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Ser feliz todo santo dia

Clotilde Tavares | 24 de novembro de 2009

“Eu seria hipócrita e mentirosa se dissesse que não gosto do dinheiro nem das coisas que o dinheiro compra. Essas coisas absolutamente não ‘impedem’ a felicidade mas às vezes a pessoa mistura os canais, e passa a pensar que, tendo tais coisas, será feliz. As coisas que trazem felicidade não têm nada a ver com aquelas que o dinheiro compra. As pessoas podem ter ambas, e somente a capacidade de discernir umas das outras já seria um primeiro passo muito bem dado no caminho da felicidade. Eu adoro uma roupinha de griffe, uma bolsa chique, bons restaurantes, CDs e livros. Mas felicidade mesmo são os bracinhos do meu neto em torno do meu pescoço, é ver minha linda filha Ana Morena cantando no palco, e olhar para este céu azul da Paraíba e saber que nasci neste chão, que sou filha desta terra. Isso é felicidade e dinheiro nenhum no mundo pode comprar”.

Esse é o trecho de uma entrevista que dei em janeiro de 2006 a uma moça muito simpática, a Carolina Arêas, que tem um blog sobre terapia floral.

A entrevista era sobre uma ideia que defendo, e que diz que a felicidade não cai do céu no nosso colo, mas é alcançada através da prática diária e de uma firme disposição de ser feliz, não num futuro distante, quando o filho se formar, ou terminar de pagar a casa, ou fizer a tão sonhada viagem à Europa, mas ser feliz, hoje, aqui, agora, enquanto estou teclando este post no notebook.

Vivo por aí defendendo esta ideia em palestras que faço e textos que escrevo. Escrevi um livro inteirinho sobre isso: “A magia do cotidiano: como melhorar sua qualidade de vida”. Fico agoniada quando vejo gente reclamando da vida, culpando a tudo e a todos pelos seus problemas, desperdiçando esse mundo tão bonito de se viver.

Eu acho o mundo bonito e bom de verdade, meu caro leitor, e se às vezes ele se desorganiza em enchentes, terremotos e furacões nós não estamos aqui, com força e coragem, para começar tudo de novo? Se há roubo, corrupção, patifaria, nós não estamos aqui para fazer a nossa parte, divulgando, denunciando, cobrando? Ah, eu não tenho jeito mesmo. Sou uma otimista incurável!

E com essa injeção de alegria, com o desejo de ver “o mundo todo belo e pintado de amarelo” como disse um dia desses a minha amiga Denize “La Reina Madre” Barros, é que eu lhe deixo hoje, pronto para encarar mais um dia, o primeiro do resto de nossas vidas, por que não?

Clique aqui para ver o resto da entrevista que dei para a Carolina Arêas e aproveite para zapear um pouco no blog dela, que é muito agradável.

 

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A Magia do Cotidiano, cotidiano, felicidade, otimismo, ser feliz
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Pelo buraco da fechadura

Clotilde Tavares | 3 de setembro de 2009

Hoje foi o meu primeiro dia depois da mudança no qual eu  iria estar com o apartamento arrumado (quase), com as coisas no lugar (quase). Mas não pude desfrutar do meu espaço como gostaria. Às sete e meia da manhã um carro de som estacionou em frente ao meu prédio, que fica na lateral do D.E.R. Os funcionários daquele órgão resolveram fazer uma paralisação de um dia reivindicando reposição salarial e só podem fazer isso com muito barulho, muita zoada, incomodando quem não tem nada a ver com o assunto, no caso, eu e os outros infelizes moradores do prédio e cercanias.

Aí, depois de passar duas horas escurando músicas de gosto duvidoso e discursos cheios de retórica, referências obsoletas ao capitalismo e às forças sociais, além de sandices como “bom-dia a todos e todas”, eu não aguentei mais e fui para a casa da minha filha em outro bairro, onde estou agora.

Meu dia foi pro brejo, meu planejamento para hoje fez água e afundou e não pude desfrutar do meu apartamento arrumado (quase) pela primeira vez. Então, divido com você essas fotinhas, que fiz hoje antes de sair de lá. Depois de cinco e meia da tarde, voltarei, esperando que a barulhada já tenha acabado.

Aí estão os 1.800 livros, que já subiram para as estantes. Delas, somente a primeira à esquerda está arrumada. nas outras empilhei os volumes, que terão forçosamente que passar por uma triagem ara poderem caber nas prateleiras. Isso se eu conseguir me livrar deles.

Aí estão os 1.800 livros, que já subiram para as estantes. Delas, somente a primeira à esquerda está arrumada. Nas outras empilhei os volumes de qualquer jeito, e eles terão forçosamente que passar por uma triagem para poderem caber nas prateleiras. Isso se eu conseguir me livrar de algum, o que duvido. No braço do sofá, a bandeja com os restos do café da manhã, tomado em meio à algazarra de discursos e música ruim.

A parede em frente às estantes é azul: eu adoro essa cor. Gosto de todas as minhas quinquilarias ao meu redor, porque preciso de muitos estímulos visuais.

A parede em frente às estantes é azul: eu adoro essa cor. Gosto de todas as minhas quinquilharias ao meu redor, porque preciso de muitos estímulos visuais. O restante da parede livre será preenchido pelos quadros. Tenho muitos, e você já pode ver dois, querendo "subir" para as paredes. Mas pregar quadro exige muita reflexão, muito pensamento. Era algo que eu ia fazer hoje, mas não pude, expulsa pela zoada. Notem que tenho um binóculo pronto para espionar a vizinhança.

Outra visão da sala, com a parede azul e a grande porta de vidro de seis painéis, quase cinco metros de extensão que eu estou dando tratos à bola para encontrar um modelo de cortina que eu goste e que eu possa comprar.

Outra visão da sala, com a parede azul e a grande porta de vidro de seis painéis, quase cinco metros de extensão que eu estou dando tratos à bola para encontrar um modelo de cortina que eu goste e que eu possa comprar, porque tenho uma estranha predileção por coisa cara e acima do meu orçamento. Entra muita luz por aí, e preciso de um filtro eficaz senão tenho que andar de óculos escuros dentro de casa.

E basta de voyeurismo por hoje. Na sequência irei sempre postando aqui um pedacinho e outro da minha casa, porque sei que o meu caro leitor é curioso e adora olhar pelo buraco da fechadura.

Este post é dedicado a Denize “La Reina Madre” Barros, artista e designer maravilhosa. Se você não tem ainda uma bolsa da griffe La Reina Madre, não é uma mulher completa.

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barulho, D.E.R., decoração, poluição sonora, voyeurismo
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O barulho vem de jegue

Clotilde Tavares | 21 de julho de 2009

Ontem à noite estava eu muito bem sentada às nove da noite vendo minha série favorita na TV. Na segunda feira, vejo C.S.I às oito no AXN, Medium às 9 no Sony e The Mentalist às 10 no Warner. Então eram nove horas em ponto e o capítulo de Medium mal havia começado quando um barulho ensurdecedor começou na rua em frente ao meu prédio.

jegueFui olhar o que era. No meio da rua, dividindo a faixa com os carros, estava estacionada uma carroça, puxada por um animal. A carroça era toda ornamentada e portava um equipamento de som. O cavalo também estava vestido a caráter, enfeitado que só jumento de cigano. De pé, um homem enfeitadíssimo, com uma roupa cheia de lantejoulas que me pareceu aquelas coisas mexicanas: chapelão enorme, colete, calças justas, enfim, um “mariachi”. Pelo menos foi essa a visão que tive da minha varanda, no sexto andar.

O motivo da balbúrdia eu fui entendendo aos poucos. Alguém no prédio aniversariava – era um aniversário de casamento – e o “Tele-jegue”, que era o nome da “coisa”, estava ali, casamento3contratado por alguém, para fazer a homenagem ao casal. O “locutor” fazia piadas, sendo que eu jamais imaginei que um casal completando 35 anos de casados gostasse de ouvir piadas daquele tipo. As piadas eram entremeadas com músicas, que pareciam ser religiosas, desse tipo de música chata que as pessoas quando ouvem levantam os braços e balançam de um lado para outro. Na calçada, havia onze pessoas, incluindo o casal homenagado. O prédio tem 80 apartamentos; a quatro moradores cada, são 320 pessoas, das quais pelo menos trezentas aguentaram a barulheira sem terem nada com ela.

Entre uma música e uma piada, o “tele-jegueiro” anunciou que estava incrementando ainda mais a carroça, que em breve ela teria um palco, um sistema próprio de iluminação, máquina de fumaça e um som ainda mais potente “para animar ainda mais a sua festa”. A função durou 45 minutos, e eu perdi o episódio que estava assistindo na TV.

barulhoÉ por isso que eu, apesar de gostar muito do Brasil, às vezes tenho vontade de morar num país civilizado somente pra ter a experiência. Aquela coisa que a gente vê nos filmes: um barulhinho a mais numa vizinhança residencial, com cinco minutos a polícia está na porta, muito educada mas muito firme, pedindo explicações e acabando com o fuzuê. Aqui, liga-se para a polícia, não é com ela; liga-se para a SEMAN, estão sem carro para atender.

Ao feliz casal, mesmo deplorando seu mau-gosto, ou de quem lhes ofereceu o presente, meus parabéns pelos 35 anos de união. Falizmente no próximo ano, quando completarem os 36 anos,  eu não estarei mais aqui, para presenciar vexame semelhante e ser impedida no meu direito de cidadã pagante de impostos de assistir meu programa preferido na  TV.

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Dez coisas que melhoram a vida

Clotilde Tavares | 18 de julho de 2009

moisesEu estava lendo o Hype Science, que é um site do qual gosto muito, e dei com uma matéria com o título Dez maneiras de mudar sua vida em 59 segundos. Só como título é um achado, porque são DEZ maneiras – quantidade sempre associada a coisas eficazes como os DEZ mandamentos -, contém a palavra mágica “mudar sua vida”, coisa que todo mundo quer porque a maioria das pessoas não está satisfeita com a sua e finaliza com os tais 59 segundos, de maior força semântica do que 1 minuto, por exemplo. Qualquer coisa feita em 59 segundos tem um apelo irresistivel para a maioria preguiçosa – na qual me incluo – que quer resolver seus problemas ou dificuldades no menor espaço de tempo possível. É por isso que as pessoas querem perder os dez quilos que aumentaram em cinco anos em apenas dois meses ou que todo mundo quer ficar rico do dia para a noite e sem trabalhar muito.

Voltando ao artigo, ele trata do livro de Richard Wiseman, psicólogo, “59 seconds. Think a little. Change a lot”, ainda não publicado no Brasil. Com conselhos simples, baseados em fatos comprovados pela ciência, Wiseman propõe um pequeno esforço para uma mudança consistente, incluindo coisas como usar pratos e copos menores para comer menos nas refeições ou contar seus objetivos a amigos e parentes para comprometer-se consigo mesmo a atingi-los. Você pode ler mais sobre o livro no site do HypeScience.

thailand15Eu mesma escrevi um livro assim, chamado “A magia do cotidiano: como melhorar sua qualidade de vida”, (São Paulo, A Girafa Editora, 2005), um livro sobre coisas simples do dia-a-dia que qualquer pessoa pode fazer, coisas que não exigem habilidades especiais e realmente melhoram a vida, e tudo baseado em fatos científicos e na minha experiência como pessoa e profissional de saúde. É um livro que foi escrito há mais de dez anos, que teve a sua primeira edição em 1999 – uma edição artesanal, que eu mesma fiz, e que está esgotada. Este livro ainda me agrada muito e me deixa satisfeita por tê-lo escrito.

Eu não li o livro do psicólogo inglês. Mas vou lhe sugerir aqui dez coisas que só demoram 1 minuto para serem feitas e melhoram muito a sua vida.

1 – Levante AGORA do computador e beba um copo de água. A maioria das pessoas bebe muito pouca água.

2 – Já que está de pé, fique na ponta dos pés e se estique todo, como se quisesse alcançar o teto. Sua coluna agradece.

3 – Abra e feche as mãos com força dez vezes. Previne a tendinite e a L.E.R.

4 – Feche os olhos, faça uma respiração profunda e pense numa coisa boa.

5 – Mude de lugar aquela mesa, ou cadeira, ou armário, com o qual você sempre está trombando e dizendo um palavrão em seguida.

6 – Pegue o telefone AGORA e faça aquele telefonema que você está adiando. É menos de um minuto o tempo gasto para teclar os algarismos.

7 – Reserve um minuto do dia para observar a natureza. Pode ser agora.

8 – Não importa que hora do dia ou da noite seja: decida que você vai fazer de tudo para ser feliz nas próximas 24 horas.

9 – Beije detalhada e carinhosamente alguém que você ama. Somente durante um minuto. Mas planeje antes, para aproveitar bem.

10 – Clique uma vez por dia em https://umaseoutras.com.br

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59 seconds, auto-ajuda, Magia do Cotidiano, Qualidade de vida, Richard Wiseman
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O Rapaz, a Moça e o Sistema

Clotilde Tavares | 6 de julho de 2009

Hoje quero lhe apresentar três entidades que fazem parte da minha vida e da sua, meu caro leitor, três entidades importantes e, digo mesmo, indispensáveis à nossa vida, à nossa saúde, ao nosso bem-estar. Apresentar é modo de dizer porque você, provavelmente, já entrou em contato diversas vezes com elas, e desses encontros deve ter saído sempre uma pessoa não direi melhor, mas muito mais experiente. São elas o Rapaz, a Moça e o Sistema.

orapaz01Quem é O Rapaz? O rapaz está em todo lugar. Essa onipresente criatura é aquele que, por exemplo, cuida do som ou do projetor sempre que vamos falar em algum lugar, dar uma aula ou ministrar uma palestra. Chama o rapaz pra ligar o som. O rapaz que liga o projetor ainda não chegou. Vamos esperar o rapaz. O rapaz esqueceu a chave e voltou em casa lá na Zona Norte para apanhar. O rapaz foi levar a mãe no hospital e só chega daqui a pouco. O rapaz. O rapaz.

O rapaz parece tão necessário quanto fugidio em tudo o que fazemos na nossa vida. Compramos um armário novo e lá ficamos de castigo em casa por três dias esperando o rapaz que vem fazer a montagem. Solicitamos um canal de TV paga, e lá vem de novo o rapaz passar a fiação e conferir vida ao nosso televisor. Colocamos o lixo na porta do apartamento e temos que esperar o rapaz que passa todo dia às dez para apanhar os sacos azuis. E vou confessar uma coisa, meu caro leitor: no meu quarto de dormir, este recinto sagrado e inviolável que fica no meu apartamento, o rapaz já entrou mais vezes do que qualquer outra pessoa viva!

orapaz03Bem ou mal, de maneira rápida ou demorosa – no mais das vezes demorosa – o rapaz sempre está fazendo algo para nós. Já A Moça, não. A moça parece ter prazer em não fazer. A moça geralmente está atrás de um balcão, de um guichê, tendo à frente um terminal de computador do qual ela não tira os olhos. Não adianta ser simpática, elogiar-lhe o brinco ou a maquilagem, dizer gracinhas, e muito menos dizer que está com os pés doendo depois de horas na fila. A moça é simplesmente incomovível, é uma criatura de pedra, fria e atenta apenas àquilo que ela chama de “os procedimentos”, para os quais foi treinada e levada a abandonar qualquer toque de humanidade ou de ligação com o ser humano seu semelhante que está ali, à sua frente.  A moça só vê o manual de procedimento e a tela do computador, e fim de papo.

rapaz04E é a moça quem tem nas mãos o nosso destino. É ela quem carimba o formulário, autoriza o pedido, emite o bilhete de passagem, imprime a guia, libera a consulta ou cirurgia, entrega a nota fiscal, troca o aparelho ou o artigo que veio com defeito, registra sua compra. É a moça, sempre a moça, que está do outro lado do aparelho telefônico quando você quer algum esclarecimento, deseja fazer uma compra ou solicitar um serviço.

A propósito, há agora uma nova versão da moça, uma moça virtual, que entende o que você diz ao telefone, desde que seja dentro do assunto. Se tossir, ou espirrar, ela diz de forma educada: “Não entendi”. E se você responder: “Foi somente um espirro, minha filha”, a criatura repete, sem emoção: “Não entendi”. Se a outra moça, a real, é ensinada a não pensar, a seguir apenas o procedimento, essa moça virtual é pior: é criada já, do berço – ou da bancada do laboratório – sem capacidade de entender qualquer coisa que não seja o tema ou o serviço ao qual se dedica, qual escrava eletrônica, sem nenhum consideração pelos humanos que somos todos, sujeitos a tossir enquanto estamos falando.

orapaz04E aqui entra em ação a terceira personagem, a mais poderosa, a terceira pessoa da santíssima trindade da esquizofrenia e loucura desses nossos tempos modernos: O Sistema. O que é o sistema? Ninguém sabe. Para mim, é o Sistema, assim, com “S” maiúsculo, uma entidade inscrita no imaginário da sociedade tecnológica quase com o poder de divindade. Nenhum ato, por minúsculo que seja, pode ser efetivado se o Sistema não aceitar. Matricular um filho numa escola, fazer um pagamento, alugar um simples DVD na locadora, licenciar o carro, pagar uma conta, ter o pagamento dessa conta reconhecida… Tudo depende do Sistema.

orapaz05Ah, meu caro leitor! O Sistema é poderoso e é cruel, além de obedecer a uma lógica que escapa ao entendimento da minha mente humana, simples e sem sofisticação. É o Sistema que me pune não sei por qual pecado cometido quando, depois de passar horas no supermercado fazendo as compras, e enfrentar uma fila, chegando ao caixa, pés estropiados, dor de cabeça, fome, vontade de ir ao banheiro, o que acontece? O Sistema não aceita o meu cartão, cartão esse que foi aceito uma hora antes pelo mesmo Sistema no posto de gasolina onde fui abastecer o carro. Sem outro meio de pagar a compra, o que me resta? Abandonar o carrinho com a carne, o feijão e o arroz, e descarregar sobre a moça do caixa e o rapaz que empacota a minha frustração, tristeza e cansaço.

Por causa deles, dessa trindade monstruosa, corporificada à minha frente, Sistema-Moça-Rapaz, insensíveis às minhas queixas, é que um dia eu ainda vou fazer como Zabé da Loca e morar no mato. Quem viver, verá.


A quem interessar possa, já arranjei o apartamento, do jeito que eu queria, e desejo aqui agradecer de coração a todos aqueles que ajudaram, telefonaram, mandaram emails, sugeriram, procuraram e demosntraram solidariedade.

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Procurando apartamento para alugar

Clotilde Tavares | 29 de junho de 2009
Natal, cidade impossível.

Natal, cidade impossível.

Estou procurando apartamento para alugar. Para os seguidores deste blog que não me conhecem, o apartamento que procuro é em Natal, capital do Rio Grande do Norte, uma cidade linda, perfumada, agradável, cidade onde morei durante 35 anos e da qual estou ausente há quatro, morando na capital parahybana a 180 km de distância. Eu gosto de definir Natal dizendo que ela é uma cidade impossível, como aquelas cidades do livro de Ítalo Calvino, porque Natal encerra tantas contradições, tantas coisas boas ao lado das piores, tudo tão entrelaçado e misturado que muitas vezes corta todas as nossas possibilidades de se viver nela. Mas meu tempo na Parahyba acabou. A saudade dos filhos e netos vem aumentando e agora estou de volta: é isso que importa.

As caixinhas, e a "moça com brinco de pérola".

As caixinhas, e a "moça com brinco de pérola".

A experiência de procurar apartamento em qualquer cidade é algo quase transcendental, pelo muito que envolve, pelas energias mobilizadas, pela ansiedade, pelo quadro em branco que é um apartamento onde não moramos ainda e que queremos encontrar, que só existe na nossa mente, espaço desejado e ainda não encontrado, dentro do qual precisamos inscrever mesmo que somente na imaginação os locais para o sofá, os livros, a mesinha preferida, as cortinas, a coleção de caixinhas, a posição da cama, os quadros, as fotografias.

Será que cabe?

Será que cabe?

Aí, entramos naquela habitação vazia, nua, asséptica, recém-pintada, e começamos a pensar: será que meu sofá cabe nessa parede? Será que quando estiver sentada aqui vou gostar de ver sempre essa porta da cozinha que abre direto na sala? Esse corredor estreito não vai me dar claustrofobia e me fazer rememorar o trauma do parto toda vez que eu passar por ele? Essa pia da cozinha tão alta não vai me deixar com dor nas costas? Será que tem barulho? Debruço na janela do quarto e vejo bem em frente aquela estrutura colorida de madeira na qual as crianças adoram subir e descer sem parar. Não, este positivamente não é o apartamento que quero.

Apartamento-colméia

Apartamento-colméia

Tenho andado bastante nesses dias. E tenho encontrado – com algumas exceções – apartamentos de dois tipos. O primeiro tipo é o que chamo “colméia”. Apartamentos de 55 m2, com 3 quartos, sendo duas suítes, e mais dependência de empregada. Aí é assim: você põe o sofá na sala, o sofá de três lugares, mas não cabe o de dois; a TV tem de ser de 14 polegadas, porque vai ficar quase diante do seu nariz; num dos quartos vai a cama, e no outro o armário; caso eu habite um desses, o terceiro quarto fica para os livros, dos quais devem caber apenas um terço dos que tenho. Os banheiros saõ engraçados: sentando no vaso, os joelhos encostam na parede da frente; e felizmente não sou homem porque penso que se fosse teria que me preparar para usar o banheiro ainda fora do quarto, já que lá dentro não há espaço para abrir o zíper. E a dependência de empregada? É naquele caixote que querem que um ser humano durma? Naquele caixote sem janelas? Uma múmia egípcia estaria mais confortável no seu sarcófago.

As torres

As torres

Esses apartamentos/colméias distribuem-se muitas vezes em torres de número variado, com a chamada área de lazer com diversos equipamentos como piscina, parque, salão de jogos, salas de ginástica, salão de festas, churrasqueira… mas eu não uso nada disso. É o apartamento ideal para o casal jovem: ambos trabalham fora, e só chegam em casa à noite onde, depois de ver Tv por meia hora, caem no sono. Os filhos, protegidos e acompanhados pelas empregadas, desfrutam da área de lazer durante o dia, quando não estão na creche ou na escola. Perfeito. Para eles, não para mim.

Olhaí a tal varanda-gourmet!

Olhaí a tal varanda-gourmet!

Já o segundo tipo de apartamento é o inverso. É o apartamento do novo-rico. Duzentos, trezentos metros quadrados, quatro suítes com closets, sala para home-theater, outras salas “íntimas”, quatro vagas na garagem, hidromassagem, ofurô, adega, escritório, e uma coisa chamada “varanda-gourmet”, que é uma varanda grande que tem numa das extremidades uma churrasqueira. Aí eu imagino: o cara começa a vida morando na periferia, fazendo churrasco “na laje” e convidando toda a vizinhança; depois melhora de vida e vai para um condomínio-colméia com churrasqueira coletiva, mas descobre que aí já não é mais tão agradável se misturar com os semelhantes. Daí a alguns anos os filhos crescem, ele progride mais, e então está pronto para a varanda-gourmet, que não deixa de ser uma forma sofisticada de “churrasco na laje”…

Ah!... Um loft!

Ah!... Um loft!

As construtoras e arquitetos – ou ambos – e ainda o mercado imobiliário não estão nem aí para pessoas como eu, que vivem sozinhas, que têm móveis e objetos queridos dos quais não querem se desfazer, que possuem coleções que precisam ser acomodadas, e que não necessitam de um monte de cubículos, nem de área de lazer ou “varanda-gourmet”. E fico vendo aqueles filmes americanos como “Ghost”, por exemplo, e doida pra morar num “loft”, aquele “vão” enorme onde eu pudesse espalhar minhas coisas e andar, caminhar para lá e para cá nas horas em que estou atrás de idéias para escrever estes meus textos.

Minha sala, na Parahyba.

Minha sala, na Parahyba.

Eu só quero uma sala grande – grande é o modo de dizer, de uns 25 a 30 m2. A que tenho agora é formada por dois quadrados: um de 3m x 3m e outra de 4m x 4m e cabe muito bem meu conjunto de estofado, minha TV, a cadeira que reclina, e minhas mesinhas com porta-retratos e coleções de caixinhas. Nem mesa de jantar eu tenho. Pois é: aquela mesa que todo mundo tem, com seis cadeiras e guarda-louças, eu não tenho, porque não preciso! Além da sala, preciso de um segundo cômodo que é o quarto, para a cama, a cômoda e um pequeno armário de um metro de largura; e o terceiro cômodo para os livros. Se a sala for grande, ponho os livros na sala e elimino um cômodo! A cozinha, um lugar para lavar roupa, e pronto. Mas tudo de um tamanho que eu possa dar três passos sem esborrachar o nariz numa parede.

Uma varandinha, uma rede...

E quero uma varandinha, uma rede...

Então, meu caro leitor, está duro de encontrar. Mas eu vou insistir. Continuo procurando. Além do que citei acima, gosto de “vista”. Preciso de uma varandinha que caiba a rede, e que dê pra ver o mundo, as estrelas de noite, e a lua quando nasce, ou Vênus, logo antes do  amanhecer. Tem que ser um pouco alto, mas não precisa ser de frente para o mar. Gosto muito de observar a vizinhança, casas, quintais, copas de árvores, carros, avenidas e eventualmente outros edifícios, desde que não fiquem muito perto do meu.

Encontrei um assim: um céu. Vigésimo andar, tamanho razoável, vendo toda a baía de Ponta Negra. Mas entre aluguel, condomínio, IPTU e outras taxas saía por mil e setecentos reais, e eu não posso pagar tanto.

Mas espero. Como minhas intenções são boas, meu espírito está em paz e sempre me alinhei ao lado das forças do Bem e da Justiça, sei que o Universo vai me oferecer, na hora adequada, a morada dos meus sonhos, onde eu possa viver mais um período da minha vida, no meio dos meus livros e fotos, perto dos meus filhos e netos, nesta cidade que, apesar de impossível, é a mais concreta possibilidade de vida que eu tenho agora.


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Facilitando a vida

Clotilde Tavares | 25 de junho de 2009

Hoje, com preguiça de escrever, vou lhe apresentar aqui umas dicas de organização e facilitação da sua vida, retiradas dos sites que visito o tempo todo e todas testadas por mim.

1 No site Efetividade.net o que fazer com os documentos, recibos de bancos e extratos de contas. Jogo ou não jogo fora? A respota está aqui. http://www.efetividade.net/2009/06/23/organizacao-de-documentos-em-casa-nova-lei-pode-acabar-com-nossas-montanhas-de-recibos/

2 Antonio Azevedo diz: “Faça agora”. E é mesmo! http://www.antonioazevedo.com.br/2008/10/faca-agora/

3. PocketMod ajuda. Faça um para você. http://repocketmod.com/

4. Use esse diagrama de produtividade http://rmaues.org/blog/2009/03/27/nerdy-productivity/

5. A melhor lista telefônica virtual. http://www.102web.com.br/telemar.htm

6. Tabela supercompleta de calorias. http://www.cdof.com.br/nutri4.htm

7. Cozinha pra quem não sabe cozinhar direito. http://www.muitogostoso.com.br/

8. Um timer on line para você não esquecer a panela no fogo. http://e.ggtimer.com/1minute

9. Converta qualquer documento em PDF. http://www.freepdfconvert.com/

10. E se o barulho da vizinhança lhe incomoda, informe-se aqui. http://www.chegadebarulho.com/

Finalmente, se nada der certo, chame o Aristeu.

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Abençoada terra

Clotilde Tavares | 17 de junho de 2009

jardinagem4Sabe aqueles dias em que a gente está assim, com o coração meio desassossegado, sem achar canto, sem conseguir ler ou escrever nem se concentrar naquilo que passa na TV? Aqueles dias em que, ultrapassados os surtos hormonais da juventude, mesmo assim, a gente começa a sentir uma vontade sei-lá-do-quê, uma saudade do que ainda não aconteceu, e uma sensação de que é preciso voltar, mas que a gente não sabe para onde? Pois é. Nesses dias de cão, antes que o mau-humor baixe sua negra cortina sobre a cena da minha vida, eu encontrei um remédio poderoso para afastar esses fantasmas. Uma coisa simples, que todo mundo tem e pode fazer em casa: cuidar das plantas.

jardinagem1Explico. A terra e os seres vegetais que dela brotam têm um incrível poder regenerador e curativo nesses estados de alma desassossegada. Isso porque a energia vital da terra, que continua vibrando mesmo num simples vaso de plantas cultivado em apartamento é uma energia primordial, atávica, profundamente conectada com nossas memórias primeiras.

Tenho poucas plantas, pois a moradia em apartamento e as viagens constantes não me permitem uma maior quantidade. Elas ssempre me socorrem e acalmam meu coração e minha mente, mostrando mais uma vez o milagre dos ciclos de renovação/destruição inerentes à natureza de tudo o que é vivo. Tudo que é vivo morre, mas tudo que morre renasce outra vez.

jardinagem3A semente mergulhada na terra morre como semente mas rebenta em planta dando origem a novas sementes, completando e eternizando o ciclo. Quando morremos, morremos para este mundo, e nos misturamos ao pó, à terra, à mesma terra na qual são mergulhadas as sementes. Nosso DNA, no entanto, sobrevive na descendência; e a essência se incorpora a uma essência maior, à Grande Alma Universal, ou qualquer que seja o nome pela qual a queiramos chamar.

jardinagem2Todos esses pensamentos passam pela minha cabeça enquanto estou cuidando das minhas plantinhas: uma muda do tamarindo de Augusto dos Anjos, que eu trouxe de Sapé, e que plantei em um vaso; uma figueira-da-Índia minúscula, bonsai que ganhei de presente há mais de dez anos; a orquídea que herdei de Mamãe, e que floresce todo ano; as pequenas suculentas, que não dão trabalho e sempre estão bonitas; e o comigo-ninguém-pode, planta que considero meu emblema pelas caraterísticas que tem: resistente, valente, venenosa e bonita ao mesmo tempo, um perigo! Gosto de pensar que essa planta parece comigo, e se eu tivesse um brasão, ela estaria num dos campos como símbolo da minha natureza.

Energias restauradas, paz no coração e na mente, é assim que me sinto depois de algum tempo com as mãos mergulhadas na terra abençoada. Pronta para continuar seguindo em frente.

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Estratégias da memória II

Clotilde Tavares | 25 de maio de 2009

Hoje vou continuar com o assunto da memória, porque no post de sábado eu esqueci (hahaha) de várias coisas que queria dizer, o que foi até bom, para o post não ficar muito comprido.

Gipsy, minha personagem preferida.

Gipsy, minha personagem preferida.

Lido muito com memória. Como sou atriz, uma das coisas que é preciso fazer no palco é ter o texto inteirinho na ponta da língua. Não somente o texto – as palavras – mas as intenções, os gestos, os olhares, a posição do corpo, o deslocamento no espaço, em suma, aquilo que chamamos “as marcas”. No teatro, todas essas coisas complementares, todo esse contexto ajuda a memorizar o texto em si, as palavras.

Outra coisa importantíssima em cima do palco é como lidar com o terror de todo ator, que é “o branco” – aquela situação em que você simplesmente não lembra de nada, esquece tudo. Penso que a única solução, o único remédio, é eliminar o estresse que é o maior causador dos “brancos”. Se você acha que não vai lembrar, não vai lembrar mesmo! “To play” tanto é “atuar”, como “jogar”, como “brincar”. Relaxar no palco, ver o trabalho do ator como uma doação amorosa da energia humana, integralmente a serviço da criação do personagem, não é uma coisa maravilhosa? Então como ficar nervoso com um fenômeno desse? O palco é uma festa, uma glória, um deslumbramento e o “branco” só surge quando a gente se estressa por querer impressionar, por colocar os objetivos do ator acima dos objetivos do personagem.

Com Jessier Quirino, poeta e declamador.

Com Jessier Quirino, poeta e declamador.

Vamos ver agora um outro caso de palco, o caso do declamador que, ao contrário do ator, não tem o auxílio do contexto. Aí, eu quando decoro algo para ser recitado diante de uma platéia, estabeleço comigo mesma algumas marcas e gestos mínimos, coisas que só eu sei, lugares pra onde olhar, e também me remeto ao formato da página onde o texto está escrito e à situação que o texto ocupa na página: página par, página ímpar, em cima, embaixo… São truques que todo artista tem e que não me incomodo de revelar. É assim que vou do começo ao fim, ao longo das cerca de 130 sextilhas do folheto de cordel O Pavão Misterioso, que sei todinho decorado. Além do “Pavão”, sei muita coisa decorado, mas se não houver uma constante repetição, a gente vai esquecendo. Por isso é preciso praticar.

Zé de Cazuza

Zé de Cazuza

Na poesia, elementos como a métrica e a rima falicitam a memorização e por isso as sagas e epopéias da Humanidade, no tempo da tradição oral, quando ainda não havia a escrita, eram formuladas em verso, para facilitar a memorização.

Conheço muitas pessoas que têm memória prodigiosa. A Rede Globo mostrou, no programa sobre a memória, o grande poeta popular Zé de Cazuza como exemplo. Mas conheço muita gente com memória igualmente prodigiosa. Meu pai, o jornalista e poeta Nilo Tavares, era uma dessas pessoas, recitando sonetos e mais sonetos, poemas e mais poemas, hora após hora. Olavo Bilac, Augusto dos Anjos, Emilio de Menezes e outros tantos dos seus poetas preferidos desfilavam na nossa frente enquanto ele, com sua voz forte e rouca para o homem tão pequeno que era, desfiava verso atrás de verso, quarteto atrás de quarteto, soneto atrás de soneto. Já velhinho, desmemoriado, sem conhecer ninguém, eu o ouvia falando baixinho. Ia devagar ao pé de sua cama e lá estava ele, repetindo seus sonetos preferidos, um depois do outro… Era como se estivesse desfiando o último fio da memória já deteriorada pela demência senil, a chamada “caduquice”, que o acometeu nos últimos dos seus 86 anos de vida.

pavaoO meu tio Cláudio Tavares, comunista histórico, vivendo em Recife durante toda a sua vida, também tinha esse tipo de memória, ainda melhor do que a de Papai. Ele decorou um dicionário inteiro, o “Dicionário da Fábula”, de Chompré. A pessoa abria o dicionário e dizia: página 86! E ele começava a dizer o que tinha escrito na página 86.

Uma ocasião tive uma doença infecciosa qualquer, uma inflamação de garganta. Fui ao médico, colega meu, da mesma turma. E ele então disse: “Mas Clotilde, isso que vc tem é a doença Fulana de Tal, que fica na página tal do livro de Veronesi!” referindo-se ao Tratado de Infectologia do professor Ricardo Veronesi, livro no qual estudamos no Curso de Medicina. Ele lembrava da página e da coluna do livro onde a doença era descrita. E tem mais: saiu recitando o texto do livro que se referia à descrição da doença como se o compêndio estivesse ali aberto na sua frente. Decoreba? Não, meu caro leitor: capacidade de memorizar e de ir buscar essa memória quando for preciso, coisa que não é todo mundo que tem.

numerosAs associações mnemônicas são outro tipo de estratégia que usamos para nos lembrarmos das coisas. Lembro-me das minhas aulas de Nutrição para o Curso Médico da UFRN onde eu recitava com facilidade o nome dos oito aminoácidos essenciais. Eu havia inventado três palavras com as três primeiras letras de cada um: TRIFENLIS TREVALMET ISOLEU. Então era fácil recitar para os alunos, bem naturalmente, como se não fossse decorado: Triptofano, Fenilalanina, Lisina, Treonina, Valina, Metionina, lsoleucina e Leucina…

Para as senha numéricas, inventei palavras parecidas com os números. Um é pum, dois é arroz, três é freguês, quatro é teatro, cinco é brinco, seis é reis, sete é valete, oito biscoito, nove é love e zero é nero.

Então uma senha por exemplo assim: 56923457 vira brinco reis love arroz fregues teatro brinco valete. Aí eu faço umas frases do tipo “o brinco dos reis love arroz, o freguês do teatro usa o brinco do valete”.

Eu adorava!...

Eu adorava!...

Já para aquela combinação de letras que fazem parte da senha, aquela de três letras, também formam frases. Lembro de que uma antiga minha, era AJG – digo aqui pois perdeu já a validade – na mesma época do sucesso da música de Los Hermanos. Então a senha virou Ana Julia Gostosa.

Parece doidice? Ora, meu caro leitor! Doidice é chegar no caixa eletrônico e não se lembrar da senha…

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Estratégias da memória

Clotilde Tavares | 23 de maio de 2009

memo3Na noite de ontem (sexta-feira) me desliguei das séries na TV para ver o Globo Repórter. O sacrifício não foi tão grande porque na sexta-feira, com exceção de In Plain Sight no Canal AXN eu não acompanho nenhuma outra série, principalmente depois que deixou de passar Criminal Minds. Então, eu fiquei na Globo mesmo, vi um pedaço daquela alucinação visual/conceitual que é a novela Caminho das Índias e logo em seguida começou o Globo Repórter, com o tema A memória.

Não que haja muita profundidade científica num programa desses, e nem poderia, porque é dirigido às massas. Mas o tema me interessa mesmo numa abordagem superficial porque eu, aos 61 anos, tenho que ficar atenta para isso.

05A perda da memória não é exclusivamente uma consequência natural da idade, apesar de sabermos que, como todos os órgaos do corpo, o cérebro se deteriora ao longo dos anos e muitas das suas funções ficam prejudicadas. O programa de ontem mostrou como o estresse ou o uso de álcool e drogas podem lesar a capacidade de armazenar informações e resgatá-las depois, quando isso é preciso.

memo7Algo que muita gente não atenta, no caso da memória, é que não se trata somente de armazenar informações. É preciso ter a capacidade de resgatá-las depois, é preciso tê-las disponíveis quando você precisa delas. Eu comparo com uma pessoa que vai lendo livros, jornais e revistas, e armazenando cópias de artigos, trechos, textos e outros, mas tudo misturado, sem organização. No dia em que precisar de um texto tal, como irá encontrar? Fico completamente admirada quando vejo esse pessoal estudando para o vestibular, sem descanso, sem distração, quando uma parte do tempo deveria ser destinado a dar descanso ao cérebro para que ele pudesse processar a informação. O Globo Repórter mostrou isso ontem de forma muito didática e clara.

memo8Eu sou um pouco – só um pouco – obsessiva pela organização e vez por outra escrevo sobre isso. Tenho um arquivo onde coloco todos os meus papeluchos. Assim, estão disponíveis quando preciso deles, e não gasto mais do que 30 segundos para ter na mão tudo o que preciso, desde o recibo de setembro de 2008 da conta da luz até o telefone que aquela pessoa passou pra mim no último domingo num guardanapo de papel, e que eu anda não passei para a agenda. Qualquer dia faço um post aqui sobre o meu sistema, com fotos. E a quem interessar possa eu sigo o GTD adaptado às minhas necessidades.

O programa mostrou uma série de estratégias para não esquecer das coisas. Esses esquecimentos têm produzido piadas de todo tipos e eu mesma escrevi um texto muito engraçado baseado em outro que recebi pela Internet sobre a D.A.D.I.A – Síndrome de Desordem da Atenção Deficitária na Idade Avançada. Mas, brincadeiras à parte, não há nada pior do que viver esquecendo das coisas, deixar as panelas fervendo no fogão, as plantas esturricadas por falta de água, ou não saber onde colocou os óculos. E o mais desagradável é que quando isso acontece a uma pessoa jovem, é porque está estressada; na minha idade, dizem logo que é caduquice…

memo6Algumas coisas podem ajudar a quem vive se esquecendo das coisas. Uma das mais importantes é ter um lugar certo para cada coisa. Eu não vejo nada de perto, sou hipermétrope em alto grau. Dirijo sem óculos, mas até para comer preciso deles. É crucial que eu tenha um lugar certo para os óculos. Então é assim: um no rosto (o de andar em casa); outro na mesinha de cabeceira (o alinhado, de sair) e mais dois de modelo “fora-de-moda” dentro da primeira gaveta da cômoda. Quando viajo levo três, guardados em lugares diferentes da bagagem.

Meus remédios estão organizados assim: os de tomar de manhã, na mesinha da cozinha em que preparo o café. Os de tomar à noite na mesinha ao lado do sofá onde vejo TV. Não tem como esquecer. Quando estou tomando antibiótico, que tem que ser na hora certa, tomo a dose e coloco o celular para despertar no horário da próxima. Assim, nunca esqueço nenhuma.

As tesouras são três: uma na cozinha, outra no escritório, outra junto da máquina de costura. A coisa que eu mais odiava quando morava com a família – agora moro sozinha – era ficar procurando a tesoura, e não adiantava comprar DEZ tesouras; quando eu queria uma, nunca encontrava. Uma vez amarrei uma na cabeceira da cama; pois os terroristas domésticos, com a própria tesoura, cortaram o cordão e a levaram dali.

memo9Meus livros são organizados nas estantes por assunto, e ninguém é autorizado a mexer neles. Meus sapatos – todos – são colocados à vista, senão esqueço de que eles existem. A mesma coisa ocorre com as echarpes, colares e bijuterias. Colocar uma coisa numa caixa fechada é simplesmente bani-la do meu cotidiano. Meus armários de cozinha não têm portas, meu guarda-roupa não tem portas.

memo10Um problema grave que eu tinha era esquecer as panelas no fogo. Então comprei um timer, que achei no camelódromo por sete reais. Quando coloco água no fogo, ponho imediatamente o timer em cinco minutos. Se for arroz 20 minutos, e assim por diante. Quando preciso ligar para alguém, mas só pode ser daqui a meia hora, descobri um timer on-line que me avisa quando a meia-hora acaba. A campainha toca, e eu largo o que estou fazendo e faço a ligação. Ele serve também para limitar o tempo de algo que estou fazendo no computador. Por exemplo: adoro jogar sueca – um jogo antigo, que se jogava muito no interior quando eu era criança, ou então Mah Jong. Então, para não passar o dia todo na jogatina, regulo o timer-on-line. Por que não uso o timer da cozinha para isso? Elementar, meu caro Watson: o timer da cozinha é da cozinha…

bananameninaFora isso, para manter a mente ativa eu escrevo todo dia neste bloguinho, que hoje completou seis mil visitas em menos de dois meses, faço palavras cruzadas e sodoku, sou doida por enigmas e quebra-cabeças, faço leitura anotada de livros e sou muito, muito curiosa: quero saber de tudo um pouco. Alimento-me bem, e mantenho o bom-humor na maior parte do tempo.

Finalmente, se a memória serve para lembrar, também serve para esquecer. Ouvi ontem no noticiário que vai voltar a farra com as passagens internacionais para os políticos. Uma coisa dessas, meu caro leitor, é melhor esquecer pra não morrer de raiva ou de vergonha.

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