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Domingo de Páscoa

Clotilde Tavares | 31 de março de 2013

Neste domingo de Páscoa, tenho recebido muitas mensagens desejando Feliz Páscoa, às quais agradeço de coração. A Páscoa, como todos sabem, é uma das maiores festas da cristandade, onde se comemora a ressurreição de Cristo. Quando eu era menina, essas histórias soavam meio estranhas na minha cabeça pois a contabilidade não batia bem: se Jesus foi crucificado e morreu na sexta-feira, e ao terceiro dia ressurgiu dos mortos, como é que se comemora a ressurreição no domingo, apenas dois dias depois? Para a minha mente lógica de pequena pentelha de oito anos, algo estaria errado nessa conta, até que aprendi que nesses assuntos de religião a gente não questiona muito não, senão a freira vem e põe você de castigo. Aí, nada de ovos de chocolate.

Pois muito bem: se a festa é para comemorar a ressurreição de Cristo, mesmo considerando dois dias no lugar de três, o que isso tem a ver com ovos e coelhos? Só consegui entender isso depois de adulta, meu caro leitor, e compartilho aqui com você o que andei descobrindo.

É que a Páscoa é uma festa muito mais antiga do que Cristo, muito mais antiga do que a cristandade. Para os povos pagãos, que viveram alguns milhares de anos antes de Cristo, a Páscoa, celebrada no hemisfério norte no equinócio da Primavera – ou nas suas proximidades – celebrava as divindades ligadas à fertilidade do solo. Para estes povos, a fertilidade tinha uma grande importância porque a produção nos campos era a base da vida comunitária, que os permitia enfrentar os dias difíceis e estéreis do Inverno.

Na mitologia céltica e saxônica, por exemplo, celebrava-se nessa época a deusa Eostar, que presidia o nascimento da Primavera e o redespertar da vida na terra. Então ovos eram pintados e enterrados para que fossem encontrados depois pelas crianças, já que o ovo é sinal de uma nova vida que renasce. A lebre, que era o símbolo do renascimento e da ressurreição entre essas culturas, também era o animal sagrado dedicado a Eostar.

Quando a Igreja católica se estabeleceu como instituição, por volta do século III depois de Cristo, as festas pagãs foram cristianizadas, ou seja, sua estrutura e data foram mantidas e deslocou-se a reverência aos deuses pagãos para os fatos da vida de Cristo e dos santos. Isso aconteceu com o Natal, as festas juninas, e tantas outras. O Domingo de Páscoa ainda é determinado pelo calendário lunar, e é o primeiro domingo após a Lua Cheia que coincide ou vem em seguida ao Equinócio da Primavera. Nos países de língua inglesa a palavra Páscoa, em inglês, é Easter, palavra derivada de Eostar.

Então, estão explicados os ovos e os coelhos, e o sentimento de ressurreição, de renovação, que deve passar por todos nós nessa época, independente da religião que professemos. É bom para plantar, para mergulhar as sementes na terra, para visualizar as colheitas futuras que deverão surgir dos grãos plantados hoje.

Abençoada seja esta deusa tão gentil, que recupera do frio solo do Inverno as coloridas flores da Primavera, prometendo os frutos dourados pelo sol do Verão.

——

Eu nunca mais havia escrito nada aqui. Hoje me deu vontade. Quem sabe não me animo e volto a blogar? Pois é.

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coelho da páscoa, domingo de páscoa, equinócio, festa cristã, festa pagã, ovos de chocolate, pascoa, solsticio
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Os sete pecados capitais

Clotilde Tavares | 2 de janeiro de 2012

Hyeronimus Bosch e sua representação dos sete pecados capitais.

Eu nunca tinha lido A Divina Comédia. Já li A Ilíada, A Odisséia, e Os Lusíadas, mas A Divina Comédia nunca. Aí me acontece que por força do ofício e da amizade, aceitei a incumbência de ler um trabalho de um amigo meu justamente sobre A Divina Comédia, com o objetivo de ver se o tal trabalho estava legal, se atendia às normas acadêmicas, essas coisas. Prudentemente, resolvi ler antes a obra, para não incorrer em nenhuma aberração conceitual ou estética, comprometendo assim a minha fama de pessoa culta e bem informada.

Li e achei um barato, mas fiquei muito impressionada com o Inferno. Nunca pensei que tivesse tanto pecado diferente no mundo. Todos os meus terrores de criança interna em colégio de freiras voltaram e eu passei bem umas duas noites sem dormir. E comecei a pensar nessa história de pecado.

No internato, no colégio das freiras, aprendi que existem dois tipos de pecado: os veniais e os mortais. Os veniais são pecadinhos bestas, como estirar a língua quando a professora está de costas ou tomar a cocada da mão do irmão menor. Os pecados mortais não. Esses são perigosos. São aqueles que levam você diretinho para o Inferno, que nos meus pavores de criança era pior, muito pior do que o Inferno de Dante. Hoje não acredito mais em Inferno. Mas acredito nos pecados. Nos pecados mortais. Naqueles que a Igreja chamou de pecados capitais.

Para quem não se lembra mais, os Pecados Capitais são sete. Desses sete, quatro são aqueles que se cometem contra o Espírito e que prejudicam tanto quem os comete quanto a pessoa contra a qual são cometidos. São a Ira, a Cobiça, a Inveja e o Orgulho. E desses, meu filho, Deus me livre. São uns pecados tão feios, tão cabeludos que eu acho que deveria existir mesmo Inferno para trancafiar de vez lá dentro todo mundo que fizesse esse tipo de coisa.

Mas os outros três, ah, meu caro leitor, os outros três são os pecados mais geniais e mais gostosos do mundo. São os pecados que se comete contra o Corpo e, se ofendem alguém, ofendem somente quem os comete. Seu efeito maléfico não se estende a outras pessoas. São a Preguiça, a Gula e a Luxúria.

E eu vou fazer o quê, pobre pecadora que sou dos pecados do corpo? Como o gato Garfield, sou deliciosamente preguiçosa, refinadamente gulosa e gostosamente narcisista, sendo o narcisismo a forma mais elaborada de Luxúria que pode existir.

Fazer o quê? Penitência? Ato de contrição? Ou será que o Inferno me espera, o de Dante e o outro, com seus abismos de fogo e lava prontos para me devorar? O que vocês acham?

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avareza, dante, divina comédia, gula, inveja, ira, luxúria, orgulho, pecado capital, pecados capitais, preguiça, soberba, vaidade
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Deixe de pantim!

Clotilde Tavares | 27 de dezembro de 2011

Um dia desses, discutia-se numa das listas que freqüento na Internet sobre o significado das palavras “pantim” e “muganga”. Bráulio Tavares escreveu sobre isso um dia desses no seu blog.

x

Papai e Mamãe

Eu passei minha infância ouvindo as duas palavras, incorporadas no rico dialeto caririzeiro-paraibano que Mamãe falava.

Pantim é difícil de definir. É quando você faz algo para “distrair o inimigo”, ou seja, quando negaceia, disfarça, enrola… Ou quando você falsifica uma ação para obter algo que não quer explicar diretamente. Já muganga é trejeito facial ou corporal, careta.

Voltando ao “pantim”, o diálogo abaixo, travado entre meus pais numa noite, explica melhor:

– Nilo, onde tu tava até uma hora dessa? – Mamãe, direta e nada sutil, atacava com a pergunta.

– Mas minha filha, é somente uma da manhã.

– Sim, mas onde tu tava?

– Você sabe Fulano? – começava papai. – Presidente da Associação Comercial? Pois eu encontrei com ele ontem…

– Não tou falando de ontem, mas de hoje. Onde é que tu tava?

– Espere, eu preciso lhe explicar. Você sabe que em Campina, desde que o prefeito mudou, que todos esses órgãos, como a Associação Comercial, a Federação das Indústrias, a…

Era aí que mamãe interrompia, já impaciente:

– “Ômi”, deixa de pantim e diz logo onde é que tu tava até uma hora dessa!

(…)

Postei esse diálogo na lista para exemplificar o que era o tal do pantim. Aí Leo Sodré, participante da lista, escreveu:

– Mas, onde Nilo estava mesmo? É bem capaz de ter levado Omega nessa farrinha…” (Omega era o avô de Leo, amigo de Papai).

Eu escrevi:

– Nilo devia estar com Omega no cabaré de Zefa Tributino, ou na Unidade Moreninha. Os dois assinavam ponto num ou noutro lugar toda noite.” (As referências são à vida noturna de Campina Grande na década de 1950/60)

Aí Bob Motta, que é poeta, escreveu:

Nilo tava c’á bixiga, (A)
e se sintindo no céu. (B)
Lhe juro, Crotilde, amiga, (A)
foi de beréu in beréu. (B)
Teve lá no Canaríin, (C)
dispôi saiu de finíin, (C)
mode qui num tava só; (X)
duis putêro de Campina, (D)
visitô os das Bunina, (D)
da Prata e Bodocongó… (X)

O poeta Bob Motta.

(Veja o esquema de rimas: o 1º verso rima com o 3º; — o 2º com o 4º; — o 5º com o 6º; — o 7º com o 10º; — e o 8º com o 9º. A estrofe é uma décima que comporta variados esquemas de rima, sendo este citado apenas um deles. A métrica é sete sílabas, redondilha maior, que você reproduz pronunciando em voz alta as palavras “ma-ra-cá, ma-ra-ca-tu”. Além disso, Bob Motta usa a chamada “linguagem matuta”, que consiste em um “português estropiado” – que não é usada nem pelo cantador de viola, nem pelo autor de folhetos de cordel e nem por mim, que procuramos usar sempre o português correto, mas é característica da chamada “poesia matuta”, cujo principal representante foi o poeta Catulo da Paixão Cearense. Forneço essa explicação para que as pessoas entendam como é complexa e rica a arte da poesia popular nordestina.)

Eu, que não deixo verso sem resposta, respondi seguindo o mesmo esquema, mas no calor do improviso deixei escapar a rima da terceira linha.

Nilo não tava sozinho
Na rota da sacanagem
Com o seu amigo Omega
Em total camaradagem
Lá em Zefa Tributino
Beberam uísque do fino
Com Paraguaíta e Nina
E com Chiquinha Dezoito
Pintaram o sete e o oito
Nos cabarés de Campina…

Bob Motta escreveu, repondendo:

Nilo tava de zonzêra,
lá na Ìndios Carirís,
bebeu quage a noite intêra,
no Canaríin, pidiu bis.
Na Unidade Moreninha,
lá nais Bunina intêrinha,
o peste num tava só;
tava prá lá de intêro,
foi in tudo qui é putêro,
da Prata e Bodocongó…

Aí eu fechei:

E quando chegou em casa
Mais pra lá do que pra cá,
Cleuza já tava na brasa
E começou o fuá:
Neguinho, conte direito!
Me conte de todo jeito,
Eu lhe peço mesmo assim!
Onde tu tava, maldito?
Tu acha isso bonito?
Ômi, deixe de pantim!


Este post é dedicado à pesquisadora Maria Alice Amorim, minha especial amiga, cujo trabalho sobre poesia popular está merecendo um post especial somente para ela, coisa que venho devendo há meses.


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Bob Motta, Braulio Tavares, Campina Grande, décima, Eldorado, Leo Sodré, muganga, Nilo Tavares, Omega, pantim, poesia popular, poesia popular nordestina, redondilha maior, Zefa Tributino
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Quatro histórias e um samba

Clotilde Tavares | 26 de dezembro de 2011

Pouco antes do Natal, a reportagem do Correio da Paraíba quis saber qual era a obra literária ou musical que eu gostava e que tivesse como tema o Natal. Lembrei logo do conto “O peru de Natal”, de Mário de Andrade, onde o autor desconstrói o sentimento natalino de amor e congraçamento, estabelecendo uma narrativa que parte exatamente do contrário; a vingança. Só que, na contramão do que se poderia esperar, as coisas vão se adoçando ao longo da história e esta se conclui deixando no leitor um sentimento de que, apesar de tudo, as coisas podem ser boas, e que a felicidade é possível.

Aí, eu comecei a me lembrar de outras narrativas sobre o Natal, das histórias engraçadas sobre presentes e pedidos ao Papai Noel – como o do garoto que pediu ao bom velhinho um ônibus de presente, para que a mãe, que precisava andar de ônibus e que sempre pegava o coletivo lotado, pudesse ter um ônibus só dela, para viajar com mais conforto.

Por tabela, e dessa vez sem ter nada a ver com o Natal, lembrei também da história do estudante, filho de milionário dos emirados árabes, estudando em universidade inglesa. O rapaz, acanhado de chegar todo dia na escola em luxuoso Rolls-Royce, falou desse incômodo ao pai, e referiu que todos os colegas iam para a escola de trem. O ricaço não vacilou e comprou um trem para levar o filho à aula.

Voltando ao Natal, há uma história muito meiga. O padre viu que uma garotinha entrava sorrateiramente na igreja e tirava a imagem do Menino Jesus do presépio. Lá fora, surpreendeu a menina colocando a imagem da cestinha da bicicleta nova, e preparando-se para pedalar. “Onde pensa que vai?”, perguntou o padre. Ela respondeu: “Ah, padre, eu rezei muito para o Menino Jesus pedindo uma bicicleta de Natal, e prometi a ele que se ganhasse vinha buscá-lo para dar uma volta…”

Finalmente, nada melhor do que um dos meus sambas preferidos, “Véspera de Natal”, do grande Adoniran Barbosa, onde o poeta narra uma estranha e patética aventura.

“Véspera de Natal”, de Adoniran Barbosa

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Adoniran Barbosa, histórias de Natal, Mario de Andrade, O peru de Natal, Papai Noel, Véspera de Natal
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Vai um torresmo?

Clotilde Tavares | 22 de abril de 2011

Nas Minas Gerais, o torresmo está presente em tudo. Iguaria politica e nutricionalmente incorreta, gordura pura, colesterol em estado de exagero, mantive-me à distância; e muito embora o que excite minha gula são mesmo os doces, não posso negar o apelo irresistível do torresmo, crocante e saboroso, parede ideal para a cerveja como reza a foto.

A manhã hoje foi passada no Mercado Central de Belo Horizonte, vadiando por entre os boxes repletos de todo o tipo de coisa.

Depois, um bacalhau no tradicional Restaurante do Porto, na Espírito Santo com Aimorés, a uma quadra de onde estou hospedada.

Agora é jiboiar um pouco e arrumar as malas para voltar amanhã ao Rio Grande do Norte, para Natal, a Noiva do Sol, minha cidade querida (como gostava de dizer o mestre Câmara Cascudo).

Estou troncha de saudade.

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Uma lenda oriental

Clotilde Tavares | 9 de janeiro de 2011

“Um homem entra num bar em Damasco e pede uma taça de vinho. Levanta os olhos e vê a Morte a encará-lo do outro lado da sala. Apavorado, pega o cavalo e galopa, fugindo, internando-se deserto a dentro. Ao chegar a Samarra, encontra novamente a Morte.

– Mas não estavas há pouco em Damasco? – pergunta.

– Sim – diz a Morte. – E fiquei muito supresa de ver-te lá pois meu encontro contigo sempre esteve marcado aqui, em Samarra.”

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Eu adoro papel!

Clotilde Tavares | 21 de setembro de 2010

O site Efetividade.net sempre está lançando novos desafios aos adeptos da organização e produtividade pessoal. Eu sou uma dessas pessoas e atendendo ao convite do site estou postando aqui como faço para organizar minhas anotações e meu material de referência. O post é longo. Se achar chato vá ler uma coisinha mais amena aqui, ou aqui.

A pergunta de Augusto Campos, do Efetividade, é: que ferramentas você usa para gerenciar suas anotações e referências?

Primeiro vamos definir: anotações para mim são todas as notas que escrevo para me lembrar das coisas mais tarde. E referências é todo o material escrito por outras pessoas, impresso ou não, que me ajuda no meu trabalho.

Eu sou escritora, pesquisadora, professora aposentada e trabalho em casa – ou viajando. Apesar da nerdice que me faz encher a casa de tranqueiras eletrônicas, e de passar 8 a 10 horas por dia no computador, uso para minhas referências um sistema principal de pastas suspensas, pastas reais, cheias de papel. Outro motivo, além de gostar de papel, é que sou da era pré-informática, e não sei como me livrar do monte de papel que já juntei antes. Tenho aquelas maletinhas de plástico com 10 pastas cada uma, que distribuo pelo apartamento – que é pequeno, por isso não posso colocar tudo num lugar só.

Lá está uma delas, entre uma estante e outra.Clique na foto - nessa e nas outras - que aumentam de tamanho.

Cada maletinha dessas tem um assunto que se refere aos meus campos de estudo e pesquisa – uma para Genealogia, outra para Cultura Popular, outra para Teatro, e outra – ou outras – para cada assunto específico em que eu esteja trabalhando no momento.

Na maletinha de Genealogia tem pastas como “Bibliografia”, “Árvores”, “Documentos”, “Olavo de Medeiros Filho” (porque estou reunindo material sobre ele, que é patrono da cadeira nº 2 que ocupo no Instituto de Genealogia e Heráldica da Paraíba.)

Olhaí as pastinhas sobre genealogia.

Na maletinha de Teatro tem “Originais”, que são as peças da minha autoria; “Shakespeare”; “Hamlet” (uma pasta somente sobre Hamlet, que é a peça que mais estudo); “Artigos”, e assim por diante. Na maletinha Cultura Popular tem pastas “Literatura de cordel”, “Cantoria de Viola, “Conto”, e etc. Todas essas maletinhas têm uma pasta chamada “Variado”, onde eu jogo o que não consigo classificar nas outras.

Por exemplo: meu último trabalho foi escrever uma biografia. Então abri uma maletinha dessas para organizar em pastas separadas o material que iria precisar. Mas só um trabalho grande onde vou lidar com muito papel justifica isso. Na maioria dos casos, cada trabalho merece apenas uma pasta, que coloco na gaveta mostrada a seguir.

Essa é uma gaveta de pastas suspensas para assuntos diversos. 1) “Contratos”, onde estão meus contratos com as editoras e com os clientes, contrato de aluguel, com prestadoras de serviço, etc. Todos os contratos – e os distratos – estão nessa pasta. 2) “Receitas e exames”, onde guardo todo aquele material gerado nas consultas médicas. Aqueles exames grandões, que não cabem em canto nenhum, estão embaixo da roupa num das gavetas da cômoda. Além disso, em cima da minha mesa e em lugar fácil está um envelope com todos os meus exames mais novos, para num caso de urgência as pessoas – ou eu mesma – não perderem o juízo procurando.

Olhaí a maletinha de Genealogia e abaixo o móvel com a gaveta de baixo - que é um arquivo de pastas suspensas.

3) “Assuntos”: nesta pasta guardo montes de papeluchos com assuntos possíveis para crônicas, posts, textos. Sacudo lá dentro e esqueço. Quando falta assunto, pego a pastinha e pronto: está tudo lá, montes de ideias. 4) “Cruzeiro”: tenho nesta pasta o material do cruzeiro de navio que realizei, porque minha intenção era escrever um blog sobre isso. Quando eu tiver tempo e voltar a vontade, o material está lá, todo separadinho e fácil de encontrar; 5) “Currículo”: toda vez que faço uma palestra, ou dou um curso, etc, que me dão um papel ou um certificado, jogo lá. No meu currículo virtual coloco apenas os títulos mais significativos. 6) “Casa própria”: estou numa questão com a Caixa Econômica Federal em relação à minha casa, então todo o material está separado numa pasta; 7) “Book”: aqui coloco recortes de jornais e revistas que trazem coisas sobre a minha pessoa. Quando enche, tiro um dia e recorto, ajeito, e coloco numa pasta de saquinhos plásticos onde fica tudo visível. 8 ) “Recibos”. 9) “Palestras e cursos”: roteiros de palestras, rascunhos, fichas de aula. 10) “Documentos”: tudo que não for currículo, contrato, distrato ou recibo vem pra cá. Aí estão titulo de eleitor, carteira profissional, passaporte, documentos do carro… A escritura da casa morava aqui; mas com a questão da Caixa eu abri uma pasta só para isso e a escritura está morando provisoriamente lá. Tem mais outras pastas, é tedioso enumerar aqui, e o objetivo era você entender o mecanismo. Algumas dessas pastas não são necessariamente “Anotações” ou “Referências”, mas é assim que essa gaveta está organizada.

Tudo bonitinho, com etiquetas!

Tudo em que ponho a mão é organizado dessa forma, e resulta disso que eu consigo encontrar qualquer papel com relativa facilidade. As pastas recebem uma etiqueta feita com um etiquetador desses baratinhos, de criança.

Para cada pasta dessa tenho uma com o mesmo título no computador onde armazeno as coisas digitalizadas, coisas diferentes dessas de papel (talvez o ideal fosse digitalizar tudo mas além de ser um trabalho insano eu gosto de pegar em papel). Quando encontro algo interessante na Internet, transformo em PDF com um plug-in do Firefox e armazeno no local adequado, com um título bem descritivo para facilitar a localização do sistema de busca do Windows. Tentei usar Evernote e outros programas semelhantes mas não deu certo, eu simplesmente no dia-a-dia esqueço que eles existem. Não uso Outlook nem qualquer desses programas sincronizados com outros, não tenho paciência.Tenho back-up de tudo – mas não tenho back-up das coisas de papel, of course, porque aí seria maluquice demais. Num incêndio, perderei tudo… menos as coisas que estão no Dropbox– onde eu tenho um espaço gratuito e pequeno, e coloco sempre o trabalho que estou fazendo no momento. Tenho pensado ultimamente em fazer uma assinatura do serviço, que vai me permitir armazenar “na nuvem” todos os meus arquivos importantes.

Vejam essa outra maletinha debaixo da mesinha do quarto. É a de Cultura Popular, assunto com o qual não estou trabalhando agora. No quarto, o tema dorme e descansa para arcordar daqui a uns meses!

Além disso, todas as minhas recordações – cartas, bilhetes, lembranças, e todo tipo de papelucho – recordações essas reunidas ao longo de décadas são guardas em pastas de saquinho plástico, separadas por épocas da minha vida. Eu gosto de folhear essas pastas e me lembrar das coisas – ser feliz de novo, só manuseando as recordações. E estando assim organizadas facilitam a minha vida, uma vez que já comecei a escrever minhas memórias.

Uma das pastas de recordações. O autógrafo à direita é do escritor Ignácio de Loyola Brandão, da década de 1980...

Como o apartamento não cabe todos os meus papéis, tenho um espaço na casa da minha filha onde coloco o “arquivo morto”: papéis que não utilizo todo dia mas que estão lá, todos colecionados e sinalizados para que eu encontre o que precisar na hora certa. Aí eu tiro uma foto da estante onde eles estão guardados e é só olhar a foto e procurar, como se estivesse em frente à estante – daí é só ligar para Ana Morena, minha filha roqueira pedindo a ela para pegar na estante e olhar, se for o caso, sem precisar ir até lá.

O que importa disso tudo é que sei onde está cada papel meu.

Apesar de toda essa maluquice, sempre estou aprimorando o sistema e aceito sugestões.

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In omnia paratus

Clotilde Tavares | 16 de setembro de 2010

Alguns posts atrás, quando falei da frase de Thoreau que no momento encerra minha assinatura de e-mail, prometi estender o assunto das frases, falando de outras frases das quais gosto muito. Uma delas é a frase de Yeats, “Aos bons falta convicção, enquanto que os maus estão cheios de fé e entusiasmo”. Retirada do poema The Second Coming, essa frase resume aquilo que eu vejo em 90 por cento das pessoas que me cercam – os bons, sem convicção, cheios de tédio, desiludidos com a vida, sem tesão para a luta; e os maus cheios de força e entusiasmo. Eu procuro formar do lado dos bons nesta equação, embora conservando dos maus aquilo que presta – que é o tesão e o entusiasmo. E vambora ver no que dá.

Outra frase ótima é o provérbio oriental (well, a gente chama de provérbio oriental quando não sabe de quem é…): “Antes de sair para consertar o mundo dê três voltas dentro de sua própria casa”. Essa frase me pegou de jeito num momento da minha vida em que eu, cheia de ideais missionários e transformadoras, queria interferir de todas as maneiras na realidade, com especial ênfase na realidade dos outros. A frase me fez voltar o olhar crítico na minha própria direção, me fez enxergar a trave diante dos meus olhos antes de me incomodar com o cisco no olho do outro, como diria Dona Cleuza, minha mãe, expressando sua sabedoria caririzeira. Então dediquei-me de tal forma a dar as três voltas dentro da minha própria casa que ainda não terminei a tarefa. Acho que o mundo tem conserto, mas deve começar pelo nosso próprio quintal. Eu até escrevi um livro sobre isso, “A Magia do Cotidiano: como melhorar sua qualidade de vida”, que está praticamente esgotado, mas eu tenho intenção de colocá-lo disponível para download assim que tiver tempo de transformar o livro, que está em Pagemaker 6.5 no formato .pdf, mais apropriado para a web – como já fiz com o Coração Parahybano e Formosa És.

Uma boa frase, lida no blog da jornalista Rossana Herman é : “Interesse-se pelos interessantes e ignore os ignorantes”. Parece óbvio, mas é tão freqüente a gente fazer exatamente o contrário! Quantas vezes não damos cabimento a gente sem graça, estúpida, que nada tem para acrescentar, nem ao Universo e nem a nós mesmos? Enquanto isso as pessoas interessantes passam ao largo… E essa pérola, que colhi no douto texto de Santo Agostinho: “Senhor, dai-me continência e castidade, mas não agora!” Preciso comentar?

Finalmente, deixo você com um brocardo latino que há algum tempo vem logo abaixo do meu nome, na assinatura dos e-mails: In omnia paratus, que quer dizer simplesmente: Pronta para tudo, e é a atitude atual minha diante da vida. Ou seja, eu sempre estive pronta, mas nunca estive tão pronta como estou agora.

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Ri-ri, miss e Jesus

Clotilde Tavares | 15 de agosto de 2010

Talvez o meu caro leitor não saiba, mas sou uma moça prendada, educada em colégio de freiras e dominando habilidades que hoje não mais fazem parte da educação das jovens. Assim é que sei costurar, bordar, fazer tricô, crochê e ponto de cruz. Imbuída da importância de tais tarefas, e horrorizada com o preço cobrado pelas costureiras, vez por outra resolvo eu mesma costurar, tarefa na qual me saio muito bem, apesar de certa dificuldade em enfiar a linha na agulha.

Entre os aviamentos usados na arte da costura, um dos mais comuns é o fecho éclair, que sempre me faz lembrar de uma conhecida minha, que chamava essa peça de “flash”, segundo ela porque abria e fechava com rapidez. Ora, essa explicação tem tudo a ver, já que “éclair”, em francês, significa relâmpago. Minha mãe o chamava de “ri-ri”, pelo barulhinho que o fecho fazia ao deslizar. E se você achou engraçado, caro leitor, lembre-se de que em inglês o termo para esse tipo de fecho é “zipper”, que vem exatamente da palavra “zip”, que quer dizer silvo, sibilo. Tanto a palavra sertaneja como a inglesa servem ao mesmo propósito: designar o objeto aludindo ao som que ele provoca.

É curioso observar os nomes que as coisas adquirem, de acordo com o estado, ou a região. Eu chamo aquele arco de colocar na cabeça prendendo os cabelos de “diadema”. Muita gente chama de “arco”, ou “tiara” e já vi chamarem também de “traca”.

Um simples friso de cabelo pode levar a confusões indescritíveis. Você pode andar uma cidade inteira à procura de um friso, e não vai encontrar, pois nesse local o conhecem por “grampo”. E eu andei uma tarde todinha pelas lojas da Avenida Sete, no Campo Grande, na Bahia, querendo comprar uma caixa de frisos, para somente depois, ao chegar no Hotel, descobrir que o nome daquilo, na Bahia, era “miss”. Já minha mãe, no seu linguajar sertanejo, chamava friso de “biliro”.

Tem também umas coisas que são deliciosas. No Maranhão, por exemplo, existe – ou existia – um refrigerante como um guaraná que é cor de rosa e cujo nome é “Jesus”. Uma das coisas que eu mais gostava quando ia a São Luís era entrar numa lanchonete e dizer “- Moço, me dá um Jesus!” E lá vinha o homem com aquela garrafa da cor de uma pétala de rosa.

Palavras, palavras, palavras: tão ricas, tão belas, tão saborosas. Inglesas, francesas ou sertanejas, não importa: na boca do povo ganham vida, ganham alma e graças a elas esta que hoje vos escreve tem assunto para este domingo preguiçoso.

Essa garrafinha de Jesus foi meu compadre Carlos von Sohsten quem trouxe pra mim do Maranhão no ano passado. Fui na casa dele degustar a iguaria e fiz a foto com meu afilhado Vinicius. Eu adoro Jesus!

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Pensamento lateral

Clotilde Tavares | 4 de agosto de 2010

Eu estava um dia desses cá comigo pensando em como algumas manifestações da cultura popular, peincipalmente da literatura oral, contribuem para formar uma mente aguçada, com capacidade de pensar de forma criativa levando e facilitando a solução de problemas. São as adivinhas, os contos que propõem enigmas e charadas, as brincadeiras e jogos com números, os jogos de salão onde somos levados a supor, adivinhar, arriscar.

O pensamento é uma função cerebral como qualquer outra, e pode ser exercitado. O problema é que a gente tem muita preguiça de pensar. Sentamos diante da TV e ficamos passivos, estupidificados, recebendo tudo aquilo que nos mostram sem criticar, sem analisar, sem refletir. Temos preguiça de adivinhar, de tentar, de palpitar. Queremos saber da solução antes de termos sequer lido direito o enunciado do problema.

Ora, minha gente! Se o pensamento é uma função, pode ser exercitado. Se a gente se dedicar todo dia a atividades que nos façam usar essa capacidade, poderemos aprimorá-la, da mesma maneira que praticamos a habilidade em executar um instrumento musical ou a de caminhar oito quilômetros em uma hora. É uma simples questão de condicionamento.

Quando começamos a exercitar o pensamento, começamos também a descobrir outras formas de operações mentais, como o chamado pensamento lateral, considerado como uma excelente arma para descobrir soluções novas e criativas para problemas antigos.

Um exemplo do pensamento lateral é colocado pela adivinha “O que é que anda com os pés na cabeça?”, impossível de ser respondida enquanto a mente continuar pensando linearmente que os pés e a cabeça mencionados são da mesma criatura.

Quando a mente se liberta desse preconceito que é dela mesma, já que não está explícito na adivinha, a resposta vem simples e clara: “Piolho.” Os pés de uma criatura e a cabeça de outra. Isso é que é o pensamento lateral.

E vejam essa historinha:

Dizem que um homem devia muito dinheiro a um agiota, que aceitou receber em troca da dívida a filha do devedor. Lá foi então a moça, como quem ia para a morte. O agiota achou pouco e quis ainda se divertir às custas da pobrezinha.

– Minha jovem – disse ele, – tenho aqui nas minhas mãos fechadas duas pedrinhas: uma preta e outra branca. Você vai escolher uma delas. Se escolher a branca, eu lhe liberto do compromisso e perdôo a dívida do seu pai. Se tirar a preta, nada feito: terá que ser minha mulher.

É evidente que ele tinha colocado nas mãos fechadas duas pedrinhas pretas, porque queria ficar com a moça de qualquer jeito. Ela, muito viva, desconfiou da intenção do agiota mas pensou depressa, escolhendo uma das pedrinhas mas antes que se visse qual era deixou-a cair no chão, onde a pedra se perdeu entre o cascalho.

– Que desastrada sou! – falou a jovem. – Mas não há problema: o senhor me mostra a pedra que restou, cuja cor deverá ser oposta à cor daquela que escolhi, e que se perdeu.

O agiota então foi obrigado a mostrar a pedra que restava, que era preta. A moça, inteligente e ladina, foi salva e a dívida do seu pai perdoada graças a quê? A uma mente arguta, lúcida, ágil e esperta, dote e habilidade de que muitas vezes abrimos mão por preguiça, comodismo e falta de informação.

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