gripe suína/Não traz novidade não/Hospital já é chiqueiro/Doente come ração/E os grandes porcos já roncam/No topo dessa nação.

Minhas twittadas são reproduzidas neste site na coluna da sua direita. Venha também, junte-se a nós.

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criatividade, Fernando Gabeira, ferramentas da internet, fora Sarney, Gabei, grip, micro-blog, Saramago, twitter
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"… eu vou lhe deletar do meu MSN…"

Clotilde Tavares | 26 de julho de 2009
Minha foto no Orkut

Minha foto no Orkut: despertando paixões incontroláveis! 😉

Muita gente pede para ser adicionado ao meu Orkut. Devo adiantar que não uso muito o Orkut, e só tenho uma conta lá porque descobri que muita gente não sabe se comunicar por e-mail, usando o Orkut para isso. Uso também para encontrar pessoas, o que tem me auxiliado muito na pesquisa que faço no campo da Genealogia de famílias.

Como sou uma pessoa mais ou menos pública, que escreve em jornais, muitas pessoas que me lêem pedem para ser adicionadas à minha lista de amigos e eu adiciono todas, indiscriminadamente, mesmo que não as conheça. Se, a partir daí, começam a me mandar mensagens que não me interessam, eu vou lá e “elimino” a pessoa. Também apago todos os meus recados e não coloco nenhuma informação pessoal no meu perfil, e nem fotos.

Muito bem. Aí, nesta semana, adicionei alguém que vou chamar de… Guga. Não é o nome dele. Pela foto parecia ser um jovem aí dos seus 20 anos, sem camisa, com uma praia ao fundo. Podia ser até um dos inúmeros sobrinhos-netos que tenho e sequer conheço, filho dos filhos dos meus primos, por exemplo. Aí, ele pediu para adicioná-lo ao MSN, eu adicionei, e travou-se o seguinte diálogo real, nesta tarde de sábado, 25 de julho de 2009.

guga2009@hotmail.com diz:
oi
guga2009@hotmail.com diz:
td bem

Clotilde  diz:
quem é vc?

guga2009@hotmail.com diz:
eu tivi no orkut

Clotilde diz:
eu lhe conheço?

guga2009@hotmail.com diz:
não

Clotilde diz:
e então?

guga2009@hotmail.com diz:
vc tem namorado

Clotilde diz:
Guga, eu tenho 61 anos. O que vc acha?

guga2009@hotmail.com diz:
eu gosto de mulheres mais experientes
guga2009@hotmail.com diz:
como vc

Clotilde diz:
Mas eu infelizmente gosto de homens MAIS experientes do que eu
Clotilde diz:
Infelizmente para você, é claro.
Clotilde diz:
Lamento

guga2009@hotmail.com diz:
hum

Clotilde diz:
E nao gosto de azaração na internet
Clotilde diz:
Então desculpe, me perdoe, e sugiro que vc não perca seu tempo comigo.
Clotilde diz:
Vale a pena tentar, eu sei, mas dessa vez nao deu certo.

guga2009@hotmail.com diz:
quem sabe ainda eu te convenso

Clotilde diz:
Escrevendo “convenso” e não “convenço”, acho que não vai dar… (hahahahaha)

guga2009@hotmail.com diz:
kkkkkkkk
guga2009@hotmail.com diz:
kk
guga2009@hotmail.com diz:
isso é msn

Clotilde diz:
Não senhor. Convenço com s é erro de ortografia.
Clotilde diz:
msn é blz, td, pq…
Clotilde diz:
Eu adicionei vc ao meu orkut porque pensei que era um leitor, sou escritora e muita gente que eu nao conheço entra na minha lista; mas como vc está interessado em uma coisa na qual eu não estou, novamente peço mil perdões, aconselho que insista com outras pessoas, e para evitar mais perda de tempo minha e sua vou lhe “eliminar”, ok? Sem mágoa.

guga2009@hotmail.com diz:
ok

Clotilde diz:
Boa sorte da próxima.

guga2009@hotmail.com diz:
mas se vc tiver afim de uma diversao
guga2009@hotmail.com diz:
estamos aí
guga2009@hotmail.com diz:
ok

Clotilde diz:
Guga, sem querer ser grosseira, e admirando a sua tenacidade, estou a fim, sim, mas com alguém mais velho, ok?

guga2009@hotmail.com diz:
ok
guga2009@hotmail.com diz:
mas eu acho q vc tem q curtir a vida

Clotilde diz:
E eu curto muito, vc nem imagina; mas com outras pessoas, e noutro contexto. Vai passear, Guga.

guga2009@hotmail.com diz:
desculpe

Clotilde diz:
Está desculpado
Clotilde diz:
Bye

guga2009@hotmail.com diz:
clotilde vc  conhece pessoas q gostem de gente mais novas

Clotilde diz:
Guga, estás me achando com cara de que? De pessoa que agencia encontros?

guga2009@hotmail.com diz:
foi mal
guga2009@hotmail.com diz:
eu so estava pergutando

Clotilde diz:
Cuidado com as perguntas… Você pode se complicar perguntando o que não deve a quem você não conhece.
Clotilde diz:
Estou educadamente encerrando a conversa, ok?
Clotilde diz:
Bye.

Esta é a rede mundial de computadores, a Internet, fonte de surpresa e diversão para mim, sempre, o tempo todo. Eu não agencio encontros amorosos mas… quem sabe? Se o meu caro leitor ou leitora é uma dessas “pessoas q gostem de gente mais novas” e se sentiu “convensido“ pelo Guga, quem sabe eu não envio em PVT o Orkut e o nome verdadeiro dele? Afinal, não custa nada tentar! 😉

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A primeira televisão

Clotilde Tavares | 23 de julho de 2009

Hoje quero apresentar ao meu caro leitor um amigo. É Adauto de Andrade, que se auto-descreve no seu blog Legal como advogado, pai, marido, técnico, contador de causos, fuçador e curioso de um modo geral e acrescenta: não exatamente nessa ordem.

Adauto

Adauto

A propósito do meu post sobre a chegada do homem na Lua, Adauto me respondeu dizendo que ele só tinha um mês e meio quando o fato aconteceu, e que por isso não se lembrava.  E informou que a casa do pai dele, “… ainda que modesta – era a única que tinha televisão (presente de meu padrinho, que havia quebrado a tv a machadadas – mas isso é outra história). Minha mãe conta que nesse dia todos os vizinhos possíveis e imagináveis se reuniram em casa para ver as notícias naquela tv preto e branco a válvulas e recém reformada.

Bem, eu fiquei curiosa sobre aquela história da TV quebrada a machadadas e exigi o relato, que, sem mais delongas, segue abaixo.

Fala Adauto:

“Meu pai, vulgo “Seo Bento”, do alto de seus 72 anos, continua firme e ativo – ainda que aposentado – com uma oficininha de conserto de televisores no fundo de sua casa.

“Foi mecânico a vida inteira, tendo vindo de trem de Santa Rita de Jacutinga, MG, para São José dos Campos, SP, aos onze anos de idade. Sendo o mais velho de um total de doze irmãos (e irmãs) foi para roça para plantar arroz com a família e cerca de dez anos depois resolveu ir para cidade. Conseguiu emprego numa fecularia e mais tarde numa mecânica de caminhões, ambos da família Renó.. Quando a empresa faliu, foi para a Johnson e lá ficou até sua aposentadoria.

“Tudo isso é só para contextualizar.

iub“Lá na mecânica conheceu o sr. Nobilino, encarregado, e que viria a ser meu padrinho de batismo. Vida dura, casou-se, construiu sua casa e teve três filhos (sendo eu o caçula). Minha mãe contribuía na renda familiar com suas costuras, mas, para ajudar um pouco mais, meu pai fez um curso por correspondência para conserto de rádios e televisores no IUB – Instituto Universal Brasileiro. Sempre após o serviço ficava acordado até tarde, ainda na cozinha de casa, consertando rádios e outros aparelhos.

“Numa época em que televisão ainda era um luxo, meu padrinho, seu chefe, sujeito já estabelecido e com mais posses – mas dado a violentos acessos de fúria – havia comprado uma dessas máquinas de fazer doido. Mas não é que a televisão apresentou defeito? Mexe daqui, mexe dali, fuça, vira, tenta, esmurra, acabou ficando puto, levou aquela “geringonça” para fora, bem no meio do quintal, e extravasou sua raiva a golpes de machado no pobre aparelho…

tv-quebrada1“Não sobrou muito.

“Ciente de que meu pai estava dando seus primeiros passos naquela arte eletrônica, juntou os cacarecos que sobraram da vítima e levou até em casa.

“- Toma, Bento. Se você conseguir fazer essa porcaria funcionar, ela é sua.

“O que para outros seriam lixo, para meu pai foi uma oportunidade! Jamais que ele teria como comprar um aparelho daqueles naquela época!

“Desmontou tudo, arranjou madeira (sim, as tvs de então possuíam caixas de madeira – ótimas para cupins…), e, usando suas habilidades de marcenaria, fez outra caixa para a televisão. Economiza daqui, compra uma válvula dali, solda acolá e, não demorou muito, o aparelho voltou à vida!

“E essa é a história da primeira televisão que tivemos em casa…

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Dez coisas que melhoram a vida

Clotilde Tavares | 18 de julho de 2009

moisesEu estava lendo o Hype Science, que é um site do qual gosto muito, e dei com uma matéria com o título Dez maneiras de mudar sua vida em 59 segundos. Só como título é um achado, porque são DEZ maneiras – quantidade sempre associada a coisas eficazes como os DEZ mandamentos -, contém a palavra mágica “mudar sua vida”, coisa que todo mundo quer porque a maioria das pessoas não está satisfeita com a sua e finaliza com os tais 59 segundos, de maior força semântica do que 1 minuto, por exemplo. Qualquer coisa feita em 59 segundos tem um apelo irresistivel para a maioria preguiçosa – na qual me incluo – que quer resolver seus problemas ou dificuldades no menor espaço de tempo possível. É por isso que as pessoas querem perder os dez quilos que aumentaram em cinco anos em apenas dois meses ou que todo mundo quer ficar rico do dia para a noite e sem trabalhar muito.

Voltando ao artigo, ele trata do livro de Richard Wiseman, psicólogo, “59 seconds. Think a little. Change a lot”, ainda não publicado no Brasil. Com conselhos simples, baseados em fatos comprovados pela ciência, Wiseman propõe um pequeno esforço para uma mudança consistente, incluindo coisas como usar pratos e copos menores para comer menos nas refeições ou contar seus objetivos a amigos e parentes para comprometer-se consigo mesmo a atingi-los. Você pode ler mais sobre o livro no site do HypeScience.

thailand15Eu mesma escrevi um livro assim, chamado “A magia do cotidiano: como melhorar sua qualidade de vida”, (São Paulo, A Girafa Editora, 2005), um livro sobre coisas simples do dia-a-dia que qualquer pessoa pode fazer, coisas que não exigem habilidades especiais e realmente melhoram a vida, e tudo baseado em fatos científicos e na minha experiência como pessoa e profissional de saúde. É um livro que foi escrito há mais de dez anos, que teve a sua primeira edição em 1999 – uma edição artesanal, que eu mesma fiz, e que está esgotada. Este livro ainda me agrada muito e me deixa satisfeita por tê-lo escrito.

Eu não li o livro do psicólogo inglês. Mas vou lhe sugerir aqui dez coisas que só demoram 1 minuto para serem feitas e melhoram muito a sua vida.

1 – Levante AGORA do computador e beba um copo de água. A maioria das pessoas bebe muito pouca água.

2 – Já que está de pé, fique na ponta dos pés e se estique todo, como se quisesse alcançar o teto. Sua coluna agradece.

3 – Abra e feche as mãos com força dez vezes. Previne a tendinite e a L.E.R.

4 – Feche os olhos, faça uma respiração profunda e pense numa coisa boa.

5 – Mude de lugar aquela mesa, ou cadeira, ou armário, com o qual você sempre está trombando e dizendo um palavrão em seguida.

6 – Pegue o telefone AGORA e faça aquele telefonema que você está adiando. É menos de um minuto o tempo gasto para teclar os algarismos.

7 – Reserve um minuto do dia para observar a natureza. Pode ser agora.

8 – Não importa que hora do dia ou da noite seja: decida que você vai fazer de tudo para ser feliz nas próximas 24 horas.

9 – Beije detalhada e carinhosamente alguém que você ama. Somente durante um minuto. Mas planeje antes, para aproveitar bem.

10 – Clique uma vez por dia em https://umaseoutras.com.br

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Gripe suína e tosse canina

Clotilde Tavares | 17 de julho de 2009

doentePrimeiro é um gosto estranho na boca, um sabor de maresia, de sargaços, de marés estagnadas. Desagradável como uma premonição, o gosto se instala e a gente começa a ter consciência de que existe algo de anormal entre o nariz e a garganta. Em seguida começa o comichão infernal da faringe irritada, coçando, arranhando, enquanto o nariz passa por algumas – poucas – horas de suave permeabilidade para repentinamente se encher de espirros estrondosos, que vêm sabe-se lá de onde com violência e, antes que rompam costelas e esterno, rebentam em explosão com ruídos que variam de pessoa para pessoa. Uns, como eu, abrem a boca quando espirram, por medo de morder a língua, e se fazem ouvir no prédio inteiro; outros espirram pelo nariz, tentando ser discretos, mas quem pode ser discreto e contido na hora de espirrar? Pois é.

gripe01Aí, a gripe já está instalada. Dor-de-cabeça, corpo mole, uma sensação de que a carne está se despregando dos ossos, olhos intumescidos e vermelhos, o gosto ruim na boca, a febre. Em cada um dos 208 ossos do corpo é como se alguém estivesse enfiando uma agulha finíssima e incandescente. Atrás do esterno, no lugar onde deveria estar o coração, descobrimos que alojou-se um animal traiçoeiro, que respira com pequenos estalidos e com suas garras afiadas parece querer subir pelos nossos brônquios acima, nos fazendo tossir, tossir, tossir, a tosse seca da irritação brônquica, a pior tortura que se pode desejar a um ser humano.

Além disso, nada tem sabor. A macarronada parece batata sem sal, a carne é como se fosse trapo velho e o chocolate – o divino chocolate – parece um pedaço de sabão. Quem mora sozinho, como eu, acaba passando fome, por pura impossibilidade de se levantar e preparar algo para comer; e feliz do freguês que se lembra de tomar água, porque para melhorar da gripe só funcionam três coisas: muito líquido, antitérmico e repouso.

tosse02Depois de uns três ou quatro dias flutuando nesse limbo de sono, prostração, espirros, tosse seca e dor-de-garganta, muito devagar, começamos a achar sabor em um pedacinho de biscoito, sentimos o cheiro do café e já nos arriscamos a uma sopa ou um pratinho de macarrão. Mas nem pensem que passou a pior fase. O animal que morava atrás do esterno, como se tivesse engordado e aumentado de volume, exige mais espaço. A tosse se torna produtiva e escandalosa, impedindo ainda por uma ou duas semanas o convívio social, a frequência a cinema e teatros, e nos deixando sem jeito sempre que tossimos na presença de alguém.

Essa bronquite residual, a famosa “tosse-de-cachorro”, característica da maioria dos episódios de gripe, significa que já estamos curados, que o perigo já passou, e que adquirimos imunidade a mais uma variante desse vírus da influenza, ou gripe, que os cientistas gostam de chamar por letras e números, e que a população adora colocar nomes engraçados, geralmente ligados a acontecimentos da atualidade ou a celebridades da moda.

Não sei o nome dessa que me derrubou, e da qual estou iniciando a fase “início da tosse-de-cachorro”. Talvez tenha sido até a tal “gripe suína”, numa forma atenuada, já que existem casos no estado. Se foi ela, escapei de mais uma, e só me resta comemorar. Mas eu acho que não foi, pois não beijei nenhum porquinho…

origem-da-gripe-suina

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Mulheres pré-delivery

Clotilde Tavares | 9 de julho de 2009

tres_cachorrosHá uma história interessante sobre um homem que estava levando três cachorros para o sítio. Amarrou os três animais na parte traseira da carroça e tomou a estrada. Nenhum dos cachorros estava satisfeito com a mudança. O primeiro, resistindo muito, sempre olhando para trás e tentando se desprender e voltar, chegou ao destino com o pescoço todo ferido, magoado pela coleira. O segundo conformou-se e, cabisbaixo, acompanhou com passos pesados a andadura da carroça. O terceiro, a exemplo dos dois primeiros, também não queria ir. Mas já que nada podia fazer, pulou para cima da carroça e adormeceu, embalado pelo balanço das rodas. Ao chegar, estava relaxado e disposto a encarar o inevitável da nova vida.

faxinaLembrei-me disso enquanto lavava louça e refletia sobre as repetitivas tarefas domésticas. É um trabalho ingrato, não remunerado e, pior, que ninguém reconhece. Forrar as camas, varrer, limpar, lavar a louça, cozinhar. Todos os dias é preciso que alguém desempenhe essas funções, senão o mundo vira um caos e a sujeira e o desleixo tomam conta das nossas vidas.

Eu gosto de cozinhar, mas detesto ter que fazê-lo por obrigação. Vejo agora nas revistas essa moda nova de “os homens na cozinha”. Fala-se muito de toda uma geração de candidatos a “chef”, e é comum matérias e reportagens com atores e modelos na cozinha, fazendo “uma comidinha”.

homem_cozinhandoAnuncia-se nas revistas de decoração novos “modelos” de cozinha, mais modernos e funcionais, porque “agora o homem está na cozinha”, como se os séculos que a mulher passou nesse ambiente não merecessem atenção. Na TV eu vi um anúncio onde um cara que mora sozinho prepara uma macarronada e, para minha surpresa, deixa atrás de si tudo limpo e arrumado. Com todo o respeito pelos dotes masculinos, autênticos ou não, eu queria ver um camarada desses encarar no dia-a-dia a trinca café-almoço-e-jantar, como a maioria das mulheres faz e fez durante toda a vida. Uma coisa é cozinhar pratos charmosos e diferentes numa noite especial enquanto se beberica um vinho e ouve uma musiquinha; outra é passar a vida fazendo isso, às vezes sem o menor reconhecimento dos que consomem a comida.

mulher_idosa_cozinhandoPenso muito nas mulheres mais velhas da minha família, na minha mãe e nas minhas tias, mulheres “pré-delivery”, que não podiam mandar tudo às favas e pedir comida chinesa pelo telefone. Mulheres que tiveram e ainda têm que fazer isso a vida inteira e sufocar seus outros talentos. São como os cachorros atrelados à carroça. Uns reclamam, outros ficam cabisbaixos e outros ainda conformam-se com a situação, dando até a impressão de que o fazem alegremente Mas quantas vocações não se consumiram e estiolaram ao calor do fogão doméstico, da pia de louça suja ou do tanque cheio de roupa?

Feliz sou eu, que posso pedir comida pelo telefone e sentar no computador para escrever. E encerro esta reflexão com um poema de Diva Cunha, do seu livro “Canto de Página”, palavras belas e exatas sobre essa terrível condição à qual se prenderam e ainda se prendem muitas mulheres por esse mundo afora:

Minha mãe diz
que eu sou da pá virada
a da vida torta

os modelos dela são outros:
santa terezinha do menino Jesus
santa rita de cássia
santas

fora as santas domésticas
que foram sacrificadas
no dia a dia
e ninguém viu
sangradas como galinhas
maceradas em vinha d’alhos
postas a dormir no sereno
para secar odores
enfurnadas como bananas verdes
esfregadas nos ladrilhos
claros dos banheiros
costuradas em botões de quatro furos
esbofeteadas e sacudidas
como colchões e almofadas
para desprender o pó das horas

secaram todas
nos linhos brancos
dos lençóis bordados
ao morrer, não morreram
entregaram a alma a deus,
que provavelmente não as perdoou
pelo gasto inútil
que fizeram dos seus talentos.”

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O Rapaz, a Moça e o Sistema

Clotilde Tavares | 6 de julho de 2009

Hoje quero lhe apresentar três entidades que fazem parte da minha vida e da sua, meu caro leitor, três entidades importantes e, digo mesmo, indispensáveis à nossa vida, à nossa saúde, ao nosso bem-estar. Apresentar é modo de dizer porque você, provavelmente, já entrou em contato diversas vezes com elas, e desses encontros deve ter saído sempre uma pessoa não direi melhor, mas muito mais experiente. São elas o Rapaz, a Moça e o Sistema.

orapaz01Quem é O Rapaz? O rapaz está em todo lugar. Essa onipresente criatura é aquele que, por exemplo, cuida do som ou do projetor sempre que vamos falar em algum lugar, dar uma aula ou ministrar uma palestra. Chama o rapaz pra ligar o som. O rapaz que liga o projetor ainda não chegou. Vamos esperar o rapaz. O rapaz esqueceu a chave e voltou em casa lá na Zona Norte para apanhar. O rapaz foi levar a mãe no hospital e só chega daqui a pouco. O rapaz. O rapaz.

O rapaz parece tão necessário quanto fugidio em tudo o que fazemos na nossa vida. Compramos um armário novo e lá ficamos de castigo em casa por três dias esperando o rapaz que vem fazer a montagem. Solicitamos um canal de TV paga, e lá vem de novo o rapaz passar a fiação e conferir vida ao nosso televisor. Colocamos o lixo na porta do apartamento e temos que esperar o rapaz que passa todo dia às dez para apanhar os sacos azuis. E vou confessar uma coisa, meu caro leitor: no meu quarto de dormir, este recinto sagrado e inviolável que fica no meu apartamento, o rapaz já entrou mais vezes do que qualquer outra pessoa viva!

orapaz03Bem ou mal, de maneira rápida ou demorosa – no mais das vezes demorosa – o rapaz sempre está fazendo algo para nós. Já A Moça, não. A moça parece ter prazer em não fazer. A moça geralmente está atrás de um balcão, de um guichê, tendo à frente um terminal de computador do qual ela não tira os olhos. Não adianta ser simpática, elogiar-lhe o brinco ou a maquilagem, dizer gracinhas, e muito menos dizer que está com os pés doendo depois de horas na fila. A moça é simplesmente incomovível, é uma criatura de pedra, fria e atenta apenas àquilo que ela chama de “os procedimentos”, para os quais foi treinada e levada a abandonar qualquer toque de humanidade ou de ligação com o ser humano seu semelhante que está ali, à sua frente.  A moça só vê o manual de procedimento e a tela do computador, e fim de papo.

rapaz04E é a moça quem tem nas mãos o nosso destino. É ela quem carimba o formulário, autoriza o pedido, emite o bilhete de passagem, imprime a guia, libera a consulta ou cirurgia, entrega a nota fiscal, troca o aparelho ou o artigo que veio com defeito, registra sua compra. É a moça, sempre a moça, que está do outro lado do aparelho telefônico quando você quer algum esclarecimento, deseja fazer uma compra ou solicitar um serviço.

A propósito, há agora uma nova versão da moça, uma moça virtual, que entende o que você diz ao telefone, desde que seja dentro do assunto. Se tossir, ou espirrar, ela diz de forma educada: “Não entendi”. E se você responder: “Foi somente um espirro, minha filha”, a criatura repete, sem emoção: “Não entendi”. Se a outra moça, a real, é ensinada a não pensar, a seguir apenas o procedimento, essa moça virtual é pior: é criada já, do berço – ou da bancada do laboratório – sem capacidade de entender qualquer coisa que não seja o tema ou o serviço ao qual se dedica, qual escrava eletrônica, sem nenhum consideração pelos humanos que somos todos, sujeitos a tossir enquanto estamos falando.

orapaz04E aqui entra em ação a terceira personagem, a mais poderosa, a terceira pessoa da santíssima trindade da esquizofrenia e loucura desses nossos tempos modernos: O Sistema. O que é o sistema? Ninguém sabe. Para mim, é o Sistema, assim, com “S” maiúsculo, uma entidade inscrita no imaginário da sociedade tecnológica quase com o poder de divindade. Nenhum ato, por minúsculo que seja, pode ser efetivado se o Sistema não aceitar. Matricular um filho numa escola, fazer um pagamento, alugar um simples DVD na locadora, licenciar o carro, pagar uma conta, ter o pagamento dessa conta reconhecida… Tudo depende do Sistema.

orapaz05Ah, meu caro leitor! O Sistema é poderoso e é cruel, além de obedecer a uma lógica que escapa ao entendimento da minha mente humana, simples e sem sofisticação. É o Sistema que me pune não sei por qual pecado cometido quando, depois de passar horas no supermercado fazendo as compras, e enfrentar uma fila, chegando ao caixa, pés estropiados, dor de cabeça, fome, vontade de ir ao banheiro, o que acontece? O Sistema não aceita o meu cartão, cartão esse que foi aceito uma hora antes pelo mesmo Sistema no posto de gasolina onde fui abastecer o carro. Sem outro meio de pagar a compra, o que me resta? Abandonar o carrinho com a carne, o feijão e o arroz, e descarregar sobre a moça do caixa e o rapaz que empacota a minha frustração, tristeza e cansaço.

Por causa deles, dessa trindade monstruosa, corporificada à minha frente, Sistema-Moça-Rapaz, insensíveis às minhas queixas, é que um dia eu ainda vou fazer como Zabé da Loca e morar no mato. Quem viver, verá.


A quem interessar possa, já arranjei o apartamento, do jeito que eu queria, e desejo aqui agradecer de coração a todos aqueles que ajudaram, telefonaram, mandaram emails, sugeriram, procuraram e demosntraram solidariedade.

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