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Uma história de amor

Clotilde Tavares | 5 de julho de 2009

Nada como a originalidade na hora de fazer as mesmas velhas e antigas coisas que precisamos fazer todo dia. Neste link, há convites de casamento super criativos entre os quais eu escolhi esse para ilustrar este seu domingo.

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Leitura de meninas e moças

Clotilde Tavares | 2 de julho de 2009

coleção menina e moçaEu estava – estou – escrevendo minhas memórias e de repente cheguei ao assunto das leituras que eu tinha no internato, onde fiquei dos meus oito a dez anos de idade. Depois, quando voltei para casa dos meus pais lia de tudo, mas durante o tempo em que fiquei interna aprendi que havia uma leitura própria para meninas e para moças. Lembro também que a leitura das meninas de hoje não me lembra de jeito nenhum aquela das meninas de 50 anos atrás. Eu fui uma dessas meninas, e os livros que eram sucesso no meu tempo faziam parte da famosa Coleção Menina e Moça, que era a leitura recomendada para jovens, entre os dez e os dezoito anos.

A coleção Menina e Moça era composta de romances açucarados, escritos originalmente em francês por diversos autores e traduzidos para o português. Tinham cerca de duzentas páginas, capas coloridas e títulos como “A Glória da Família”, “A Pequena Detetive”, A Afilhada das Abelhas”, “Flor de Nobreza”, e outros do mesmo tipo.

coleção menina e moça2Editados a partir dos anos 1940 pela Editora Jose Olympio, o catálogo da editora dizia serem “todos os títulos dignos de estar em todas as mãos: 1- por seu fundo moral e instrutivo, 2- seu excelente acabamento gráfico, 3- suas qualidades literárias, 4- suas traduções vivas e corretas.”

Outro trecho do catálogo diz que a coleção “… é constituída por pequenos romances que encantam e prendem pelo enredo, oferecendo ao mesmo tempo às suas leitoras oportuna advertência moral e ricos ensinamentos pelo que encerram de observações sobre a vida e a humanidade. São romances atraentes em que palpita a alma simples e sonhadora da juventude, envolta nas ciladas a que vive exposta a criatura humana desde o alvorecer da existência.”

coleção menina e moça3Tudo isso faz parte de uma época que não existe mais, onde a educação da mulher, além de ser diferente da do homem (para os meninos havia “O Tesouro da Juventude”) exaltava conteúdos e virtudes que incluíam a submissão, o gosto pelo casamento e pelo lar, o papel da mulher como guardiã dos valores morais da sociedade e como sendo “a reserva moral da família”, o que parecia querer dizer que o homem podia aprontar à vontade uma vez que a mulher estava ali, para suprir de bons valores a sociedade inteira.

sexus_henrymillerFelizmente para mim, se essa leitura era estimulada no colégio de freiras, em casa a leitura era livre e escolhida por mim mesma. As meninas de hoje lêem histórias de Gossip Girl, que tratam de fofocas e de meninas de caráter péssimo e reprovável; ou os livros de vampiro que agora fazem sucesso novamente.

Aos doze anos em 1960, eu lia em casa coisa bem mais perigosa: Nelson Rodrigues, Zé Lins, a poesia de Vinicius de Morais, a “Lolita” de Vladimir Nabokov; aos 14 anos fui apresentada a Henry Miller.

Nada mau para uma leitora iniciante, não é, meu caro leitor?

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Procurando apartamento para alugar

Clotilde Tavares | 29 de junho de 2009
Natal, cidade impossível.

Natal, cidade impossível.

Estou procurando apartamento para alugar. Para os seguidores deste blog que não me conhecem, o apartamento que procuro é em Natal, capital do Rio Grande do Norte, uma cidade linda, perfumada, agradável, cidade onde morei durante 35 anos e da qual estou ausente há quatro, morando na capital parahybana a 180 km de distância. Eu gosto de definir Natal dizendo que ela é uma cidade impossível, como aquelas cidades do livro de Ítalo Calvino, porque Natal encerra tantas contradições, tantas coisas boas ao lado das piores, tudo tão entrelaçado e misturado que muitas vezes corta todas as nossas possibilidades de se viver nela. Mas meu tempo na Parahyba acabou. A saudade dos filhos e netos vem aumentando e agora estou de volta: é isso que importa.

As caixinhas, e a "moça com brinco de pérola".

As caixinhas, e a "moça com brinco de pérola".

A experiência de procurar apartamento em qualquer cidade é algo quase transcendental, pelo muito que envolve, pelas energias mobilizadas, pela ansiedade, pelo quadro em branco que é um apartamento onde não moramos ainda e que queremos encontrar, que só existe na nossa mente, espaço desejado e ainda não encontrado, dentro do qual precisamos inscrever mesmo que somente na imaginação os locais para o sofá, os livros, a mesinha preferida, as cortinas, a coleção de caixinhas, a posição da cama, os quadros, as fotografias.

Será que cabe?

Será que cabe?

Aí, entramos naquela habitação vazia, nua, asséptica, recém-pintada, e começamos a pensar: será que meu sofá cabe nessa parede? Será que quando estiver sentada aqui vou gostar de ver sempre essa porta da cozinha que abre direto na sala? Esse corredor estreito não vai me dar claustrofobia e me fazer rememorar o trauma do parto toda vez que eu passar por ele? Essa pia da cozinha tão alta não vai me deixar com dor nas costas? Será que tem barulho? Debruço na janela do quarto e vejo bem em frente aquela estrutura colorida de madeira na qual as crianças adoram subir e descer sem parar. Não, este positivamente não é o apartamento que quero.

Apartamento-colméia

Apartamento-colméia

Tenho andado bastante nesses dias. E tenho encontrado – com algumas exceções – apartamentos de dois tipos. O primeiro tipo é o que chamo “colméia”. Apartamentos de 55 m2, com 3 quartos, sendo duas suítes, e mais dependência de empregada. Aí é assim: você põe o sofá na sala, o sofá de três lugares, mas não cabe o de dois; a TV tem de ser de 14 polegadas, porque vai ficar quase diante do seu nariz; num dos quartos vai a cama, e no outro o armário; caso eu habite um desses, o terceiro quarto fica para os livros, dos quais devem caber apenas um terço dos que tenho. Os banheiros saõ engraçados: sentando no vaso, os joelhos encostam na parede da frente; e felizmente não sou homem porque penso que se fosse teria que me preparar para usar o banheiro ainda fora do quarto, já que lá dentro não há espaço para abrir o zíper. E a dependência de empregada? É naquele caixote que querem que um ser humano durma? Naquele caixote sem janelas? Uma múmia egípcia estaria mais confortável no seu sarcófago.

As torres

As torres

Esses apartamentos/colméias distribuem-se muitas vezes em torres de número variado, com a chamada área de lazer com diversos equipamentos como piscina, parque, salão de jogos, salas de ginástica, salão de festas, churrasqueira… mas eu não uso nada disso. É o apartamento ideal para o casal jovem: ambos trabalham fora, e só chegam em casa à noite onde, depois de ver Tv por meia hora, caem no sono. Os filhos, protegidos e acompanhados pelas empregadas, desfrutam da área de lazer durante o dia, quando não estão na creche ou na escola. Perfeito. Para eles, não para mim.

Olhaí a tal varanda-gourmet!

Olhaí a tal varanda-gourmet!

Já o segundo tipo de apartamento é o inverso. É o apartamento do novo-rico. Duzentos, trezentos metros quadrados, quatro suítes com closets, sala para home-theater, outras salas “íntimas”, quatro vagas na garagem, hidromassagem, ofurô, adega, escritório, e uma coisa chamada “varanda-gourmet”, que é uma varanda grande que tem numa das extremidades uma churrasqueira. Aí eu imagino: o cara começa a vida morando na periferia, fazendo churrasco “na laje” e convidando toda a vizinhança; depois melhora de vida e vai para um condomínio-colméia com churrasqueira coletiva, mas descobre que aí já não é mais tão agradável se misturar com os semelhantes. Daí a alguns anos os filhos crescem, ele progride mais, e então está pronto para a varanda-gourmet, que não deixa de ser uma forma sofisticada de “churrasco na laje”…

Ah!... Um loft!

Ah!... Um loft!

As construtoras e arquitetos – ou ambos – e ainda o mercado imobiliário não estão nem aí para pessoas como eu, que vivem sozinhas, que têm móveis e objetos queridos dos quais não querem se desfazer, que possuem coleções que precisam ser acomodadas, e que não necessitam de um monte de cubículos, nem de área de lazer ou “varanda-gourmet”. E fico vendo aqueles filmes americanos como “Ghost”, por exemplo, e doida pra morar num “loft”, aquele “vão” enorme onde eu pudesse espalhar minhas coisas e andar, caminhar para lá e para cá nas horas em que estou atrás de idéias para escrever estes meus textos.

Minha sala, na Parahyba.

Minha sala, na Parahyba.

Eu só quero uma sala grande – grande é o modo de dizer, de uns 25 a 30 m2. A que tenho agora é formada por dois quadrados: um de 3m x 3m e outra de 4m x 4m e cabe muito bem meu conjunto de estofado, minha TV, a cadeira que reclina, e minhas mesinhas com porta-retratos e coleções de caixinhas. Nem mesa de jantar eu tenho. Pois é: aquela mesa que todo mundo tem, com seis cadeiras e guarda-louças, eu não tenho, porque não preciso! Além da sala, preciso de um segundo cômodo que é o quarto, para a cama, a cômoda e um pequeno armário de um metro de largura; e o terceiro cômodo para os livros. Se a sala for grande, ponho os livros na sala e elimino um cômodo! A cozinha, um lugar para lavar roupa, e pronto. Mas tudo de um tamanho que eu possa dar três passos sem esborrachar o nariz numa parede.

Uma varandinha, uma rede...

E quero uma varandinha, uma rede...

Então, meu caro leitor, está duro de encontrar. Mas eu vou insistir. Continuo procurando. Além do que citei acima, gosto de “vista”. Preciso de uma varandinha que caiba a rede, e que dê pra ver o mundo, as estrelas de noite, e a lua quando nasce, ou Vênus, logo antes do  amanhecer. Tem que ser um pouco alto, mas não precisa ser de frente para o mar. Gosto muito de observar a vizinhança, casas, quintais, copas de árvores, carros, avenidas e eventualmente outros edifícios, desde que não fiquem muito perto do meu.

Encontrei um assim: um céu. Vigésimo andar, tamanho razoável, vendo toda a baía de Ponta Negra. Mas entre aluguel, condomínio, IPTU e outras taxas saía por mil e setecentos reais, e eu não posso pagar tanto.

Mas espero. Como minhas intenções são boas, meu espírito está em paz e sempre me alinhei ao lado das forças do Bem e da Justiça, sei que o Universo vai me oferecer, na hora adequada, a morada dos meus sonhos, onde eu possa viver mais um período da minha vida, no meio dos meus livros e fotos, perto dos meus filhos e netos, nesta cidade que, apesar de impossível, é a mais concreta possibilidade de vida que eu tenho agora.


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apartamento para alugar, classificados, mercado imobiliário, moradia, procurando casa, varanda-gourmet
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As estampas do sabonete Eucalol

Clotilde Tavares | 24 de junho de 2009
Carrinhos do Kinder-Ovo

Carrinhos do Kinder-Ovo

Ontem o meu neto veio me visitar e perguntou onde estavam os meus carrinhos. Os carrinhos aos quais ele se refere é uma coleção de minúsculos carrinhos, motos, caminhões, barcos e aviões que eu fiz durante um tempo da minha vida e que vinham dentro do “Kinder-Ovo”. Para quem não sabe do que se trata, o Kinder-Ovo é um “ovinho” que tem chocolate numa metade e um “brinquedo” na outra, geralmente coisas minúsculas e bonitinhas. Eu passei um tempo da minha vida colecionando tudo o que fosse de veículo que saía dentro dos ovinhos, depois de comer o chocolate.

Aí, por tabela, me lembrei de um dos maiores fetiches dos colecionadores brasileiros que são as estampas do sabonete Eucalol, que ainda conheci na minha infância. Entre meus tesouros infantis, tinha algumas, que terminaram sumindo na voragem dos anos. Mas o que eram essas estampas?

Nas caixas de sabonete Eucalol vinha sempre esse pequeno retângulo ilustrado em papel-cartão, mais ou menos do tamanho e formato de uma carta de baralho e “durinha”. Eu lembro de que guardava as minhas, que eram poucas, amarradas numa cinta de elástico, e trocava com outras crianças quando havia duplicatas.

Elas começaram a circular em 1930 e foram até 1957. Havia séries temáticas, como “A Vida de Santos Dumont”, “Aves do Brasil”, “Compositores Célebres”, e outras. Foram ao todo 54 temas distribuídos em 2.400 estampas.

Samuel Gorberg, pesquisador e colecionador, é autor de um livro sobre o assunto, com muitas informações on line no seu blog. Segundo Gorberg, séries como “História do Brasil” e “Lendas do Brasil” eram usadas em escolas pelo Brasil afora como material didático; uma das séries mais interessantes é “Viajando pelo Brasil”, desenhada pelo artista Percy Lao, que ilustrava os livros do IBGE.

O colecionardor Ariel Schneider, no seu site dedicado aos colecionadores e ao colecionismo, refere ter todas as 2.400 estampas na sua coleção, contando todo o seu trabalho para conseguir completá-la. Encontrei em vários sites da Internet as estampas para venda com preço que variam entre R$ 10,00 a R$ 25,00 cada.

Nasci com o vírus do colecionismo. Tenho a forma atenuada da doença e por isso me controlo e não encho a casa de objetos. Mas lá estão minhas caixinhas, meus folhetos de cordel antigos, minhas edições de Hamlet, meus livrinhos minúsculos, minhas canecas de louça, os livros sobre temas medievais… Entre esses objetos faz falta a minha nascente e desaparecida coleção de estampas do sabonete Eucalol, que deve ter se perdido quando eu fui para o internato aos oito anos de idade. Poucas, manuseadas, amarradas num elástico. Inesquecíveis.

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Alavantu, anarriê!

Clotilde Tavares | 23 de junho de 2009

quadrilha_estili_04Todo ano e sempre por esta época eu abro espaço nas minhas colunas para falar sobre esse fenômeno das quadrilhas juninas, completamente desvirtuado desde que inventaram essa tal de quadrilha estilizada. O meu caro leitor, muito mais bem informado do que eu, poderia até dizer que eu não posso reclamar, uma vez que a cultura popular é assim mesmo, sujeita a mudanças, a modificações, e que essa dinâmica é uma característica do folclore.

Mas eu lhe digo que essas tais quadrilhas estilizadas não têm nada a ver com folclore ou cultura popular, sendo nada mais nada menos do que cultura de massa, criadas e veiculadas pela mídia televisiva, que lhes dá suporte, promoção e divulgação. Essas quadrilhas estilizadas surgiram há mais ou menos uns quinze ou vinte anos e apareceram primeiro, se não me engano, no programa da Xuxa, na TV Globo, como parte das coreografias apresentadas ali. O que sai na Xuxa o Brasil copia, e foi isso que aconteceu.

Definindo melhor, eu diria que estas quadrilhas são ” uma nova forma de expressão junina, que não é uma quadrilha matuta, mas um grupo de dança que tem uma coreografia própria, com passos criados exclusivamente para a música escolhida, como num corpo de balé. O grupo incorpora alguns personagens como Lampião, Maria Bonita, vaqueiros, espanholas e ciganos. Os seus trajes lembram roupas típicas do folclore dos pampas gaúchos, de uma escola de samba ou o faroeste americano.” Então, chamar este tipo de espetáculo de “quadrilha junina” e dizer que ele “preserva nossas tradições culturais”, como tem sido feito pela mídia, é exagero e falta de informação. Estas quadrilhas são simplesmente uma estilização bela e luxuosa mas artificial das verdadeiras quadrilhas juninas originais.

Quadrilha estilizada.

Quadrilha estilizada.

Da mesma forma que os Carnavais fora de época, que não têm nada a ver com o Carnaval de verdade; e os Rodeios e Vaquejadas atuais, que há muito se distanciaram da Vaquejada Nordestina, essas quadrilhas não têm muito a ver com a tradição original e são eventos fabricados para atender a uma necessidade de diversão de um segmento da população e para dar lucro aos empresários do setor. Um negócio, como outro qualquer, organizado pelas afiliadas da TV Globo em todas as capitais do Nordeste, com um forte esquema de divulgação através de VTs no horário nobre. Funcionam como um concurso, com várias eliminatórias, e no dia da final há chamadas ao vivo de meia em meia hora. Nenhum evento da cultura popular, com exceção talvez do Carnaval, tem uma cobertura tão maciça.

Quadrilha estilizada.

Quadrilha estilizada.

Quando faço esse tipo de crítica, todo mundo diz que isso é bobagem, que é um evento bonito, colorido, que atrai público. Ora, não sou doida. Sei que o espetáculo é colorido, que é bonito e que atrai público. Tem mais: acho ótimo que aconteçam na cidade mais e mais eventos desse tipo. Mesmo que alguns não sejam do meu agrado é bom que existam para todos os gostos. Também encaro com muita simpatia os empresários do lazer, que vendem felicidade, riso e diversão enquanto alguns vendem armas, bombas e mísseis.

Repito: nada contra. Mas é preciso que seja feito esse esclarecimento para que tanto as pessoas de fora do Nordeste quanto as novas gerações, que não conhecem a origem da tradição, saibam a respeito daquilo que estão fazendo e vendo. Imagine só se um turista chega aqui e assiste essa quadrilha estilizada: vai pensar que está no Texas, ou nos pampas gaúchos, e não no Nordeste.

Quadrilha matuta.

Quadrilha matuta.

A quadrilha junina “de verdade” eram antigamente dançada nos salões das casas grandes de fazenda ou nas humildes palhoças dos sítios, em ocasiões festivas como casamentos, batizados e outras, eram comuns nos séculos XVIII, XIX e primeira metade do século XX copiando, à maneira simples do nordestino, a quadrilha francesa dançada nos salões europeus da época. “Alavantu” é “en avant tous”, que quer dizer “todos à frente” e “anarriê” quer dizer “en arrière” , “para trás”, em francês.

Quadrilha matuta.

Quadrilha matuta.

Com a modernização e a entrada do Nordeste no século XX, com estradas, rádio e outros hábitos que foram incorporados à vida da região, as quadrilhas originais foram aos poucos deixando de existir e passaram a ser dançadas apenas no São João, acompanhando uma encenação mais ou menos improvisada de um casamento matuto. É um resquício, uma “sobrevivência”, como dizem os folcloristas, de algo que não existe mais na sua forma original. Em toda festa de São João, não importa o tamanho e a quantidade de pessoas, sempre se dança uma quadrilha, que é tanto mais divertida quanto mais improvisada.

Atualmente, como vi hoje no noticiário da Rede Globo, os concursos são organizados em três categorias de quadrilha: estilizada, comédia e tradicional. Na tradicional, ou matuta, segundo as explicações do apresentador, as moças se vestem com vestidos de tecido barato, geralmente chitão, e os homens com calças remendadas e chapéus de palha. Além disso, eles se movimentam utilizando “trejeitos próprios dos sertanejos” – mas aqui pra nós eu nunca vi um sertanejo andar daquele jeito, pelamordedeus.

Quadrilha estilizada: parece o can-can!

Quadrilha estilizada: não parece o can-can?

Na quadrilha estilizada, os homens usam terno e as moças usam vestidos luxuosos e bordados. Há um enredo, uma música que todos têm que cantar composta especialmente para essa quadrilha, e as coreografias são muito elaboradas, executadas em ritmo frenético, exigindo um preparo de maratonista para os dançarinos. Mal comparando, parece uma escola de samba e incluídos nos seus “enredos” mirabolantes já vi berrantes do Mato Grosso, pioneiros quakers da Nova Inglaterra, mulheres holandesas de touca e tamanquinho, cowboys americanos no estilo Tom Mix, negrinho do pastoreio e o mais de maluquice e aberração histórica que você possa imaginar.

Já na quadrilha estilo comédia, e ainda segundo a matéria veiculada, as celebridades viram alvo do humor. Homens se vestem como Xuxa ou Madonna, mas não esclarece se mulheres se vestem como Brad Pitt ou Ronaldo Fenômeno.

Hoje, véspera de São João, data que para mim tem conotações religiosas e de tradição muito profundas, que fazem parte da minha cultura, das minhas raízes e cujos sons e práticas correm forres e quentes junto com o sangue das minhas veias, fica o esclarecimento, o protesto e a esperança de ver um dia na mídia com igual destaque o verdadeiro São João da minha terra, a alegria do meu povo! Quem sabe, um dia?

UPDATE – Alguém me esclareceu hoje que as tais quadrilhas “estilo comédia” são compostas apenas por homens, vestidos de “homens” e de “mulheres”; e que as músicas e danças executadas pelos “casais” têm forte conotação sexual, imitando as coreografias do forró de plástico e das bandas de axé.

UPDATE 2 – Como o meu leitor habitual está farto de saber, só publico aqui os comentários que estiverem dentro do espírito deste blog. Este assunto das quadrilhas desperta paixões e sentimentos exacerbados de pessoas que não lêem direito o que escrevi acima e que ficam indignadas porque a minha opinião é diferente da deles. Além disso, ficam querendo discutir entre si, transformando a área dos comentários em arena ou campo de batalha. Para isso estou fechando esse post para comentários. Agradeço a todos que escreveram.

<a href=”http://clotildetavares.files.wordpress.com/2009/06/quadrilha_estili_01.jpg”><img class=”size-thumbnail wp-image-1238″ title=”quadrilha_estili_01″ src=”http://clotildetavares.files.wordpress.com/2009/06/quadrilha_estili_01.jpg?w=150″ alt=”Quadrilha estilizada: parece o can-can!” width=”150″ height=”112″ /></a>

Quadrilha estilizada: parece o can-can!

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O fim do mundo

Clotilde Tavares | 19 de junho de 2009

Há uns quinze anos, eu lia muita literatura esotérica, mais por curiosidade do que por qualquer outro motivo, uma vez que todas as minhas tentativas de acreditar em alguma coisa que escapasse à minha concepção lógica do Universo deram errado.

Sou cética por natureza, embora tenha uma mente muito reverente diante dos milagres – naturais, sempre naturais! – que vejo acontecerem todo dia na minha frente.

fimdomundo_palenque2Nessa época li uns livros sobre o calendário maia e fiquei abismada com a forma como aquela civilização concebeu e desenvolveu explicações sobre o funcionamento do Universo, fez cálculos astronômicos de rara precisão e já tinha conhecimento do zero enquanto a Europa ainda estava mergulhada na superstição e no obscurantismo.

Os livros que li sobre o calendário maia foram um poderoso insight para mim e alimentaram com um rico veio a minha fantasia e a minha criatividade. Além disso, a forma como esse povo antigo media o tempo era tão sofisticada e elegante que até hoje me deixa entusiasmada.

fimdomundo_maiacalendarimgEntre outras coisas, os maias falavam que o ano de 2012 reperesentaria, segundo a sua forma de medir o tempo, o fim de uma era; que isso se daria a 21 de dezembro; e que a partir daí o mundo como o conhecemos iria se modificar de maneira completamente radical. Muitas pessoas que conheço acreditavam e ainda acreditam nisso. Respeito as crenças e acho que todo mundo tem direito de acreditar no que quiser mas eu mesma nunca acreditei. Acho bonito, mas não acredito.

Mas existe na Internet um site de uma organização científica, o Instituto para a Continuidade Humana, onde há depoimentos de cientistas que afirmam que os acontecimentos previstos para 2012 são inevitáveis, e que há 94% de certeza de que nesse ano ocorram eventos cataclísmicos que irão devastar o nosso planeta, sendo é preciso que providências urgentes sejam tomadas a respeito. Eles apontam inclusive algumas dessas providências e mostram simulações do que vai acontecer em 2012.

Choque de fragmentos do "Planeta X" com a terra. Site do IHC.

Choque de fragmentos do "Planeta X" com a Terra, previsto para 2012, segundo o site do Instituto para a Continuidade Humana.

Mas é tudo mentira, meu caro leitor. Se você acessar o site do tal Instituto, – que é um site muito bem feito, parecendo mesmo “a cara” de uma instituição científica respeitável – você vai ver que lá no finzinho, na última linha, depois que você rola a tela todinha, os direitos autorais do site pertencem à Sony Pictures Digital Inc., e que tudo não passa da propaganda de um filme que a produtora estará lançando em breve.

Orson Welles dramatiza A Guerra dos Mundos.

Orson Welles dramatiza A Guerra dos Mundos.

O problema com esse tipo de material publicitário é que pessoas desavisadas podem entar num estado de verdadeiro terror e tomar tudo como verdadeiro, com consequências imprevisíveis, a exemplo do que aconteceu em Nova York em 1938 quando Orson Welles, então um simples locutor de rádio, encenou A Guerra dos Mundos, de H.G.Wells, em uma emissora da cidade, narrrando uma suposta invasão de “marcianos” com tanta veracidade que a população se apavorou, havendo todo tipo de transtornos na metrópole e gerando as maiores confusões. Pessoas que haviam perdido o início do programa dizendo que era uma dramatização acreditaram piamente na invasão “marciana” e tentaram deixar a cidade causando gigantescos engarrafamentos. Outras, armadas até os dentes, atiravam em tudo que achavam parecido com “naves alienígenas”.

Soube dessa história do site do pretenso “Instituto para a Continuidade Humana” através do boletim HypeScience, que sempre me fornece histórias interessantes. Se você assinar a newsletter, as histórias vão chegar direto na sua caixa postal. Mais matérias sobre esse assunto de hoje, de onde tirei os elementos para este post,  você pode ver aqui e aqui.

Aurora Miranda

Aurora Miranda

Para concluir, não deixo de me lembrar do delicioso samba de Assis Valente que eu gostava de ouvir com Aurora Miranda, regravado um dia desses por Adriana Calcanhoto, e do qual lhe dou a letra, para você tomar tenência e não embarcar nessas histórias de fim-de-mundo, cometendo excessos que depois vão lhe deixar na maior saia-justa.

E o Mundo Não se Acabou, de Assis Valente

Anunciaram e garantiram que o mundo ia se acabar
Por causa disso minha gente lá de casa
Começou a rezar…

E até disseram que o sol ia nascer antes da madrugada
Por causa disso nessa noite lá no morro
Não se fez batucada…

Acreditei nessa conversa mole, pensei que o mundo ia se acabar
E fui tratando de me despedir, e sem demora fui tratando
De aproveitar…

Beijei a boca de quem não devia, peguei na mão de quem não conhecia
Dancei um samba em traje de maiô
E o tal do mundo não se acabou…

Chamei um gajo com quem não me dava, e  perdoei a sua ingratidão
E festejando o acontecimento, gastei com ele mais de quinhentão…
Agora eu soube que o gajo anda dizendo coisa que não se passou
E, vai ter barulho e vai ter confusão, porque o mundo não se acabou…

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2012, A Guerra dos Mundos, Adriana Calcanhoto, Assis Valente, Aurora Miranda, calendário maia, ceticismo, fim do mundo, HypeScience, Orson Welles
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Enterrado vivo

Clotilde Tavares | 14 de junho de 2009

poe2“…escancarada a porta, apareceu, de pé, a figura altaneira e amortalhada de Lady Madeline Usher. Havia sangue na sua veste branca e vestígios de alguma luta áspera em cada parte do seu corpo emagrecido. Por um momento, ela ficou, trêmula, a vacilar no umbral – depois, com um pequeno grito lamentoso, caiu pesadamente para dentro, sobre o corpo de seu irmão, e, na sua violenta e agora final agonia, o que ela arrastou para o chão foi apenas um cadáver, a vítima dos horrores que ele mesmo previra.”

Edgar Allan Poe

Edgar Allan Poe

No conto A Queda da Casa de Usher, Edgard Allan Poe conta uma tragédia de horror, em que a bela Lady Madeline Usher, sofrendo de catalepsia, é enterrada vida. Poe retrata neste conto um terror atávico do ser humano que é ser sepultado por engano, quando ainda há vida no corpo. O terror é tão largo e disseminado que, em diversas culturas, dispositivos variados são adicionados aos ataúdes para que os supostos “enterrados vivos” possam pedir socorro, caso isso aconteça.

poe3Esses casos poderiam ser possíveis em virtude de uma doença rara denominada catalepsia, espécie de ataque que pode durar de alguns minutos até alguns dias, onde as funções orgânicas diminuem de velocidade e intensidade, fazendo que com que pessoas desavisadas e sem maior informação julguem que o indivíduo está morto. A causa da catalepsia é desconhecida; mas acredita-se que hoje em dia, com todo o aparato técnico existente em hospitais e pronto-socorros não é mais possível um caso desses passar despercebido, tendo como consequência o “enterramento vivo” do paciente.

Somente em regiões longínquas sem profisionais médicos ou equipamentos seria possível que um ataque dessse tipo pudesse ser confundido com a morte. Por outro lado, o tema é excitante e dá boa margem para enredos literários, como o fantástico conto de Edgard Allan Poe, citado acima, e muitos outros.

poethurmanO medo de ser enterrado vivo está associado com outra fobia semelhante: a claustrofobia, uma vez que o enterrado vivo geralmente se acorda fechado em um caixão com espaço minúsculo. Aqui, é bom lembrar de Uma Thurman em Kill Bill II, que sai do túmulo onde a enterraram literalmente “na marra”.

Freud de Melo

Freud de Melo

Para lidar com esses medos, um camarada chamado Freud de Melo, advogado, empresário e produtor rural de Hidrolândia, estado de Goiás, já tratou de construir seu túmulo com tudo o que tem direito: TV, celular, alto-falantes, sistema de ventilação e alimentos.

No You Tube tem um video; se você quiser ver, pode clicar aqui.

Eu sempre achei essas histórias todas muito curiosas. Mas é assim que são os seres humanos: curiosos e diferentes pra caramba, dando assunto abundante para blogueiras desocupadas que nem eu.

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catalepsia, claustrofobia, enterrado vivo, Kill Bill, Poe, Uma Thurman, Usher
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Antônio meu santo

Clotilde Tavares | 12 de junho de 2009

Hoje é dia dos namorados, toda a terra está em flor
Só se vê menina e moça, de braço dado com seu amor…

santo_antonio01A música, que eu ouvia quando menina, é composição de Haroldo Lobo e Milton de Oliveira, gravada por Blecaute. De todas essas datas que o comércio inventa para vender mais, eu acho essa do Dia dos Namorados umas das mais simpáticas. Aliás, a tradição de um dia dedicado aos enamorados é antiga, vindo dos tempos romanos; em algunas países, comemora-se a 14 de fevereiro, dia dedicado a São Valentim; e no Brail, o dia é dedicado a Santo Antônio.

O dia mesmo é amanhã, 13 de junho, mas como temos o costume de comemorar as datas na véspera, este post de hoje é dedicado ao santo casamenteiro.

Santo Antônio, nascido em Lisboa em 15 de agosto de 1195 com o nome de Fernando de Bulhões, era de família rica e influente. Aos 15 anos, trocou tudo disso por uma vida de fé e oração, ingressando na ordem dos padres agostinianos e tomando o nome de Antônio. Depois, conhecendo o trabalho de Francisco de Assis, mudou de ordem passando a ser franciscano.

Igreja de Santo Antonio, em Pádua, Itália.

Igreja de Santo Antonio, em Pádua, Itália.

Dizem que tinha o dom da oratória e quando falava, não importa em que idioma, todos o entendiam. Relata-se que até os animais ouviam atentamente as suas prédicas, como um célebre sermão que fez para os peixes. Dizem que, por causa disso, anos após a sua morte sua língua foi encontrada intacta, enquanto o resto do corpo já estava reduzido a cinzas. A língua do santo está em exposição na Igreja de Santo Antônio, em Pádua, na Itália.

Sua maior fama mesmo é de santo casamenteiro, talvez porque em vida angariava esmolas para conferir dote às moças pobres, que assim arranjavam casamentos melhores. Mas é ainda invocado quando se quer encontrar coisas perdidas. Cascudo refere que é um dos mais populares santos do Brasil, sendo padroeiro de centenas de cidades brasileiras.

Curioso é que, por sua intervenção em lutas armadas, tem sido agraciado com patentes militares. Vejam só: é capitão da fortaleza da Barra, coronel em São Paulo, capitão em Goiás, soldado na Paraíba e Espírito Santo, tenente-coronel no Rio de Janeiro, tenente no Recife e vereador em Igarassu. Além disso, em várias cidades o santo é proprietários de bens, recebidos por herança, de pessoas que morriam e para ele deixavam em testamento terras, escravos, e o que mais fosse.

Por causa de sua eficácia como casamenteiro, ao longo dos anos a mulherada tem submetido o pobre santo a uma série de vexames para que ele lhes arranje marido. Colocam a imagem do santo de cabeça para baixo, escondem o Menino Jesus que ele traz no braço, tiram-lhe o resplendor… Quando se usava saia comprida, costurava-se o santo na barra da saia, na parte de trás, e ao andar o pobre era rebolado no chão e nas pedras durante todo o dia. Algumas o amarravam numa corda e enfiavam no poço, onde ficava submerso até que arranjasse um marido para a sua torturadora.

santo_antonio02Nos idos de 1987-1988, trabalhei com o marchand Antônio Marques na Galeria de Arte do Centro de Turismo de Natal, aprontei poucas e boas com Santo Antônio, colocando as imagens que lá estavam expostas sempre de cabeça para baixo quando entrava na galeria, com o objetivo de forçar o santo a me arranjar um namorado. Sabem o resultado? O santo me arrumou um cara que me deu um trabalho enorme. Foram dez meses de paixão tumultuada e mais uns dois anos para me ver livre da criatura. Durante esse tempo, minha vida ficou de cabeça para baixo, do mesmo jeitinho que eu tinha colocado o santo. Nunca mais pedi nada a Santo Antônio. Eu, hein?

Então, como ficou provado aqui pela minha experiência, Santo Antonio arranja marido sim, mas não se responsabiliza, e geralmente nos manda o primeiro que aparece. Para arranjar marido, minha cara leitora, se pegue com São José que eu lhe garanto que o homem que vai aparecer é que nem o santinho, sério, direito, trabalhador, caseiro, um homem de família, que pode até aceitar com bom humor e paciência alguma excentricidade sua, uma vez que ele aceitou sem questionar a missão de zelar pela virgem grávida que foi colocada sob a sua guarda.

santo_antonio05De qualquer maneira, e como não quero decepcionar a minha imensa multidão de 3 ou 4 leitoras que estão no afã de arranjar marido, namorado, caso, companheiro, chamego, xodó, rolo, ficante, sainte, ou seja lá que nome se dê hoje em dia à criatura que conosco enrosca pernas, braços, emoções e pensamentos, uma coisa de cada vez ou tudo junto, estou aqui repassando para você, cara leitora, uma oração de Santo Antônio recebida de herança e que – para os meus tormentos – sempre faz efeito.

Santo Antônio dos Cativos
Vós que sois amarrador
Amarrai por vosso amor
Quem de mim quer fugir
Empenhai o vosso hábito
E vosso santo cordão
Com algemas muito fortes
E um poderoso grilhão
Para que façam impedir
Os passos de FULANO
Que de mim quer fugir
E fazei meu Santo Antônio
Pelo amor de Nossa Senhora
Que FULANO case comigo
Sem tardança e sem demora.

Você deve rezar treze vezes durante treze dias. No entanto, é preciso ter cuidado com o que você pede ao santo, pois ele sempre atende. Atende, mas não se responsabiliza. E muito menos eu.

Para encerrar, veja aqui o sermão do Padre Antonio Vieira, proferido em 1654, tendo como tema o sermão de Santo Antonio aos peixes, do qual reproduzo trecho:

Pregava Santo António em Itália na cidade de Arimino , contra os hereges, que nela eram muitos; e como erros de entendimento são dificultosos de arrancar, não só não fazia fruto o santo, mas chegou o povo a se levantar contra ele e faltou pouco para que lhe não tirassem a vida. Que faria neste caso o ânimo generoso do grande António? Sacudiria o pó dos sapatos, como Cristo aconselha em outro lugar? Mas António com os pés descalços não podia fazer esta protestação; e uns pés a que se não pegou nada da terra não tinham que sacudir. Que faria logo? Retirar-se-ia? Calar-se-ia? Dissimularia? Daria tempo ao tempo? Isso ensinaria porventura a prudência ou a covardia humana; mas o zelo da glória divina, que ardia naquele peito, não se rendeu a semelhantes partidos. Pois que fez? Mudou somente o púlpito e o auditório, mas não desistiu da doutrina. Deixa as praças, vai-se às praias; deixa a terra, vai-se ao mar, e começa a dizer a altas vozes: Já que me não querem ouvir os homens, ouçam-me os peixes. Oh maravilhas do Altíssimo! Oh poderes do que criou o mar e a terra! Começam a ferver as ondas, começam a concorrer os peixes, os grandes, os maiores, os pequenos, e postos todos por sua ordem com as cabeças de fora da água, António pregava e eles ouviam.

Santo Antonio prega aos peixes.

Santo Antonio prega aos peixes.

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"Corpos tristes"

Clotilde Tavares | 11 de junho de 2009

Hoje o meu dia começou na madrugada, pois andei sem sono; asssim aproveitei para observar o planeta Vênus, que está um verdadeiro esplendor, principalmente quando o céu vai mudando de cor prenunciando o amanhecer. Se você é daqueles que gostam de levantar cedo aproveite. O espetáculo é deslumbranate.

°°°°°°°°°°

Todo ano fico meio confusa sem saber direito de que festa é essa de Corpus Christi que a Igreja católica celebra no dia de hoje. Sempre pensei que fosse a Ascenção de Cristo, mas finalmente neste ano resolvi descobrir do que se tratava. Pois bem: é uma festa instituída para celebrar a presença do corpo vivo de Cristo na Eucaristia. Remonta ao século XIII e foi criada pelo Papa Urbano IV. Muitas cidades decoram suas ruas para a passagem da procissão, como Pirenópolis (GO), Mariana (MG), Matão (SP) e Jacobina (BA). Fui buscar essa erudição toda na Wikipedia, onde você pode ver mais sobre isso. Não sou religiosa, mas adoro as coisas da religião, quando envolvem milagres, rituais, e demonstrações coletivas e fé. E me lembro também de uma amiga “sem noção”, que só chamava essa festa de “Corpos Tristes”, crente que estava abafando…

°°°°°°°°°°

No primeiro episódio da 15a. temporada de uma das minhas séries preferidas, E.R., atravessei oceanos encapelados de grandes emoções. A série perdeu um dos personagens mais interessantes, mas promete, na seqüencia dos capítulos, a volta de muita gente que já deixou a trama.

°°°°°°°°°°

Leia sobre o conflito USP x PM no site de Sandro Fortunato. Ele escreve e eu assino embaixo.

°°°°°°°°°°

E divirta-se com Mari Melo, tentando montar um carrinho aramado com instruções em mandarim, no blog Brincando de Casinha, onde assino ponto todo dia.

°°°°°°°°°°

E quem vai à procissão?

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Doce de pelo

Clotilde Tavares | 8 de junho de 2009

casc100Em um livro de Câmara Cascudo, Viajando o Sertão, ele faz referência a um certo “doce de palmatória” que havia comido em Assu, cidade do Rio Grande do Norte pela qual o grande folclorista passou, na viagem à qual se refere o título do livro, realizada entre 16 e 28 de maio de 1934.

Curiosa que sou, e metida também a aventureira, refiz esse trajeto de Cascudo 65 anos depois de realizado, no ano de 1999, como você pode ver clicando aqui. A viagem foi gloriosa, cheia de experiências, visões, sabores e poesia, e se nunca publiquei esse relato é porque ninguém se interessou por editá-lo e eu não tinha – e nem tenho – dinheiro suficiente para tanto. Dorme sossegado numa das minhas gavetas, na companhia de textos e mais textos que tiveram o destino do ineditismo. Já escrevei esses mesmo parágrafo em outro post deste blog, aqui.

Ao fundo, a Serra Braca. A foto é de Gustavo Moura, que foi comigo em um trecho da viagem.

Ao fundo, a Serra Braca. A foto é de Gustavo Moura, que foi comigo em um trecho da viagem.

Uma das coisas que não consegui fazer na viagem foi conhecer o tal doce, que Cascudo teria degustado em Assu, em jantar oferecido pelo Dr. Ezequiel Fonseca. Gosto de comer coisas esquisitas, de sabores exóticos, e quando me deparei com essa referência, principalmente quando Cascudo diz que o doce era “superior às geléias de morango”, fiquei curiosíssima.

Ao chegar em Assu, fui informada de que o tal doce de palmatória era chamado de “doce de pelo” e que não era típico de Assu, mas de Angicos, cidade próxima. Embora me mimassem com uma sobremesa deliciosa de mel de engenho com farinha de rosca, não foi possível degustar o tal doce de pelo, que eu não conseguia imaginar como seria.

Carmen Vasconcelos

Carmen Vasconcelos

Finalmente, depois de mais de um ano assuntando aqui e ali em busca do tal doce, consegui ter acesso a esse prodígio da culinária angicana pelas mãos da poeta Carmen Vasconcelos, que me trouxe uma porção, preparada pelas mãos de Dona Terezinha, sua mãe, ambas angicanas de quatro costados. Lá se vão dez anos, mas a experiência sensorial e gustativa foi marcante, e para mim parece que foi ontem.

O doce é estranho. Imagine você que com tanta coisa no mundo para transformar em doce, o cristão inventa de tirar a polpa de uma palmatória cheia de pelos (daí o nome “doce de pelo”). A primeira coisa que se faz, depois de colhido o fruto da palmatória, é tirar-lhe os pelos, ou espinhos; a rigor, o doce de pelo não tem pelo. Bem, uma vez eliminado o pelo, retira-se a polpa do fruto, que se parece assim com um algodão acinzentado e um pouco úmido, polpa essa que também pode ser comida tal e qual, acrescentando-se apenas um pouco de açúcar, parecida com a polpa do ingá. Dessa polpa é que se faz o doce.

Glóbulos

Pérolas douradas de sol.

E o sabor? Bem, o sabor logicamente é de doce, mas feche os olhos e imagine-se colocando na boca um glóbulo do tamanho de uma uva grande e sentir esse glóbulo se desmanchar como minúsculas pérolas douradas dentro da sua boca. Sim, porque o gosto desse doce é dourado, cor de ouro.

As pérolas de ouro ficam rolando deliciosamente dentro da sua boca, numa experiência sensorial única, onde o sabor e a textura se misturam com a sensação de cor-de-ouro, do sol escaldante do sertão acumulado e concentrado no fruto áspero da palmatória e revelado pelas mãos sábias das doceiras angicanas.

Existem coisas, caro leitor, que a gente não deve morrer sem fazer. Provar o doce de pelo é uma delas. Iguaria dos deuses, sabor estranho, frutos dourados do sol: tudo isso é o doce de pelo, glória da nossa culinária popular.

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