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Pensamento lateral

Clotilde Tavares | 4 de agosto de 2010

Eu estava um dia desses cá comigo pensando em como algumas manifestações da cultura popular, peincipalmente da literatura oral, contribuem para formar uma mente aguçada, com capacidade de pensar de forma criativa levando e facilitando a solução de problemas. São as adivinhas, os contos que propõem enigmas e charadas, as brincadeiras e jogos com números, os jogos de salão onde somos levados a supor, adivinhar, arriscar.

O pensamento é uma função cerebral como qualquer outra, e pode ser exercitado. O problema é que a gente tem muita preguiça de pensar. Sentamos diante da TV e ficamos passivos, estupidificados, recebendo tudo aquilo que nos mostram sem criticar, sem analisar, sem refletir. Temos preguiça de adivinhar, de tentar, de palpitar. Queremos saber da solução antes de termos sequer lido direito o enunciado do problema.

Ora, minha gente! Se o pensamento é uma função, pode ser exercitado. Se a gente se dedicar todo dia a atividades que nos façam usar essa capacidade, poderemos aprimorá-la, da mesma maneira que praticamos a habilidade em executar um instrumento musical ou a de caminhar oito quilômetros em uma hora. É uma simples questão de condicionamento.

Quando começamos a exercitar o pensamento, começamos também a descobrir outras formas de operações mentais, como o chamado pensamento lateral, considerado como uma excelente arma para descobrir soluções novas e criativas para problemas antigos.

Um exemplo do pensamento lateral é colocado pela adivinha “O que é que anda com os pés na cabeça?”, impossível de ser respondida enquanto a mente continuar pensando linearmente que os pés e a cabeça mencionados são da mesma criatura.

Quando a mente se liberta desse preconceito que é dela mesma, já que não está explícito na adivinha, a resposta vem simples e clara: “Piolho.” Os pés de uma criatura e a cabeça de outra. Isso é que é o pensamento lateral.

E vejam essa historinha:

Dizem que um homem devia muito dinheiro a um agiota, que aceitou receber em troca da dívida a filha do devedor. Lá foi então a moça, como quem ia para a morte. O agiota achou pouco e quis ainda se divertir às custas da pobrezinha.

– Minha jovem – disse ele, – tenho aqui nas minhas mãos fechadas duas pedrinhas: uma preta e outra branca. Você vai escolher uma delas. Se escolher a branca, eu lhe liberto do compromisso e perdôo a dívida do seu pai. Se tirar a preta, nada feito: terá que ser minha mulher.

É evidente que ele tinha colocado nas mãos fechadas duas pedrinhas pretas, porque queria ficar com a moça de qualquer jeito. Ela, muito viva, desconfiou da intenção do agiota mas pensou depressa, escolhendo uma das pedrinhas mas antes que se visse qual era deixou-a cair no chão, onde a pedra se perdeu entre o cascalho.

– Que desastrada sou! – falou a jovem. – Mas não há problema: o senhor me mostra a pedra que restou, cuja cor deverá ser oposta à cor daquela que escolhi, e que se perdeu.

O agiota então foi obrigado a mostrar a pedra que restava, que era preta. A moça, inteligente e ladina, foi salva e a dívida do seu pai perdoada graças a quê? A uma mente arguta, lúcida, ágil e esperta, dote e habilidade de que muitas vezes abrimos mão por preguiça, comodismo e falta de informação.

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O “meu” banco?

Clotilde Tavares | 30 de julho de 2010

Hoje fui protagonista de uma aventura que muitos brasileiros fazem todo dia: fui ao banco pagar uma conta. Mais precisamente na agência do Natal Shopping, onde cheguei às 13h31 e fiquei na fila do atendimento por mais de uma hora e meia, tendo admitida à boca do caixa ás 15h05.

Tudo estaria normal se na minha cidade – Natal/RN – não existisse uma lei municipal que prevê que o tempo máximo que o cidadão deve permanecer na fila é de meia-hora. Meia-hora, meu caro leitor. TRINTA minutos. E hoje eu gastei exatamente NOVENTA E QUATRO minutos para chegar à boca do caixa, isso mesmo porque, como pessoa idosa, tenho direito a atendimento preferencial. Avalie quem tem menos de 60 anos o que não deve sofrer naquele banco.

Cerca de oitenta pessoas estava na agência, e esse número se manteve praticamente constante durante o tempo em que estive lá. Havia umas 50 cadeiras, e muita gente de pé, incluindo gente mais velha do que eu.

Quando passou da meia-hora, liguei para o Procom. O atendente perguntou meu nome, registou a reclamação e disse que a fiscalização estava indo para o banco. Isso foi às 14 horas, mas saí de lá 15h30, depois que fiz os meus pagamentos, e não vi fiscalização nenhuma chegar.

Nunca fiz reclamação ao Procom, por isso não sei qual é o “protocolo”. Hoje, fiquei insatisfeita por não ter retorno da minha demanda. Liguei para lá de novo, e o atendente – era outro – me disse que a fiscalização não tinha condições de atender a todos os chamados – o que é razoável; e que se eu quisesse podia ia lá registrar a queixa.

Fiquei sem saber se o banco vai ser multado ou não. Fiquei sem saber se a fiscalização foi lá ou não.

Era apenas três caixas funcionando no Banco, numa agência sempre muito movimentada e no último dia do mês.

Queixei-me à funcionária do caixa que me atendeu a respeito da demora e invoquei a lei do atendimento em meia hora. Com muita delicadeza ela me informou que “a pessoa que fez a lei nunca havia sido caixa de banco”, o que me lançou em profundas reflexões sobre o ato de legislar. Então só homicidas podem fazer leis sobre homicídio?

Outra coisa que a gentil funcionária me informou foi que eu “havia ido ao banco num dia ruim, o último dia do mês”. Eu contrapus que a lei não dispõe sobre isso; que não há nenhum artigo sobre a exigência dos trinta minutos ser dispensada no último dia do mês. Finalmente ela disse que isso – a demora no atendimento – só acontecia porque as pessoas não usavam as máquinas que o banco tão generosamente colocava à disposição de todos.

Ainda levantou a possibilidade – tudo com muita gentileza – de que talvez eu pudesse ter usado as máquinas para o pagamento que eu ia fazer. Eu, também muito gentilmente, mostrei a ela o aviso impresso no DARF que eu estava apresentando no caixa. Como eram impostos atrasados, eu era OBRIGADA a pagar na boca do caixa.

Do episódio todo, fiquei com as seguintes impressões:

– O Procom atende com gentileza mas a gente fica sem saber se a queixa surtiu efeito ou não.

– Não sei se há site do Procom na Internet no qual eu possa reclamar. O atendente não me informou.

– A funcionária do Banco, sempre com muita gentileza, procurou argumentar comigo como se eu fosse uma débil-mental.

– Não adianta de nada este banco abrir na tela do meu computador dizendo que é “o banco da Clotilde”. Não é mesmo! Como poderia ser, tratando-me assim?

– Perdi duas preciosas horas da minha vida, roubadas ao trabalho que estava fazendo.

– Das cerca de oitenta pessoas que estavam na agência, a não ser eu, nenhuma reclamou, e também eu não encontrei solidariedade de ninguém na hora que reclamei. As pessoas desviaram o olhar quando eu reclamei em voz alta.

– Enquanto todo mundo ficar calado e não reclamar, nada vai mudar. Eu fiz – e faço – a minha parte.

Tenho os comprovantes de atendimento fornecidos pelo Banco, com os horários discriminados, para comprovar tudo o que afirmei aqui.

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A produção das deusas

Clotilde Tavares | 2 de maio de 2010

Não entendo porque as pessoas insistem em divulgar emails do tipo “as 50 tops mais lindas do mundo sem fotoshop e sem maquilage”.

Olha, minha gente: eu acho isso uma bobagem e nem quero ver!

Modelo não é gente. Modelo é uma coisa bonita, construída com disciplina, trabalho, maquilage, massagens, dietas, exercícios e seja lá mais o que for necessário para dar a elas esse aspectos de deusas xstra-terrenas, de seres celestiais, de divas inconsúteis, que nos fazem sonhar e abominar nossos sessenta e cinco quilos em um metro e quarenta e oito.

Lá, no fundo daquela construção midiática, existe uma menina de verdade, uma moça que sonha, que acorda de manhã, vai ao banheiro, escova os dentes e vai para a cozinha arrastando os pés tomar seu iogurte exatamente como eu faço e como você faz todo dia.

Mas ninguém está disposto a ver isso, a pagar para isso. Todos querem ver a deusa no seu pedestal, com roupas de griffe, maquilage estranha, cabelos irreais, longas unhas, olhar 45. É uma indústria como qualquer outra, com milhões de dólares em jogo, como qualquer outra indústria.

Assim, não queiram me mostrar essas fotos. Eu me recuso a vê-las, da mesma forma que me recuso a eliminar a Fantasia e o Sonho que existe na minha vida e que se reacende toda vez que vejo aquelas criaturas belas e espetaculares.

Se o ideal de Beleza que a mídia constrói e transmite através delas é  impossível de ser alcançado, levando a mulherada em peso gastar os tubos na indústria das academias, cirurgias plásticas e produtos de beleza, isso é outra história, que não estou discutindo aqui.

Eu não quero ser como as super-models, nem poderia. Tenho minha própria vida e minhas próprias coisas para fazer, que não têm nada a ver com aquilo que elas fazem. Mas que gosto de vê-las desfilar nas passarelas ou piscarem para mim nos comerciais, ou encontrá-las imóveis e tão lindas nas páginas das revistas, ah, isso eu gosto, e muito.

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O texto e o som

Clotilde Tavares | 26 de abril de 2010

Eu estava navegando na internet e li uma notícia muito interessante. Richard Johnston, um estudante de pós graduação em Harvard e coordenador de um projeto sobre Shakespeare, recomenda a leitura e a audição ao mesmo tempo da peça Hamlet. É só fazer o download para o seu e-reader (o meu é o PRS-600 da Sony) do texto e do audio-book.

O e-reader permite a execução simultânea de ambos – som e texto – e deve ser interessante, pelo menos para mim, que estudo o texto do Hamlet há bastante tempo e nunca tinha tido essa idéia. E é claro que isso pode ser feito com muitas outras obras. Já existem audio-books disponíveis para download de muitas obras clássicas em português e é uma forma interessante de unir Literatura e tecnologia. Não precisa ter e-reader. O áudio, geralmente em MP3, pode ser ouvido enquanto se lê o livro de papel.

Penso que isso poderia ser utilizado para que os alunos pré-vestibulandos tivessem um acesso mais “suave” às obras que devem obrigatoriamente ler para o vestibular. Isso tem a ver comigo neste ano pois o meu livro A Botija foi indicado para o vestibular 2011 da Universidade Federal de Campina Grande, e já começam a chegar ao meu email pedidos para que eu “ajude” professores e alunos a “transformar” o livro em “peça-de-teatro”.

Entre os professores de colégios e cursinhos há uma tendência em se transformar os livros em peças de teatro para que os alunos “conheçam a história” e “mantenham o pique” nas aulas de Literatura. São coisas que a gente ouve comumente na TV, nas matérias dos telejornais, quando se aproxima a época das provas. Um dia desses vi um dos professores entrevistados sobre o tema dizer que dessa forma “os livros ganham vida”.

Ora, minha gente! Eu milito tanto no campo do Teatro como no campo da Literatura, e fico bem à vontade para falar sobre ambos. Os romances não são meras “histórias” e não é bastante saber “o que aconteceu”. Um romance é o estilo, é a forma de contar a história, de costurar o enredo, é o uso precioso da linguagem. Um romance pode ser adaptado para o teatro, mas o resultado não vai nunca ser o romance: vai ser uma outra obra, usando uma linguagem diferente, a linguagem da cena.

E desde quando os livros só “criam vida” se forem representados no palco? Os livros criam vida na tela da nossa mente, que se torna um palco interior, povoado pelas imagens evocadas por aquilo que lemos.

Parece que o problema está aí. Entendo a imaginação como a capacidade de criar imagens mentais, e penso também que essa capacidade anda um pouco atrofiada nas mentes dos espectadores em que nos transformamos todos. Nossa vida moderna depende sempre de um écran, de uma tela: televisão, computador, games, vídeos, mostrador de celular e os inúmeros monitores espalhados pelo ambiente urbano que nos dizem o que queremos ou precisamos saber.

Então, o cérebro se acostuma a receber essa imagem já pronta e perde a capacidade de formar suas próprias imagens a partir de mensagens escritas. Por isso, o prazer dos romances deixa de existir, e é preciso transformar esse romance em “imagem” (a peça de teatro) para que ele possa tornar-se “vivo”.

Um dia desses ouvi na livraria uma jovem dizendo a outra, que manuseava um romance: “Ver um filme, tudo bem, mas ler um livro desse inteirinho… Sem condição!” E eu concordo que realmente não há condição da criatura ler um livro de trezentas páginas se ela não consegue visualizar, imaginar, criar mentalmente cenas e personagens.

É uma pena, pois além dos jovens estarem perdendo essa capacidade com a omissão ou concordância do sistema de ensino, a imagem que as telas de todo tipo jogam na mente deles já vem pronta, acabada, carregada de um conteúdo que, muitas vezes, ele não pode nem sabe criticar.

Nesta semana uma simpática jovem me enviou um email, pedindo-me para “ajudar” o grupo de alunos a transformar o meu livro em peça, num Seminário de Literatura do qual iam participar. Aí eu perguntei se, como se tratava de um seminário de Literatura, por que queriam transformar um livro em teatro? Seria a mesma coisa que, num seminário de Teatro, em vez de apresentarem as peças, as transformassem em livros e dessem para a platéia ler!

E você? O que pensa disso tudo?

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Bruges e o flâneur

Clotilde Tavares | 17 de abril de 2010

Quem disse que a gente só viaja se for lá, de corpo presente, no lugar?

Uma das boas formas de viajar é virtualmente, vendo países distantes sem sair de casa com a ajuda de blogs, e do Google Earth.

Assim é que descobri esse blog maravilhoso, cheio de posts de lugares lindos, com fotos muito boas e informações.

Uma das fotos que gostei mais fala sobre o “flâneur”, que é aquela pessoa que conjuga o verbo “flanar”, verbo que eu ouvia muito na casa dos meus pais, mas que está em desuso neste nosso tempo de horários estritos e agendas lotadas.

Flanar é andar à toa, sem lenço e sem documento, sem pressa, sem roteiro e sem destino, “no giro da venta” – como se diz aqui no Nordeste. E “flâneur” é o cara que flana.

A placa da foto diz o seguinte: “Um flâneur é alguém que perambula sem destino, sem pressa, alguém que vagueia por uma cidade sem um propósito definido mas em sintonia secreta com a história desse local, numa busca velada de aventuras estéticas ou eróticas”.

E não preciso dizer mais nada.

A luxuosa tradução é do meu irmão BT (http://mundofantasmo.blogspot.com)

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A cama show

Clotilde Tavares | 16 de abril de 2010

Cama de Jacqueline Kennedy-Onassis

Um dia desses fui em casa de uma pessoa conhecida e por algum motivo tive que ir ao interior da casa; vi então que a cama não estava feita, ou melhor, que os lençóis estavam apenas recolhidos para os pés da cama, os travesseiros amarfanhados guardando ainda o formato da cabeça de quem havia dormido ali.

Comentei com uma amiga sobre isso e ela disse: “Ah, Clotilde, pois eu também não forro as camas. Dá trabalho, e à noite vamos ter que desmanchá-las de novo para dormir! Assim eu acho que não vale a pena.” E perguntando a uma e a outra eu descobri que muita gente que não tem empregada e que faz sozinha ou com a ajuda do marido e dos filhos as tarefas domésticas não tempo nem costume de forrar as camas diariamente.

Cama de Napoleão Bonaparte em Versailles.

Pois eu aprendi desde menina quando fui interna no colégio de freiras a forrar a cama todo dia de manhã. E depois de adulta sempre ficava encantada com as maravilhosas camas dos hotéis em que me hospedava. Adorava chegar num hotel e me refestelar naquelas camas maravilhosas, cheias de lençóis, colchas, edredons, travesseiros altos e fofos, tudo meticulosamente arrumado.

Assim, numa época – há bem uns 20 anos – em que as camas-box não eram ainda tão acessíveis, comprei uma para mim e passei a produzi-la como uma cama de hotel. Bons lençóis, travesseiros fofos, edredons, almofadinhas, tudo combinando, com cores que variam a cada semana.

Assim o faço até hoje.

Cama de Ernest Hemingway.

Tenho 62 anos, sou aposentada, escritora e blogueira em atividade e moro sozinha. Forrar a cama exerce um efeito muito benéfico na minha vida, pois quando entro no quarto para dormir todas as noites e vejo aquela cama show, sinto que não posso me deitar ali com o moleton ou o vestidinho caseiro que estava usando no sofá para ver TV. Seria quase como “estragar” a produção da cama. Aí, entro no banheiro, tomo um banho morno, visto uma camisola, escovo o cabelo, boto perfume…

Faz toda a diferença e não preciso estar dormindo acompanhada para sentir isso.

Parece bobagem, não é? Pois para mim, a cama-show é o barco que me levará aos calmos oceanos dos sonhos, aos mares tranqüilos do repouso reparador e que me trará, depois dessa viagem noturna, ao porto seguro da manhã seguinte.

Uma das versões da minha cama-show.

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Criança feliz

Clotilde Tavares | 13 de abril de 2010

Vivo cercada por jovens, começando pelos filhos e sobrinhos, os amigos desses filhos e sobrinhos e os alunos e ex-alunos que sempre estão em torno de mim naquele eterno vai-e-vem que me deixa tão feliz.

A maioria deles vai casar, casou há pouco ou tem filhos pequenos. E me perguntam, até levando em conta minha condição de ter sido profissional de saúde durante boa parte da minha vida, quais são as coisas mais importantes para a saúde dos seus filhos.

Ora, é claro que são importantíssimos todos os cuidados gerais com a saúde da criança, como a observação do crescimento e desenvolvimento, as vacinas, a prevenção de problemas ortopédicos, a alimentação adequada, o sono. Mas existem três coisas que, na minha maneira de ver – e digo isso também como mãe – são fundamentais para uma criança.

A primeira delas é a segurança. E isso significa que a criança precisa saber que os pais estão por perto, que estão cuidando dela, que ficarão do lado dela quando for preciso, e que ela pode confiar neles. Pra se sentir segura, a criança precisa também de horários pra dormir e pra se alimentar. Precisa ainda de um lugar só dela, onde ela possa guardar seus objetos e brinquedos e ficar sozinha quando quiser. E precisa de disciplina, de limites, precisa saber exatamente o que pode e o que não pode fazer. Isso dá segurança a qualquer pessoa, e não somente à criança.

A segunda coisa que a criança precisa é a possibilidade de brincar. Hoje em dia, as crianças têm tantas atividades – natação, judô, balé, computação, inglês – que não podem mais nem brincar. E a brincadeira dramatizada, aquela brincadeira de criança de fundo de quintal, de faz de conta, de casinha, de soldado e ladrão, é fundamental para o desenvolvimento da criatividade e da expressividade do indivíduo, além de possibilitar a sua compreensão do mundo, da sociedade e dos seus semelhantes.

Finalmente, a terceira coisa e a mais importante: o AMOR. E não basta amar sua criança. É preciso demonstrar esse amor, sempre, todo o tempo, não só com palavras, mas com olhares, gestos e carinhos, de forma que a criança se sinta sempre e a todo momento envolvida numa aura permanente de afeição, segurança e amor.

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Deus, e o acaso

Clotilde Tavares | 11 de abril de 2010

Eu sou uma mulher feliz.

Digo isso porque, em plena crise de criação, com os canais escrevinhadores totalmente obstruídos sabe-se lá porque, uma preguiça pré-histórica de emendar uma frase na outra, posso dispor de mais de duas mil crônicas do meu irmão Braulio Tavares para reproduzir aqui enquanto eu mesma não volto a produzir as minhas. Segue abaixo esta, publicada em 30 de março no Jornal da Paraíba, onde ele escreve. E todas – ou a maioria delas – estão no blog dele, o Mundo Fantasmo.

O destino indireto

Braulio Tavares

O escritor Alberto Mussa conta que quando fazia um curso universitário de Matemática usou, ao pagar as cadeiras de Cálculo, um livro-texto diferente do que seus colegas usavam.  O autor do livro era um russo, um tal de Piskounov ou coisa parecida, diz ele.  Espalhou-se na faculdade a notícia de que ele estudava no livro de um autor russo (era a época da ditadura) e isso imediatamente lhe conquistou um enorme prestígio entre seus colegas comunistas.  Um deles deu-lhe de presente um livro de poemas de Agostinho Neto, o presidente comunista de Angola – e a vida de Mussa mudou para sempre.  Não que ele tivesse virado comunista, mas foi através do poeta angolano que ele descobriu a cultura e a literatura da África, sobre as quais viria a escrever numerosas obras.

Vilma Guimarães Rosa conta no livro “Relembramentos” que sua tia Maria Luiza, quando jovem, precisava dar mamadeira a um sobrinho, mas não tinha relógio e estava sozinha com o bebê em casa.  Para perguntar as horas a alguém confiável, ligou para um número que viu na lista, e que imaginou pertencer a uma entidade religiosa.  Não era: era uma pensão de estudantes.  Um rapaz atendeu, os dois começaram uma conversa, depois um namoro, e acabaram casados pelo resto da vida.

São mil histórias; cada um de nós sabe várias.  É a moça que acompanha a amiga a um estúdio, onde a amiga vai gravar alguma coisa, e alguém lhe pede que faça um teste ao microfone, ela canta e vira mais cantora que a amiga.  É o rapaz que vai se matricular na Faculdade, vê uma moça bonita se matriculando noutro curso e, num impulso, matricula-se ali sem outro interesse, e vira um luminar daquela ciência.

Luís Buñuel nunca tinha pisado no México.  Estava meio exilado e desempregado em Hollywood quando em 1946 recebeu um recado de uma amiga, no México, chamando-o para produzirem juntos uma peça.  Don Luís foi para lá..  No hotel, ficou sabendo que a peça que tinham em mente fora liberada para outro produtor.  Buñuel ficou no México até morrer, e realizou ali 20 filmes.

É o que eu sempre digo: “Sorte não é sonhar avestruz, jogar avestruz, e dar avestruz.  Sorte é sonhar avestruz, jogar camelo por engano, e dar camelo”.  Em tudo que tem interferências do Acaso a gente percebe o lado aleatório da coisa, mas percebe também (ou está ansioso para perceber) a presença de um enorme Dedo empurrando os personagenzinhos nesta direção, depois naquela…   Luís Buñuel tem uma afirmativa terrível: “O Acaso não pode ser uma criação de Deus, já que ele é a negação de Deus.  Estes dois termos são antinômicos, excluem-se um ao outro”.  Escutaram, amigos, mil catedrais desabando?  O contrário de Deus não é o Diabo, que é feito da mesma essência dele e no máximo encarna o seu pólo oposto.  Deus é criação, controle, onisciência, determinismo, ordem; é isto, e tudo que combinar com isto.  O contrário de Deus é o Acaso.  Se pudermos um dia provar a existência do Acaso provaremos a inexistência de Deus.

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Sem glúten e sem lactose

Clotilde Tavares | 5 de abril de 2010

Pois então: uma das aquisições da minha terceira idade foi a descoberta de que não me dou bem com alimentos que contenham glúten. Quero dizer: nunca me dei bem mas só agora, com tempo para prestar atenção em mim mesma, vim me dar conta disso.

O glúten está presente no trigo, na aveia, no centeio e na cevada. E mais em um monte de alimentos que contêm esses cereais, ou que usam a farinha de trigo como espessante. É por isso que a gente encontra glúten em alguns alimentos como requeijão, por exemplo, que teoricamente não deviam conter essa substância.

Existem pessoas que não podem ter o menor contato com o glúten. São portadores da doença celíaca. Não é o meu caso. Eu tenho apenas uma intolerância média à substância e tenho vivido bem melhor depois que a retirei quase que completamente da minha alimentação.

Acabou-se todo o desconforto intestinal que era constante na minha vida e que se traduzia ora por constipação, ora por diarréia, e outros sintomas como distensão abdominal, por exemplo. Tudo me “fazia mal”. Eu, gulosa que sou, sofria. Consultados, os médicos diziam que eu tinha “síndrome do colón irritável”, prescreviam medicamentos sintomáticos, dieta sem tempero, sem cominho (que eu adoro), mas eu não ficava melhor. Então, observando e lendo, eu mesma entendi o que se passava comigo.

Além de não me dar bem com glúten, descobri que não me dou bem com a lactose – que é o açucar do leite, encontrada nesse alimento, nos produtos lácteos e em tudo o que leva leite na sua preparação. Isso também não é coisa nova, pois eu sempre passei mal quando havia excesso de leite e produtos derivados do leite na alimentação.

O complicado dessa situação é que eu fico com dificuldade de encontrar o que comer. Uma pessoa que não pode ingerir glúten nem lactose vai comer o que no café da manhã, que é geralmente à base de pão, biscoitos, queijo, leite? Pois é. Eu comi hoje iogurte com lactobacilos (os lactobacilos digerem parcialmente a lactose, diminuindo seu efeito danoso) com uma colher de sopa de linhaça. Depois, tapioca com manteiga, ovo e café. Estão vendo, como a gente consegue dar um jeito em tudo?

Voltarei outras vezes com esse tema. E veja esse blog que parece ter sido feito de encomenda para mim e que tem sido uma mão-na-roda nesses dias: Sem Glúten e Sem Lactose.

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O bacalhau da Paixão

Clotilde Tavares | 2 de abril de 2010

Essa foto foi colhida no www.rainhasdolar.com, onde tem um monte de receita gostosa!

Hoje fui almoçar o famoso “bacalhau da sexta-feira santa” na casa do casal Paula Pires / Evandro Fernandes, tradição que cumpro sempre que estou em Natal nesta data e que já vem se repetindo há quase uma década.

Evandro é meu ex-marido. Nos separamos em 1985 mas mantemos uma grande amizade, sincera, alegre, e carregada de confiança e respeito. Paula, que está com ele praticamente desde que nos separamos, é professora do Departamento de Letras da UFRN e eu tenho com ela um diálogo rico e interminável sobre livros e idéias. Aliás, quando visito o casal, converso muito mais com ela do que com ele. E nessa conversa vai conversa vem terminamos por estabelecer esse encontro ritual em torno do bacalhau da sexta feira da Paixão, porque Paula também é uma cozinheira de mão cheia e tem prazer em me receber em sua casa.

Enquanto saboreava aquela delícia, que neste ano veio com batatas inglesas pequenas, ovos de codorna, azeitonas roxas e cebolas minúsculas cozidas inteiras, não pude deixar de me lembrar como era o consumo e o uso do bacalhau na minha infância.

Naqueles anos da década de 1950, em Campina Grande, bacalhau era comida de pobre. Era barato, e quando não havia dinheiro para a carne do almoço, Mamãe mandava um de nós à mercearia da esquina para compra “uma quarta” de bacalhau. Um quarta significava 250 gramas e ela recomendava: “Diga a seu Fulano (o bodegueiro) que embrulhe bem embrulhadinho e venha embora logo.” Isso era para que nossa penúria não fosse denunciada à vizinhança pelo cheiro forte do bacalhau emanando do pequeno embrulho.

Chegando em casa, a “quarta” de bacalhau era “escaldada” várias vezes em água fervente para amolecer e tirar o sal; depois o peixe era frito no óleo e cada um ganhava um pedacinho pequeno daquela anti-iguaria salgadíssima, acompanhando o feijão-arroz-farinha desses tempos remediados, num milagre de multiplicação de pães e peixes que Mamãe era mestra em fazer.

Depois com o passar dos anos e a melhoria da nossa situação, o bacalhau passou a ser preparado de outra forma, mais rica e cheia de adereços. Lembro-me da monumental salada de bacalhau com ovo cozido cortado e grandes azeitonas; e do bacalhau com coco que papai gostava e que denunciava suas origens alagoanas.

Tudo isso me vem à mente agora, às cinco e meia da tarde, enquanto escrevo esse post, ainda jiboiando do opíparo almoço que comi na casa de Paula e Evandro.

Não comi chocolate ainda, mas isso é assunto para amanhã ou domingo.

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