Olhando sem ver.
Clotilde Tavares | 18 de maio de 2009É assim que nós vivemos na cidade em que moramos. Eu na capital da Parahyba, você em Natal, São Paulo, Belo Horizonte, Curitiba, Jucurutu, Mossoró ou Riacho dos Cavalos. Seja lá onde for a nossa moradia, acostumamos o olhar e passamos sem ver por um bocado de coisa, até que alguém nos chama a atenção.
Você viu? aquela estátua, busto, painel, construção, árvore centenária. Aí, a gente vai, e vê.
Falávamos disso ontem na mesa do cafezinho que nos reúne todos os domingos, quando eu me lembrei desse projeto maravilhoso que Sandro Fortunato e Canindé Soares estão fazendo em Natal desde fevereiro deste ano e que já está quase concluído.
Sandro Fortunato trabalha com comunicação há 22 anos, nas áreas de jornalismo e fotografia. Além disso, é internauta desde que inventaram a Internet e mexe com editoração eletrônica e websigner. É autor do site Memória Viva, com o qual já ganhou alguns prêmios IBest. Doido por biografias, dorme de dia e passa a noite acordado mantendo na Internet blogs, sites e tudo quanto é de coisa. Canindé Soares é repórter fotográfico, um dos mais conceituados do Nordeste, com mais de 25 anos de experiência, com um blog que teve cem mil visitas em quatro meses! Conheço ambos há muito tempo e tenho por eles uma grande amizade e uma espetacular ressonância intelectual. Infelizmente, do ponto de vista fisico são a coisa mais diferente de Brad Pitt que você possa imaginar. A confiança e amizade que nos une permite que eu faça gracinhas desse tipo com os dois, e eles continuem meus amigos.
Pois bem: essas duas criaturas heróicas, por conta própria e assumindo os riscos, resolveram juntar seus esforços e cabeças pensantes para fazer um trabalho de documentação de estátuas, efígies, bustos e semelhantes espalhados pelo cidade, e pelas quais a gente passa todo dia e não vê, e quando vê não conhece e sequer adivinha quem é aquele velho bigodudo que nos encara de cima daquele pedestal.
É o próprio Sandro quem explica:
“Em escolas públicas e particulares, autarquias e outras instituições, encontram-se outros bustos e efígies. Todos mais ou menos esquecidos, com seus olhares perdidos no tempo, testemunhando mudanças, lembrando de seus tempos gloriosos e dos motivos que os tornaram imortalizados em pedra ou metal. Calados, olhando mais do que são olhados, acabaram chamando nossa atenção e logo estarão reunidos em livro e também em uma exposição. Será uma reunião de políticos, militares, empresários, religiosos e intelectuais, de várias épocas, como colunista social nenhum jamais sonhou.”
Fã dos dois, desejo a eles o sucesso que merece a iniciativa e envio os parabéns do Umas & Outras. Comemoro esse projeto como uma ilha verdejante em meio ao areal do esquecimento e da desmemória com os quais, pouco a pouco, vamos sepultando o nosso passado.