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A batalha da Cultura

Clotilde Tavares | 16 de setembro de 2013
Solar da Madalena, um pedaço da história de Macaíba.

Solar da Madalena, um pedaço da história de Macaíba.

Na semana passada fui fazer palestra na Academia Macaibense de Letras, sobre um livro do escritor Octacílio Alecrim, o livro “Província Submersa” sobre o qual já falei aqui.

Para quem não conhece, Macaíba é uma cidade bem próxima a Natal, onde a gente chega de carro em trinta minutos. No final do século XIX e início do século XX foi o berço da nobreza açucareira do Rio Grande do Norte, junto com a cidade de Ceará Mirim, ambas no entorno da Capital. Depois, com a mudança do foco da economia, essas cidades perderam a sua hegemonia – sim, porque enquanto a cana-de-açúcar dominava a economia ambas as cidades eram mais importantes do que Natal.

Essa Academia pode a muitos parecer coisa de gente metida a besta. “Onde já se viu? Macaíba com Academia de Letras?”, é a frase que já ouvi algumas vezes. Na verdade, uma instituição como essa  – em qualquer lugar, em qualquer cidade – serve para preservar a memória, reunir gente interessada em letras e história, elevar a auto-estima da cidade, estimular os jovens à leitura, e um monte de outras coisas que eu poderia relacionar aqui e que, por extensa que fosse a lista, você provavelmente acrescentaria ainda mais alguns itens.

Então eu louvo essa iniciativa, e louvo mais ainda a paciência e o desprendimento dessas pessoas cujo esforço é pouco ou nada reconhecido.

O pior de tudo é que há instâncias – pessoas e instituições – que, além de não ajudarem, trabalham contra, como se pode ver nos dois exemplos abaixo, que refletem a falência da gestão pública na área da educação e da cultura.

1 – A palestra estava marcada para as 15 horas. Chegamos cerca de 14h15 e encontramos o local – Pax Clube – fechado. Depois de esperarmos em pé, em frente, durante uns vinte minutos, fomos (o presidente da Academia, juiz Cícero Martins de Macedo Filho, o acadêmico e historiador Anderson Tavares de Lyra e esta que vos tecla) à Secretaria Municipal que administra o prédio. Lá nos informaram que “o rapaz” que tinha a chave já tinha ido abrir o local. Voltamos, e nada. O camarada só chegou às 15h15. A essa altura já éramos vinte pessoas mais ou menos esperando de pé, ao ar livre, e escutei depois “o rapaz” dizer a um conhecido que, ao sair para abrir o local havia parado em casa para almoçar e depois havia esquecido!

2 – Uma das professoras presentes à palestra não foi liberada de boa vontade pela diretora da escola para comparecer. Segundo a diretora, somente professores de Português teriam direito a serem liberados para um evento na Academia de Letras, e a professora em questão era de História.

Então minha gente, haja força e energia para lutar a Batalha da Cultura, como dizia o grande Vingt-Un Rosado. Eu formo nessas fileiras, e quem sabe um dia a gente ganha a guerra?

———–

Mais sobre a Academia Macaibense de Letras aqui e aqui.

Blog de Anderson Tavares de Lyra.

Mais sobre essa entidade que atende por nome de “o rapaz”, e que tem como companheiras “a moça” e “o sistema”.

E finalmente, eu estou procurando um jeito de disponibilizar a íntegra da palestra aqui neste post. 

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Academia de Letras, Academia Macaibense de Letras, Anderson Tavares de Lyra, Literatura, Macaíba, Octacílio Alecrim
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Radinho de pilha e conjunto Ban-Lon

Clotilde Tavares | 10 de setembro de 2013

Eu estava lá no facebook, na página “Modinhas fora de moda” –  show que a cantora Fidélia Cassandra vai estrear no próximo dia 25 de setembro no Teatro Severino Cabral, em Campina Grande. Lá, encontrei a foto desse radinho de pilha e a pergunta: Alguém já teve um deste?

Eu tive. Papai era doido por novidades e um amigo dele trouxe um dos Estados Unidos – que naquele tempo a gente chamava “América”. Papai comprou e me deu de presente. Quando eu passava com ele na rua as pessoas paravam para ver, ninguém acreditava que era um rádio. A cidade era Campina Grande, o ano era 1960, a capinha de couro era marrom e o radinho era verde. Eu tinha 13-14 anos e a música que tocava era Chega de Saudade, com João Gilberto, que Mamãe chamava “o Cansadinho” – ela era fã de Nelson Gonçalves e não entendia como uma cara que não tinha voz e que cantava como quem tinha acabado de subir correndo uma ladeira pudesse gravar um disco.

Parceiro inseparável do radinho de pilha nessa época dourada da minha juventude era o meu conjunto Ban-Lon. Era esse o nome que a gente dava ao twin-set, conjunto de blusa e casaquinho que a moda ressuscitou agora depois de tantos anos. O meu foi comprado com sacrifîcio, à prestação, de uma conhecida de Mamãe que vendia roupas importadas. Era verde claro, os botões perolados, uma gracinha. Era importado, tinha uma etiqueta chique que causava sensação entre as minhas colegas de turma no Colégio Alfredo Dantas, que usavam os similares nacionais, muito feinhos. O meu não: era legítimo, era um luxo!
Este post é dedicado a minha amiga-de-infância e BFF Gladis Vivane, que tem um excelente blog sobre moda, o Salto Agulha. 
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anos 60, Ban-Lon, Campina Grande, conjunto Ban-Lon, João Gilberto, radinho, Radio de pilha
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GERÚNDIOS, a série

Clotilde Tavares | 8 de setembro de 2012

ESTOU…

… BEBENDO suco sem açúcar, chá e Yakult.
… CONTANDO calorias.
… COMENDO menos do que a fome pede e mais do que preciso para perder peso.
… ESCREVENDO obsessivamente.
… CAMINHANDO e cantando e seguindo a canção.
… LENDO os 6 volumes das Crônicas Saxônicas, de Bernard Cornwell – de novo.
… OUVINDO Tulipa Ruiz e Roberta Sá.
… COMPRANDO novos lençóis, pratos, copos, toalhas.
… AJEITANDO a casa.
… PREPARANDO livro novo para ir à gráfica até final do mês.
… SENTINDO frio em Setembro, pode? Aqui em Natal?
… ADIVINHANDO chuva.
… DORMINDO profundamente.
… SONHANDO sonhos calientes.
… ESQUECENDO de tudo minutos depois.
… ACOMPANHANDO o ponteiro dos segundos, que nunca se detém.
… OLHANDO o mundo por olhos que já vão ficando turvos, afogados nas cataratas da idade.
… ACENDENDO velas para Santa Zoraide na tela do meu iPhone.
… ACREDITANDO em milagres, sempre.

"Saudades de Noronha", tela de Flávio Freitas.

 

 

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Bernard Cornwell, Cronicas Saxonicas, Flávio Freitas, Roberta Sá, Tulipa Ruiz, Yakult
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Novidades

Clotilde Tavares | 5 de setembro de 2012

Queridos amigos, companheiros, parentes, assinantes de listas, gente que me segue no Twitter ou Facebook!

Chego até você cheia de novidades, mais uma vez exercendo a duvidosa e exótica função de assessora de imprensa de mim mesma, função essa que desempenho com algum tédio e enfado uma vez que não me pagam e nem me assinam a carteira.

Nesse mundo midiático, de comunicação instantânea e velocíssima, se a criatura passa mais de uma semana fora das redes sociais pensam logo que ela morreu ou mudou-se, esquecem nome, endereço e param de convidar pras festas. É por isso que lhe submeto a essa ladainha de atualização, para provar a você, ao mundo e sobretudo a mim mesma que continuo “viva e bulindo”, como dizem lá no meu interior; ou “aprontando de montão” no dialeto litorâneo.

Isto posto, informo que:

— Passei o mês de agosto entre João Pessoa e Natal. Foram 15 dias na capital parahybana, a chamada “Cidade das Acácias”. Tudo isso indo e voltando, divididos em três viagens. Passei ainda seis dias de cama, com essa gripe famigerada que está por aí; então para Natal sobrou menos de dez dias, sem contar que as conexões de Internet nos hotéis em que fiquei hospedada na Parahyba – Village e Caiçara – estavam erráticas e inconstantes.

A cidade vista ao longe, da praia do Cabo Branco.

— Em João Pessoa cantei parabéns para minha amiga querida poeta e shakespeariana Vitória Lima (03/08), minha sobrinha Luanda Tavares (05/08) e para a maravilhosa Sophia Loureiro (18/08), no esplendor dos seus quinze anos.

— Ainda na capital da Parahyba, durante o evento Augusto das Letras promovido pela FUNJOPE falei sobre o soneto Versos Íntimos, de Augusto dos Anjos. O evento foi muito bacana – de parabéns Lúcio Vilar e Carlos Aranha. Encontrei pessoas queridas na platéia da Academia Paraibana de Letras que recebeu minhas às vezes irreverentes e desataviadas palavras, além de matar as saudades dos terríveis, mal-comportados, talentosos e queridíssimos Astier Basílio e Alex de Souza.

— Até junho de 2013 estou na presidência do Rotary Club de Natal, o mais antigo do Rio Grande do Norte. Para quem não sabe, sou rotariana há doze anos, seguindo a tradição do meu pai Nilo Tavares. Isso significa que toda quinta-feira, no almoço, estou lá à frente da reunião, além de ter que dedicar tempo à administração do clube. O rotarismo é uma coisa do bem, da amizade, do companheirismo, da cordialidade, do dar-de-si-sem-pensar-em-si. Eu acho que parece comigo.

— Como se tudo isso não fosse suficiente, estou com um recital em cartaz, “TRAMAS: recital de música e poesia”, na companhia dos competentes Heliana Pinheiro, com sua voz de cristal, e Joca Costa, um dos maiores guitarristas que já vi tocar. Clique aqui para ver um trecho e fique atento para as datas das apresentações, que irei divulgando por aqui. Essas datas ainda são espaçadas, mas confio na Fama e na Fortuna, que provavelmente estão nos esperando em alguma esquina da nossa trajetória.

Só falta dizer duas coisas: a primeira é que estou bem de saúde, totalmente recuperada da cirurgia da coluna que fiz em março, cuidando da alimentação e sendo rigorosa e constante no treinamento físico que faço três vezes por semana; e a segunda coisa é que eu queria muito saber a quem emprestei os CDs com a 6ª. temporada da série The Sopranos. Emprestei, e esqueci a quem. Então, se foi a você, entre em contato.

 

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As esquinas da Avenida Brasil

Clotilde Tavares | 3 de setembro de 2012

Eu estava sábado no shopping quando um jovem aproximou-se de mim, identificou-se, e perguntou onde encontrar uma crônica que eu havia publicado há tempos no jornal. Escrevi na Tribuna do Norte/Natal-RN durante quase dez anos, de 1998 a 2007, todo domingo, e fiz uma grande legião de leitores. A prova disse é que mesmo depois de cinco anos afastada da colaboração semanal os leitores ainda se lembram de mim.

Para aqueles que não conhecem Natal, a Avenida Engenheiro Roberto Freire referida no texto é a que liga a cidade à Praia de Ponta Negra, destino turístico conhecido no Brasil inteiro. À margem dos seus poucos quilômetros situam-se bares, restaurantes, shoppings e todo tipo de empreendimento, com grande circulação de pessoas.

O título “Avenida Brasil” nada tem a ver com a novela de sucesso que a TV transmite toda noite uma vez que a tal crônica foi escrita em agosto de 2001, há exatos nove anos.

Se calou tão fundo na mente do leitor que me encontrou, por certo o tema continua interessante. Então, compartilho aqui.


 

Avenida Engenheiro Roberto Freire. Ao fundo, o Morro do Careca, cartão postal da cidade de Natal-RN

AS ESQUINAS DA AVENIDA BRASIL

(Publicada na Tribuna do Norte, em agosto de 2001).

Na criação dos filhos, uma das coisas mais interessantes são as perguntas que as crianças fazem. “Por que o céu é azul?” ou “Por que eu sou eu e não outra pessoa?” são questões que tive que responder quando meus filhos eram pequenos. Como ainda não se auto-censuram, perguntam exatamente o que querem saber, nos colocando muitas vezes em sérias dificuldades na hora das respostas.

A propósito disso é que um amigo me contou que, quando passa de carro com os filhos pela Avenida Engenheiro Roberto Freire fica sem saber o que dizer quando as crianças querem saber sobre os travestis, que são quase a marca registrada da Avenida e proliferam em cada esquina, exercendo o seu sofrido e controverso ofício. Lembrei-me então de uma matéria que saiu um dia desses nos jornais, onde algumas pessoas pediam a retirada dos travestis, por sua presença ser “ofensiva às famílias”.

Não tenho mais filhos pequenos, mas já tenho netos. E se eles viessem me perguntar o que são e o que fazem aquelas pessoas na esquina da Avenida, porque se vestem daquela maneira, descobrindo partes do corpo que habitualmente ficam ocultas, eu responderia simplesmente que são pessoas que usam o corpo como instrumento de trabalho.

Muitas pessoas trabalham com o corpo. O trabalho braçal, nas diversas atividades que exigem força física; os atores, que emprestam o corpo, o olhar, a voz e a energia para dar vida aos personagens que encarnam; os bailarinos e atletas, que domesticam sua musculatura para alcançar performances invejáveis; e também os chamados “trabalhadores do sexo”. Eu explicaria aos meus netos que estes últimos alugam temporariamente os seus corpos a outras pessoas, de comum acordo entre as partes, para que elas possam satisfazer desejos e fantasias, numa atividade que não me cabe julgar se é certa ou errada pois não sou dona da verdade.

Explicaria aos meus netos que aquelas pessoas que estão nas esquinas da Avenida só estão ali exercendo aquela atividade difícil e perigosa porque existe quem pague por isso, e que muitas vezes esses que pagam são os mesmos que, em outro momento, se dizem ofendidos com o ofício ali exercido. Quanto às roupas que usam, os trejeitos que fazem e a exibição de partes do corpo não iria precisar explicar nada pois meus netos já devem estar fartos de ver coisa igual ou pior todo dia na TV. Aliás, as coisas na televisão são tão bizarras que às vezes fazem os rapazes das esquinas da Avenida parecerem anjinhos de procissão.

Diria ainda aos meus netos que aqueles rapazes da esquina da Avenida são, antes de qualquer coisa, seres humanos com sonhos, emoções, planos e desejos como qualquer um de nós, e que se estão ali é porque não tiveram as mesmas oportunidades que eles, os meus netos, estão tendo.

Explicaria finalmente que o verdadeiro crime não é vender ou alugar o corpo, mas vender a alma, a consciência e a vergonha na cara.

E digo mais, caro leitor, a você, aos meus netos e a quem interessar possa: não troco um só dos rapazes da esquina da Avenida por uma centena desses figurões venais, corruptos e desonestos que empesteiam e denigrem não só a família mas a totalidade da nação brasileira.

Esses sim é que, a bem da moral e da decência, deveriam ser retirados das esquinas da grande Avenida chamada Brasil.

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Os sete pecados capitais

Clotilde Tavares | 2 de janeiro de 2012

Hyeronimus Bosch e sua representação dos sete pecados capitais.

Eu nunca tinha lido A Divina Comédia. Já li A Ilíada, A Odisséia, e Os Lusíadas, mas A Divina Comédia nunca. Aí me acontece que por força do ofício e da amizade, aceitei a incumbência de ler um trabalho de um amigo meu justamente sobre A Divina Comédia, com o objetivo de ver se o tal trabalho estava legal, se atendia às normas acadêmicas, essas coisas. Prudentemente, resolvi ler antes a obra, para não incorrer em nenhuma aberração conceitual ou estética, comprometendo assim a minha fama de pessoa culta e bem informada.

Li e achei um barato, mas fiquei muito impressionada com o Inferno. Nunca pensei que tivesse tanto pecado diferente no mundo. Todos os meus terrores de criança interna em colégio de freiras voltaram e eu passei bem umas duas noites sem dormir. E comecei a pensar nessa história de pecado.

No internato, no colégio das freiras, aprendi que existem dois tipos de pecado: os veniais e os mortais. Os veniais são pecadinhos bestas, como estirar a língua quando a professora está de costas ou tomar a cocada da mão do irmão menor. Os pecados mortais não. Esses são perigosos. São aqueles que levam você diretinho para o Inferno, que nos meus pavores de criança era pior, muito pior do que o Inferno de Dante. Hoje não acredito mais em Inferno. Mas acredito nos pecados. Nos pecados mortais. Naqueles que a Igreja chamou de pecados capitais.

Para quem não se lembra mais, os Pecados Capitais são sete. Desses sete, quatro são aqueles que se cometem contra o Espírito e que prejudicam tanto quem os comete quanto a pessoa contra a qual são cometidos. São a Ira, a Cobiça, a Inveja e o Orgulho. E desses, meu filho, Deus me livre. São uns pecados tão feios, tão cabeludos que eu acho que deveria existir mesmo Inferno para trancafiar de vez lá dentro todo mundo que fizesse esse tipo de coisa.

Mas os outros três, ah, meu caro leitor, os outros três são os pecados mais geniais e mais gostosos do mundo. São os pecados que se comete contra o Corpo e, se ofendem alguém, ofendem somente quem os comete. Seu efeito maléfico não se estende a outras pessoas. São a Preguiça, a Gula e a Luxúria.

E eu vou fazer o quê, pobre pecadora que sou dos pecados do corpo? Como o gato Garfield, sou deliciosamente preguiçosa, refinadamente gulosa e gostosamente narcisista, sendo o narcisismo a forma mais elaborada de Luxúria que pode existir.

Fazer o quê? Penitência? Ato de contrição? Ou será que o Inferno me espera, o de Dante e o outro, com seus abismos de fogo e lava prontos para me devorar? O que vocês acham?

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avareza, dante, divina comédia, gula, inveja, ira, luxúria, orgulho, pecado capital, pecados capitais, preguiça, soberba, vaidade
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Deixe de pantim!

Clotilde Tavares | 27 de dezembro de 2011

Um dia desses, discutia-se numa das listas que freqüento na Internet sobre o significado das palavras “pantim” e “muganga”. Bráulio Tavares escreveu sobre isso um dia desses no seu blog.

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Papai e Mamãe

Eu passei minha infância ouvindo as duas palavras, incorporadas no rico dialeto caririzeiro-paraibano que Mamãe falava.

Pantim é difícil de definir. É quando você faz algo para “distrair o inimigo”, ou seja, quando negaceia, disfarça, enrola… Ou quando você falsifica uma ação para obter algo que não quer explicar diretamente. Já muganga é trejeito facial ou corporal, careta.

Voltando ao “pantim”, o diálogo abaixo, travado entre meus pais numa noite, explica melhor:

– Nilo, onde tu tava até uma hora dessa? – Mamãe, direta e nada sutil, atacava com a pergunta.

– Mas minha filha, é somente uma da manhã.

– Sim, mas onde tu tava?

– Você sabe Fulano? – começava papai. – Presidente da Associação Comercial? Pois eu encontrei com ele ontem…

– Não tou falando de ontem, mas de hoje. Onde é que tu tava?

– Espere, eu preciso lhe explicar. Você sabe que em Campina, desde que o prefeito mudou, que todos esses órgãos, como a Associação Comercial, a Federação das Indústrias, a…

Era aí que mamãe interrompia, já impaciente:

– “Ômi”, deixa de pantim e diz logo onde é que tu tava até uma hora dessa!

(…)

Postei esse diálogo na lista para exemplificar o que era o tal do pantim. Aí Leo Sodré, participante da lista, escreveu:

– Mas, onde Nilo estava mesmo? É bem capaz de ter levado Omega nessa farrinha…” (Omega era o avô de Leo, amigo de Papai).

Eu escrevi:

– Nilo devia estar com Omega no cabaré de Zefa Tributino, ou na Unidade Moreninha. Os dois assinavam ponto num ou noutro lugar toda noite.” (As referências são à vida noturna de Campina Grande na década de 1950/60)

Aí Bob Motta, que é poeta, escreveu:

Nilo tava c’á bixiga, (A)
e se sintindo no céu. (B)
Lhe juro, Crotilde, amiga, (A)
foi de beréu in beréu. (B)
Teve lá no Canaríin, (C)
dispôi saiu de finíin, (C)
mode qui num tava só; (X)
duis putêro de Campina, (D)
visitô os das Bunina, (D)
da Prata e Bodocongó… (X)

O poeta Bob Motta.

(Veja o esquema de rimas: o 1º verso rima com o 3º; — o 2º com o 4º; — o 5º com o 6º; — o 7º com o 10º; — e o 8º com o 9º. A estrofe é uma décima que comporta variados esquemas de rima, sendo este citado apenas um deles. A métrica é sete sílabas, redondilha maior, que você reproduz pronunciando em voz alta as palavras “ma-ra-cá, ma-ra-ca-tu”. Além disso, Bob Motta usa a chamada “linguagem matuta”, que consiste em um “português estropiado” – que não é usada nem pelo cantador de viola, nem pelo autor de folhetos de cordel e nem por mim, que procuramos usar sempre o português correto, mas é característica da chamada “poesia matuta”, cujo principal representante foi o poeta Catulo da Paixão Cearense. Forneço essa explicação para que as pessoas entendam como é complexa e rica a arte da poesia popular nordestina.)

Eu, que não deixo verso sem resposta, respondi seguindo o mesmo esquema, mas no calor do improviso deixei escapar a rima da terceira linha.

Nilo não tava sozinho
Na rota da sacanagem
Com o seu amigo Omega
Em total camaradagem
Lá em Zefa Tributino
Beberam uísque do fino
Com Paraguaíta e Nina
E com Chiquinha Dezoito
Pintaram o sete e o oito
Nos cabarés de Campina…

Bob Motta escreveu, repondendo:

Nilo tava de zonzêra,
lá na Ìndios Carirís,
bebeu quage a noite intêra,
no Canaríin, pidiu bis.
Na Unidade Moreninha,
lá nais Bunina intêrinha,
o peste num tava só;
tava prá lá de intêro,
foi in tudo qui é putêro,
da Prata e Bodocongó…

Aí eu fechei:

E quando chegou em casa
Mais pra lá do que pra cá,
Cleuza já tava na brasa
E começou o fuá:
Neguinho, conte direito!
Me conte de todo jeito,
Eu lhe peço mesmo assim!
Onde tu tava, maldito?
Tu acha isso bonito?
Ômi, deixe de pantim!


Este post é dedicado à pesquisadora Maria Alice Amorim, minha especial amiga, cujo trabalho sobre poesia popular está merecendo um post especial somente para ela, coisa que venho devendo há meses.


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Quatro histórias e um samba

Clotilde Tavares | 26 de dezembro de 2011

Pouco antes do Natal, a reportagem do Correio da Paraíba quis saber qual era a obra literária ou musical que eu gostava e que tivesse como tema o Natal. Lembrei logo do conto “O peru de Natal”, de Mário de Andrade, onde o autor desconstrói o sentimento natalino de amor e congraçamento, estabelecendo uma narrativa que parte exatamente do contrário; a vingança. Só que, na contramão do que se poderia esperar, as coisas vão se adoçando ao longo da história e esta se conclui deixando no leitor um sentimento de que, apesar de tudo, as coisas podem ser boas, e que a felicidade é possível.

Aí, eu comecei a me lembrar de outras narrativas sobre o Natal, das histórias engraçadas sobre presentes e pedidos ao Papai Noel – como o do garoto que pediu ao bom velhinho um ônibus de presente, para que a mãe, que precisava andar de ônibus e que sempre pegava o coletivo lotado, pudesse ter um ônibus só dela, para viajar com mais conforto.

Por tabela, e dessa vez sem ter nada a ver com o Natal, lembrei também da história do estudante, filho de milionário dos emirados árabes, estudando em universidade inglesa. O rapaz, acanhado de chegar todo dia na escola em luxuoso Rolls-Royce, falou desse incômodo ao pai, e referiu que todos os colegas iam para a escola de trem. O ricaço não vacilou e comprou um trem para levar o filho à aula.

Voltando ao Natal, há uma história muito meiga. O padre viu que uma garotinha entrava sorrateiramente na igreja e tirava a imagem do Menino Jesus do presépio. Lá fora, surpreendeu a menina colocando a imagem da cestinha da bicicleta nova, e preparando-se para pedalar. “Onde pensa que vai?”, perguntou o padre. Ela respondeu: “Ah, padre, eu rezei muito para o Menino Jesus pedindo uma bicicleta de Natal, e prometi a ele que se ganhasse vinha buscá-lo para dar uma volta…”

Finalmente, nada melhor do que um dos meus sambas preferidos, “Véspera de Natal”, do grande Adoniran Barbosa, onde o poeta narra uma estranha e patética aventura.

“Véspera de Natal”, de Adoniran Barbosa

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Adoniran Barbosa, histórias de Natal, Mario de Andrade, O peru de Natal, Papai Noel, Véspera de Natal
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A trama da renda

Clotilde Tavares | 25 de dezembro de 2011

Sempre gosto de, no final do ano, fazer um apanhado das coisas que realizei no período. Isso porque tenho às vezes a tendência de achar que o tempo está passando e eu não estou fazendo nada.

Este ano de 2011 foi muito produtivo e estou feliz com o que andei aprontando. Só pra você ter uma ideia:

Lancei dois livros novos: “O Verso e o briefing: a publicidade na literatura de cordel”, lançado em Natal (agosto) e Recife/Bienal de Pernambuco (setembro); e “Um herói do cotidiano: vida e advocacia de Leidson Farias”, lançado em Campina Grande, em dezembro.

Fiz palestras em eventos, escolas e universidades. Muitas.

Aprendi a ler sumariamente uma partitura musical e executá-la ao piano. Eu disse: sumariamente. Mas continuo estudando.

Estou cantando em coral, no naipe dos baixos – sim, a minha voz é estranha e linda.

Apareci um monte de vezes em jornais e programas de TV. São as saudades do palco, que procuro amenizar dessa maneira.

Twittei muito e bloguei pouco. Mas não deixei nenhum e-mail pessoal sem resposta.

Escrevi muito, e há textos novos para publicar no próximo ano.

Desfrutei de incontáveis horas de boa leitura.

Também vi TV, filmes e séries, minha paixão.

Perdi dez quilos e reencontrei minha cintura.

Encontrei amigos queridos em volta de cafezinhos e boas ideias.

Viajei e conheci gente nova, interessante e talentosa.

Continuei saudável e com todas as taxas normais.

Troquei meu velho Palio-1996 por um carro vermelho e mais novo.

E você, meu caro leitor, participou comigo desses momentos, nem que seja apenas lendo essas mal tecladas linhas. Por isso quero lhe agradecer por me dar essa felicidade.

Quanto a 2012, eu não faço pedidos para o Ano Novo.

Aprendi, na idade em que estou, a não me incomodar muito com o futuro, e não me deter muito nas recordações do passado. O presente, que está aqui e agora, é tudo o que me interessa. Penso que a vida é como uma renda feita de linha colorida, toda enrolada em um novelo que eu vou puxando com minha agulha de crochê e vou tecendo, ponto por ponto, um de cada vez, um enganchado no outro, enquanto houver linha, enquanto as mãos puderem segurar a agulha e enquanto a mente puder conceber a trama da renda.

Então, mãos à obra!

A foto acima foi feita por Kaleb Melo surpreendendo-me em plena ação enquanto dava oficina de teatro para o Elenco Mosh.

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atividades em 2011, planos para 2012, prestando contas, relatório
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As coisas supérfluas

Clotilde Tavares | 23 de dezembro de 2011

O post abaixo é um dos textos do meu livro Coração Parahybano que você pode baixar gratuitamente clicando aí ao lado, no topo da coluna da direita deste blog.


O Natal se aproxima e com ele todo o cortejo de rituais e tradições desta festa que já foi pagã, hoje é cristã e, do jeito que as coisas andam, talvez se torne pagã novamente, trocando as igrejas pelos shopping-centers e as divindades cristãs pelos ídolos da TV com os quais todo mundo quer se parecer. As tais catedrais do consumo estão repletas de pessoas em busca das “lembrancinhas” que, mesmo simples e baratinhas, tornam todo mundo tão feliz. Prudentemente, fiz todas as minhas compras até domingo passado e agora me divirto apenas em fazer os pacotes e pensar na mensagem que vou escrever para cada um.

Gosto de me lembrar dos presentes que ganhei ao longo dessas décadas de vida, e foram todo tipo de presente. Nunca consegui me esquecer de um pianinho de dez teclas, do dó ao mi, que ganhei de Papai quando tinha dez anos. Ficava horas, sentada no chão, tirando melodias no pequeno teclado e sentindo falta de alguns sons que somente depois descobri em um piano maior, escondidos nas teclas pretas que o meu pianinho não tinha.

Ganhei brinquedos e livros quando era criança, roupas e livros em mocinha, jóias, bijuterias, perfumes e livros depois de adulta. Até hoje, continuo ganhando livros, sempre acompanhados dos presentes que gosto mais: bijuterias, perfumes, écharpes, caixinhas de madeira e porcelana, leques, cadernetas…

E fora os livros, é claro, gosto muito mesmo dessas pequenas bobagens que muitas vezes não servem para nada e das quais já temos um bom número. Supérfluas, desnecessárias, por isso mesmo fazem a nossa festa e a nossa alegria, porque presente tem que ser algo extra, algo diferente, e presentear com aquilo que normalmente a gente tem que comprar no dia-a-dia é a coisa mais sem graça do mundo.

É como aquele garotinho de uns quatro anos que vi na loja e que, enquanto os pais escolhiam para ele uma roupinha, gritava em alto e bom som: “Mas eu não quero essa roupa normal! Eu quero um traje completo do Homem-Aranha!” Esse meninozinho, para mim, é o símbolo do Natal, neste ano de 2005. Sair do lugar comum, da roupinha linda e de griffe mas ao mesmo tempo chata e convencional, e ousar no traje diferente, cheio de atitude, na “roupa do Homem-Aranha”. Pensar diferente, sair da mesmice, fazer algo inusitado e, principalmente, desfrutar do supérfluo.

Como disse o imortal William Shakespeare, no “Rei Lear”, Ato II Cena 4: “Até os homens mais pobres precisam de coisas supérfluas”.

Feliz Natal.

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