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Cortando lenha

Clotilde Tavares | 12 de setembro de 2010

Aqueles que recebem meus emails já devem ter notado que uso uma assinatura fixa onde, além dos meu nome e telefones, eu refiro a cidade onde estou morando – Natal/RN – e links para o twitter, para este blog e para o meu site de Genealogia.

Também vez por outra acrescento mais uma informação, ou uma frase, como a de Thoreau que atualmente fecha a minha assinatura: “Corta tua própria lenha e ela te aquecerá duas vezes.”

É uma das minhas frases favoritas – tenho outras – mas essa traz embutida a ideia da pessoa encontrar realização nas tarefas secundárias do próprio trabalho, tirando dali prazeres extra, que muitas vezes não se percebe à primeira vista. A lenha tem o objetivo de aquecer a pessoa, enquanto queimada na lareira; mas se a pessoa cortá-la ela mesma, também terá um benefício adicional, pois a atividade a aquecerá também.

É por isso que continuo arrumando minhas estantes e eu mesma espanando meus livros; faço todo o trabalho manual suscitado pela minha atividade de escritora, como digitar textos, colar meus próprios recortes de jornal num caderno, arrumar as gavetas, limpar e organizar a mesa e mais o que for preciso. Enquanto estou ali, mexendo naqueles objetos que uso para desempenhar minha atividade, estou me “aquecendo” pela primeira vez. O manuseio dos lápis e canetas, dos papéis e cadernos, das imagens, recortes, postais e fotografias que são pregados no quadro de avisos que mantenho, tudo isso leva o cérebro a entrar na frequência do trabalho.

Quem convive comigo acha engraçado porque não me vê escrever. É assim mesmo. Escrevo dentro da cabeça, “enquanto corto minha lenha”. Quando sento no computador, já está tudo pronto, bem organizado, com começo-meio-fim, e escrevo quase de uma “sentada”. Depois, é só imprimir e corrigir, corrigir, corrigir até ficar limpo.

Simples assim.

Outra coisa que há na minha assinatura de e-mail é a frase latina “In omnia paratus”. Mas isso fica para o próximo post.

No blog SalaDa Médica, Meire Gomes conta uma história engraçada que se passou comigo. Aproveite para dar uma passadinha lá e ver os outros posts da Dra. Meire, inteligentíssima e antenada, dando opinião sobre tudo o que é de assunto.

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atividade do escritor, escrever, Meire Gomes, Thoreau
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A delícia das coisas simples

Clotilde Tavares | 9 de setembro de 2010

Convido hoje o meu caro leitor para um reflexão a respeito da extrema delícia das coisas simples. Isso não quer dizer que eu não goste do requinte, da sofisticação. Mas além disso está a simplicidade, que termina sendo o extremo requinte. A simplicidade é o requinte do requinte.

Por exemplo, uma rede. Quer coisa mais simples, e que consegue dar mais prazer do que uma rede? Uma simples pedaço de pano grosso, suspenso no ar a partir dos seus extremos, móvel, balouçante e macia, herança preciosa dos nossos antepassados indígenas? Uma rede é a glória, a glória suprema. Mas é preciso saber se deitar, e não é todo mundo que sabe se deitar numa rede. É preciso descobrir o ângulo absolutamente certo entre a posição do seu corpo e a beirada da rede.

Falando em simplicidade, e em rede, lembro logo do sertão e de uma pousada em que fiquei hospedada em Paraú, ou Espírito Santo do Oeste, no Rio Grande do Norte. Quando cheguei na pousada, a mulher olhou assim para mim e disse “- Você dorme de rede?” Eu, cansada que vinha, caí nos braços dela: “- Durmo, querida…” Mergulhei então no berço daquela rede, dentro da qual fiquei me espojando feito um potro novo, preguiçando e espantando o cansaço… A rede era vermelha e a varanda era um poema de crochê, pesada, tecida numa linha grossa. Joguei-a por cima de mim e ela veio, se adaptando ao meu corpo, me fazendo uma carícia, aquela varanda pesada… Ô delícia…

O quarto tinha apenas a rede e uma cadeira onde coloquei a mala, mas era limpíssimo, paredes alvas e o chão brilhante de tão esfregado. O meu caro leitor talvez achasse essa hospedagem pobre, mas eu lhe digo que somente a rede era melhor do que aqueles apartamentos de hotel metido a besta de interior, com frigobar e outras bobagens. Para que é que eu vou querer um frigobar, quando posso dizer: “- Ei, a senhora tem um docinho?” ou “- Comadre, me arranje um cafezinho…” Telefone também não é necessário porque posso me levantar e chamar quem eu quero. Está todo mundo ali, pertinho, ao alcance da voz.

Depois, o jantar. Um jantar sertanejo. Arroz de leite, alvo, os pedacinhos de queijo amarelinhos apontando aqui e ali no meio do arroz. Carne assada, um feijãozinho macassar bem sequinho, sem muito caldo, e uma batata doce merecedora de um poema, uma canção, enxutinha, uma delícia. Depois, um suco de maracujá delicioso, feito com maracujá que não é comprado em supermercado porque é completamente diferente daquele que eu tomo em casa.

Pedi doce, não tinha, mandaram comprar. Daí a pouco entrou Salete – que é o nome da dona da pousada e criadora dessas delícias – com o pedaço de doce espetado na ponta de uma faca. Fiquei me sentindo medieval, comendo com a faca, metendo a faca na boca e com olhos molhadinhos de lágrimas, lembrando de que Mamãe, lá de Coxixola, na Paraíba, me servia doce desse mesmo jeitinho. Depois Salete me trouxe café e água e eu disse: meu Deus, eu não saio mais daqui.

Mas tive que sair, caro leitor. Tive que seguir viagem, mas acrescentei às minhas experiências essa, especial entre todas: o sertão e a sua simplicidade, das pessoas e das coisas.

Essa é mais uma das crônicas já publicadas no meu livro “A Agulha do Desejo” (Natal, Engenho de Arte, 2003), que você encontra na Estante Virtual e em breve disponível para download gratuito aqui mesmo neste site. A foto é minha, de 1999, e mostra as cercanias da cidade de Paraú-RN.

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Cariri, Paraú, rede, sertão, simplicidade, sofisticação
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Ri-ri, miss e Jesus

Clotilde Tavares | 15 de agosto de 2010

Talvez o meu caro leitor não saiba, mas sou uma moça prendada, educada em colégio de freiras e dominando habilidades que hoje não mais fazem parte da educação das jovens. Assim é que sei costurar, bordar, fazer tricô, crochê e ponto de cruz. Imbuída da importância de tais tarefas, e horrorizada com o preço cobrado pelas costureiras, vez por outra resolvo eu mesma costurar, tarefa na qual me saio muito bem, apesar de certa dificuldade em enfiar a linha na agulha.

Entre os aviamentos usados na arte da costura, um dos mais comuns é o fecho éclair, que sempre me faz lembrar de uma conhecida minha, que chamava essa peça de “flash”, segundo ela porque abria e fechava com rapidez. Ora, essa explicação tem tudo a ver, já que “éclair”, em francês, significa relâmpago. Minha mãe o chamava de “ri-ri”, pelo barulhinho que o fecho fazia ao deslizar. E se você achou engraçado, caro leitor, lembre-se de que em inglês o termo para esse tipo de fecho é “zipper”, que vem exatamente da palavra “zip”, que quer dizer silvo, sibilo. Tanto a palavra sertaneja como a inglesa servem ao mesmo propósito: designar o objeto aludindo ao som que ele provoca.

É curioso observar os nomes que as coisas adquirem, de acordo com o estado, ou a região. Eu chamo aquele arco de colocar na cabeça prendendo os cabelos de “diadema”. Muita gente chama de “arco”, ou “tiara” e já vi chamarem também de “traca”.

Um simples friso de cabelo pode levar a confusões indescritíveis. Você pode andar uma cidade inteira à procura de um friso, e não vai encontrar, pois nesse local o conhecem por “grampo”. E eu andei uma tarde todinha pelas lojas da Avenida Sete, no Campo Grande, na Bahia, querendo comprar uma caixa de frisos, para somente depois, ao chegar no Hotel, descobrir que o nome daquilo, na Bahia, era “miss”. Já minha mãe, no seu linguajar sertanejo, chamava friso de “biliro”.

Tem também umas coisas que são deliciosas. No Maranhão, por exemplo, existe – ou existia – um refrigerante como um guaraná que é cor de rosa e cujo nome é “Jesus”. Uma das coisas que eu mais gostava quando ia a São Luís era entrar numa lanchonete e dizer “- Moço, me dá um Jesus!” E lá vinha o homem com aquela garrafa da cor de uma pétala de rosa.

Palavras, palavras, palavras: tão ricas, tão belas, tão saborosas. Inglesas, francesas ou sertanejas, não importa: na boca do povo ganham vida, ganham alma e graças a elas esta que hoje vos escreve tem assunto para este domingo preguiçoso.

Essa garrafinha de Jesus foi meu compadre Carlos von Sohsten quem trouxe pra mim do Maranhão no ano passado. Fui na casa dele degustar a iguaria e fiz a foto com meu afilhado Vinicius. Eu adoro Jesus!

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arco de cabelo, biliro, Cariri, diadema, fecho-eclair, friso, guaraná jesus, miss, palavras, ri-ri, tiara, von Sohsten, zipper
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Barco perdido bem carregado

Clotilde Tavares | 24 de julho de 2010

É só imaginar: faz de conta que você compra um monte de coisas de valor e carrega um navio com elas, para entregar em algum lugar. No meio da viagem o barco se perde e fica vagando por aí, prato cheio para qualquer sabido que o encontrar primeiro e se apossar dele.

Essa imagem “barco perdido, bem carregado” eu conheço desde criança e sempre a vi ser aplicada àquelas pessoas que estão por aí, inocentemente, dando sopa, cheias de amor pra dar, soltas na gandaia e sem ter noção do perigo que correm.

Há uma música de Elino Julião que começa assim: “Barco perdido, bem carregado/ Eu tinha chegado em Natal/ Muito mal eu sabia onde era as Rocas/ Caí na fofoca legal”, diz a primeira quadra, traçando o retrato da situação.E continua: “Do Areal eu fui à Pista/ Limpei a vista na Tetéia/ Saí tomando uns capilé/ E quando dei fé, tava na Coréia…”

Reconstituindo o roteiro do personagem, vemos que ele não conhecia a cidade pois “muito mal sabia onde era as Rocas”. Junta-se a uma turma, das Rocas passa ao Areal e do Areal à Pista, que era como chamavam na década de 1950 à Avenida Hermes da Fonseca, a primeira avenida asfaltada da cidade, tendo sido o asfalto feito pelos americanos na época da Guerra. Aí o compositor diz que, depois de chegar à Pista, “limpou a vista na Tetéia”. Limpar a vista como? Vendo a paisagem? Haveria ali, antes do horizonte ser tomado por edifícios, um lugar especial para visualizar o azul do mar ou o verde do rio ao longe? E que Tetéia era essa? Perguntei a um, perguntei a outro, entrevistei notáveis e conceituados historiadores mas ninguém me dava notícia do que seria a Tetéia.

Aí telefonei para o próprio Elino Julião, que me solucionou o mistério. Segundo ele, na curva da Pista, quando a Hermes da Fonseca dobra ali na Praça das Flores, pertinho de onde hoje é o Mercado de Petrópolis, havia uma barraquinha, uma birosca, onde a rapaziada encostava pra tomar uma cachacinha com parede de tripa ou ribaçã assada, sirigüela ou picado. A proprietária, idosa, mal humorada, reclamando de tudo, cachimbo no canto da boca, um dente lá e outro cá, um pano amarrado na cabeça, atendia pelo doce nome de Tetéia. E “limpar a vista” era tão somente tomar uma “chamada”, para aclarar as idéias.

Com efeito, o personagem da música sai dali “tomando uns capilés” e quando dá acordo de si está na “Coréia” onde, como repete no estribilho, “só tem véia, só tem véia, no forró da Coréia…”

Elino Julião é ainda quem informa que o tal forró ficava nas imediações da lagoa que existia onde hoje é o Centro Administrativo. Forró pobre, decadente, sem paredes, latada precária, fora de mão, longe de tudo, frequentado apenas por aquelas mulheres que, desgastadas pelo exercício profissional, banidas dos bordéis de luxo, somente ali encontravam guarida.

A segunda estrofe da música fecha a história e é um apelo do personagem, ainda atordoado pela terrífica visão das velhas bacantes: “De outra vez quando eu for ao Rio Grande/ Por favor não me deixe eu andar só/ Eu prefiro ficar em Igapó/ Daquele forró, tenho receio/ A Praia do Meio é bom pra mim/ No Alecrim a gente se faz/ Eu fico lá trocando idéia/ Na Coréia eu não vou mais…”

Elino Julião

Elino tinha uma voz belíssima, bem modulada, gostosa. Era uma pessoa divertida, engraçada, um homem encantador. Quando ele ganhou o Prêmio Hangar de Música fui convidada para entregar-lhe o troféu. Fiz os elogios de praxe, chamei-o ao palco do Teatro Alberto Maranhão. Aí lá vem Elino, deslumbrante em um terno branco por cima de uma camisa azul brilhante, chiquérrimo, um arraso. Abraçou-me, me deu um beijo e cadê me soltar? Eu querendo formalizar a entrega do troféu mas ele estava lá, com uma pegada seguríssima, a mão na minha cintura.

Esse era Elino Julião. Risada gostosa, encanto de pessoa, artista completo, força sempre viva da nossa cultura.

Saiba mais aqui sobre Elino.

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barco perdido bem carregado, Elino Julião, forro da Coréia, forró nordestino, rabo do jumento
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Marlyse Meyer (1924-2010)

Clotilde Tavares | 21 de julho de 2010

Nesta segunda-feira que passou, morreu uma grande dama da Literatura e da Crítica brasileira: Marlyse Meyer.

Não vou me deter nas suas obras, ou no seu trabalho, que é vasto e inclui crítica, ensaio e dramaturgia, porque isso a imprensa tem feito, e se você fizer uma busca no Google vai encontrar tudo melhor do que se eu escrevesse aqui. O curioso é que, em post do dia 11 de junho, eu a homenageei como uma das mulheres que fizeram diferença em minha vida.

Conheci Marlyse Meyer aqui em Natal, há uns 15 anos, em evento organizado para homenagear o Dia Internacional da Mulher, eu acho. Como parte desse evento havia uma noite coletiva de autógrafos, onde muitas escritoras estavam presentes. No grande salão da Capitania das Artes, várias mesinhas isoladas umas das outras e, sentada a cada uma delas, a respectiva escritora, com seus livros, à espera do público. Eu entrei e fiquei olhando aquele arranjo estranho, pois se algumas delas tinham uma verdadeira multidão em volta, como a escritora Rachel de Queiroz, que ali estava, e uma ou outra escritora local que tinha entre amigos e familiares o seu público, outras estavam isoladas, sozinhas, e com aquela cara de simpatia resignada que a gente faz quando está pagando o maior mico mas não pode descer do salto e se dar por achada.

Uma delas me chamou a atenção, pelo porte, pela idade, pela elegância e pelo ar blasé com que encarava aquilo tudo. Não havia ninguém ao seu redor e eu disse para mim mesma:

– Vou conversar com aquela senhora.

E foi o que fiz. Apresentei-me, perguntei o nome dela, perguntei sobre o livro – já escrevi sobre ele, aqui – e começamos a nos descobrir uma à outra, duas mulheres tão diferentes mas tão iguais pela ressonância das preferências literárias e artísticas. Ela, como eu, era doida por teatro e pela cultura popular; por isso achamos assunto para conversa que durou mais de uma hora.

Aí, toda vez que ela vinha a Natal, eu ia bater onde ela estivesse, e ficávamos de conversê. Numa das suas visitas, ela foi ver a nossa peça O Pavão Mysteriozo, que estava em cartaz, dirigida por Marcos Bulhões, com adaptação minha, onde eu também atuava como atriz.

Ficou louca pelo espetáculo.

-Temos que levar essa peça a São Paulo imediatamenete – dizia ela, empolgada. – Vou falar com Antonio Nóbrega, aquele teatro dele é perfeito para vocês.

Infelizmente, o grupo era formado por amadores – no sentido pior da palavra, ou seja, por atores sem compromisso com o espetáculo. Não quiseram viajar e o pavão não conseguiu decolar nesse vôo. Ela, de outra vez que veio, lamentou muito isso.

Tenho vários livros seus com dedicatórias carinhosas. Sinto-me honrada pela maneira gentil com que sempre me tratou, compartilhando comigo um pouco do seu conhecimento, da sua inteligência e da sua companhia e papo agradável.

Na segunda-feira, ela deixou esta vida. Tinha 86 anos e estava doente.

E eu, me sentindo tampém um pouco órfã espiritualmente, presto-lhe aqui esta homenagem.

Abaixo, o seu obituário, publicado pela Folha de São Paulo.


A mulher que sabia demais
Jornal Folha de São Paulo – Cotidiano

MARCO RODRIGO ALMEIDA
DE SÃO PAULO
A erudição de Marlyse Madeleine Meyer era tamanha que surpreendia a todos que a conheceram. Durante sua carreira como professora de literatura da USP e da Unicamp, corria o boato de que apenas Antonio Candido teria lido mais livros do que ela. Voraz por conhecimento, Marlyse conhecia toda a produção literária brasileira.

Sua formação, entretanto, foi variada. Discorria com igual prazer tanto sobre o romance francês do século 19 quanto sobre a cultura popular e as telenovelas. Ativa, mesmo depois de aposentada era presença constante nas universidades. Orientou dezenas de projetos e sempre tinha um livro para emprestar aos alunos.

A relação da professora com a cultura francesa aprofundou-se em 1953, quando se mudou com o marido, o físico João Meyer, para Paris, onde deu aula de cultura brasileira na Sorbonne.

De volta ao Brasil em 1975, fundou um grupo de pesquisa na USP com o nome de Instituto de Altos e Baixos Estudos, fazendo alusão aos seus ecléticos interesses. Entre suas obras, destaca-se o livro “Folhetim – Uma História”, análise que aponta a relação da novela brasileira com o romance seriado francês do século 19.

Entre 1999 e 2001, Meyer dirigiu o Centro Brasileiro de Estudos da Fundação Memorial da América Latina. Às 9h30 de ontem, sofreu uma parada cardíaca. Morreu aos 85 anos. Divorciada, deixou três filhos e dois netos. O velório será hoje, a partir das 11h, no Cemitério Israelita do Butantã.

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Casa Grande e Senzala – em quadrinhos.

Clotilde Tavares | 3 de maio de 2010

Todo mundo, mesmo quem não é muito chegado à leitura, já ouviu falar da obra de Gilberto Freyre, que tem o título de “Casa Grande e Senzala”. Gilberto Freyre (1900-1987), sociólogo pernambucano, escreveu esse livro em 1933, e a importância desta obra colocou-a definitivamente na relação dos livros que devem ser lidos por qualquer pessoa que queira entender o Brasil.

Para o leitor comum, ler “Casa Grande e Senzala” é uma tarefa, pois a obra é vasta, extensa, profunda, recheada de informações. Junto com “Sobrados e Mocambos” e “Ordem e Progresso” forma a trilogia conhecida como “Introdução à História da Sociedade Patriarcal”, constituindo esses três livros um documento mestre para quem deseja entender como se formou a nossa sociedade, o seu processo de colonização, e porque somos da maneira que somos hoje.

Muita gente pode até nem concordar com as idéias de Gilberto Freyre. Eu mesma só o li recentemente, cumprindo a tarefa de preencher lacunas da minha formação que ficaram abertas por puro preconceito. O caso é que na época em que deveria ter lido a obra de Freyre, no Mestrado, estávamos em plena ditadura militar e o nosso curso – como muitos no Brasil – tinha uma orientação marxista que era mais ou menos declarada. Nós e nossos professores execrávamos esses autores como Freyre, chamados “funcionalistas”, porque achávamos que quem pensava diferente de nós não merecia o privilégio da nossa leitura. Naquele tempo, as turmas não se misturavam, marxista só andava com marxista e todos, dentro do seu gueto pessoal, estavam de acordo uns com os outros.

Essa atitude, que hoje reconheço limitada mas que era normal naquele tempo, privou-me de um monte de leituras interessantes que somente muitos anos depois pude ler sem achar que estava traindo a mim e ao povo brasileiro. Entre elas incluo textos espiritualistas e filosóficos e romances, poemas e ensaios de autores ditos “reacionários”.

Voltando a Gilberto Freyre e a “Casa Grande e Senzala”, há uma edição em quadrinhos publicada pela Global Editora. Se não é um estudioso ou acadêmico e não quer encarar o desafio das centenas de páginas mas tem uma curiosidade natural e saudável sobre a obra pode fazê-lo agora, de forma “light” e suave.

Publicado pela primeira vez em 1981, o livro foi planejado por Adolfo Azien e roteirizado por Estêvão Pinto, com ilustrações de Washt Rodrigues, posteriormente colorizadas por Noguchi. A versão quadrinizada é sucinta, didática, mas permite vislumbrar as principais idéias da obra de Freyre, fazendo um apanhado dos fatos e costumes dos povos que formaram a nação brasileira, desde o início da colonização português até a época da escravidão, mostrando o fenômeno da miscigenação e revelando de que modo cada um dos povos fundadores – portugueses, africanos e índios – influiu na nossa cultura.

E se depois de lê-la você quiser conhecer a obra original, a Global Editora também tem em catálogo, em edições cuidadosas e bonitas, os outros livros de Gilberto Freyre, leitura que vale a pena ser feita, boa para a nossa auto-estima e para o exercício da nossa nordestinidade.

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Casa Grande e Senzala, Gilberto Freyre, Global Editora
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O texto e o som

Clotilde Tavares | 26 de abril de 2010

Eu estava navegando na internet e li uma notícia muito interessante. Richard Johnston, um estudante de pós graduação em Harvard e coordenador de um projeto sobre Shakespeare, recomenda a leitura e a audição ao mesmo tempo da peça Hamlet. É só fazer o download para o seu e-reader (o meu é o PRS-600 da Sony) do texto e do audio-book.

O e-reader permite a execução simultânea de ambos – som e texto – e deve ser interessante, pelo menos para mim, que estudo o texto do Hamlet há bastante tempo e nunca tinha tido essa idéia. E é claro que isso pode ser feito com muitas outras obras. Já existem audio-books disponíveis para download de muitas obras clássicas em português e é uma forma interessante de unir Literatura e tecnologia. Não precisa ter e-reader. O áudio, geralmente em MP3, pode ser ouvido enquanto se lê o livro de papel.

Penso que isso poderia ser utilizado para que os alunos pré-vestibulandos tivessem um acesso mais “suave” às obras que devem obrigatoriamente ler para o vestibular. Isso tem a ver comigo neste ano pois o meu livro A Botija foi indicado para o vestibular 2011 da Universidade Federal de Campina Grande, e já começam a chegar ao meu email pedidos para que eu “ajude” professores e alunos a “transformar” o livro em “peça-de-teatro”.

Entre os professores de colégios e cursinhos há uma tendência em se transformar os livros em peças de teatro para que os alunos “conheçam a história” e “mantenham o pique” nas aulas de Literatura. São coisas que a gente ouve comumente na TV, nas matérias dos telejornais, quando se aproxima a época das provas. Um dia desses vi um dos professores entrevistados sobre o tema dizer que dessa forma “os livros ganham vida”.

Ora, minha gente! Eu milito tanto no campo do Teatro como no campo da Literatura, e fico bem à vontade para falar sobre ambos. Os romances não são meras “histórias” e não é bastante saber “o que aconteceu”. Um romance é o estilo, é a forma de contar a história, de costurar o enredo, é o uso precioso da linguagem. Um romance pode ser adaptado para o teatro, mas o resultado não vai nunca ser o romance: vai ser uma outra obra, usando uma linguagem diferente, a linguagem da cena.

E desde quando os livros só “criam vida” se forem representados no palco? Os livros criam vida na tela da nossa mente, que se torna um palco interior, povoado pelas imagens evocadas por aquilo que lemos.

Parece que o problema está aí. Entendo a imaginação como a capacidade de criar imagens mentais, e penso também que essa capacidade anda um pouco atrofiada nas mentes dos espectadores em que nos transformamos todos. Nossa vida moderna depende sempre de um écran, de uma tela: televisão, computador, games, vídeos, mostrador de celular e os inúmeros monitores espalhados pelo ambiente urbano que nos dizem o que queremos ou precisamos saber.

Então, o cérebro se acostuma a receber essa imagem já pronta e perde a capacidade de formar suas próprias imagens a partir de mensagens escritas. Por isso, o prazer dos romances deixa de existir, e é preciso transformar esse romance em “imagem” (a peça de teatro) para que ele possa tornar-se “vivo”.

Um dia desses ouvi na livraria uma jovem dizendo a outra, que manuseava um romance: “Ver um filme, tudo bem, mas ler um livro desse inteirinho… Sem condição!” E eu concordo que realmente não há condição da criatura ler um livro de trezentas páginas se ela não consegue visualizar, imaginar, criar mentalmente cenas e personagens.

É uma pena, pois além dos jovens estarem perdendo essa capacidade com a omissão ou concordância do sistema de ensino, a imagem que as telas de todo tipo jogam na mente deles já vem pronta, acabada, carregada de um conteúdo que, muitas vezes, ele não pode nem sabe criticar.

Nesta semana uma simpática jovem me enviou um email, pedindo-me para “ajudar” o grupo de alunos a transformar o meu livro em peça, num Seminário de Literatura do qual iam participar. Aí eu perguntei se, como se tratava de um seminário de Literatura, por que queriam transformar um livro em teatro? Seria a mesma coisa que, num seminário de Teatro, em vez de apresentarem as peças, as transformassem em livros e dessem para a platéia ler!

E você? O que pensa disso tudo?

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A preparação espiritual do ator

Clotilde Tavares | 25 de abril de 2010

Hoje deixem-me falar sobre teatro. O teatro, arte onde milito há anos, ora como atriz, ora como dramaturga, ora com professora, é uma atividade absorvente e muitas vezes ingrata, principalmente quando perseguimos um resultado que pretende ser mais artístico do que comercial, quando buscamos mais a evolução estética da arte que praticamos do que uma gorda bilheteria e casas lotadas.

Por outro lado, como viver de teatro sem atender aos aspectos comerciais da arte? Como pagar o aluguel, a escola das crianças e a conta do supermercado sem vender ingressos? Artistas moram, comem, têm filhos, usam luz elétrica e água encanada. Parece óbvio, mas muita gente esquece disso e adora pedir uma cortesia para não pagar dez reais por um ingresso. Conciliar arte com mercado, eis o grande dilema de produtores, diretores e atores, que vivem tendo o palco como o centro pulsante e apaixonado de suas vidas.

Entre os vários problemas que o teatro nos coloca, está um, crucial nos dias de hoje, que é a formação do ator. O espaço aqui é pequeno para uma discussão dessas, mas é possível levantar alguns pontos. Sempre defendi, como pessoa de teatro, aquilo que chamo de preparação espiritual do ator.

Essa tal preparação “espiritual” não tem nada a ver com religião, mas com a elevação do espírito, do intelecto, das idéias, dessa parte imponderável do ser humano que extrapola as habilidades corporais desenvolvidas pelos exercícios, que hoje em dia são muitas vezes colocadas como os principais requisitos para o trabalho teatral. Essas técnicas são importantes mas ficam vazias e mecânicas se o ator não tiver esse desenvolvimento interno, do “espírito”, da sua essência enquanto ser humano.

Ler, pensar, trocar idéias, ver filmes, ver quadros, ouvir música, experimentar outros tipos de artes, experienciar a transcendência, a ampliação da consciência, praticar a felicidade, tocar um instrumento musical, observar a natureza e aprender com ela…

Mas tudo isso dá trabalho e a maioria dos jovens atores continua com um pé no palco e os olhos e o desejo na TV Globo, sem sequer ir ao cinema, quanto mais ler um livro! Aí fica aquela casca seca, dominando técnicas corporais, encostando o calcanhar na nuca, mas sem referências interiores para cumprir a tarefa do ator que é criar do nada, tendo como ponto de partida apenas as falas do texto, um personagem completo.

E é aí que reside a mágica desta arte. Criar um ser humano de verdade – de verdade enquanto a cena existe – dando-lhe alma, vida, energia, emoções, suor, sangue, lágrimas e risos! Quem poderia aspirar a uma tarefa mais empolgante do que esta? Um tarefa de deuses? E isso acontece todo dia no teatro, mas num teatro feito por pessoas que, além de músculos, ossos, tendões e ligamentos tenham também espírito, alma e essência.

Este post é dedicado aos participantes da oficina “Devorando Hamlet”, promovida pelo Núcleo dos Jovens Artistas, que ministrei de 19 a 23 deste, e que me afastou deste blog por uma semana. Comemoramos com esta oficina, como o faço anualmente, o aniversário de Mr. William Shakespeare.

Entre os jovens, fico mais jovem. Da esquerda para a direita: Neto, Alexandrina, Liana, David, Maria, Thales, Ranieri, Ana Carolina e Múcia. A foto fica melhor se você clicar em cima dela para vê-la em tamanho grande.


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Parabéns para Shakespeare!

Clotilde Tavares | 23 de abril de 2010

Hoje, 23 de abril, comemora-se o aniversário do nascimento de William Shakespeare, ocorrido no ano de 1564, em Stratford-on-Avon. Aqui faço esta homenagem ao poeta inglês, objeto da minha profunda admiração e paixão desvairada, para sempre e eternamente.

Toda a produção de Shakespeare é estupenda. Foram 38 peças, além de 154 sonetos, considerados entre os mais belos em língua inglesa. Morreu em 1616, aos 52 anos, depois de uma noitada alegre com os amigos, tendo vivido toda a sua vida ligado à prática teatral, onde fez fortuna e fama.

Segundo o crítico Harold Bloom, no seu livro “A Invenção do Humano”, Shakespeare “pensou mais originalmente do que qualquer outro escritor e tinha um domínio quase sem esforço da linguagem”. Seus personagens tão humanos, quase mais humanos do que nós mesmos, nos lançam numa investigação interior da qual não podemos escapar. Ao ler, ou ver qualquer das suas tragédias, principalmente “Hamlet” ou “Macbeth”, é como se estivéssemos abrindo nossa alma no divã de um psicanalista. As comédias também não são um simples passatempo, mas nos levam à nossa própria “floresta de Arden”, onde nos perdemos para nos encontrar, como Rosalinda, em “Como Gostais”.

Bloom diz ainda que ele criou mais contextos para nos explicar, a nós, seres humanos, do que somos capazes de criar para explicar seus personagens: Hamlet, Lear, Falstaff, e os vilões Iago, Ricardo III, Edmundo e Macbeth, são um estudo profundíssimo da natureza humana. E as mulheres! Cordelia, Rosalinda, Viola e a maravilhosa Beatrice de “Muito Barulho Por Nada”… Seres que povoam os palcos do mundo há quatrocentos anos e cujas possibilidades estão longe de serem esgotadas.

Mas afinal, Shakespeare existiu mesmo? É uma pergunta que sempre escuto quando o assunto vem à tona. Quem conhece e estuda a obra do poeta inglês já está acostumado com isso e sabe que periodicamente aparece alguém colocando em dúvida a autoria das peças e sonetos, já atribuída a mais de cinqüenta nomes, incluindo Christopher Marlowe, Francis Bacon, o Conde de Oxford e até a própria rainha Elizabeth I!

Felizmente para os bardólatras, como eu, não há mais dúvidas sobre quem escreveu as peças: foi ele mesmo, William Shakespeare, quem em 1582 já vivia em Londres, fazendo e escrevendo teatro.  O jovem William foi para Londres aos vinte e três anos de idade onde, começando como ator, passou depois a escrever peças e em 1599 tornou-se um dos sócios do Globe Theatre. Em 1603, passou a fazer parte dos “Homens do Rei”, a mais importante companhia teatral da Inglaterra. São também desse período, início do século XVII, as suas obras mais importantes, como “Hamlet” (1601), “Rei Lear” (1605) e “Macbeth” (1606).

Unânimes nesse reconhecimento, os estudiosos shakespearianos já se acostumaram com o fato de que vez por outra aparece alguém em busca da notoriedade conferida por uma crítica ou um fato em relação a Shakespeare. É a grandeza do poeta inglês que leva o mundo a ficar sempre de olho nele, mesmo depois de decorridos quase quatrocentos anos da sua morte.

Foram muitos os nomes que duvidaram da sua real existência, como Mark Twain, Henry James, Sigmund Freud, Charles Dickens, Walt Withman e Charles Chaplin. A autoria foi questionada a primeira vez em 1796, por um certo Herbert Lawrence, e em 1848, por Joseph Hart. Surgiu então Delia Bacon, uma americana radicada na Inglaterra em 1853, que se dizia descendente do filósofo inglês Francis Bacon, e afirmou ter provas de que fora o seu antepassado e não Shakespeare o autor das obras famosas. O debate pegou fogo nos meios acadêmicos, nada foi provado e a sra. Bacon terminou seus dias num manicômio, talvez por não ter sido levada a sério.

Roger Pringle, diretor da Fundação Shakespeare Birthplace, não acredita nos argumentos apresentados pelos pesquisadores que vez por outra aparecem com dientidades novaa para W Shakespeare. Diz ele que o que os move é apenas o desejo de vender livros. Já Ann Thompson, professora do King’s College London e editora da série Arden Shakespeare, defende que tudo isso é puro preconceito: setores do meio acadêmico e intelectual jamais aceitaram que um homem sem instrução universitária pudesse erguer tais monumentos literários. É mais uma vez o preconceito do erudito contra o popular, deformação que persegue Shakespeare há quatrocentos anos e que nossos autores de cordel e poetas populares já experimentaram várias vezes, na própria pele.

Compartilho aqui com você algumas jóias do poeta inglês. Vejam esta, bem adequadas a estes nossos tempos, onde se fala sem pensar e se difama por distração: “O bom nome para o homem e para a mulher, meu caro senhor, é a jóia suprema da alma. Quem rouba minha bolsa, rouba uma ninharia. É qualquer coisa, nada; era minha, era dele, foi escrava de outros mil. Mas quem surrupia meu bom nome tira-me o que não o enriquece e torna-me completamente pobre.” (“Othelo”, Ato III, Cena 3).

Há, também uma peça dele, não tão conhecida, “Como Gostais” (“As you like it”), uma deliciosa comédia, cheia de tramas, onde a heroína se disfarça de homem e os poemas de amor parecem nascer nas árvores. Um dos seus melhores momentos é a fala do personagem Jacques, na Cena 7 do Ato II, sobre as “sete idades do homem” e traça um retrato entre trágico e irônico do que é a nossa vida.

Jacques começa dizendo que “…O mundo é um palco; os homens e as mulheres, meros artistas, que entram nele e saem. Muitos papéis cada um tem no seu tempo; sete atos, sete idades. Na primeira, no braço da ama grita e baba o infante. O escolar lamuriento vem depois, com a mala, de rosto matinal, e como serpente se arrasta para a escola, a contragosto. Então vem o amante, fornalha acesa, celebrando em balada dolorida as sobrancelhas da mulher amada. A seguir, estadeia-se o soldado, cheio de juras feita sem propósito, com barba de leopardo, mui zeloso nos pontos de honra, a questionar sem causa, buscando a falaz glória até mesmo na boca dos canhões. Segue-se o juiz, com ventre bem forrado de cevados capões, olhar severo, barba cuidada, impando de sentenças e de casos da prática; desta arte seu papel representa. A sexta idade em calças magras tremelica, óculos no nariz, bolsa de lado, e a voz viril e forte, que ao falsete infantil voltou de novo, chia e sopra ao cantar. A última cena, remate desta história aventurosa, é mero olvido, uma segunda infância, falha de vista, de dentes, de gosto e de tudo.”

Ah, meu caro leitor! Ninguém descreveu com tanta poesia e capacidade de síntese esta vida que levamos. Shakespeare é uma leitura grandiosa, a qualquer estado de espírito, a qualquer necessidade da alma. Sempre haverá uma peça, ou trecho dela, que exprima exatamente aquilo que estamos pensando e às vezes nem compreendemos direito; ou aquilo que queremos dizer mas não sabemos como.

E é por isso que nós aqui, mais de quatrocentos anos depois, estamos repetindo as palavras deste homem que com sua arte, conseguiu levantar o véu que encobre essa matéria sutil: a Alma Humana.

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Augosto dos Anjos, 1884-1911.

Clotilde Tavares | 20 de abril de 2010

Augusto dos Anjos

Hoje comemoramos o nascimento do poeta Augusto dos Anjos, nascido em Sapé, Paraíba, há 126 anos.

Autor de poemas imortais, que estão impressos no DNA dos paraibanos como eu, como é o caso dos “Versos Íntimos”, Augusto era dono de uma sintaxe peculiar e de uma temática que o torna único entre os poetas brasileiros. Aprendi a recitar os sonetos de Augusto quando menina, e ainda sei, passadas tantas décadas, muitos deles. Quando estou sozinha, gosto de recitá-los em voz alta, deixando que os grandiosos versos se espalhem no ar, se desenrolem pelo espaço invadindo salas e quartos, passem à varanda e tomem conta da cidade, aumentando o teor de poesia do Universo. Com isso, obviamente, corro o risco de ser considerada doida e passível de internamento pelos vizinhos, mas confio no poder da Poesia e acredito na força da Arte. E continuo recitando.

Com vocês, Augusto dos Anjos! E recitem alto, por favor.

VERSOS ÍNTIMOS

Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão – esta pantera –
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
E a mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
E escarra nessa boca que te beija!

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