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Abobrinhas

Clotilde Tavares | 3 de junho de 2009

HAGIOLÓGIO

clotildeHoje, 3 de junho, é dia de Santa Clotilde. Bela, virtuosa, cristã, rainha de França, conseguiu converter o rei Clóvis – seu marido – e toda a França ao catolicismo.

Em tudo diferente dela, cheia de defeitos e pecados, nunca consegui converter ninguém a coisa nenhuma.

Nem por isso deixo de me mirar no doce exemplo da compassiva rainha e aspirar à santidade… pelo menos por um breve instante. Depois, retorno à normalidade.

°°°°°°°°°°

Bem melhor da gripe, com a tosse quase amainada, estou bem mais feliz e sossegada. Porque aqui pra nós, essa gripe é uma barra tão pesada que nos últimos dias eu andava assim: comendo sabão em pó pra cuspir espuma nos outros…

°°°°°°°°°°

Estou aflita com a temporada nova de algumas das minhas séries preferidas que começam neste mês de junho. Aflita porque eles mudaram os horários, e seriados importantes estarão coincidindo, como Desperate Housewives com E.R. Para completar o furdunço, os filmes do canal Warner agora vão ser dublados. Eu odeio.

°°°°°°°°°°°

Viajar, viajar...

Viajar, viajar...

E essa chuva, hein? Que não para? E que a cada ano é mais intensa? Só espero que quando o Dilúvio Uiversal Parte II chegar eu não esteja mais neste planeta, porque nunca tive vocação para Arca de Noé.

°°°°°°°°°°

Que coisa terrível esse acidente com o avião da Air France! Por causa disso, dei um basta nos meus planos de viagem. Tou morrendo de medo de subir num avião. Mas sei que isso é por enquanto. Depois a gente esquece e volta a voar outra vez. Life goes on.

Achei aqui.

Achei aqui.

°°°°°°°°°°

Fui criada me comportando bem dentro de casa, porque “costume de casa vai à praça”. Deixando sempre um pouquinho de comida no prato para não parecer esfomeada. Chamando as pessoas de Sr. e Sra. até receber autorização para o Você. Levantando e cedendo lugar aos mais velhos: no ônibus, na sala de espera… (Agora eu sou ” a mais velha”, mas ainda levanto para alguém mais velho do que eu ). Mastigando com a boca fechada. Ficando em silêncio no cinema. Não penteando o cabelo nem colocando baton em público. Esperando a minha vez para falar, sem interromper os outros no meio da frase.

E cada vez mais sem achar canto no mundo de hoje.

°°°°°°°°°°

Nunca mais fui ao cinema. Desde Volverine, que prometi, prometi e não assisti. E depois veio a gripe, com a tosse. Agora quem sabe? A tosse passa e eu volto à sala escura. Estou fazendo duas coleções de filmes ótimas: a coleção da VEJA, semanal, que são 52 filmes; e a da Folha de São Paulo, também semanal, com 20 filmes. As coleções são diferentes umas das outras. Toda noite em sessão privê aqui em casa. Privê porque sou somente eu. Os últimos que vi foram Out of Africa, com Meryl Streep e Grande Hotel, com Greta Garbo.

°°°°°°°°°°

E até amanhã!

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Trabalho em grupo

Clotilde Tavares | 2 de junho de 2009

teachingQuando ingressei na Faculdade, em 1970, fui apresentada a uma das entidades mais importantes da vida universitária: o trabalho em grupo. Os primeiros foram feitos na Disciplina de Fisiologia, no terceiro período do curso, e tínhamos uma equipe muito boa, de amigos, todos mais ou menos do mesmo nível de ineteresse e estudo. Além disso, os trabalhos sempre eram sobre algum procedimento prático que havíamos realizados em laboratório e eram muito, muito bem bolados.

Por exemplo: o grupo recebia um roteiro detalhado para fazer um determinado tipo de intervenção em um animal de laboratório, observando os resultados. Depois, era necessário buscar nos livros as explicações teóricas para os resultados encontrados, e descrever tudo minuciosamente num relatório, assinado pelo grupo, e em cima do qual era feita ainda uma arguição. Nossos professores, chefiados pelo Prof. Celso Matias, esclareciam, orientavam, levavam tudo aquilo muito a sério e era uma beleza o trabalho em grupo. Todos queriam aprender, ninguém se escorava em ninguém e como o grupo era muito homogêneo o aproveitamento era espetacular.

laboratorioDeEnsinoIIA nota cômica era dada por um dos colegas, que chegava para mim – sempre encarregada de uniformizar a redação final – pois bem, ele me passava discretamente uma listinha de palavras que ele achava “bonitas” para que eu as incluísse no texto final. Eram coisas como “destarte”, “concomitantemente” e outras pérolas da retórica.

Os trabalhos em grupo na época em que estudei – 1970 a 1975 – eram muito instigantes e sempre foi legal fazê-los, principalmente nas disciplinas iniciais do curso: Fisiologia, Farmacologia, Bioquímica. Depois, começou a ficar chato. Começou aquela impressão de que os trabalhos eram feitos em grupo apenas porque as turmas eram grandes e não porque o conhecimento precisava ser discutido em grupo. E eu comecei a ficar entediada, sem saco, achando aquilo tudo uma perda de tempo e sempre pensando que meu estudo rendia mais se eu ficasse sozinha com meus liuvros e anotações. Nos últimos anos do curso foi assim.

blog_lolaTodo esse bla-bla-bla foi causado por um post que vi ontem no blog da Lola Aronovich.  Então você agora vai lá e lê o que ela escreveu porque é a perfeita descrição de um trabalho em grupo, a exemplo do que é feito hoje na maioria das universidades que eu conheço. E se você se der ao trabalho de olhar os comentários ao post dela vai ver que as pessoas concordam com isso.

Eu nunca passei trabalho em grupo para os meus alunos, a não ser sobre assunto eminentemente prático como os trabalhos que fiz há mais de 30 anos da disciplina de Fisiologia, sob o comando do Dr. Celso Matias e sua equipe, esse sim, um professor com P maiúsculo. Como docente, nunca tive preguiça de corrigir 80 ou 100 trabalhos por mês. O que se vê hoje é professor com uma turma de 50 alunos, dividindo-a em grupos de 6 ou 7 para facilitar e diminuir o tempo de correção; alunos construindo trabalhos Frankenstein – quem ainda não leu, leia o post da Lola – ou copiando e colando da Internet…  e o ensino cada vez mais descendo para o esgoto.

Felizmente, estou aposentada desde 2002.

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Ora, direis, uma chupeta…

Clotilde Tavares | 1 de junho de 2009

Hoje recupero para você, meu caro leitor, este texto que escrevi há dois anos e que fez muita gente rir. O bebê, que ainda não havia nascido, chama-se hoje Marina, e está com cerca de dois anos.


happydays_nuk1Fui convidada para o chá de bebê de Thaís, a filha da minha amiga Vitória. Havia uma lista para escolher o que cada um iria levar. Aí, como não sou muito versada nessas coisas de criança escolhi as chupetas, porque chupeta eu sei o que é, e sei também que se encontra em qualquer farmácia.

Ledo engano, meus caríssimos leitores. Foi uma das tarefas mais difíceis da minha vida conseguir essa chupeta. “Mas ora, direis! Uma chupeta? Coisa mais simples! Clotilde deve estar, como sempre, fazendo drama”.

orto_kukaAh, meus caros e desavisados amigos! Também eu pensava assim e quando criei meus filhos (Ana, a mais nova, tem 28 anos) uma chupeta era apenas uma chupeta. “Vai ali, menino, na farmácia, e traz uma chupeta para o bebê” – era assim que esse assunto era resolvido.

Lembrei-me também do nascimento de Pedro-Quirino-Meu-Irmão. Mamãe atrapalhou-se nas contas e o menino nasceu antes do tempo. Papai estava desempregado, a gente numa pobreza danada, Mamãe desnutrida, magra de fazer dó. O menino nasceu de madrugada e botou a boca no mundo, a berrar, mas o leite ainda não tinha descido, Mamãe, coitada, aperriada, os peitos vazios. E não tinha chupeta para o recém-nascido. No quarto do meio, eu e Bráulio, meu outro irmão,  estávamos cada um em nossas camas, acordados, porque o movimento era grande e acabara de nascer uma criança no quarto vizinho ao nosso. Eu com seis anos; Bráulio tinha apenas três, e estava mais assustado do que eu com as coisas incompreensíveis que se passavam no aposento ao lado.

f_chupetaNessa hora, Titia Adiza entra no quarto e senta-se na cama de Bráulio; “Meu filho, acaba de nascer seu irmãozinho. Está ouvindo ele chorar? Ele chora assim porque não tem chupeta. Será que você pode emprestar a sua?” E Braulio, mais por surpresa do que por generosidade, entregou a Titia aquela impressionante chupeta, enorme, amarelada, amarrada num cordão, com meses de uso, porque ele não largava dela para nada. O prodigioso objeto logo acalmou o bebê, nós adormecemos e quando acordamos no outro dia o leite já havia descido e Pedro-Quirino-Meu-Irmão, muito vermelho e com o cabelo bem preto, mamava furiosamente.

coloridinhasBem, mas voltando ao presente e ao chá de bebê de Thaís: na semana passada, estando eu no shopping, entrei nas farmácias – são duas, ali – para comprar as tais chupetas. Aí, o que se deu foi um alumbramento, uma epifania, uma iniciação. Nesse dia, fui introduzida no maravilhoso universo chupetal.

Descobri que há muitas marcas de chupeta. Lillo – a que eu procurava – da Mônica, Nuk, Dermiwil, Chicco, MAM, Kitstar, Babycare, Neopan, Fiona… Essas marcas apresentavam linhas diferenciadas como Classic, Citrus, Acqua Fish, borda escura ou clara, Trendline, Happydays, Starlight, Soft, Gota Luminosa, Sleeptime, Disney…

coloridaComeçando a ficar confusa, fui conferir as especificações da lista de Thaís: três chupetas Lillo, ortodôntica, cor-de-rosa, do Snoopy. Legal! Lá estava a chupeta Lillo na prateleira da farmácia. Mas não correspondia ao pedido. Encontrei Lillo Classic, Extra-air, Disney, com Peter-pan, Sininho, Ursinho Pooh, Barney, Mickey, Minnie… Mas nada de Snoppy. Havia um linda, cor-de-rosa, maravilhosa, com um simpático unicórnio estampado, mas… nada de Snoopy.

Comecei então a ver que a tarefa era séria e exigia caráter, tenacidade, determinação. Já meio desesperada, na segunda-feira, sabendo que o chá do bebê seria na sexta, consultei a Internet onde encontrei as chupetas Snoopy mas aí surgiu outra dúvida: comprando pela Internet chegariam a tempo? Provavelmente não, e eu achei melhor não arriscar. Afinal, havia ido apenas a quatro farmácias e às Lojas Americanas. Iria então ampliar minha busca.

nuk2E na quinta-feira, véspera do acontecimento, entreguei-me de corpo e alma à missão, a bordo do meu valoroso Palio-96, pelas avenidas da capital parahybana. Peguei a Epitácio no sentido cidade/praia, desde o início, e vim parando farmácia por farmácia. Na segunda encontrei, mas só tinha para criança de seis meses em diante e eu acrescentei mais um dado ao meu conhecimento sobre as chupetas: é que existem tamanhos para várias idades, me fazendo meditar bastante sobre os danos causados a Pedro-Quirino-Meu Irmão, recém-nascido, tendo que encarar a chupetona do irmão mais velho, já com três anos. Mas fui em frente e consegui encontrar um exemplar da Lilo-ortodôntica-cor-de-rosa-com-Snoopy na farmácia número cinco e mais dois exemplares na farmácia número sete, aquela que fica na esquina da Tito Silva, onde, exausta, mas vitoriosa, encerrei minha busca, depois de onze farmácias, Internet e Lojas Americanas. Isso sem contar o Terceirão, shopping popular no centro da cidade, onde fui em busca de outra coisa mas não deixei de procurar pelas chupetas.

snoopyDe tudo, ficam algumas lições. A primeira e mais importante e óbvia delas é que o mundo está muito, muito mudado, e que eu talvez não soubesse hoje cuidar de uma criança pequena, com tantos requisitos de mercado e de puericultura dita científica a cumprir. Também não se deve decepcionar uma mãe de primeiro filho, que ainda curte e se amarra nesses pequenos detalhes da experiência. Depois do segundo ou terceiro pimpolho, começamos a não prestar mais atenção nesses detalhes; mas para a-mãe-de-primeira-viagem, para sua primeira vez, tudo isso é importante, e nós, mulheres mais velhas, mães, tias e avós, devemos permitir que se alimentem essas ilusões.

A última e mais importante lição que aprendi com esse episódio é nunca se deixar enganar por uma aparente trivialidade: por trás de uma prosaica chupeta pode se esconder toda uma teia complexa de relações sociais e de mercado com as quais eu, na minha vã filosofia, nunca teria tido oportunidade de sonhar.

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A linha genética: uma mão-na-roda para a pesquisa genealógica.

Clotilde Tavares | 27 de maio de 2009

Por mais que eu veja coisas estranhas, esquisitas, fora de propósito, sem noção, sempre consigo me surpreender com os episódios pelos quais sou obrigada a passar quando o telefone toca. O telefone, meus amigos, é um objeto mágico e cheio de poderes que até Harry Potter invejaria, pela capacidade que tem de trazer para dentro da nossa casa as coisas mais estranhas.

telefone1Pois ontem de noite foi assim. Estava eu quietinha sentada na frente da TV com o notebook no colo, procurando assuntos amenos e agradáveis para fazer este postzinho de hoje quando o telefone tocou.

raiva

Fui ficando estressada...

Um rapaz me disse que era da Oi e perguntou por Ana. Eu moro sozinha, disse que não havia aqui nenhuma Ana, então ele repetiu a pergunta, desta vez com o nome completo da minha filha, que se chama Ana. Aí começou um papo meio estranho, porque ele disse que havia um problema com um telefone, eu perguntei o número, ele me deu o número mas eu não reconheci, e ele não podia me dizer qual era o problema; e perguntou se eu era mãe da Ana e eu confirmei, em troca perguntei o nome dele, que era Mateus. Eu tentei saber novamente qual era o problema do telefone, ele não me disse. Ele quis mais informações sobre Ana, pediu o CPF dela para confirmar, eu me recusei a dar. Então, pedi o CPF e o RG dele, ele não me deu. Mas continuou querendo saber se eu era responsável pelo número que estava no nome de Ana, e eu não disse, e fui me estressando, e quis saber como ele tinha meu número, já que moro em outra cidade, e ele disse que a discagem tinha sido feita automaticamente, e eu perguntei se ele também funcionava automaticamente, ou seja, se era um robô, ou era gente, e ele disse que era gente, mas que a discagem era feita automaticamente e no meio desse dilema entre o automático e o humano eu terminei perdendo de vez a paciência e mandando ele e a máquina de discagem fazerem um com o outro uma atividade humana e animal que não vou descrever aqui e que nunca compreendi porque, sendo uma atividade tão agradável, é usada como forma de insulto.

Aí liguei para Ana, contei o caso, ela ligou para a Oi e descobriu que se tratava de um telefone antigo dela, que ela havia desativado mas que por um motivo qualquer ainda estava no sistema (Ah! O sistema! Um dia falaremos aqui sobre ele). Pois bem, ela esclareceu as coisas lá com o atendente e então perguntou:

mendel– Porque vocês ligaram para a minha mãe? Ela está morando por um tempo em outra cidade e não tem nada a ver com os meus negócios.

Ele respondeu:

– É porque nós temos aqui uma linha genética que, não encontrando alguém, conecta com o pai, o filho, etc.

Pronto, meus caros leitores.

Aí está a salvação da genealogia brasileira.

livrosantigosNós, incansáveis pesquisadores, não precisaremos mais ficar revirando velhos e empoeirados livros de registros, ou mergulhados em pilhas de documentos antigos cheios de mofo, que jazem há décadas em vetustas sacristias ou empoeirados cartórios.

Nossos problemas se acabaram. É só requisitar a Linha Genética da Oi. De forma automática, sem mofo, sem poeira e sem má-vontade, ela procura seus parentes, completa a ligação, estabelece os contatos e os valorosos garotos que estão ao telefone, que me incomodaram na terça-feira, 26 de maio, às oito e meia da noite, que me tiraram da frente da TV e do computador, que tiraram meu sossego e acanalharam com o meu bom-humor, provavelmente têm capacidade para acordar do sono eterno os nossos antepassados até a décima geração.

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Estratégias da memória II

Clotilde Tavares | 25 de maio de 2009

Hoje vou continuar com o assunto da memória, porque no post de sábado eu esqueci (hahaha) de várias coisas que queria dizer, o que foi até bom, para o post não ficar muito comprido.

Gipsy, minha personagem preferida.

Gipsy, minha personagem preferida.

Lido muito com memória. Como sou atriz, uma das coisas que é preciso fazer no palco é ter o texto inteirinho na ponta da língua. Não somente o texto – as palavras – mas as intenções, os gestos, os olhares, a posição do corpo, o deslocamento no espaço, em suma, aquilo que chamamos “as marcas”. No teatro, todas essas coisas complementares, todo esse contexto ajuda a memorizar o texto em si, as palavras.

Outra coisa importantíssima em cima do palco é como lidar com o terror de todo ator, que é “o branco” – aquela situação em que você simplesmente não lembra de nada, esquece tudo. Penso que a única solução, o único remédio, é eliminar o estresse que é o maior causador dos “brancos”. Se você acha que não vai lembrar, não vai lembrar mesmo! “To play” tanto é “atuar”, como “jogar”, como “brincar”. Relaxar no palco, ver o trabalho do ator como uma doação amorosa da energia humana, integralmente a serviço da criação do personagem, não é uma coisa maravilhosa? Então como ficar nervoso com um fenômeno desse? O palco é uma festa, uma glória, um deslumbramento e o “branco” só surge quando a gente se estressa por querer impressionar, por colocar os objetivos do ator acima dos objetivos do personagem.

Com Jessier Quirino, poeta e declamador.

Com Jessier Quirino, poeta e declamador.

Vamos ver agora um outro caso de palco, o caso do declamador que, ao contrário do ator, não tem o auxílio do contexto. Aí, eu quando decoro algo para ser recitado diante de uma platéia, estabeleço comigo mesma algumas marcas e gestos mínimos, coisas que só eu sei, lugares pra onde olhar, e também me remeto ao formato da página onde o texto está escrito e à situação que o texto ocupa na página: página par, página ímpar, em cima, embaixo… São truques que todo artista tem e que não me incomodo de revelar. É assim que vou do começo ao fim, ao longo das cerca de 130 sextilhas do folheto de cordel O Pavão Misterioso, que sei todinho decorado. Além do “Pavão”, sei muita coisa decorado, mas se não houver uma constante repetição, a gente vai esquecendo. Por isso é preciso praticar.

Zé de Cazuza

Zé de Cazuza

Na poesia, elementos como a métrica e a rima falicitam a memorização e por isso as sagas e epopéias da Humanidade, no tempo da tradição oral, quando ainda não havia a escrita, eram formuladas em verso, para facilitar a memorização.

Conheço muitas pessoas que têm memória prodigiosa. A Rede Globo mostrou, no programa sobre a memória, o grande poeta popular Zé de Cazuza como exemplo. Mas conheço muita gente com memória igualmente prodigiosa. Meu pai, o jornalista e poeta Nilo Tavares, era uma dessas pessoas, recitando sonetos e mais sonetos, poemas e mais poemas, hora após hora. Olavo Bilac, Augusto dos Anjos, Emilio de Menezes e outros tantos dos seus poetas preferidos desfilavam na nossa frente enquanto ele, com sua voz forte e rouca para o homem tão pequeno que era, desfiava verso atrás de verso, quarteto atrás de quarteto, soneto atrás de soneto. Já velhinho, desmemoriado, sem conhecer ninguém, eu o ouvia falando baixinho. Ia devagar ao pé de sua cama e lá estava ele, repetindo seus sonetos preferidos, um depois do outro… Era como se estivesse desfiando o último fio da memória já deteriorada pela demência senil, a chamada “caduquice”, que o acometeu nos últimos dos seus 86 anos de vida.

pavaoO meu tio Cláudio Tavares, comunista histórico, vivendo em Recife durante toda a sua vida, também tinha esse tipo de memória, ainda melhor do que a de Papai. Ele decorou um dicionário inteiro, o “Dicionário da Fábula”, de Chompré. A pessoa abria o dicionário e dizia: página 86! E ele começava a dizer o que tinha escrito na página 86.

Uma ocasião tive uma doença infecciosa qualquer, uma inflamação de garganta. Fui ao médico, colega meu, da mesma turma. E ele então disse: “Mas Clotilde, isso que vc tem é a doença Fulana de Tal, que fica na página tal do livro de Veronesi!” referindo-se ao Tratado de Infectologia do professor Ricardo Veronesi, livro no qual estudamos no Curso de Medicina. Ele lembrava da página e da coluna do livro onde a doença era descrita. E tem mais: saiu recitando o texto do livro que se referia à descrição da doença como se o compêndio estivesse ali aberto na sua frente. Decoreba? Não, meu caro leitor: capacidade de memorizar e de ir buscar essa memória quando for preciso, coisa que não é todo mundo que tem.

numerosAs associações mnemônicas são outro tipo de estratégia que usamos para nos lembrarmos das coisas. Lembro-me das minhas aulas de Nutrição para o Curso Médico da UFRN onde eu recitava com facilidade o nome dos oito aminoácidos essenciais. Eu havia inventado três palavras com as três primeiras letras de cada um: TRIFENLIS TREVALMET ISOLEU. Então era fácil recitar para os alunos, bem naturalmente, como se não fossse decorado: Triptofano, Fenilalanina, Lisina, Treonina, Valina, Metionina, lsoleucina e Leucina…

Para as senha numéricas, inventei palavras parecidas com os números. Um é pum, dois é arroz, três é freguês, quatro é teatro, cinco é brinco, seis é reis, sete é valete, oito biscoito, nove é love e zero é nero.

Então uma senha por exemplo assim: 56923457 vira brinco reis love arroz fregues teatro brinco valete. Aí eu faço umas frases do tipo “o brinco dos reis love arroz, o freguês do teatro usa o brinco do valete”.

Eu adorava!...

Eu adorava!...

Já para aquela combinação de letras que fazem parte da senha, aquela de três letras, também formam frases. Lembro de que uma antiga minha, era AJG – digo aqui pois perdeu já a validade – na mesma época do sucesso da música de Los Hermanos. Então a senha virou Ana Julia Gostosa.

Parece doidice? Ora, meu caro leitor! Doidice é chegar no caixa eletrônico e não se lembrar da senha…

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Estratégias da memória

Clotilde Tavares | 23 de maio de 2009

memo3Na noite de ontem (sexta-feira) me desliguei das séries na TV para ver o Globo Repórter. O sacrifício não foi tão grande porque na sexta-feira, com exceção de In Plain Sight no Canal AXN eu não acompanho nenhuma outra série, principalmente depois que deixou de passar Criminal Minds. Então, eu fiquei na Globo mesmo, vi um pedaço daquela alucinação visual/conceitual que é a novela Caminho das Índias e logo em seguida começou o Globo Repórter, com o tema A memória.

Não que haja muita profundidade científica num programa desses, e nem poderia, porque é dirigido às massas. Mas o tema me interessa mesmo numa abordagem superficial porque eu, aos 61 anos, tenho que ficar atenta para isso.

05A perda da memória não é exclusivamente uma consequência natural da idade, apesar de sabermos que, como todos os órgaos do corpo, o cérebro se deteriora ao longo dos anos e muitas das suas funções ficam prejudicadas. O programa de ontem mostrou como o estresse ou o uso de álcool e drogas podem lesar a capacidade de armazenar informações e resgatá-las depois, quando isso é preciso.

memo7Algo que muita gente não atenta, no caso da memória, é que não se trata somente de armazenar informações. É preciso ter a capacidade de resgatá-las depois, é preciso tê-las disponíveis quando você precisa delas. Eu comparo com uma pessoa que vai lendo livros, jornais e revistas, e armazenando cópias de artigos, trechos, textos e outros, mas tudo misturado, sem organização. No dia em que precisar de um texto tal, como irá encontrar? Fico completamente admirada quando vejo esse pessoal estudando para o vestibular, sem descanso, sem distração, quando uma parte do tempo deveria ser destinado a dar descanso ao cérebro para que ele pudesse processar a informação. O Globo Repórter mostrou isso ontem de forma muito didática e clara.

memo8Eu sou um pouco – só um pouco – obsessiva pela organização e vez por outra escrevo sobre isso. Tenho um arquivo onde coloco todos os meus papeluchos. Assim, estão disponíveis quando preciso deles, e não gasto mais do que 30 segundos para ter na mão tudo o que preciso, desde o recibo de setembro de 2008 da conta da luz até o telefone que aquela pessoa passou pra mim no último domingo num guardanapo de papel, e que eu anda não passei para a agenda. Qualquer dia faço um post aqui sobre o meu sistema, com fotos. E a quem interessar possa eu sigo o GTD adaptado às minhas necessidades.

O programa mostrou uma série de estratégias para não esquecer das coisas. Esses esquecimentos têm produzido piadas de todo tipos e eu mesma escrevi um texto muito engraçado baseado em outro que recebi pela Internet sobre a D.A.D.I.A – Síndrome de Desordem da Atenção Deficitária na Idade Avançada. Mas, brincadeiras à parte, não há nada pior do que viver esquecendo das coisas, deixar as panelas fervendo no fogão, as plantas esturricadas por falta de água, ou não saber onde colocou os óculos. E o mais desagradável é que quando isso acontece a uma pessoa jovem, é porque está estressada; na minha idade, dizem logo que é caduquice…

memo6Algumas coisas podem ajudar a quem vive se esquecendo das coisas. Uma das mais importantes é ter um lugar certo para cada coisa. Eu não vejo nada de perto, sou hipermétrope em alto grau. Dirijo sem óculos, mas até para comer preciso deles. É crucial que eu tenha um lugar certo para os óculos. Então é assim: um no rosto (o de andar em casa); outro na mesinha de cabeceira (o alinhado, de sair) e mais dois de modelo “fora-de-moda” dentro da primeira gaveta da cômoda. Quando viajo levo três, guardados em lugares diferentes da bagagem.

Meus remédios estão organizados assim: os de tomar de manhã, na mesinha da cozinha em que preparo o café. Os de tomar à noite na mesinha ao lado do sofá onde vejo TV. Não tem como esquecer. Quando estou tomando antibiótico, que tem que ser na hora certa, tomo a dose e coloco o celular para despertar no horário da próxima. Assim, nunca esqueço nenhuma.

As tesouras são três: uma na cozinha, outra no escritório, outra junto da máquina de costura. A coisa que eu mais odiava quando morava com a família – agora moro sozinha – era ficar procurando a tesoura, e não adiantava comprar DEZ tesouras; quando eu queria uma, nunca encontrava. Uma vez amarrei uma na cabeceira da cama; pois os terroristas domésticos, com a própria tesoura, cortaram o cordão e a levaram dali.

memo9Meus livros são organizados nas estantes por assunto, e ninguém é autorizado a mexer neles. Meus sapatos – todos – são colocados à vista, senão esqueço de que eles existem. A mesma coisa ocorre com as echarpes, colares e bijuterias. Colocar uma coisa numa caixa fechada é simplesmente bani-la do meu cotidiano. Meus armários de cozinha não têm portas, meu guarda-roupa não tem portas.

memo10Um problema grave que eu tinha era esquecer as panelas no fogo. Então comprei um timer, que achei no camelódromo por sete reais. Quando coloco água no fogo, ponho imediatamente o timer em cinco minutos. Se for arroz 20 minutos, e assim por diante. Quando preciso ligar para alguém, mas só pode ser daqui a meia hora, descobri um timer on-line que me avisa quando a meia-hora acaba. A campainha toca, e eu largo o que estou fazendo e faço a ligação. Ele serve também para limitar o tempo de algo que estou fazendo no computador. Por exemplo: adoro jogar sueca – um jogo antigo, que se jogava muito no interior quando eu era criança, ou então Mah Jong. Então, para não passar o dia todo na jogatina, regulo o timer-on-line. Por que não uso o timer da cozinha para isso? Elementar, meu caro Watson: o timer da cozinha é da cozinha…

bananameninaFora isso, para manter a mente ativa eu escrevo todo dia neste bloguinho, que hoje completou seis mil visitas em menos de dois meses, faço palavras cruzadas e sodoku, sou doida por enigmas e quebra-cabeças, faço leitura anotada de livros e sou muito, muito curiosa: quero saber de tudo um pouco. Alimento-me bem, e mantenho o bom-humor na maior parte do tempo.

Finalmente, se a memória serve para lembrar, também serve para esquecer. Ouvi ontem no noticiário que vai voltar a farra com as passagens internacionais para os políticos. Uma coisa dessas, meu caro leitor, é melhor esquecer pra não morrer de raiva ou de vergonha.

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O mundo serial da TV

Clotilde Tavares | 21 de maio de 2009
C.S.I.Las Vegas

C.S.I.Las Vegas

Sou uma série-maníaca compulsiva. Isso quer dizer que acompanho com entusiasmo muitas das séries que passam na TV fechada. Gosto sobretudo dos enredos policiais, de detetives, e daqueles que envolvem perícia médica, um ramo da medicina que sempre me atraiu muito. E também gosto de séries cômicas e românticas.

Só para você ter uma idéia, acompanho com fervor: E.R. – cuja última temporada começa agora em junho revelando no primeiro episódio quem morreu na explosão da ambulância), Desperate Housewives, C.S.I. Las Vegas, Miami e New York, The Big Bang Theory, Two and a Half Men, Life, The Mentalist, Fringe, The Eleventh Hour e In Plain Sight. E já acompanhei:

Gilmore Girls

Gilmore Girls

Gilmore Girls, Friends, Without a Trace, Sex and the City, Close to Home, Medium, Vegas, Bones, Justiça Sem Limites, Criminal Minds e muitas que esqueci o título, séries que já acabaram ou – pior – começaram a ser dubladas, como as do canal Fox, tornando insuportável a audição. E teve ainda Heroes, Law and Order-SVU, Huff e House, que eram do Canal USA que tive até 2007 e agora não tenho mais.

Vale a pena também lançar um olhar nostálgico sobre o passado, sobre a era pré TV-a-Cabo, ainda na TV preto-e-branco e me lembro logo de Napoleon Solo – o Agente da UNCLE,

MacGyver-Profissão Perigo

MacGyver-Profissão Perigo

MacGyver-Profissão Perigo, O Fugitivo, O Incrível Hulk, Bonanza, Dr. Kildare, Dallas, A Feiticeira, Jeanie é um Gênio, Perdidos no Espaço, Casal 20, Ilha da Fantasia, As Panteras… Não são todas, são apenas algumas das que eu vi e que me lembro.

Gosto das séries que assisto por motivos variados. E.R. me traz de volta os três ou quatro anos em que, ainda estudante, dava plantões nos Pronto-Socorros do Hospital das Clínicas da UFRN e do INPS (antigo Hospital dos Pescadores, nas Rocas) em Natal, serviços de urgência já extintos, onde aprendi muita coisa e vivi muita coisa rica de experiência humana. Os acontecidos ali, onde eu às vezes passava tres ou quatro noites por semana de plantão, davam pra fazer 15 temporadas de 20 episódios cada uma. Para mim, a prática da urgência é  a mais interessante da Medicina, e se eu voltasse, era onde gostaria de trabalhar: num serviço de atendimento de urgência.

The Big Bang Theory

The Big Bang Theory

The Big Bang Theory é uma série sobre quatro jovens pHDs, inteligentíssimos mas completamente inábeis quando o negócio é lidar com as questões práticas da vida, em especial os relacionamentos amorosos. Lembro da minha tímida e desajeitada adolescência, lendo tudo o que é de livro, sabendo desenvolver equações e matrizes, mas cheia de dedos quando era pra namorar. Os atores são ótimos, e a loirinha Penny (Kaley Cuoco), egressa de outro seriado, Charmed, é realmente muito fofa. É uma série de meia-hora, que segue o modelo de Friends e Two and a

Two and a Half Men

Two and a Half Men

Half Men, com roteiro ágil, piadas engraçadas, inteligentes e bem encadeadas. Aliás, em Two and a Half Men há uma das melhores personagens do mundo serial da TV: a empregada Berta.

Uma das novidades deste ano são as séries Fringe e The Eleventh Hour, que se propõem a tratar de temas ligados à ciência e à tecnologia, com fortes dosagens de ficção científica, principalmente em Fringe. Esta série começou muito bem, mas eu não gostei dos últimos episódios, que para mim perderam um pouco a qualidade, com soluções saindo do nada e situações que ferem a verossimilhança interna do enredo, tendo se recuperado no episódio desta semana, aquele onde

Berta, ao centro.

Berta, ao centro.

a agente do FBI Olivia Dunham (Anna Torv) é raptada. The Eleventh Hour, cujo protagonista é o Rufus Sewell, ator meio canastrão mas que eu simplesme a-do-ro, não consegue decolar, os episódios são mornos e ainda não conseguiram me convencer.

Simon Baker. Ahhhhhhhhhh...

Simon Baker. Ahhhhhhhhhh...

Quanto a The Mentalist, ver durante uma hora o lindíssimo Simon Baker no papel-título contribui para a recuperação dos meus olhos esturricados de passar 16 horas por dia diante de uma tela. Na verdade, o moço é um verdadeiro colírio que recomendo enfaticamente “a todos e todas” que gostarem de ver homem bonito. As tramas é que precisam ser um pouco mais bem amarradas para amarrar também o espectador mas quer saber? Com Simon Baker na tela, eu nem ligo.

Já Desperate Housewives continua simplesmente maravilhosa, com suas doses cavalares de humor negro, as vezes mais humor, às vezes mais negro, mas sempre uma diversao garantida. Gosto de brincar comigo mesma de “qual é a minha desperate favorita”, e escolho naquela semana uma delas para observar melhor, e procurar gente parecida com ela entre as pessoas que conheço: a controladora Lynette, a fútil Gabrielle, a piranhésima Eddie, a desastrada Susan, a perfeccionista Bree ou a sonsa Katherine. As crianças – os filhos de Lynette, as filhas gordinhas de Gaby, os filhos de Bree, Mike Jr. – são um show e a velha senhora MacCluskey é, como Berta de Two and a Half Men, um presente dos céus para qualquer atriz.

Desperate Housewives

Desperate Housewives

Vejam o diálogo de ontem, quarta feira, episodio 16 da 5a. temporada.

Gabrielle (G) vai encontrar a amante (A) do marido da amiga para convencê-la a desistir do caso.

G – Você precisa acabar esse caso. Ele é casado.

A  – É, eu, sei, mas ele não ama a esposa.

G – Ama, sim, ama muito, eles têm dois filhos.

A – Ele me disse que vai se separar.

G – Separar como? Ela está grávida.

A – É mentira. Ele me garantiu que não transa com ela há mais de um ano.

G – Então temos que ligar para o Vaticano pois vamos precisar de uma manjedoura…

Concorde comigo, meu caro leitor, que é uma verdadeira diversão.

Life

Life

Antes que você me pergunte, eu não acompanho nem Lost, nem Grey’s Anatomy. Não vejo Lost porque me dá agonia aquele povo sujo, suado, com os cabelos nos olhos; e Grey’s Anatomy porque não consegui me envolver nem com o roteiro nem com os personagens – e talvez porque quando estudei Anatomia semore preferi o livro de Gardner ao de Grey.

Uma coisa boa das séries é que não há perigo de perder um episódio. Boa parte delas têm episódios independentes, e não faz muita diferença você ficar sem ver um ou outro. Além disso, os canais oferecem cinco ou seis oportunidades de ver o mesmo episódio na semana; e nos períodos entre uma e outra temporada nova, os capítulos passam todos novamente. É bem diferente de assistir à novela das oito, onde você só tem aquela oportunidade para ver o capítulo, o que lhe faz ficar prisioneiro da história e da emissora.

Agora eu quero fazer um comentário de outro tipo e, se você chegou até aqui e está cansado de ler, levante-se, beba um copo dágua – é muito bom beber água, e a cota é dois litros por dia – e volte depois.

Perdidos no Espaço

Perdidos no Espaço

Imaginem vocês que chegou aqui em casa uma pessoa conhecida no auge das temporadas dos C.S.Is. e ficou reclamando de mim. Disse que eu passava o meu tempo vendo essas séries cheias de crimes, de roubos, de assassinatos, de violência e que isso não era legal pra mim. Além disso, o tempo gasto dessa forma na frente da TV me impedia de ler um jornal, de ver o noticiário, de me inteirar do que estava acontecendo no país.

Pensei um pouco e concordei. Na noite seguinte, em vez de assistir à minha série preferida, liguei a TV no Jornal Nacional. Foram crimes, assassinatos, extorsão, corrupção ativa e passiva, crimes de ódio, tiroteios, tráfico de armas e drogas, abuso sexual, exploração e prostituição de menores, pedofilia, e todo tipo de desgraça que você possa imaginar! E tudo de verdade. Tudo acontecendo de verdade com gente de carne e osso que nem eu e você.

Voltei para as minhas séries porque nelas os ladrões e criminosos vão todos para a cadeia. Já os que vi no Jornal Nacional, de paletó e uma gravata, transitam para lá e para cá, de Brasília para o exterior, da capital para o interior, com passagens e salários pagos do meu e do seu bolso, e estão todos aí posando de “homens bons” no Congresso, nos Tribunais Superiores, nas presidências das estatais.

Deixem-me de volta com meus personagens preferidos, com minhas donas-de-casa desesperadas, com os nerds incapazes de namorar, com os irmãos Charlie e Alan Harper, com Berta e a Sra. MacCluskey, com o Detetive Crew, com o lindíssimo Patrick Jane, com a louraça Mary Shannon, com as Dras. Abby Lockhart e Neela Rasgotra.

Alienada! você diz. Omissa! você afirma. Irresponsável! você quase grita. E eu respondo: sou mesmo! E ligo a TV.

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Xixi no banho!

Clotilde Tavares | 19 de maio de 2009

Quando eu fazia mestrado e morava em Recife, em 1978, estava grávida da minha filha mais nova, que hoje tem 30 anos. Eu mesma tinha 31 anos na época. Moravam comigo uma amiga e minha irmã mais nova, ambas por volta dos 19 anos, que faziam faculdade e trabalhavam. Duas meninas lindas, namoradeiras, que sempre estavam às voltas com os rapazes.

save waterEntão eu, para brincar com elas, preguei no banheiro um cartaz que dizia: “Economize água. Tome banho com o seu namorado.” Era muito engraçado ver a cara dos rapazes quando viam o anúncio, mas no final todos aproveitavam e tomavam banho juntos. O problema é que às vezes a economia não funcionava, pois os banhos juntos demoravam muito mais do que dois banhos separados…

Naquela época não se falava ainda tanto de crise energética nem do esgotamento do suprimento de água do planeta. O meu pensamento de economia referia-se apenas à conta save water3da água, que eu geralmente pagava sozinha, pois as meninas eram jovens, estudantes, com empregos ainda precários e pelos dez anos de diferença, eu fazia mais ou menos o papel de “mãe” da duas. Foi uma boa época, da qual guardo carinhosas recordações.

Hoje, com a ameaça do esgotamento dos recursos naturais do planeta, as campanhas de economia de água, energia e outros recursos se sucedem, sobretudo essa muito curiosa, que está agora sendo divulgada pela Internet e que, por ter a ver com o que se passa dentro do banheiro, fez eu me lembrar da minha “campanha” de 30 anos atrás.

A campanha é Xixi no Banho e defende que, uma vez que 80% do gasto de água de uma casa é no banheiro, e que na privada se gasta mais do que no chuveiro, nada mais saudável para economizar água do que fazer xixi durante o banho.

A argumentação é que o xixi é composto por 95% de água, sendo o restante 5% apenas sais e amoníaco. Não é nojento, não transmite doenças, e a pessoa deve ter o cuidado apenas de fazer o xixi no ínicio do banho, para que a água possa realmente diluir o xixi e levá-lo para longe. A campanha é de uma organização chamada SOS Mata Atlântica, que anuncia um evento para o Ibirapuera, em São Paulo, o Viva a Mata, de 22 a 24 de maio próximo. O site é muito engraçadinho, cheio de animações e vai a pena dar uma olhada lá.

Antes que me esqueça, 75% dos internautas que o visitaram responderam à enquête dizendo que sim, que fazem xixi no banho. E você, faz?

Bem, mas o mundo está cheio de gente desocupada e sem noção, que não perde a oportunidade de tirar sarro dos outros. Então essas criaturas inventaram campanha semelhante, Cocô no Banho, onde defendem que o ato irá economizar papel higiênico e impedir que mais árvores sejam derrubadas. Segundo os idealizadores, cada pessoa gasta por ano 864 metros de papel higiênico que seriam economizados se o freguês optasse por fazer cocô no banho.

O site é engraçadíssimo e oferece ainda sugestões para resolver as mais variadas situações tipo “O que fazer se o cocô ficar preso no ralo” e outros que não me atrevo a mencionar. Faz propaganda do “xampum” Cocô no Banho e do Creme para Pentelhar. É a coisa mais engraçada que já li, e é tão bem feito que se alguém sem senso de humor ler os textos pensa que aquilo é sério e não uma imensa gozação.

É por isso que penso que o mundo tem jeito: primeiro porque há pessoas sérias preocupadas com ele; e segundo porque também ainda tem muita gente com senso de humor.

(Eca! Não achei nem como ilustrar esse post!)

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Feiras, piratas e outros.

Clotilde Tavares | 13 de maio de 2009

feira_modaFui hoje a uma feira dessas que acontecem nas cidades, que duram uma semana, e que vendem todo tipo de tranqueira, obviamente dentro do perfil a que a feira se propõe. Então tem feira de informática, feira de livros, feira de automóveis, feira de móveis, feira de artesanato e por aí vai. A que fui hoje era de “Moda e Estilo”, ou coisa parecida.

Fiquei impressionada com o desespero das pessoas para comprar todo tipo de artiguete barato que se oferece à sua frente, a maioria deles desnecessários, de mau-gosto, feitos com material de quinta e com confecção de qualidade duvidosa. Mas ninguém resiste ao apelo de “um é dois, mas três é cinco”. A tal feira me pareceu mesmo um imenso camelódromo.

moda_indiaHavia um stand imenso cheio de roupas com a moda “trazida diretamente da Índia” e, segundo o anúncio em volume altíssimo, “absolutamente idêntica àquela usada pelas atrizes da novela da Globo”. Preciso dizer que estava lotado de gente?

Zanzei por lá, não vi nada que me interessasse e voltei para casa sem ter feito nenhuma despesa, a não ser um brinco que custou cinco reais e que realmente parece algo muito, mas muito superior mesmo.

O motivo de estar postando aqui sobre isso é que vi dois stands vendendo cópias piratas de DVDs e CDs. Tinha filme e show pra todo tipo de gosto. Com a capinha, o DVD custava quatro reais; sem a capinha, apenas acondicionado em um saco plástico, era apenas três reias. Lá estavam todos os sucessos do cinema, para quem quisesse.

Sem querer tomar aqui neste post nenhuma posição contra ou a favor da pirataria, sempre vi o tal comércio restrito apenas aos camelôs, ao informal, beirando o ilegal. Nunca esperei encontrar um representante dos piratões numa feira, num stand, estabelecido como se fosse uma loja qualquer.

AINDA VOLVERINE

volverine2Vocês acreditam que ainda não vi o tal do Volverine? O jornalista Alex de Souza me aconselhou a desligar o lado racional da mente e me divertir com o filme; é isso que vou fazer. Aliás, ando desligando o lado racional da mente com muita freqüência ultimamente. É bom que só.

C.S.I.

Fã de séries que sou, acho que a série C.S.I. perdeu a graça depois da saída do personagem Gil Grisom, interpretado pelo ator William Petersen. Mesmo considerando a magnética presença de Lawrence Fishbourne, que entrou para reforçar o elenco, os episódios não têm conseguido me prender a atenção. Aí, fico vendo as temporadas antigas que passam no canal AXN todo dia, às 18 horas.

QUALIDADE DE VIDA

writerPra vocês verem como uma bobagem pode fazer diferença na qualidade de vida de alguém. Na semana pasada, tomada por dor nas costas, na coluna, no pescoço e em tudo o que é de lugar da minha combalida anatomia, considerei que era hora de comprar uma cadeira específica para trabalhar, com braços, rodinhas e formato mais ergonômico. Foi o que fiz, e minha vida mudou deste então.

Agora, fico horas à mesa escrevendo e teclando, tendo retomado com redobrado vigor minhas pesquisas genealógicas sobre o Clã Santa Cruz. Se você se interessa pelo tema clique aqui e veja o que já descobri sobre a minha família.

A PRIMEIRA DAMA DA GENEALOGIA

Por falar em Genealogia, ontem, terça-feira, dia 12, recebi a visita da secretária do Colégio Brasileiro de Genealogia, do qual sou sócia-colaboradora. A ilustre personagem, a carioca Regina Cascão, veio em viagem de turismo e passou um dia na capital paraibana. Regina Cascão é autora de dois livros importantíssimos para a genealogia das famílias nordestinas: Pereira Lima – Uma Família Pernambucana e Do Porto ao Recife: os Pinto de Lemos. Andou, virou, mexeu, conheceu a cidade, conversamos e nos despedimos, esperando nos encontrar novamente em breve. Aí, sou eu que vou vê-la no Rio.

Regina Cascão e esta blogueira, ontem no Mercado de Artesanato, botando os assuntos em dia e satisfeitas que só um vintém na bacia dum cego.

Regina Cascão e esta blogueira, ontem no Mercado de Artesanato, botando os assuntos em dia e satisfeitas que só um vintém na bacia dum cego.

IRLANDA VOLTOU

Disposta, lustrosa e absolutamente despreocupada, minha gatinha Irlanda, que desapareceu há uma semana, reencontrou o caminho de casa e hoje de manhã voltou, para alegria de todos nós, sua família humana. Não se sabe por onde andou, ou o que fez. Não se sabe se foi levada, ou se foi por sua vontade. Aliás, com os gatos, é preciso aceitar essa independência deles, ou então a gente é capaz de ficar doido. Ela voltou, e estamos felizes.

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Hoje é Lua Cheia!

Clotilde Tavares | 9 de maio de 2009

image01919191919Para quem tem 1/3 de natureza lobisomem como eu, a noite de Lua Cheia sempre é cheia de significados. A “natureza-lobisomem” é aquela vontade de virar uma coisa diferente e sair por aí, sozinha, enfrentando o desconhecido, atrás de gente, de agitação, de aventura, “lobisomando”, coisa que acontece mais nas noites de Lua Cheia.

Quando eu era mais jovem, a noite de Lua Cheia sempre era cheia de expectativa, de excitação, sempre havia uma festa boa para ir, gente para conhecer, música para dançar. Hoje ainda tem tudo isso mas a lobisoma aqui está na terceira idade e não tem mais tanta disposição para a caça.

image02020202020Herdei essa natureza-lobisomem da minha mãe, como você pode ver no trecho abaixo, que pincei diretamente do texto que estou escrevendo sobre minhas recordações de infância. As ilustrações são todas com fotos de Lua Cheia, que recebi um dia desses pela Internet.

°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°

” Uma das coisas que eu mais gostava no meu tempo de menina era de ouvir as histórias contadas sobre o tempo em que Mamãe era jovem, era criança, e morava na fazenda. A fazenda ora era a Broca, em Angelim, no Agreste de Pernambuco, ora era Boqueirão, em Caraúbas, no Cariri Paraíba. As histórias, as personagens, excitavam minha curiosidade e me lembro de que queria muito saber quem eram essas pessoas de quem Mamãe falava. Falava-se em tia Emília e eu perguntava:
image0055555– Tia por que?
– Porque era irmã de papai – ela respondia.
E eu ia compondo o quadro. Pepedro, pai de Mamãe, irmão de tia Emília, de tio Bebiano, de tio Azarias…
Aí Mamãe dizia:
– Não, tio Azarias não era irmão de papai, era irmão de meu avô Teotônio.
– E o irmão do avô também é tio, Mamãe?
– É – respondia ela. E explicava: – Tio-avô.
– E o que Madrinhadal é da senhora, Mamãe?
– É minha irmã mais velha. O nome dela é Adalgisa, mas a gente chama Adal. Madrinha Adal. Ela é sua tia. É minha irmã e é também minha madrinha porque como eu sou a sétima filha tive que ser afilhada da mais velha para não virar lobisomem.
image01818181818– E as pessoas viram lobisomem? – perguntava eu.
– Viram sim!
E a voz de Mamãe ganhava um tom sério, dramático, quase religioso.
– Na noite de Lua cheia a pessoa vai dormir e no outro dia acorda todo suja de lama, de terra, cansada, não se lembra de nada. É que virou lobisomem de noite, e passou a noite correndo pelos matos. Mas só quem vira é o sétimo filho…
– E a senhora nunca virou?
– Não! Eu não já disse a você que sou afilhada de Madrinha Adal? Não tem o menor perigo.
– E eu vou virar lobisomem também?
– Oxente, menina! Não vai não. Você é a mais velha…

°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°

Por aí você vê, meu caro leitor, que eu não poderia ser normal mesmo, criada nessa fina linha invisível entre o Mundo Real e o Mundo Imaginário, confundindo os dois de tal forma que até hoje me atrapalho sobre em qual dos mundos estou vivendo.

Amanhã estou de volta.

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