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Natal cidade querida

Clotilde Tavares | 7 de junho de 2013

DISCURSO PROFERIDO PELA ESCRITORA CLOTILDE TAVARES NA CÂMARA MUNICIPAL DE NATAL POR OCASIÃO DO RECEBIMENTO DO TÍTULO DE CIDADÃ NATALENSE, NO DIA 6 DE JUNHO DE 2013.

Exmo. Sr. Presidente da Câmara Municipal de Natal, em nome do qual saúdo as demais autoridades presentes.

Exmo. Sr. Vereador Hugo Manso, autor da proposta que me concede este título, meu querido amigo.

Amigos, companheiros de trabalho, meus professores, meus alunos, artistas, escritores, familiares,

Senhoras, Senhores,

Apesar do ambiente ser formal, eu não quero aqui fazer um discurso formal, um discurso de terno e gravata.

O que quero agora é contar a vocês uma história de amor. A história de um caso de amor que mantenho com esta cidade há mais de quarenta anos.

Tudo começou em 1970 quando aqui cheguei, vinda de Campina Grande, para estudar Medicina. Era o meu primeiro ano longe de casa, morando numa pensão na rua Voluntários da Pátria, ali perto da Santa Cruz da Bica, quase no Baldo. Sem amigos, sem família, logo nos primeiros dias tive que ir ao Hospital das Clínicas tirar um atestado médico e me vi, de repente, suspensa entre o céu e o mar na balaustrada da avenida Getúlio Vargas. Ali, às duas e meia da tarde, envolvida por aquela sinfonia azul que ia do mar de safira ao céu turquesa, naquele instante, capturada pela beleza, me apaixonei por esta terra.

Esses primeiros anos foram tempos heróicos. Muitas vezes simplesmente não havia dinheiro, e como matar a fome que meu corpo jovem e saudável manifestava quando o que eu tinha dava apenas para uma grapete e um pão doce, que deviam me sustentar por vinte e quatro horas? Mas era essa mesma juventude que me fazia ir e voltar a pé todos os dias da pensão, na rua Voluntários da Pátria ao Hospital das Clínicas, e parecia tão perto!

Ao lado das tarefas da faculdade, dos estudos, dos plantões, e aulas práticas, comecei a me ambientar na vida cultural da cidade. Iniciei no teatro em 1971, com o Grupo Alavanca de Teatro, tendo à frente Racine Santos, que ensaiava nos altos do Teatro de Amadores de Natal, na rua Voluntários da Pátria, onde também conheci e convivi com Sandoval Wanderley. Comecei também a estudar música – outro grande sonho -, na Escola de Música do Rio Grande do Norte, onde fui aluna de violoncelo do professor Piero Severi e integrei por um ano o naipe das cordas da Orquestra Sinfônica, sob a regência do maestro Clóvis Pereira. Mas a Faculdade me tomava todo o tempo e o teatro e a música precisaram ser deixados de lado.

Comecei a conhecer as pessoas e a fazer amizades, pessoas de teatro, gente da música, os colegas de faculdade, e os meus mestres na Medicina: Dr. Hiram Diogo Fernandes, Dr. Gilberto Wanderley, Dra. Ivalda Santana, Dr. Celso Matias, Dr. Onofre Junior, Dr. Heriberto Bezerra, Dr. Eudes Moura… Os nomes desses professores vêm à minha mente quando evoco aqueles que contribuíram decisivamente para a minha formação médica e também como ser humano e ressalto ainda, com destaque, o nome do Dr. Lauro Gonçalves Bezerra, que me abriu caminhos e horizontes, com quem trabalhei diariamente por mais de dez anos, na dura lide da saúde pública, num tempo em que não existia SUS nem PSF, subindo e descendo as escorregadias ladeiras da rua do Motor e convivendo com a comunidade de Brasília Teimosa. Quero também prestar minha homenagem de imorredoura saudade à Dra. Giselda Trigueiro, que foi para mim uma inspiração e exemplo a ser imitado como médica e cientista, pelas suas aulas magistrais e conduta humana com o paciente mas também como mulher bonita e elegante, como pessoa à frente do seu tempo, com inteligência superior e humanidade cativante, e que me distinguiu com a sua amizade.

Nos últimos anos de faculdade, já morando em Areia Preta, na rua Pinto Martins, eu me encantava todo dia com a visão mais querida desta cidade: a da balaustrada da Avenida Getulio Vargas, palco do meu primeiro encontro amoroso com Natal. Indo e voltando diariamente para o Hospital das Clínicas, aquele azul me alimentava e me envolvia e a paisagem deslumbrante atuava como um energético, me acalmava, me alimentava, me revigorava, recarregava minhas baterias.

A intenção era me formar em Medicina e voltar para Campina Grande, mas quem disse que eu pude? Em 1975, ao colar grau, Natal já havia me capturado com seu perfume, seu encanto, seu céu de brigadeiro e o carinho dos amigos que aqui eu já tinha.

Quando fui fazer mestrado no Recife, onde fiquei nos anos de 1978 e 1979, passei esses dois anos sem vir a Natal – era grande o medo que tinha de vir passar um final de semana aqui e não conseguir mais voltar para o Recife.

Nesta cidade querida vi correrem os anos mais belos da minha vida. Como professora do antigo Departamento de Saúde Coletiva e Nutrição da UFRN batalhei pela Saúde Pública, especificamente a causa do aleitamento materno e da nutrição infantil por anos, e produzi trabalhos dos quais ainda hoje me orgulho. Foram quase vinte anos de militância ininterrupta nessa área, ao lado do Dr. Lauro Bezerra, pioneiro do ensino da Nutrição no Rio Grande do Norte. E enquanto a vida ia tocando seu curso a música, o teatro, e a literatura continuavam ocupando os interstícios entre os estudos e trabalhos na área da saúde.

Alguém aí da platéia que me conhece há muito tempo – talvez até o vereador que me deu esse título – deve estar querendo me perguntar:

– Mas Clotilde, e a boemia? As noitadas? Vai passar por cima de tudo isso?

Eu respondo:

– Como poderia? Até os quarenta anos de idade fui uma grande boêmia, e aproveitei bastante a vida, minha gente! Conhecia todos os bares e botecos dessa cidade, da Tenda do Cigano ao Café Nice, do Chernobyl ao Tirraguso, do Mintchura ao Teco-Teco, do Equilibrista à Barraca de Santiago. Fui sócia-fundadora da República Independente da Praia dos Artistas; no verão, era habitante do Território Livre da Redinha, e sócia-foliã-honorária da Banda Gália, uma das maiores experiências anarco-lírico-carnavalescas que essa cidade já teve, junto com Olinto Rocha, Carlos Piru, Eugenio Cunha, Márcio Capriglione, Julinho Rezende, Zé Avelino, Sergio Dieb, Diva Cunha… E quando o clarim rompia a primeira nota na noite estrelada de Natal eu já caía dentro, no frevo, usando as fantasias mais loucas que alguém possa imaginar. Ah, e lembro dos meus queridos amigos dessa época, que já se foram, já se encantaram: Chico Miséria, André de Melo Lima, Sergio Dieb, Kiria Eleison, Malu Aguiar, Olinto Rocha. Quanta saudade!

Foram anos muito loucos! Foram anos experimentando o perigo, a alucinação da velocidade, os paraísos artificiais, a embriaguez dos sentidos. Até a última gota, esgotei essa tulipa dourada do Prazer, sorvida sem culpa, sem medo, e sem limite. Esgotadas as taças, aprendi que é preciso experimentar de tudo, mas tudo tem limite. E aos quarenta anos, decretei encerrada minha carreira na boemia.

A vida me pedia uma mudança. A Medicina, agora concentrada na docência e na pesquisa na área de Saúde Pública, preenchia uma parte do meu dia, dos meus interesses, mas eu sentia sempre, vindo do mais fundo das minhas entranhas, o chamado da Arte. E foi assim que o teatro voltou à minha vida em 1990, a partir de um encontro com Marcos Bulhões, hoje doutor em teatro pela USP e professor daquela Universidade. Naquele, tempo, Bulhões era ator da Stabanada Companhia de Teatro e estava selecionando atores para um espetáculo.

Foi o início de uma parceria diária militando na cena teatral da cidade. Fizemos, Bulhões e eu, muitos espetáculos, performances, intervenções cênicas, demos oficinas, cursos, éramos “duas-almas-num-corpo-só”. Como não havia espaço na minha vida para duas coisas tão absorventes, considerei que já havia dedicado mais de vinte anos à Medicina, e que agora era hora de voltar às artes. Eu tinha 42 anos de idade, E não tive medo de mudar. Transferi-me então para o Departamento de Artes da UFRN, onde passei a ensinar Folclore Brasileiro e disciplinas ligadas ao teatro.

Foi nessa época, a partir de 1990, que minha carreira de escritora começou a se encaminhar. Fui colunista semanal por anos do Jornal de Natal, Jornal de Hoje, O Mossoroense, Revista RN-Econômico, Revista da Telepesquisa, e na Tribuna do Norte, onde escrevi por dez anos, todos os domingos.

Os livros começam a aparecer a partir de 1987 e já são tantos! Livros, artigos, peças de teatro, folhetos de cordel… Entre todos eles, o meu livro que mais gosto: “Natal a Noiva do Sol”, adotado nas escolas da cidade, com o título emprestado da obra de Cascudo, quando ele diz as palavras imortais que eu sempre assino embaixo:

“Natal, Noiva do Sol, minha cidade querida, deu-me o que sempre esperei: a tranquilidade do espírito, a paz do coração, o amor pelas coisas humildes do mundo, no meio das quais sempre vivi. (…)”

O que dizer mais, de uma vida tão rica e tão produtiva, construída neste chão natalense, respirando o mesmo ar que Câmara Cascudo respirou, contemplando o mar aberto em navegos que Zila Mamede contemplou, e ouvindo as romanceiras tão caras aos ouvidos do mestre Deífilo Gurgel?

Aqui desfruto de perenes e sólidas amizades, como meus companheiros do Rotary e minha amiga quase-irmã Aldanira Barreto, em nome da qual saúdo o rotarismo natalense.

Os que foram meus alunos e hoje estão ocupando cargos importantes, e quando cruzo com eles em algum evento, blindados e defendidos por uma corte de assessores, se destacam do grupo quando me veem e me cumprimentam com aquele que é o meu maior título:

“ – Professora, que bom ver a Sra!…”

Meus parceiros na batalha da cultura: Henrique Fontes e a Casa da Ribeira, João Marcelino, Marcílio Amorim e o Elenco Mosh, Carlos Fialho e a editora Jovens Escribas. A homenagem a estes grandes amigos que já se foram: Sandoval Wanderley, Chico Vila, Jaime Lúcio, Lenício Queiroga, Fernando Ataíde, Carlos Nereu, todos agora fazendo teatro na Eternidade; e Luís Carlos Guimarães, Bosco Lopes, Black-Out, Celso da Silveira, sentados numa nuvem, fazendo versos…

Amigos? Impossível citar! Um ano não seria suficiente para esgotar a lista das amizades, meu maior patrimônio nesta terra.

Minha família querida:

Meu filho mais velho, Rômulo Tavares, publicitário, músico, compositor, brilhante em tudo o que faz, um homem bom e decente, com raízes plantadas aqui e que me continua através dos meus dois netos: Isabela Albuquerque Tavares, aluna do curso de Direito, e Marcelo Rodrigues Tavares, ainda adolescente. As mães dos meus netos, Viviane Albuquerque, psicóloga, e Telma Rodrigues, professora de teatro.

Minha filha Ana Morena Tavares Ramos, empresária, contrabaixista, cantora, atriz, e tudo o mais que ela quiser ser porque é talentosa e linda, e me enche de orgulho a cada dia pelo que é e pelo que faz. Junto com meu querido genro Anderson Foca ela lidera um dos empreendimentos culturais de maior sucesso nesta terra: o Combo Cultural do Sol, e movimentam a cena da cidade em eventos de porte, dois deles em parceria com a Casa da Ribeira: o Circuito Ribeira e a Virada Natal.

Ligados a mim por laços familiares indiretos, uma vez que são sogros da minha filha, o casal José Freitas/Lucidete, paraenses aqui radicados, também são minha família nesta cidade.

Ao longo dessa fala eu citei muitos nomes. Nos discursos, as pessoas sempre dizem que não vão citar nomes para não correr o risco de esquecer alguém. Mas eu não me importo. Eu quero correr esse risco, porque enquanto vou desfiando essas recordações os nomes vêm vindo à minha memória e é impossível deixar de citá-los, mesmo sabendo que não vou poder citá-los todos.

E também há aqueles que fazem parte da minha vida e que eu não sei os nomes, os natalenses anônimos, cidadãos desta cidade, a moça que me atende no caixa da loja, o gari que recolhe o lixo, o carteiro, a telefonista que está do outro lado do fio, o frentista que abastece meu carro, homens e mulheres que fazem parte da minha vida e que agora me recebem como conterrâneos e cabem todos dentro do meu coração.

O escritor Nei Leandro de Castro uma vez escreveu:

“Clotilde Tavares é a fada madrinha e a fada zangada do cotidiano. Ela protege Natal com uma varinha de condão e um porrete feito de madeira que cupim não rói.”

É como fada madrinha que me agora me dirijo, nesta casa que é do povo, aos seus representantes, os nobres vereadores que aqui fazem seu trabalho, principalmente ao vereador Hugo Manso, para agradecer esta homenagem, que para mim é como uma flor rara, que regarei com a minha gratidão, e que agora segue embelezando minha vida.

Mas também é como fada zangada do cotidiano que quero deixar aqui o meu primeiro recado como natalense legítima:

– Senhores vereadores! Tomem conta da minha cidade! Fiscalizem os governantes para ver se eles estão se comportando. Ajudem a melhorar a vida do cidadão propondo na área da saúde, da educação, da segurança, do transporte. E tratem a cultura com o respeito que ela merece, e não como diversão de final de semana. Cuidem da minha cidade! Eu estou de olho em vocês.

Minha gente!

Eu amo Natal!

Amo o deslumbramento de mergulhar nesse azul e nesse ouro que é a atmosfera da cidade. Azul do céu de brigadeiro, ouro do Sol e das acácias que ornamentam as avenidas.

Amo a carícia do vento, e o perfume do mato ali nas dunas da Via Costeira.

Amo o bulício do Alecrim no dia da feira, as agitações noturnas em Ponta Negra, os saraus nas livrarias, as conversas nos corredores dos shoppings, as lentas visitas aos sebos no centro da cidade.

Amo essa magia, esse encantamento que torna esta cidade especial entre todas as cidades do mundo. É alguma coisa imponderável, uma brisa, um sopro angélico, um murmúrio de fadas, uma sensação de dia nascendo a toda hora, quando a gente olha para este céu tão sem nuvens, tão luminoso.

Amo as dunas suaves e recortadas sobre o céu da tarde, quando as contemplo da minha varanda, relembrando a sensual anatomia dos corpos femininos.

Amo o Potengi à tardinha, recebendo o sol poente, vermelho e preguiçoso, que se aninha nos braços verdes e escuros do rio.

Amo o hospitaleiro povo natalense, agora também oficialmente meu povo, recebendo quem vem de fora com a mesa posta e a rede armada, o pirão de peixe quentinho e saboroso, o suco de mangaba, a carne de sol.

Porque em Natal quem mora aqui vive rindo à toa porque sabe que desfruta do privilégio de viver nesta esquina do continente, terra de sol, perfume e alegria.

MUITO OBRIGADA!

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Domingo de Páscoa

Clotilde Tavares | 31 de março de 2013

Neste domingo de Páscoa, tenho recebido muitas mensagens desejando Feliz Páscoa, às quais agradeço de coração. A Páscoa, como todos sabem, é uma das maiores festas da cristandade, onde se comemora a ressurreição de Cristo. Quando eu era menina, essas histórias soavam meio estranhas na minha cabeça pois a contabilidade não batia bem: se Jesus foi crucificado e morreu na sexta-feira, e ao terceiro dia ressurgiu dos mortos, como é que se comemora a ressurreição no domingo, apenas dois dias depois? Para a minha mente lógica de pequena pentelha de oito anos, algo estaria errado nessa conta, até que aprendi que nesses assuntos de religião a gente não questiona muito não, senão a freira vem e põe você de castigo. Aí, nada de ovos de chocolate.

Pois muito bem: se a festa é para comemorar a ressurreição de Cristo, mesmo considerando dois dias no lugar de três, o que isso tem a ver com ovos e coelhos? Só consegui entender isso depois de adulta, meu caro leitor, e compartilho aqui com você o que andei descobrindo.

É que a Páscoa é uma festa muito mais antiga do que Cristo, muito mais antiga do que a cristandade. Para os povos pagãos, que viveram alguns milhares de anos antes de Cristo, a Páscoa, celebrada no hemisfério norte no equinócio da Primavera – ou nas suas proximidades – celebrava as divindades ligadas à fertilidade do solo. Para estes povos, a fertilidade tinha uma grande importância porque a produção nos campos era a base da vida comunitária, que os permitia enfrentar os dias difíceis e estéreis do Inverno.

Na mitologia céltica e saxônica, por exemplo, celebrava-se nessa época a deusa Eostar, que presidia o nascimento da Primavera e o redespertar da vida na terra. Então ovos eram pintados e enterrados para que fossem encontrados depois pelas crianças, já que o ovo é sinal de uma nova vida que renasce. A lebre, que era o símbolo do renascimento e da ressurreição entre essas culturas, também era o animal sagrado dedicado a Eostar.

Quando a Igreja católica se estabeleceu como instituição, por volta do século III depois de Cristo, as festas pagãs foram cristianizadas, ou seja, sua estrutura e data foram mantidas e deslocou-se a reverência aos deuses pagãos para os fatos da vida de Cristo e dos santos. Isso aconteceu com o Natal, as festas juninas, e tantas outras. O Domingo de Páscoa ainda é determinado pelo calendário lunar, e é o primeiro domingo após a Lua Cheia que coincide ou vem em seguida ao Equinócio da Primavera. Nos países de língua inglesa a palavra Páscoa, em inglês, é Easter, palavra derivada de Eostar.

Então, estão explicados os ovos e os coelhos, e o sentimento de ressurreição, de renovação, que deve passar por todos nós nessa época, independente da religião que professemos. É bom para plantar, para mergulhar as sementes na terra, para visualizar as colheitas futuras que deverão surgir dos grãos plantados hoje.

Abençoada seja esta deusa tão gentil, que recupera do frio solo do Inverno as coloridas flores da Primavera, prometendo os frutos dourados pelo sol do Verão.

——

Eu nunca mais havia escrito nada aqui. Hoje me deu vontade. Quem sabe não me animo e volto a blogar? Pois é.

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coelho da páscoa, domingo de páscoa, equinócio, festa cristã, festa pagã, ovos de chocolate, pascoa, solsticio
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GERÚNDIOS, a série

Clotilde Tavares | 8 de setembro de 2012

ESTOU…

… BEBENDO suco sem açúcar, chá e Yakult.
… CONTANDO calorias.
… COMENDO menos do que a fome pede e mais do que preciso para perder peso.
… ESCREVENDO obsessivamente.
… CAMINHANDO e cantando e seguindo a canção.
… LENDO os 6 volumes das Crônicas Saxônicas, de Bernard Cornwell – de novo.
… OUVINDO Tulipa Ruiz e Roberta Sá.
… COMPRANDO novos lençóis, pratos, copos, toalhas.
… AJEITANDO a casa.
… PREPARANDO livro novo para ir à gráfica até final do mês.
… SENTINDO frio em Setembro, pode? Aqui em Natal?
… ADIVINHANDO chuva.
… DORMINDO profundamente.
… SONHANDO sonhos calientes.
… ESQUECENDO de tudo minutos depois.
… ACOMPANHANDO o ponteiro dos segundos, que nunca se detém.
… OLHANDO o mundo por olhos que já vão ficando turvos, afogados nas cataratas da idade.
… ACENDENDO velas para Santa Zoraide na tela do meu iPhone.
… ACREDITANDO em milagres, sempre.

"Saudades de Noronha", tela de Flávio Freitas.

 

 

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Bernard Cornwell, Cronicas Saxonicas, Flávio Freitas, Roberta Sá, Tulipa Ruiz, Yakult
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Os sete pecados capitais

Clotilde Tavares | 2 de janeiro de 2012

Hyeronimus Bosch e sua representação dos sete pecados capitais.

Eu nunca tinha lido A Divina Comédia. Já li A Ilíada, A Odisséia, e Os Lusíadas, mas A Divina Comédia nunca. Aí me acontece que por força do ofício e da amizade, aceitei a incumbência de ler um trabalho de um amigo meu justamente sobre A Divina Comédia, com o objetivo de ver se o tal trabalho estava legal, se atendia às normas acadêmicas, essas coisas. Prudentemente, resolvi ler antes a obra, para não incorrer em nenhuma aberração conceitual ou estética, comprometendo assim a minha fama de pessoa culta e bem informada.

Li e achei um barato, mas fiquei muito impressionada com o Inferno. Nunca pensei que tivesse tanto pecado diferente no mundo. Todos os meus terrores de criança interna em colégio de freiras voltaram e eu passei bem umas duas noites sem dormir. E comecei a pensar nessa história de pecado.

No internato, no colégio das freiras, aprendi que existem dois tipos de pecado: os veniais e os mortais. Os veniais são pecadinhos bestas, como estirar a língua quando a professora está de costas ou tomar a cocada da mão do irmão menor. Os pecados mortais não. Esses são perigosos. São aqueles que levam você diretinho para o Inferno, que nos meus pavores de criança era pior, muito pior do que o Inferno de Dante. Hoje não acredito mais em Inferno. Mas acredito nos pecados. Nos pecados mortais. Naqueles que a Igreja chamou de pecados capitais.

Para quem não se lembra mais, os Pecados Capitais são sete. Desses sete, quatro são aqueles que se cometem contra o Espírito e que prejudicam tanto quem os comete quanto a pessoa contra a qual são cometidos. São a Ira, a Cobiça, a Inveja e o Orgulho. E desses, meu filho, Deus me livre. São uns pecados tão feios, tão cabeludos que eu acho que deveria existir mesmo Inferno para trancafiar de vez lá dentro todo mundo que fizesse esse tipo de coisa.

Mas os outros três, ah, meu caro leitor, os outros três são os pecados mais geniais e mais gostosos do mundo. São os pecados que se comete contra o Corpo e, se ofendem alguém, ofendem somente quem os comete. Seu efeito maléfico não se estende a outras pessoas. São a Preguiça, a Gula e a Luxúria.

E eu vou fazer o quê, pobre pecadora que sou dos pecados do corpo? Como o gato Garfield, sou deliciosamente preguiçosa, refinadamente gulosa e gostosamente narcisista, sendo o narcisismo a forma mais elaborada de Luxúria que pode existir.

Fazer o quê? Penitência? Ato de contrição? Ou será que o Inferno me espera, o de Dante e o outro, com seus abismos de fogo e lava prontos para me devorar? O que vocês acham?

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Deixe de pantim!

Clotilde Tavares | 27 de dezembro de 2011

Um dia desses, discutia-se numa das listas que freqüento na Internet sobre o significado das palavras “pantim” e “muganga”. Bráulio Tavares escreveu sobre isso um dia desses no seu blog.

x

Papai e Mamãe

Eu passei minha infância ouvindo as duas palavras, incorporadas no rico dialeto caririzeiro-paraibano que Mamãe falava.

Pantim é difícil de definir. É quando você faz algo para “distrair o inimigo”, ou seja, quando negaceia, disfarça, enrola… Ou quando você falsifica uma ação para obter algo que não quer explicar diretamente. Já muganga é trejeito facial ou corporal, careta.

Voltando ao “pantim”, o diálogo abaixo, travado entre meus pais numa noite, explica melhor:

– Nilo, onde tu tava até uma hora dessa? – Mamãe, direta e nada sutil, atacava com a pergunta.

– Mas minha filha, é somente uma da manhã.

– Sim, mas onde tu tava?

– Você sabe Fulano? – começava papai. – Presidente da Associação Comercial? Pois eu encontrei com ele ontem…

– Não tou falando de ontem, mas de hoje. Onde é que tu tava?

– Espere, eu preciso lhe explicar. Você sabe que em Campina, desde que o prefeito mudou, que todos esses órgãos, como a Associação Comercial, a Federação das Indústrias, a…

Era aí que mamãe interrompia, já impaciente:

– “Ômi”, deixa de pantim e diz logo onde é que tu tava até uma hora dessa!

(…)

Postei esse diálogo na lista para exemplificar o que era o tal do pantim. Aí Leo Sodré, participante da lista, escreveu:

– Mas, onde Nilo estava mesmo? É bem capaz de ter levado Omega nessa farrinha…” (Omega era o avô de Leo, amigo de Papai).

Eu escrevi:

– Nilo devia estar com Omega no cabaré de Zefa Tributino, ou na Unidade Moreninha. Os dois assinavam ponto num ou noutro lugar toda noite.” (As referências são à vida noturna de Campina Grande na década de 1950/60)

Aí Bob Motta, que é poeta, escreveu:

Nilo tava c’á bixiga, (A)
e se sintindo no céu. (B)
Lhe juro, Crotilde, amiga, (A)
foi de beréu in beréu. (B)
Teve lá no Canaríin, (C)
dispôi saiu de finíin, (C)
mode qui num tava só; (X)
duis putêro de Campina, (D)
visitô os das Bunina, (D)
da Prata e Bodocongó… (X)

O poeta Bob Motta.

(Veja o esquema de rimas: o 1º verso rima com o 3º; — o 2º com o 4º; — o 5º com o 6º; — o 7º com o 10º; — e o 8º com o 9º. A estrofe é uma décima que comporta variados esquemas de rima, sendo este citado apenas um deles. A métrica é sete sílabas, redondilha maior, que você reproduz pronunciando em voz alta as palavras “ma-ra-cá, ma-ra-ca-tu”. Além disso, Bob Motta usa a chamada “linguagem matuta”, que consiste em um “português estropiado” – que não é usada nem pelo cantador de viola, nem pelo autor de folhetos de cordel e nem por mim, que procuramos usar sempre o português correto, mas é característica da chamada “poesia matuta”, cujo principal representante foi o poeta Catulo da Paixão Cearense. Forneço essa explicação para que as pessoas entendam como é complexa e rica a arte da poesia popular nordestina.)

Eu, que não deixo verso sem resposta, respondi seguindo o mesmo esquema, mas no calor do improviso deixei escapar a rima da terceira linha.

Nilo não tava sozinho
Na rota da sacanagem
Com o seu amigo Omega
Em total camaradagem
Lá em Zefa Tributino
Beberam uísque do fino
Com Paraguaíta e Nina
E com Chiquinha Dezoito
Pintaram o sete e o oito
Nos cabarés de Campina…

Bob Motta escreveu, repondendo:

Nilo tava de zonzêra,
lá na Ìndios Carirís,
bebeu quage a noite intêra,
no Canaríin, pidiu bis.
Na Unidade Moreninha,
lá nais Bunina intêrinha,
o peste num tava só;
tava prá lá de intêro,
foi in tudo qui é putêro,
da Prata e Bodocongó…

Aí eu fechei:

E quando chegou em casa
Mais pra lá do que pra cá,
Cleuza já tava na brasa
E começou o fuá:
Neguinho, conte direito!
Me conte de todo jeito,
Eu lhe peço mesmo assim!
Onde tu tava, maldito?
Tu acha isso bonito?
Ômi, deixe de pantim!


Este post é dedicado à pesquisadora Maria Alice Amorim, minha especial amiga, cujo trabalho sobre poesia popular está merecendo um post especial somente para ela, coisa que venho devendo há meses.


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Quatro histórias e um samba

Clotilde Tavares | 26 de dezembro de 2011

Pouco antes do Natal, a reportagem do Correio da Paraíba quis saber qual era a obra literária ou musical que eu gostava e que tivesse como tema o Natal. Lembrei logo do conto “O peru de Natal”, de Mário de Andrade, onde o autor desconstrói o sentimento natalino de amor e congraçamento, estabelecendo uma narrativa que parte exatamente do contrário; a vingança. Só que, na contramão do que se poderia esperar, as coisas vão se adoçando ao longo da história e esta se conclui deixando no leitor um sentimento de que, apesar de tudo, as coisas podem ser boas, e que a felicidade é possível.

Aí, eu comecei a me lembrar de outras narrativas sobre o Natal, das histórias engraçadas sobre presentes e pedidos ao Papai Noel – como o do garoto que pediu ao bom velhinho um ônibus de presente, para que a mãe, que precisava andar de ônibus e que sempre pegava o coletivo lotado, pudesse ter um ônibus só dela, para viajar com mais conforto.

Por tabela, e dessa vez sem ter nada a ver com o Natal, lembrei também da história do estudante, filho de milionário dos emirados árabes, estudando em universidade inglesa. O rapaz, acanhado de chegar todo dia na escola em luxuoso Rolls-Royce, falou desse incômodo ao pai, e referiu que todos os colegas iam para a escola de trem. O ricaço não vacilou e comprou um trem para levar o filho à aula.

Voltando ao Natal, há uma história muito meiga. O padre viu que uma garotinha entrava sorrateiramente na igreja e tirava a imagem do Menino Jesus do presépio. Lá fora, surpreendeu a menina colocando a imagem da cestinha da bicicleta nova, e preparando-se para pedalar. “Onde pensa que vai?”, perguntou o padre. Ela respondeu: “Ah, padre, eu rezei muito para o Menino Jesus pedindo uma bicicleta de Natal, e prometi a ele que se ganhasse vinha buscá-lo para dar uma volta…”

Finalmente, nada melhor do que um dos meus sambas preferidos, “Véspera de Natal”, do grande Adoniran Barbosa, onde o poeta narra uma estranha e patética aventura.

“Véspera de Natal”, de Adoniran Barbosa

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Adoniran Barbosa, histórias de Natal, Mario de Andrade, O peru de Natal, Papai Noel, Véspera de Natal
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Lenine, o mameluco endiabrado

Clotilde Tavares | 30 de outubro de 2011

Acabo de ver o show de Lenine aqui em Natal, no Teatro Riachuelo. Um show redondo, sem muita conversa fiada, só com música, música boa, bem feita e bem executada. Uma beleza.

Depois do show, fiquei pensando e me transportando para o ano de 1978, quando eu fazia mestrado na UFPE e morava no Recife. Uma noite, fomos a um show no auditório do Colégio Vera Cruz em homenagem aos presos políticos, contra a ditadura – era um tipo de evento que acontecia muito naquela época. No palco, o poeta Thiago de Melo, e mais outras figuras famosas. Depois, “a prata da casa”, os artistas locais, a se apresentarem com duas ou três músicas cada. Aí sobe no palco um garoto de seus 18, 20 anos, alto, com pernas finas de palito num jeans justísimo, uma camisa amarela, a juba loura se derramando pelas costas, o olhar de louco e tomado pelo grandioso espírito do rock and roll, que também baixou sobre a platéia. A criatura pulava, cantava, e eu, com uma barriga de 6 meses (estava grávida de Ana Morena) pulava também, junto com outras 600 pessoas.

Foi assim, desde a primeira vez que o vi, que senti que aquele garoto tinha algo diferente dos outros. E hoje fico feliz de me sentar numa platéia lotada para ver, como na primeira vez, Lenine aumentar a pressão e mandar ver nas sonoridades que consegue arrancar do violão com uma puxada de cordas que se tornou sua marca registrada. Toma conta do palco. Dança, pula, faz cabriolas, faz que vai mais não vai, careteia, ora é galã enlouquecendo as moças que só faltam se atirar em cima do palco, ora é o velho faceta, de pernas tortas e sorriso de coringa.

Vi o show há pouco e garanto: a voz dele está cada vez melhor, respira que é uma beleza, a pegada segura, a nuance exata. Do repertório nem vou falar, sou suspeita. Acho lindas as músicas “Lá vem a cidade”, com letra de Bráulio, meu irmão; e “Magra”, de Ivan Santos.

Uma coisa que eu gosto de Lenine é que ele junta a musicalidade de Geraldo Azevedo com a doidice no palco de Alceu Valença, tocando música pra pular brasileira, com uma pegada segura de rock and roll e a bateria sustentando um baque de maracatu que ecoa lá no fundo da nossa alma.

Antes de ficar famoso, vinha pra Natal e ficava lá em casa. Com ele, meu filho Rômulo, ainda muito jovem e iniciante na música, ficava horas fazendo um som. Ele fez muitos shows aqui com Bráulio, show muitas vezes sem cachê, com pouco público, somente a estudantada. Depois desses shows, a gente saía para os circuitos dos bares da praia dos Artistas em cervejadas memoráveis, eu, ele, Bráulio e um ou dois aficcionados, tocando violão, cantando e farreando.

Quando gravou o “Olho de peixe”, seu primeiro disco, veio a Natal para um show no Bar do Buraco, em Ponta Negra, junto com o percussionista Marco Suzano. Somente duas pessoas compareceram para assistir ao show: eu e minha irmã Inês, que estava passando uns dias na minha casa. O bar vazio, nós duas sentadas em frente ao pequeno palco e Lenine e Suzano mandando ver no som.

Hoje, no camarim, matamos as saudades num encontro rápido, de cinco minutos, pois havia uma fila enorme de fãs, cada uma com sua câmera, à espera de um minuto com o ídolo.

Despedi-me dele e ameacei: “Assim que chegar em casa, vou escrever no meu blog sobre o show.” E ele: “De bom ou de ruim?” E eu: “Aí você só vai saber depois que ler…”

Pronto: escrevi. Menos que crítica, mais memória e declaração de amor do que qualquer outra coisa. E ponto final.

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Voltei!

Clotilde Tavares | 24 de outubro de 2011

Depois de “um longo e tenebroso inverno”, expressão que Mamãe usava para se referir a um longo período de inatividade em qualquer setor de sua vida, eu estou de volta. Pelo menos, penso que estou, porque após um bom período de preguiça, inatividade, ocupação em outras tarefas, realização de diversos projetos e o mais que você possa imaginar, hoje eu amanheci com aquela coceira na ponta dos dedos e aquela agonia na cabeça que sempre sinto quando vem a vontade de escrever, de me comunicar de forma mais extensa do que os 140 caracteres do Twitter, que tem sido ultimamente minha plataforma de comunicação

Nesses dias em que andei ausente fiz coisa que só.

Acrescentei um novo livro à minha produção. É O Verso e o Briefing: a Publicidade na Literatura de Cordel, editado pelos Jovens Escribas, uma editora jovem, inteligente e antenada aqui de Natal.

Trabalhei que só um bicho, em coisas que fazem parte da vida do escritor: palestras em escolas para divulgar os livros, jurada de concursos literários diversos, artigos para essa ou aquela publicação.

Li pra caramba e vi muitos filmes e séries na TV. Mergulhei no mundo maravilhoso e alucinante das Crônicas de Gelo e Fogo/Game of Thrones, de George R. R. Martin, do qual já li os três primeiros livros e vi a 1ª temporada da série que passou no HBO.

Aos poucos, estou conseguindo decifrar os segredos da leitura musical e acostumar meus dedinhos toscos a reproduzirem no piano as deslumbrantes melodias que estão aí, adormecidas nas partituras, à espera de que a gente descubra o seu encanto. Meu professor, Leandro Rocha (veja o blog dele, Em volta da arte) com quem estudo desde 28 de março, é um santo em figura de gente, paciente e todo musical.

Essa coisa da música também me levou ao canto coral, e faço parte agora do Coral Harmus, sob a regência de Leninha Campos, onde acrescentei minha voz grave ao naipe dos baixos. É isso mesmo, é lá onde eu canto, com os homens, na clave de fá.

Para “fechar o firo”, realizei o meu projeto para este ano de 2011 que era perder 10 kg até 31 de dezembro. Consegui isso no final de setembro, graças à reeducação alimentar e muita disciplina.

Enfim, é isso.

Voltei.

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Noites brancas

Clotilde Tavares | 28 de junho de 2011

Eu não gosto de forró eletrônico, de forró “universitário”, desse forró falso e mecânico que só sobrevive às custas de bailarinas de traseiro empinado. Eu não gosto de festa de São João com som amplificado, ensurdecedor. Eu não gosto de teclado no lugar da sanfona. Eu não gosto de pamonha e canjica feitas em série e vendidas nos supermercados em pratinhos de plástico. Eu não gosto daquela tapioca redonda, pequena e grossa, recheada de presunto ou chocolate.

Eu não gosto das roupinhas de matuto para crianças vendidas nas barracas que margeiam as avenidas. Eu não gosto das festas juninas que competem umas com as outras para ver quem faz a maior, obstruindo ruas, infernizando a vida dos moradores e enlouquecendo a vizinhança com o barulho. E, acima de tudo, eu abomino as tais quadrilhas estilizadas, invenção ridícula da indústria de massa, com suas coreografias imbecis e seus enredos absurdos. Mesmo assim o São João ainda é a festa mais bonita do Nordeste. Mas o que eu gosto no São João, minha gente, quase tudo que eu gosto não existe mais.

O bom do São João era o milagre dos grãos de milho se transformando pela magia das mãos habilidosas das cozinheiras em uma pasta amarela e saborosa que, mexida por horas ao fogo se transformava na canjica; ou a solução genial de cozer outra mistura na própria palha, criando a pamonha, enquanto as crianças, sentadas no chão, faziam bonecas loirinhas ou ruivas com as espigas de milho.

O bom do São João era a fogueira armada na frente da casa, os vizinhos chegando, as conversas, e o quarto de bode que depois de dormir o dia todo no tempero acordava em estalos sobre as brasas, prenunciando delícias de sabor. O bom do São João eram as estrelinhas cuidadosamente seguras nas pontas dos dedos que depois de acesas rebentavam em maravilhas luminosas, trazendo para o canto da sala todo o mistério do Big Bang original.

O bom do São João era o forró dançado nas latadas dos sítios, com sanfona, triângulo e zabumba, sem microfone nem amplificador, a poeira subindo e o chiado das chinelas marcando o tempo preciso do andamento, sem coreografias mirabolantes, mas misturando o suor nos corpos quentes, colados e excitados. O bom do São João era Jackson do Pandeiro, Marinês, Luiz Gonzaga, Elino Julião e o Trio Nordestino. O bom do São João eram os versos mais lindos que já se escreveu sobre essa festa: “Olha pro céu, meu amor/ vê como ele está lindo…”

Tudo isso já foi embora, tragado pelo tempo. Permanece somente o ar cortante e frio da Serra da Borborema e as noites brancas de Campina Grande, como que velando a casa do Alto Branco, solene e silenciosa, órfã da fogueira, dos risos e da festa.

Esse texto foi escrito em 2005 e faz parte do meu livro Coração Parahybano, que você pode baixar gratuitamente clicando no link que esta no alto da coluna da direita.

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Vai um torresmo?

Clotilde Tavares | 22 de abril de 2011

Nas Minas Gerais, o torresmo está presente em tudo. Iguaria politica e nutricionalmente incorreta, gordura pura, colesterol em estado de exagero, mantive-me à distância; e muito embora o que excite minha gula são mesmo os doces, não posso negar o apelo irresistível do torresmo, crocante e saboroso, parede ideal para a cerveja como reza a foto.

A manhã hoje foi passada no Mercado Central de Belo Horizonte, vadiando por entre os boxes repletos de todo o tipo de coisa.

Depois, um bacalhau no tradicional Restaurante do Porto, na Espírito Santo com Aimorés, a uma quadra de onde estou hospedada.

Agora é jiboiar um pouco e arrumar as malas para voltar amanhã ao Rio Grande do Norte, para Natal, a Noiva do Sol, minha cidade querida (como gostava de dizer o mestre Câmara Cascudo).

Estou troncha de saudade.

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