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O Tempo, compositor de destinos

Clotilde Tavares | 18 de setembro de 2009
Brigitte Bardot, foto recente.

Brigitte Bardot, foto recente.

Navegando na Internet, encontrei umas fotos da atriz Brigitte Bardot, atualmente com setenta e cinco anos. E não falta quem compare a imagem atual da atriz com aquela deslumbrante e esplendorosa juventude que encantou a todos na década de 1960, transformando-a num dos mais poderosos símbolos sexuais do século XX. Na foto atual a atriz, que nunca quis se submeter a plásticas, mostra a face sulcada de rugas, e os comentários dos blogs sempre são “o estrago que o tempo faz nas pessoas” ou “como o tempo destrói a beleza”.

Brigitte, na década de 1960.

Brigitte, na década de 1960.

Ah, meu caro leitor, permita-me discordar. As pessoas não são somente pele, músculos e articulações – estruturas mais afetadas pelo tempo do que outras. As pessoas são muito mais do que uma pele perfeita e uma musculatura sarada. Ao contrário de quem tem medo de envelhecer e vive correndo atrás dos milagres da plástica e tratamento, penso que o tempo age em nós de forma mais positiva do que negativa, melhorando, aprimorando, acrescentando sabedoria através da experiência.

Se não fosse a passagem do tempo, como ficaria a Esperança? Como ficaria a Utopia, que nos arrasta e conduz a novas conquistas, se ela não fosse localizada no Futuro, no tempo distante à nossa frente? Isso sem falar no efeito lenitivo e suavizante do tempo sobre as nossas dores, nossos males, nossas angústias. É o tempo que nos faz esquecer, perdoar, esvaziar o nosso coração das coisas que não deram certo para poder tentar de novo, sonhar de novo, amar outra vez.

Essa sou eu. Foto de 2008.

Essa sou eu. Foto de 2008.

À medida que nos premia com uma ruga aqui outra ali, com centímetros a mais na cintura ou com articulações mais duras, o tempo também nos dá tranquilidade para aceitar os imprevistos e sabedoria para compreender os enganos, nossos e dos nossos semelhantes, e ter paciência com eles.

É o tempo que apura a nossa percepção, afia nossa inteligencia e nos dá acuidade para compreender melhor os fatos e as coisas que nos cercam. Com a passagem do tempo, ficamos mais seletivos e entendemos o que o poeta quer dizer quando diz que “só quero saber do que pode dar certo, não tenho tempo a perder”.

Em 1969, eu tinha 21 anos.

Em 1969, eu tinha 21 anos.

Se o tempo nos embranquece os cabelos, também acalma os ardores juvenis que nos levam a fazer tanta bobagem sem querer, a dizer coisas das quais nos arrependemos depois. É o tempo quem doura as nossas recordações, que nos acalma, nos reconforta.

Finalmente, os versos de Caetano Veloso dizem mais do que eu posso dizer agora:

“E quando eu tiver saído

Para fora do teu círculo

Não serei nem terás sido.

Ainda assim acredito

Ser possível reunir-nos

Num outro nível de vínculo.”

O título deste post também foi tomado de empréstimo a Caetano Veloso.

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Brigitte Bardot, Caetano Veloso, envelhecer, envelhecimento, idade, tempo, velhice
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13 Responses to “O Tempo, compositor de destinos”

  1. Chico Alves disse:
    5 de maio de 2012 às 16:58

    O tempo nunca envelhece
    As rugas são dobras do tempo
    Que nos levam a outras dimensões
    E nos permitem viajar
    Até o infinito
    Das nossas lembranças

  2. Uliana Fechine disse:
    29 de março de 2012 às 15:44

    POis bem, e agora que passei dos 30 (pois é) enxergo tanta coisa que não entendia antes. Presente da maturidade!! Procuro não me estressar muito com a passagem dos anos, MAS, em igual medida também procuro levar a vida mais saudável que a minha sociedade/realidade “fast food” permite!! Heheh…
    Bom mesmo seria que a idéia social construída em torno do ato de envelhecer tivesse esse ponto de vista “Clotilde positivo ser”!! (Vou compartilhar seu texto… Heheh)

  3. unaldo xavier de medeiros disse:
    29 de março de 2012 às 14:08

    Que coisa linda Clotilde ! Você realmente está sempre inspirada ! Gosto muito do que você escreve, gosto muito do que você faz… Um beijo.

  4. Clara D. disse:
    24 de dezembro de 2010 às 08:44

    Texto muito bonito , concordo plenamente.

  5. Clotilde Tavares disse:
    21 de março de 2010 às 14:24

    Obrigada, Cris, pelo comentário. Também acho que cada ruga conta uma história, e apagá-las é de certa forma apagar essa história.

  6. Cris Quaranta disse:
    21 de março de 2010 às 14:01

    Há de envelhecermos com dignidade. Acho tão feio aquelas faces de botox, todas puxadas, todas iguais. O tempo passa, a idade avança e cremes estão aí pra isso, para ajudar ao retardamento das rugas, mas uma hora elas chegam e são bem vindas. Cada ruga na nossa face tem uma história, tem uma risada, ou um choro e até uma saudade. Rugas são sinal de que crescemos, de que amadurecemos e que já não olhamos as coisas mais com cobiça, com os arroubos da juventude. Seremos eternos, nos nossos filhos, nas fotos, nas lembranças. Viver é isso. Seguir em frente. Brigitte não ficou feia, ela envelheceu, seguiu o processo natural. A diva do cinema que arrasou em Búzios continua ali, basta olhar direito. A mulher não mudou. Ela amadureceu com o tempo. Já viu uma fruta suculenta? Um hora ela amadurece. É a natureza agindo de acordo com suas regras, seguindo seu rumo, sem a interferência do homem. Em fim, adorei seu texto, seu blog e sua maneira de escrever. Parabéns. Um grande abraço.

  7. Clotilde Tavares disse:
    3 de fevereiro de 2010 às 09:10

    Todas éramos um pouco dentucinhas nessa época, quando chapinhas e aparelhos ortodonticos ainda não haviam uniformizado o visual feminino…

  8. Ian disse:
    3 de fevereiro de 2010 às 02:11

    presada srta.
    acordei eu, 17, nessa bela manha de terça (que de bela só tinha o calor, alias nem de manha era); havia sim estado a sonhar com bardot, ao maior estilo ”o desprezo”, acordei com raiva, tinha naquele momento ódio da queles lidos olhos, um ódio bonito até, mas um que me fez não querer ouvir musica de abelhas ou de caetanos, e sim sair para correr e me cansar dessa juventude plena que ainda gozo… Brincadeiras a parte, agora já são 3 da manha, eu a pouco vi o ultimo do pasolini; e naquela ancia angustiante do filme vim escrever algo, falar com amigos sobre nada… Graças ao filme as palavras estão me brotando arrogantemente. Decidi então ouvir Tom Zé, por algum motivo que não fasso a menor idéia; Também por acaso lembro do meu sonho, e logo depois começa a tocar a musica dele “Brigitt Bardot”, e decido ver como está a velha bardot… chego ao teu blog; Por causa dessa foto (e que foto), logo que vi a foto me lembrei de ana ekberg (é assim que escreve?) do la doce vita, que aparece no intrevista; lembrei de minha mãe… lembrei até do próprio felinni tendo pena da velhice… Não irei puxar o saco pelo belo texto… só digo qeu irei o plagiar, não nas palavras e não nas idéias, mas no sentimento… Até me acalmei lendo hahaha. Ganhou um novo leitor provavelmente, alias nems ei por qeu estou escrevendo isso… Enfim, não cantarei hinos pois não sou ufanistico (ha ha ha); mas direi que, “ce la vie…”;
    (ps: Ache engraçado, os seus dentes na foto antiga, lembram os dentes da própria bardot; talvez eu tenha exagerado mais enfim). Parabens.

  9. Alexander disse:
    12 de outubro de 2009 às 01:56

    Prezada Clotilde, belas palavras. Belos sentimentos. Ontem, assisti a um filme cujo título, traduzido do inglês, é “Te amarei para sempre”. O título original é “The time traveller’s wife”. Uma obra de ficção, em cujo enredo se focou o Amor. A trama do filme foi costurada por viagens no tempo pelo seu co-protagonista, que sofria de uma mutação genética que o fazia sumir numa época e aparecer em outra, sem controle. E quem era o antagonista? O tempo, sempre o tempo! Esse tempo que passa sem controle, contra a nossa vontade. O engraçado é que o ser humano é o único animal a ter consciência do tempo e dos efeitos de sua passagem em si e nos demais. Somos, todos, viajantes do tempo. Mas só viajamos para o futuro, inexoravelmente. E é esse mesmo tempo que nos permite evoluir para uma forma mais avançada de humanidade. Permita-me, aqui, louvar teu texto. Tão oportuno quanto poético, mostrou a faceta oculta e mais benéfica desse companheiro de jornada de todos nós. Fico por aqui, te desejando uma excelente viagem ao futuro.

  10. Anete disse:
    9 de outubro de 2009 às 17:07

    Muito obrigada pelo cuidado e refinamento do texto sobre BB e a passagem do tempo. Alias, gostei de todos os textos, especialmente sobre a cidade do cariri, lugar de refúgio de quem teve infancia.

  11. Gilberto dos Santos disse:
    3 de outubro de 2009 às 13:01

    Prezada Clodilde.
    Na manhã deste sábado eu, 48, acordei e convidei minha filha, Gabrielle, 6, para uma caminhada. Conversamos sobre vários assuntos de interesse de uma pequena minina. Eu desfrutava da felicidade de sua companhia. Retornamos para casa e tive a “inspiração” de convidar minha esposa, 27, para ouvir uma antiga música Bee Gees (Massachussets). Falamos sobre a idade deles. Lembrei-me de uma reportagem sobre a atriz Brigitte Bardot. Na internet, vimos as belas imagens da atriz no esplendor de sua juventude. E outra de hoje. Por esse caminho cheguei ao seu blog. Lia em alta voz suas ponderações sobre a velhice. Achei que deveria cantar o hino nacional após a leitura. É um dos textos mais belos que já li sobre a natureza humana e a sua passagem pelo tempo. Mensagem inspiradora e consciente que serve de alerta. Mereceria até ser expressado em forma de um hino, para ser sempre cantado e lembrado. Foi uma grande sorte ter acesso ao seu blog na manhã de hoje. Parabéns e obrigado. Gilberto dos Santos.

  12. Gladis disse:
    21 de setembro de 2009 às 17:07

    concordo em tudo (genero numero e grau como se diz, hehe)

  13. Ítalo M. R. Guedes disse:
    18 de setembro de 2009 às 16:05

    Cara Cotilde, muito bonito seu texto. Sinceramente, gostei muito de seu blog todo e já me tornei leitor fiel. Tomei a liberdade de divulgá-lo em meu blog. Obrigado por lembrar de me avisar.
    Cordialmente,
    Ítalo.

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