De novo os ceresumanos
Clotilde Tavares | 14 de setembro de 2009Saio pouco de casa. O mundo ultimamente se tornou um lugar barulhento, quente e sem vagas para estacionamento. Eu também fiquei mais velha, mais exigente, mais seletiva, mais comodista. Além disso, em casa tenho o mundo inteiro à minha disposição através da TV a cabo e da Internet, sem falar nos famosos 1.800 livros mencionados aqui tantas vezes. Quando saio, é para jantar ou almoçar com amigos, ir ao shopping ou livraria, dar uma volta de carro, visitar filhos ou amigos. Como não bebo nem gosto de balada ou noitadas, não vou a barzinhos; e qualquer reunião com mais de quatro pessoas para mim é evento, e não frequento eventos. Mas gosto muito de receber visitas, além de visitar muito também.
Enfim, estou caminhando para ser uma anacoreta urbana, empoleirada neste quarto andar, distante “do mundo e das suas pompas”, cumprindo o destino astrológico que colocou Vênus e a Lua em conjunção na minha décima segunda casa, só não me tornando uma freira por causa dos pecados cometidos na juventude e que, mesmo indo contra o bom-senso, estou doidinha para cometê-los de novo.
Reproduzo de memória um texto de Oscar Wilde em “O Retrato de Dorian Gray” – o livro está ali na estante mas estou com preguiça de me levantar para pegá-lo – sobre essa coisa dos pecados da juventude.
Num jantar, uma mulher já velhusca pergunta ao personagem:
– Como poderia sentir-me jovem outra vez?
– Oh, Lady X., lembra-se de alguma grande loucura que tenha cometido na juventude?
– É claro.
– Então cometa-a novamente…
Outra coisa que me assusta no mundo exterior é a presença dos ceresumanos, criaturas que parecem comigo mas que definitivamente não pertencem à minha espécie sendo, como já disse, meus “dessemelhantes”. Ontem, no supermercado mais alinhado da cidade, encontrei cinco espécimes. Três rapazes, duas moças, todos na casa dos vinte anos. Lindos, altos, bem proprocionados, bem vestidos, roupas caras, as garotas muito manicuradas e penteadas, roupas de griffe, bolsas caríssimas, tudo de muito bom gosto; não eram certamente garotas de programa como alguns podem estar pensando.
Em bloco, essas cinco criaturas se deslocavam pelos corredores da loja, falando em tom altíssimo, zoando uns com os outros aos gritos, usando palavrões, desarrumando as prateleiras, arrotando alto e emitindo outros sons escatológicos, e imitando animais. Os rapazes latiam, miavam, esturravam; e as moças cacarejavam e grasnavam, numa barulheira infernal, inadmissível naquele local e tolerável apenas se fossem crianças muito pequenas, e olhe lá.
Os ceresumanos também são identificáveis no cinema, e Sandro Fortunato, do blog Algo a Dizer, registrou um dia desses a presença deles. Eu deixei de ir ao cinema também porque me assusta a convivência com esses meus dessemelhantes, cada vez em maior número e mais barulhentos, fazendo-me lembrar do clássico cinematográfico “Invasores de Corpos”, onde seres alienígenas se apossam do corpo das pessoas.
Tenho paciência com muita coisa neste mundo. Mas com os ceresumanos, fruto da falta de educação, representantes da grosseria e da cafajestice, meu grau de tolerancia é zero.
– Como poderia sentir-me jovem outra vez?
– Oh, Lady X., lembra-se de alguma grande loucura que tenha cometido na juventude?
– É claro.
– Então cometa-a novamente…
[…] deles protagonizados pelos homens e mulheres que estão no Poder – e tudo aquilo que os ceresumanos vivem aprontando nas calçadas à beira-mar ou nas alamedas dos shoppings. Fiz essa opção porque […]
Hoje, sábado, frio, aqui. Estava justamente pensando no porque de eu ter me tornado uma quase reclusa nesta vida. Eu que era tão sonhadora e alegre. Daí fui ver bolsas da Denize, li o comentário sobre a besteira da retirada do comercial das havaianas, que eu tinha achado de muitobom gosto e até o que colocaram no ar depois da retirada, também foi de bom gosto e delicado, e fui indo, cheguei aqui e não pude deixar de ficar lendo seus textos tão gostosos e sensatos. Assim eu também quase que me excluí do mundo. Me achava estranha. Agora sei que não “estamos sós” hehe.
Abraços
O pior é que eles não aprendem isso no colégio não… aprendem em casa…
Perdoe-me se tiver algum erro de portugues no meu comentário! rs
Kkkkk além de eu rir muito com esse post.. eu estou imaginando a cena e concordo plenamente com você sobre esses escandalosossereshumanosalienigenas que surgem por ai. Eu também me espanto quando entro em um transporte coletivo e vejo tantos jovens falando palavrões e destratando as pessoas dentro do ônibus como se eles fossem os donos do mundo! Em ressalta eles andam fardados, na volta para casa com uma camisa de colégio particular (q não deve ser nada barato para os pais) e estão ali, demostrando o que aprenderam durante o dia todo no colégio.. a serem mal educados. E, fico triste ao pensar que, eles serão o futuro do nosso país! Mas, falar o que? Se na atualidade eles veem o exemplo que está aí!? Dificil saber o que fazer pra mudar esse quadro! Beijão.. amo seus pensamentos.. =)
Queisso Saraiva? kkkkk