Umas & Outras

Arte, Cultura, Informação & Humor
  • rss
  • Início
  • Quem sou?
  • #DiretoDaBolha
  • Livraria
  • FotoComTexto

Preciso salvar o planeta

Clotilde Tavares | 18 de abril de 2021

Eu esqueço muito das coisas. Não é da idade. Sempre foi assim, mas somente para determinadas coisas, como nomes de filmes e livros, personagens e enredos de livros, filmes e séries. Não sei se é ruim, parece ruim, mas se você imaginar que eu tenho uns dez ou doze livros de Agatha Christie que vivo lendo sempre, porque sempre me esqueço de quem é o criminoso, talvez possa haver alguma vantagem.

Nas séries de TV, eu tenho procurado ver apenas aquelas que têm a série completa, com todas as temporadas, porque senão quando chega a temporada seguinte eu não me lembro mais da anterior, aí lá vou eu ver tudo de novo.

Com as séries escritas é a mesma coisa. Eu acompanho uma série do escritor inglês Bernard Cornwell, Crônicas Saxônicas, que já está no 12° volume. Toda vez que chega um novo, eu tenho que ler o anterior, e às vezes até recuar uns dois ou três volumes para me situar na história. Tanto assim que do 6º ou 7° em diante eu venho fazendo resumos na última página para não esquecer.

Uma das coisas que mais gosto em termos de filme e série é o Universo Marvel. Alguns desses heróis me acompanham desde a juventude e eu gosto muito da temática, principalmente aquela explorada no cinema. São grupos e subgrupos de heróis, mas o que eu gosto é aquele conhecido como A Saga do Infinito, com 23 filmes até agora divididos em várias fases. Os meus heróis preferidos são Tony Stark (o Homem de Ferro), Thor e Natasha.

 

Esses tais 23 filmes têm uma ordem de acontecimentos, como se fosse uma série. Há caraterísticas especiais em cada episódio, como a cena final depois dos créditos onde há um spoiler dos próximos acontecimentos, e a onda de procurar Stan Lee, que sempre faz uma presença nos filmes (com o fazia Hitchcock nos seus), e por aí vai.

O caso é que, vez por outra, por motivos variados, me desligo dessas minhas obrigações com a cultura pop e só venho me lembrar do Universo quando alguém fala nele, ou estreia um filme novo. Foi isso que aconteceu agora quando eu pedi uma indicação de série a Ana Morena e ela me mandou ver Wanda Vision. Pensa que eu sabia o que era? Aí ela disse que era do Universo Marvel e eu lembrei que já havia passado por sufoco semelhante.

Nessa hora é que eu peço permissão para plagiar a mim mesma e escrever por cima de um texto de maio de 2019, que é sobre o mesmo tema. E aviso que, enquanto eu viver, e lançarem novidades no Universo Marvel, eu vou continuar escrevendo, ou melhor, sobrescrevendo esse texto.

Em maio de 2019 os cinemas da cidade estrearam o filme Vingadores Ultimato. Lembrei então que tinha parado de acompanhar a série em 2015, com Vingadores A Era de Ultron sendo o último que eu tinha visto.

Como gosto das coisas na ordem, o 2 depois do 1 e o 3 depois do 2, para me deixar em paz com meu temperamento levemente T.O.C. tratei de atualizar a série e vi, em poucos dias, nove filmes, que estrearam entre 2015 e 2019, pela ordem. Foi uma delícia. Então eu vi

1) Homem Formiga, com esse maravilhoso ator Paul Rudd que era o marido de Phoebe em Friends e que eu adoro. E aquela coisa de aumentar e diminuir de tamanho, quem nunca? Ah, e Michael Douglas que finalmente encontrou um canal para exercer a canastrice? Filmaço.

2) Capitão América: Guerra Civil que eu não tinha visto ainda, como é possível? Com a famosa cena do aeroporto? E quando saio um pouco da fantasia realizo que deve ser difícil para a prefeitura de uma cidade ter um time como esse dos Vingadores defendo a urbe, no sentido que para defender quebram a cidade inteira. Mas é comics, é fantasy, vamos simbora botar os prédios abaixo.

3) Doutor Estranho, que estranhamente não faz parte do meu imaginário pois eu gostava dessas revistinhas até a adolescência. Como sou velha pra caramba o que rolou depois dos anos 1960 eu desconheço, como esse Dr. Estranho. Não consigo despregar a imagem desse ator do personagem de Sherlock Holmes, e fiquei o tempo todo esperando Watson; mas amei todos os efeitos especiais, como aquele dos espelhos e da realidade se torcendo sobre si mesma.

4) Amei amei amei os Guardiões da Galáxia vol2, com aqueles bichos sem noção e o Groot pequenino. No final, nos créditos, o *I am Groot* fica aparecendo por cima dos nomes… Os piratas do espaço e aquelas mulheres douradas – que coisas mais lindas! – me fizeram louvar o figurino, maquilage e direção de arte. Mas o melhor dos Guardiões para mim é a trilha sonora.

5) Nunca gostei muito do personagem do Homem-Aranha. Mas nesse filme HomeComing eu terminei curtindo muito a versão. Aquele outro, mais adulto, sempre achei chato. Esse adolescente, terno e atrapalhado com seus superpoderes é muito fofo.

6) Meu eterno herói, Thor, está nesse Thor Ragnarok, que é um verdadeiro deslumbre! Que Thor rico e maravilhoso com seu novo corte de cabelo! Que homem lindo! Aquela mulher vilã irmã dele, com aqueles adereços sobre a cabeça! Ai minha nossa senhora do Figurino! Ai João Marcelino! Thor é um filme que sempre preciso ver várias vezes. Estou apenas na primeira vez com esse.

7) Pantera Negra e essa concepção do país Wakanda, isolado do mundo no meio da floresta e com alta tecnologia, é algo que me encanta. Outro filme pra ser visto várias vezes desfrutando dos detalhes. Todos muito lindo e sobretudo as mulheres! Belíssimas.

8) Vingadores Guerra Infinita foi o oitavo filme, e na época eu não consegui entender em que Universo Paralelo eu estava quando esse filme passou no cinema e não fui assistir. A volta de Hulk, de Buck (ai, Buck!) e da turma toda reunida foi muito legal. Na época, minha percepção sobre Thanos, o vilão, foi cheia de compaixão por sua humanidade e tristeza! Um vilão profundo, quase shakespeariano, cansado, acreditando na sua missão! Hoje, não sei se por causa do vilão que nos preside, só vi um genocida, querendo acabar com metade do mundo para resolver o problema da fome e da pobreza.

9) Homem-Formiga volta e dessa vez com a Vespa. De novo o lindo Paul Hudd, atrapalhado e engraçado. Que filme delicioso, com policiais estúpidos e heróis espertos. É também uma trilha sonora muito gostosa que faz você querer ver o filme e dançar ao mesmo tempo. Amo o universo formical, com aquelas formigas ótimas e a cena em que eles veem o filme antiquíssimo das formigas gigantes – como era o nome? O Mundo Em Perigo? Só o povo da minha idade se lembra – mas que cena! E Michelle Pfiffer como Mrs. Pym, linda, etérea, quântica… Adorei.

Na época, meu projeto incluía ver também a Capitã Marvel, que na minha infância era homem, chamava-se Billy Batson e se transformava gritando a palavra Shazam! – bem, agora é mulher e linda. Como tinha sido lançado há pouco tempo, ainda não estava disponível nos sites de streaming. O mesmo se deu com Homem Aranha Longe de Casa.

Fiquei dias atordoada, pois as imagens pregam dentro da cabeça e pra todo canto que olhava via heróis, martelos e escudos que voam, formigões, deuses louros e negros, as rugas de Thanos e a cara cínica e maravilhosa de Loki – porque eu sempre amei Thor mas também amo Loki.

Voltemos então a esta realidade agora de abril de 2021, tendo eu novamente perdido o contato com este universo, sem saber quem é Wanda ou quem é Vision, ou se é uma coisa só, Wanda Vision, nome e sobrenome. Peço help, socorro e ajuda a Ana Morena: de onde saiu isso? – É dos Vingadores, mãe, responde. E então fui ver o primeiro dos três e logo nas primeiras cenas me lembrei de tudo. A memória só quer um fio, só quer um estímulo, e lá estavam os gêmeos (Wanda, a Feiticeira Vermelha, é um deles) e no final o Vision, e a paixão entre ambos. Mas aí eu resolvi ver os três filmes de novo porque parece que o início da série tem a ver com o fim do terceiro Vingadores, que é o Vingadores Ultimato.

Então, atirando para cima os textos acadêmicos que eu deveria estar estudando para a terceira avaliação do meu curso de Bacharelado em História na UFRN, fechei as cortinas e me entreguei à deliciosa empreitada.

Não sei quando vou dormir. Ou se ainda vou dormir.

Preciso salvar o planeta.

 

 

Comentários
1 Comentários »
Categorias
Arte, Comportamento, Cultura, Humor, Memória
Tags
capitao america, cultura pop, dr. fantástico, feiticeira vermelha, homem aranha, homem de ferro, homem formiga, iron man, stan lee, thor, universo marvel, wandavision
Comentários RSS Comentários RSS
Trackback Trackback

A máquina do tempo

Clotilde Tavares | 16 de abril de 2021
Nesta sexta-feira, 16 de abril de 2021, estou no segundo dia das férias de quatro dias que me propus, sem ler nenhum texto acadêmico, para sossegar a cabeça de tanta teoria e dos abruptos deslocamentos temporais que as duas disciplinas que estou cursando na UFRN me proporcionam. Vivo em constante e sobressaltado traslado entre o século XIX da época atual (História do Brasil Império) e o século XX da era pré Cristã (História Antiga), com rápidas e traumáticas passagens pelo Brasil de 2021 (ano 2 da Era Pandêmica). Minha vontade mesmo é me mudar para o tempo de Amenophis IV e ser vizinha de Nefertiti. Aí, como sempre estou enrolada com essas questões de tempo, repito abaixo esse pequeno exercício, que já fiz algumas vezes, e que deixo como sugestão para que você também o faça, se o tédio estiver lhe perturbando e você não acha nada de interessante pra fazer.
Em 16 de abril de … eu estava em…
1971, sexta-feira – Em Natal, eu cursava o 2º ano de Medicina. Fui à aula de Neuro-Anatomia, e à tarde Bioquímica. Morava na rua Pinto Martins.
1981, quinta-feira – Morava na rua da Saudade. A anotação no diário é lacônica: “O dia lendo.” Não diz se dei aula, ou se fui trabalhar, ou o que seja.
1991, terça feira – Tem escrito: “Ensaio”. Provavelmente da peça Papai Pirou nas Ondas do Rádio, primeira peça que fiz com a Stabanada Cia. de Teatro.
2001, segunda-feira – Há uma anotação para ligar para Hugo Manso e Tácito Costa. À noite, eu coordenava o projeto Sala de Leitura, na livraria A.S. Livros. Nesse dia, a convidada foi a professora Vania Gicco.
2011, sábado – Eu estava em Belo Horizonte, passando uma semana com minha nora, Valentina. Nesse dia fomos almoçar com Rômulo, meu filho, e o pai dela, Roberto, no restaurante Xapuri, onde comi todas aquelas gostosuras mineiras.
2021, sexta-feira – Aqui com você, refletindo como o tempo passa e como 50 anos (1971-2021) terminam ocupando poucas linhas de um registro como esse.
COMO SEI tudo isso? Pelas minhas agendas e cadernetas, que guardo desde a adolescência.
#Tempotempotempotempo #FaçoUmAcordoContigo
Comentários
Sem Comentários »
Categorias
Comportamento, Curiosidades, Pop-filosofia
Tags
passagem do tempo, tempo
Comentários RSS Comentários RSS
Trackback Trackback

Felicidade em si

Clotilde Tavares | 15 de abril de 2021
Um dia desses eu andava meio chateada da vida e uma pessoa amiga, com quem eu iniciei um desabafo, disse: “Besteira, Clotilde. A vida é assim mesmo, tem dias bons e ruins. Sabe o que é que eu faço quando estou assim? Faço uma relação de todos os momentos bons que já vivi na minha vida.”
Eu, que adoro uma novidade, parti imediatamente para fazer a tal lista onde relacionei as obviedades: nascimento de filhos, netos, meus livros lançados, os prêmios que ganhei, o dia da formatura, o dia em que passei no vestibular… Aí depois descobri que não era isso que aquela pessoa queria dizer. Descobri que aquelas coisas boas que eu havia listado eram maravilhosas, e eu agradeço aos deuses todos os dias por elas. Mas descobri também outra dimensão da felicidade, que eu chamo de “felicidade-em-si”, cujo prazer é tão intenso mesmo na sua recordação que espanta para longe qualquer tristeza e chateação. São os chamados “momentos plenos”, onde é quase possível sentir a respiração de um deus sentado ao nosso lado. Quer ver?
Momento um. É uma tarde de verão. Estou no Recife, na garupa da moto de Morse Lyra Neto, procurando um apartamento para alugar. O ano é 1978 e meu curso de mestrado se inicia daí a alguns dias. Estou mudando de cidade, excitada e curiosa pela nova vida. Serpenteando velozmente por entre os carros, com o vento desarrumando meu longo cabelo – não era obrigatório usar capacete nessa época – a sensação é de liberdade plena e excitação com a nova vida.
Momento dois. Tenho três ou quatro anos de idade e minha tia Adiza acaba de me vestir e pentear. Sinto a aspereza do piquê do vestido, um tecido branco, encorpado, com minúsculos pois vermelhos salientes, e o cabelo repuxado para cima e torcido sobre si mesmo, abraçado no aperto do laço de fita em tafetá de seda. Titia arremata a obra com gotas de água de colônia Regina e diz para minha mãe: “Vem ver, Cleuza, como Clotilde está linda!” E eu, que sempre fui muito feia na infância, experimento esse raro momento onde sou envolvida por uma temporária aura de beleza.
Momento três. Sento-me ao computador para escrever. Não tenho assunto. Mas sei que, tão logo coloque os dedos sobre o teclado, os temas surgirão. Uma eletricidade toma conta das minhas mãos e se irradia para a ponta dos dedos. O coração “fica aflito, bate uma, a outra ‘faia’”, como na canção popular. Respiro fundo e vou em frente, com a cabeça cheia de ideias e a plenitude de poder compartilhar essas coisas com você, aqui e agora, meu caro leitor.
Comentários
Sem Comentários »
Categorias
Comportamento, Memória, Pop-filosofia, Qualidade de vida
Tags
felicidade
Comentários RSS Comentários RSS
Trackback Trackback

O “textão”

Clotilde Tavares | 6 de abril de 2021

Pessoas me mandam mensagens no privado: – Clotilde, pelamor, diminua o tamanho desses textos.

Rapaz, eu sou uma escritora.

Então, pedir a mim para escrever textos menores é a mesma coisa que…

… pedir a um cantor para cantar somente a metade da música.

… pedir a um engenheiro para construir somente a metade de uma ponte.

… pedir à costureira para fazer uma calça somente com um perna.

… pedir ao cirurgião para operar e deixar a ferida aberta.

… pedir ao padre para encerrar a missa antes da comunhão.

… você já entendeu.

Ninguém é obrigado a ler textão.

Há outras mídias onde os textos são limitados, como o twitter, onde só cabem 280 caracteres – aí o pessoal do textão inventou o artifício do “fio”, ou “thread”, pra poder encompridar a conversa.

Finalmente: eu escrevo do meu jeito e do tamanho que gosto. E você também lê do jeito e do tamanho que quiser. Se a gente se encontrar no meio do caminho dessa leitura, seremos felizes juntos. Se não, seremos felizes separados.

Simples assim.

Comentários
Sem Comentários »
Categorias
Comportamento, Tecnologia e Internet
Tags
escrever, escritor, leitor, leitura, textão, twitter
Comentários RSS Comentários RSS
Trackback Trackback

O Clube Peripécia de Leitura Teatral para Não Atores

Clotilde Tavares | 4 de abril de 2021

Quando lemos o Hamlet, sob o olhar paciente de Elizabeth I .

Todo mundo que me acompanha nas redes sociais sabe que eu tenho um Clube de Leitura, que criei e coordeno, existindo há três anos, praticamente sem interrupção, mesmo com a pandemia.

Pois bem: no primeiro ano de funcionamento, todo mundo já empolgado com a experiência de leitura e discussão coletiva, uma das pessoas me perguntou: – Clotilde, porque não lemos uma peça de teatro? E continuou: – Eu já tentei ler, queria ler, mas achei muito chato.

E é mesmo. As peças de teatro não são feitas para serem lidas, mas para serem representadas por atores em frente a uma plateia. O fenômeno teatral, além do texto, precisa de outros elementos para acontecer, como a cenografia, a sonoplastia e a interpretação dos atores. O texto é apenas mais um dos elementos da linguagem teatral.

Mas continuava o problema. Pessoas queriam ler peças. Como fazer?

Aí, em setembro de 2019, nós criamos o Clube Peripécia de Leitura Teatral Para Não Atores, que chamamos carinhosamente de “o Peripécia”.

Somos 11 pessoas, comigo 12. O número ideal de participantes, como a experiência nos mostrou depois de um ano de funcionamento, é entre 6 e 12. Menos de 6 fica muito restrito e sem animação. Mais de 12, dispersa. Somos pessoas de idades e formações diversas, e como regra principal temos: nada de atores ou pessoas ligadas ao teatro. Por que? Porque inibe os participantes, que ficam “acanhados” de ler teatro na presença de gente de teatro. No grupo temos professores de ensino médio e superior, advogados, cabeleireiros, aposentados, designers, comerciários.

Sentados: Hudson, Clotilde, Odete e Tinho. De pé: Elma, Rosaly, Eloiza, Fátima e Rosana. Estão faltando na foto: Emília, Joseane e Ana Claudia. A foto é de 2019.

E como funciona? Eu escolho uma peça e coordeno a leitura, que é feita “em círculo”, sem encarnar personagem, cada participante lendo sua fala, e o próximo leitor lendo a próxima fala. A leitura é simples, sem interpretação. O objetivo não é interpretar, porque sempre tem um que lê de forma mais expressiva do que o outro, inibindo quem é tímido ou desajeitado na leitura. O objetivo é o texto, é conhecer a obra. Não há plateia.

Tudo só funciona porque temos a incansável Eloiza Cirne, que organiza as reuniões, que começaram na casa dela e depois da pandemia passaram a ser virtuais, pelo zoom. Cabe a ela “juntar o povo” e cuidar do grupo de WhatsApp que mantém os membros informados das datas e horários. Na verdade, o Peripécia é dela, eu apenas escolho as peças e oriento a leitura.

Sempre nos reunimos nos domingos às 17 horas, primeiro presencialmente e agora pelo zoom. Nos adaptamos bem à nova plataforma e nos divertimos bastante. Quando a peça é grande, continuamos no domingo seguinte até terminar. Depois, damos um tempo de um ou dois domingos.

Já lemos:

Édipo Rei – Sófocles
A Mandrágora – Maquiavel
O Auto da Compadecida – Ariano Suassuna
O Tartufo – Molière
Hamlet – W. Shakespeare
A Farsa do Advogado Pathelin – Anônimo
O Moço que Casou com Mulher Braba – D. João Manoel
Aquele Que Diz Sim, Aquele Que Diz Não – Bertholt Brecht
A Cantora Careca – Ionesco
Romeu e Julieta – W. Shakespeare
O Pavão Misterioso – José Camelo de Melo Rezende

O grupo pediu para ler umas peças minhas, e eu fiquei toda feliz. Lemos Lamatown, O Dia em que Papai e Mamãe Fumaram Maconha e Os Contos de Fadas Politicamente Corretos.

Neste domingo, 4 de abril, vamos continuar a leitura do Sonho de Uma Noite de Verão, de W. Shakespeare, que começamos domingo passado.

Só resta dizer: saudemos Dionyso, e viva o Teatro. Evoé!

Comentários
Sem Comentários »
Categorias
Arte, Comportamento, Cultura, Qualidade de vida
Tags
Ariano Suassuna, Brecht, clube de leitura, Ionesco, leitura dramática, leitura em grupo, Maquiavel, Moliere, Shakespeare, Sófocles, teatro
Comentários RSS Comentários RSS
Trackback Trackback

O testamento do Judas

Clotilde Tavares | 3 de abril de 2021

Em Campina Grande, onde nasci e fui criada, era tradição malhar o Judas na noite de sábado de Aleluia. A gente construía o boneco, pendurava num poste, e ficava vigiando pra ninguém roubar; à noite, lia-se o testamento onde ele relatava as maldades e distribuía o que tinha. Depois, começava a malhação. Os testamentos eram muito engraçados mas esse que publico hoje já é fruto da minha mente mais madura e menos dada aos desfrutes da adolescência. Foi escrito há uns dez anos, e dormia sossegado numa gaveta. Agora, acordou.

O TESTAMENTO DO JUDAS – Versos de Clotilde Tavares

Eu vou ler para vocês
Com toda solenidade
O testamento de quem
Na vida só fez maldade
Foi só ódio e avareza
Zombou da honestidade
Praticou tanto a mentira
Que se esqueceu da verdade
Semeou fofoca e intriga
Cultivou a inimizade
Nunca soube o que era amor
Muito menos lealdade.

E o que diz o testamento
De quem nunca fez o bem?
– Não diz nada, meus amigos
Nada deixou pra ninguém
É uma página em branco
Nem uma linha contém.

E quem é essa pessoa?
Quem é esse marginal?
– É Judas Iscariotes
Que de forma tão brutal
Vendeu Jesus ao carrasco
Causando dor sem igual
Mas também é qualquer um
Que pratique obra do mal
Seja mulher, seja homem
Seja qualquer um mortal
Que tenha o crime na mente
Seja cruel, desleal
Ladrão, voraz e corrupto
Demagógico e venal
Falso, orgulhoso, bandido
Desprezível e imoral.

O Judas Iscariotes
Não está muito longe, não
Vive tão perto de nós
Ombro a ombro, mão a mão
É aquele parlamentar
Vendido à corrupção
É o burocrata cretino
Que nega autorização
Pelo prazer de negar
Porque ama dizer não
É o playboy dirigindo
Bêbado e na contramão
É o pai que abandona os filhos
É o padre que, no sermão
Prega uma coisa e faz outra
Sem a menor contrição
É o médico que atende mal
Buscando só o cifrão
É quem depreda o ambiente
Causando a poluição
Quem agride a natureza
Sem pensar no seu irmão
Quem liga o som nas alturas
Enlouquecendo o cristão
Quem falsifica remédio
Quem põe bromato no pão
Quem pratica só pecado
E prega a religião.

O fantoche pendurado
Que vemos nesta viela
Simboliza todos eles
Filhos de uma cadela
Vamos acabar com eles
Acabando por tabela
Com toda a raça de Judas
Aqui desta cidadela!

Mas antes de fazer isso
Eu peço mais paciência:
Vamos fazer autocrítica
Com a mão na consciência
Será que também não somos
Como Judas, com frequência?
É fácil olhar os defeitos
Dos outros na sua essência
E esquecer dos que nós temos
Disfarçar sua aparência
Posar de honesto e bonzinho
E simular coerência.
É certo que muitas vezes
Praticamos conivência
Permanecemos calados
Por medo e por displicência!
Vamos fazer este exame
Sem a menor complacência
Quem sabe não será isso
A sonhada transcendência
Que vai nos aproximar
Da mais divina indulgência?

Pois vamos malhar no Judas
Sem dó e sem compaixão
O tom da maldade humana
Da qual temos um quinhão
Mas vamos malhar sem raiva
Fazer disso diversão
Vamos malhar com alegria
Com prazer e com tesão
A raiva ofende a saúde
E contrai o coração
Dá cefaleia e gastrite
Provoca a hipertensão
Vamos fazer o brinquedo
Começar a malhação
Vamos lá, rapaziada!
Arraste o Judas no chão!

Versos de Clotilde Tavares

Comentários
Sem Comentários »
Categorias
Arte, Comportamento, Cultura, Curiosidades, Humor
Tags
cultura popular, folclore brasileiro, Judas, Malhação do Judas, poesia
Comentários RSS Comentários RSS
Trackback Trackback

Os sussurros das mulheres.

Clotilde Tavares | 3 de junho de 2020

Inaugurando hoje o podcast do ***Umas&Outras***, com assuntos variados. Toda semana um episódio novo. Nesta semana, falo sobre as mulheres escritoras que precisaram se esconder atrás de um pseudônimo masculino para terem suas obras aceitas e publicadas.

É só clicar no link.

https://youtu.be/N8zlps0l7WM

Comentários
Sem Comentários »
Categorias
Arte, Comportamento, Cultura, Humor, Sem categoria
Tags
Alma Mahler, Colette, escritor, escritora, escritoras, literatura escrita por mulheres, literatura feminina, Maria das Neves Batista Pimentel, mulheres cientistas, primeira cordelista, rosa montero, Virginia Woolf
Comentários RSS Comentários RSS
Trackback Trackback

Essa menina

Clotilde Tavares | 6 de janeiro de 2018

 

ESSA MENINA

Com uns dois meses de vida, rolou pela cama de casal onde eu a tinha deixado adormecida, caiu pela borda sobre o tapete e depois rolou novamente para debaixo da cama, onde eu a encontrei meia hora depois, toda coberta de poeira e teias de aranha, dormindo sossegadamente. Isso depois de eu quase enlouquecer pensando que alguém tinha entrado no apartamento e levado ela embora.

Com uns quatro anos de idade, ao ser proibida de fazer alguma coisa, ficava emburrada, pegava uma sacola onde colocava a fralda, a chupeta e a boneca e resolvia: “Vou para o Recife morar com meu pai!” Um dia, irritada com o desaforo, chamei um táxi e a levei até o portão. “Pronto, chegou seu taxi. Pode ir para o Recife morar com seu pai.” Ela parou, considerou a enormidade da situação e resolveu rápido: “Agora não. Depois eu vou.” E nunca mais repetiu a bravata.

Aos cinco aprendeu a ler, mas não entendia o que lia. “Mamãe, o que é morto-a-cacetadas-no-bairro-das-Rocas?” Era o que a leitora precoce queria saber, com a Tribuna do Norte nas mãos.

Aos cinco também me deixou plantada na porta da escola no primeiro dia de aula. Entrou alegre e satisfeita, enquanto todas as crianças berravam, sem quererem se separar dos pais. Mas no dia seguinte, quando a acordei para ir à aula, me perguntou espantada: “Ah! E é pra ir todo dia?”

Aos oito, no colégio, foi a única menina a escolher a aula de judô em vez do ballet. A diretora mandou me chamar, achando que havia algo “errado” com ela. Mas não era nada demais: ela apenas queria fazer aula junto com o namorado…

Aos nove, ganhou a primeira mesada e emprestou o dinheiro à coleguinha de classe, a juros de 50% a semana.

Aos onze, ia comigo para o ensaio do teatro, na Stabanada. Depois de uns quatro ou cinco ensaios, só assistindo, decorou a peça inteira e ganhou um papel depois que uma desistência desfalcou o elenco. Estreou aos doze anos no palco do Teatro Alberto Maranhão e logo depois no Festival de Inverno de Campina Grande.

Dali em diante, os palcos viraram o seu lar, e o resto é história.

 

Texto publicado no Facebook em 4 de janeiro de 2018, no aniversário da minha filha Ana Morena Tavares.

Foto de Ana aos 9 meses por Gleide Selma.

Comentários
1 Comentários »
Categorias
Comportamento
Tags
Ana Morena Tavares, histórias de crianças
Comentários RSS Comentários RSS
Trackback Trackback

Amor, paixão, essa-coisa.

Clotilde Tavares | 1 de agosto de 2017

namorados

Hoje o assunto é o amor.

Ô assunto complicado. Uns chamam de amor, outros chamam de paixão, outros de afinidade, outros de escrito-nas-estrelas. É essa coisa misteriosa, essa força centrífuga que lhe arranca de onde você está e lhe joga em cima de outra criatura, muitas vezes exatamente o oposto daquele ser ideal que você sonhava para a sua vida. Ai, amor, a quanto obrigas! Ai, surpresas do amor.

A criatura está assim distraída, à toa na vida, sentada no shopping ou no restaurante, quando aparece aquela pessoa que, assim que você põe o olho em cima, seu corpo se liquefaz, se derrete, que nem uma lava de vulcão, escorre pelo chão ficando na cadeira somente o vestido inútil, a bolsa esquecida, o relógio, o colar. Você não existe mais, derreteu-se, liquefez-se, desmanchou-se, apaixonou-se, incendiou-se.

Enquanto o amor-paixão-essacoisa consome a mata atlântica da sua vida com suas chamas incontroláveis, você descobre que a vida é boa, que você pode até morrer mas nem liga, que é preciso comprar novas taças, novos lençóis, novos óleos e incensos perfumados.

Tem coisas das quais você não abre mão – você continua sendo #ForaTemer – mas no resto, ah, no resto, o que é o amor senão dar razão a quem não tem? Se você quer ter razão, não serve pra amar, vá procurar outra coisa pra fazer.

Mas o bom é que tudo isso um dia passa. A ficha cai, a razão volta, o fogo recua e se solidifica outra vez, dando novamente uso ao vestido, à bolsa, ao relógio, ao colar. E você está pronta para outra, e você se lembra de Guimarães Rosa, quando disse que “o amor é um pássaro que põe ovos de ferro”.

Apois.

Comentários
Sem Comentários »
Categorias
Arte, Comportamento, Pop-filosofia
Tags
amor, apaixonar-se, armadilhas do amor, Guimarães Rosa, paixão
Comentários RSS Comentários RSS
Trackback Trackback

Estresse no shopping

Clotilde Tavares | 17 de maio de 2017

 

IMG_1995

Aí a criatura está em casa numa boa e resolve botar uma roupinha, um batom e ir no shopping comprar um cartucho pra impressora, uma meia, uma garrafinha térmica, umas coisinhas. Chega lá, compra as coisas, olha as lojas, encontra a maravilhosa Adriana Lamartine e toma um café junto com ela exercendo o doce ofício da amizade.

Adriana foi embora pegar Julia na escola e eu entrei na Centauro pra comprar um maiô de natação. Aí começou a confusão. Umas vinte pessoas entram gritando e correndo na loja, e você fica assim meio desnorteada sem saber o que é, até que uma vendedora lhe pega pelo braço, e diz, vamos, senhora, para o fundo da loja, venha, venha, e você vai com a sua salvadora pois todos já estão gritando que está havendo um assalto e que há tiroteio. Nos fundos da loja outros infelizes e aturdidos frequentadores estão lá tão apavorados quanto esta que vos tecla, um casal com uma criancinha de uns 15 dias, e o gerente já mandou baixar a porta de metal da loja e parecemos estar seguros lá dentro.

Depois de uns dez minutos, porta de metal levantada, tudo parece ter voltado ao normal, e a gente sai assim meio desconfiada para o corredor, onde há muitas pessoas andando desorganizadamente, olhando-se assustadas, ainda sem saber o que aconteceu – se é que já aconteceu, se é que já terminou. As coisas vão se acalmando, ninguém sabe o que foi, as hipóteses giram em torno de assalto a carro-forte, arrastão no piso 1 – que é o térreo, mas estamos no piso 2 – e finalmente a informação que foi uma pessoa que soltou umas bombas – de São João? – na parada de ônibus em frente causando susto e correria.

Tudo está bem quando acaba bem, já dizia W. Shakespeare, mas eu diria diferente: vivemos num mundo onde nos assustamos com tudo e onde o perigo ronda a todo tempo. Peguei minhas sacolas e vim para casa, lugar tranquilo e seguro, esperando ansiosamente o dia em que embarcarei para países estrangeiros onde vou passar um mês, desfrutando da experiência que é viver em paz e sem medo de tiros ou de balas perdidas.

Foi isso.

TEM MAIS: A minha salvadora na loja Centauro chama-se Joyce, e eu diria ao gerente que fique de olho nessa garota porque ela tem valor e boas qualidades. Foi rápida, bondosa, cuidadosa, proativa. Depois volto lá para comprar a ela. #Centauro #LojasCentauro

Comentários
Sem Comentários »
Categorias
Comportamento
Tags
Adriana Lamartine, estresse, Lojas Centauro
Comentários RSS Comentários RSS
Trackback Trackback

« Entradas Anteriores Próximas Entradas »

Tópicos Recentes

  • GERÚNDIOS
  • ROMANCEIRO VIVO
  • Estranhas iguarias
  • Adiza Santa Cruz Quirino, “Tia Adiza” (1916-1990)
  • Como escolher um texto para encenar na escola?

Tags

barulho barulho urbano biblioteca blog blogosfera Braulio Tavares cabelos brancos Campina Grande Cariri Cariri Paraibano Carnatal cinema comportamento humano corrupção Coxixola cultura popular Design escrever escritor Fotografia e design gatos Gerúndios Hamlet Harold Bloom hoax idade Internet leitura Literatura literatura de cordel livros meio ambiente Memória Moda mundo blog Natal Nilo Tavares padrão de atendimento Paraíba poesia sertão Shakespeare teatro turismo Viagem

Categorias

  • Arte (57)
  • Comportamento (202)
  • Cultura (103)
  • Curiosidades (62)
  • Fotografia e design (20)
  • Humor (44)
  • Memória (45)
  • Pop-filosofia (12)
  • Qualidade de vida (30)
  • Sem categoria (39)
  • Tecnologia e Internet (26)
  • Uncategorized (65)
  • Viagens e turismo (27)

Páginas

  • #DiretoDaBolha
  • Livraria
  • Quem sou?

Arquivos

  • julho 2024 (4)
  • julho 2023 (7)
  • março 2023 (1)
  • abril 2022 (1)
  • novembro 2021 (1)
  • junho 2021 (2)
  • abril 2021 (6)
  • agosto 2020 (1)
  • julho 2020 (1)
  • junho 2020 (1)
  • outubro 2019 (2)
  • abril 2018 (1)
  • janeiro 2018 (5)
  • novembro 2017 (1)
  • agosto 2017 (2)
  • junho 2017 (1)
  • maio 2017 (2)
  • março 2015 (1)
  • fevereiro 2015 (4)
  • janeiro 2015 (9)
  • julho 2014 (2)
  • maio 2014 (4)
  • dezembro 2013 (1)
  • setembro 2013 (6)
  • junho 2013 (1)
  • março 2013 (1)
  • setembro 2012 (3)
  • agosto 2012 (1)
  • maio 2012 (1)
  • fevereiro 2012 (1)
  • janeiro 2012 (1)
  • dezembro 2011 (5)
  • novembro 2011 (2)
  • outubro 2011 (3)
  • junho 2011 (1)
  • maio 2011 (2)
  • abril 2011 (3)
  • janeiro 2011 (14)
  • outubro 2010 (3)
  • setembro 2010 (11)
  • agosto 2010 (3)
  • julho 2010 (5)
  • junho 2010 (2)
  • maio 2010 (5)
  • abril 2010 (13)
  • março 2010 (19)
  • fevereiro 2010 (18)
  • janeiro 2010 (17)
  • dezembro 2009 (25)
  • novembro 2009 (28)
  • outubro 2009 (31)
  • setembro 2009 (29)
  • agosto 2009 (28)
  • julho 2009 (30)
  • junho 2009 (27)
  • maio 2009 (29)
  • abril 2009 (29)
  • março 2009 (6)

Agenda

maio 2025
D S T Q Q S S
 123
45678910
11121314151617
18192021222324
25262728293031
« jul    

Meta

  • Acessar
  • Feed de posts
  • Feed de comentários
  • WordPress.org
rss Comentários RSS valid xhtml 1.1 design by jide powered by Wordpress get firefox