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Eu voltarei!

Clotilde Tavares | 12 de maio de 2010

Para você, que ainda me visita, eu afirmo e prometo que voltarei.

Tenha paciência! Já coloquei os óculos de grau, só falta passar o sono e a preguiça…

Achei a foto aqui.

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Gentileza gera Gentileza

Clotilde Tavares | 5 de maio de 2010

Se você está acompanhando o noticiário dos últimos dias, deve ter visto que está sendo comemorado no Rio de Janeiro os 90 anos do Profeta Gentileza. Apesar de não haver entendido bem como se comemora em 2010 os 90 anos de alguém que nasceu em 1917, eu conheci essa figura popular, carismática e verdadeiramente genial; e a conheci aqui em Natal.

Seu verdadeiro nome era José Datrino, nascido em 1917. Antes de tornar-se “Profeta”, Datrino possuía uma empresa de transporte de cargas e residia, com sua família, no bairro de Guadalupe, Rio de Janeiro. Possuía muitos bens, uma casa, três terrenos, três caminhões, mas a partir de sua “revelação”, deixou tudo para a família e ganhou um nova identidade: o Profeta Gentileza que, aos poucos, tornou-se uma figura popular na cidade. Gentileza andava por vários bairros do Rio, Niterói e Baixada Fluminense e também andou pelo Brasil, pregando o amor pela natureza, a paz e… a gentileza. A partir dos anos 80, começou a inscrever mensagens nas pilastras do Viaduto do Caju, no Rio de Janeiro, formando um verdadeiro “livro” de concreto, que foi recentemente restaurado e está em processo de tombamento pela Prefeitura do Rio. O Profeta Gentileza morreu em 1996, aos 79 anos, mas o seu trabalho, pela mensagem que encerra, está sendo reconhecido por muitos setores da arte e da cultura, entre os quais a cantora Marisa Monte, que compôs e gravou uma música em sua homenagem.

Pois bem, caro leitor: o Profeta Gentileza andou por Natal no início da década de 1980. Lembro bem de tê-lo visto “pregando” na Praça João Maria e de ter ficado impressionada pela sua figura teatral, muito alta e muito magra, de barba e cabelos longos e grisalhos, com uma bata branca que ia até os pés e o estandarte colorido, ornamentado com flores, cataventos de papel e dísticos, que portava com distinção e firmeza. O profeta, quando andou por aqui, morava ou se hospedava no bairro de Nova Descoberta e vez por outra o via descendo a rua da Saudade, onde eu morava naquela época.

Um fato engraçado é que Ana Morena, minha filha mais nova, nessa época com uns 4 ou 5 anos de idade, estava sempre querendo fugir de casa para ir brincar na rua. Temerosa de que algo lhe acontecesse, tentei amedrontá-la: “Olhe que vem o Velho e lhe carrega, lhe bota dentro de um saco e leva para bem longe!” Incontinenti, ela respondeu: “Você mesmo disse que não existe nem Papão, nem Papa-Figo, nem Velho, que são coisas que os adultos inventam para assustar as crianças!” Fiquei assim meio sem saída, vendo confrontados meus modernos conceitos de “educação sem medo” com a necessidade de impor um limites à minha atrevida pirralha.

Nesse dilema, olho para o alto da rua e quem vejo? O Profeta Gentileza, que descia a rua da Saudade em direção à avenida Salgado Filho. “Olhe, lá vem vindo o Velho!”, falei e apontei para ele, de estandarte e com o camisolão branco que o deixava ainda mais alto e magro. Quando Ana Morena viu aquela aparição disparou apavorada para dentro de casa e não saiu mais.

O belo e suave Profeta Gentileza, que nunca quis assustar ou fazer mal a ninguém, terminou, sem querer, encarnando o perigoso “Velho”, personagem amedrontador que deve ter povoado os pesadelos da minha filhinha durante muito tempo.

Mas isso é apenas uma pequena e engraçada história. O que fica, para nós todos, como legado desta figura sem paralelo no dia-a-dia das nossas cruéis e violentas cidades é a mensagem “Gentileza gera Gentileza”, herança amável e preciosa que precisa ser exercitada e multiplicada por todos nós.

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Casa Grande e Senzala – em quadrinhos.

Clotilde Tavares | 3 de maio de 2010

Todo mundo, mesmo quem não é muito chegado à leitura, já ouviu falar da obra de Gilberto Freyre, que tem o título de “Casa Grande e Senzala”. Gilberto Freyre (1900-1987), sociólogo pernambucano, escreveu esse livro em 1933, e a importância desta obra colocou-a definitivamente na relação dos livros que devem ser lidos por qualquer pessoa que queira entender o Brasil.

Para o leitor comum, ler “Casa Grande e Senzala” é uma tarefa, pois a obra é vasta, extensa, profunda, recheada de informações. Junto com “Sobrados e Mocambos” e “Ordem e Progresso” forma a trilogia conhecida como “Introdução à História da Sociedade Patriarcal”, constituindo esses três livros um documento mestre para quem deseja entender como se formou a nossa sociedade, o seu processo de colonização, e porque somos da maneira que somos hoje.

Muita gente pode até nem concordar com as idéias de Gilberto Freyre. Eu mesma só o li recentemente, cumprindo a tarefa de preencher lacunas da minha formação que ficaram abertas por puro preconceito. O caso é que na época em que deveria ter lido a obra de Freyre, no Mestrado, estávamos em plena ditadura militar e o nosso curso – como muitos no Brasil – tinha uma orientação marxista que era mais ou menos declarada. Nós e nossos professores execrávamos esses autores como Freyre, chamados “funcionalistas”, porque achávamos que quem pensava diferente de nós não merecia o privilégio da nossa leitura. Naquele tempo, as turmas não se misturavam, marxista só andava com marxista e todos, dentro do seu gueto pessoal, estavam de acordo uns com os outros.

Essa atitude, que hoje reconheço limitada mas que era normal naquele tempo, privou-me de um monte de leituras interessantes que somente muitos anos depois pude ler sem achar que estava traindo a mim e ao povo brasileiro. Entre elas incluo textos espiritualistas e filosóficos e romances, poemas e ensaios de autores ditos “reacionários”.

Voltando a Gilberto Freyre e a “Casa Grande e Senzala”, há uma edição em quadrinhos publicada pela Global Editora. Se não é um estudioso ou acadêmico e não quer encarar o desafio das centenas de páginas mas tem uma curiosidade natural e saudável sobre a obra pode fazê-lo agora, de forma “light” e suave.

Publicado pela primeira vez em 1981, o livro foi planejado por Adolfo Azien e roteirizado por Estêvão Pinto, com ilustrações de Washt Rodrigues, posteriormente colorizadas por Noguchi. A versão quadrinizada é sucinta, didática, mas permite vislumbrar as principais idéias da obra de Freyre, fazendo um apanhado dos fatos e costumes dos povos que formaram a nação brasileira, desde o início da colonização português até a época da escravidão, mostrando o fenômeno da miscigenação e revelando de que modo cada um dos povos fundadores – portugueses, africanos e índios – influiu na nossa cultura.

E se depois de lê-la você quiser conhecer a obra original, a Global Editora também tem em catálogo, em edições cuidadosas e bonitas, os outros livros de Gilberto Freyre, leitura que vale a pena ser feita, boa para a nossa auto-estima e para o exercício da nossa nordestinidade.

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Casa Grande e Senzala, Gilberto Freyre, Global Editora
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A produção das deusas

Clotilde Tavares | 2 de maio de 2010

Não entendo porque as pessoas insistem em divulgar emails do tipo “as 50 tops mais lindas do mundo sem fotoshop e sem maquilage”.

Olha, minha gente: eu acho isso uma bobagem e nem quero ver!

Modelo não é gente. Modelo é uma coisa bonita, construída com disciplina, trabalho, maquilage, massagens, dietas, exercícios e seja lá mais o que for necessário para dar a elas esse aspectos de deusas xstra-terrenas, de seres celestiais, de divas inconsúteis, que nos fazem sonhar e abominar nossos sessenta e cinco quilos em um metro e quarenta e oito.

Lá, no fundo daquela construção midiática, existe uma menina de verdade, uma moça que sonha, que acorda de manhã, vai ao banheiro, escova os dentes e vai para a cozinha arrastando os pés tomar seu iogurte exatamente como eu faço e como você faz todo dia.

Mas ninguém está disposto a ver isso, a pagar para isso. Todos querem ver a deusa no seu pedestal, com roupas de griffe, maquilage estranha, cabelos irreais, longas unhas, olhar 45. É uma indústria como qualquer outra, com milhões de dólares em jogo, como qualquer outra indústria.

Assim, não queiram me mostrar essas fotos. Eu me recuso a vê-las, da mesma forma que me recuso a eliminar a Fantasia e o Sonho que existe na minha vida e que se reacende toda vez que vejo aquelas criaturas belas e espetaculares.

Se o ideal de Beleza que a mídia constrói e transmite através delas é  impossível de ser alcançado, levando a mulherada em peso gastar os tubos na indústria das academias, cirurgias plásticas e produtos de beleza, isso é outra história, que não estou discutindo aqui.

Eu não quero ser como as super-models, nem poderia. Tenho minha própria vida e minhas próprias coisas para fazer, que não têm nada a ver com aquilo que elas fazem. Mas que gosto de vê-las desfilar nas passarelas ou piscarem para mim nos comerciais, ou encontrá-las imóveis e tão lindas nas páginas das revistas, ah, isso eu gosto, e muito.

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Preciso de um vestido

Clotilde Tavares | 28 de abril de 2010

Em 1999 eu estava à procura de um vestido para vestir no lançamento do meu livro “A Magia do Cotidiano”. Depois de uma busca infrutífera pelas lojas, resolvi vestir uma roupa que eu já tinha e no domingo seguinte escrevi a crônica abaixo para a Tribuna do Norte, jornal de Natal no qual escrevi semanalmente aos domingos durante mais de dez anos.

Bem: o texto tem onze anos que foi escrito, e sempre agrada muito. É engraçado mas reflete um problema que afeta muitas mulheres, de todas as idades: a dificuldade de encontrar roupas que lhe caiam bem, porque as modelagens que estão nas lojas são feitas para mulheres como Gisele Bundchen.

É disso que trata o blog da Beth Viveiros, 32 anos, de São Paulo. “Tenho 1,78 m, 94 quilos e númeração de roupa indefinida”, diz ela, e está fazendo uma pesquisa sobre mulheres que “não cabem” na moda que está nas lojas.

Visitem, respondam a pesquisa, divulguem. E leiam meu texto abaixo que continua mais atual do que nunca com uma diferença: minhas medidas aumentaram…

PRECISO DE UM VESTIDO

Publicado na Tribuna do Norte / Natal-RN em 30 de setembro de 1999.

Hoje quero usar o espaço desta coluna para um apelo. É que estou precisando desesperadamente encontrar uma loja onde eu possa comprar um vestido. O meu caro leitor já deve estar pensando que eu pirei de vez e eu lhe respondo que poucas situações no mundo são tão carregadas de significados ocultos e de estresses psicológicos como essa em que me vejo agora: a situação de uma mulher, precisando de um vestido novo.

Explico melhor. A indústria de confecções, o pessoal das griffes ou seja lá quem for que fabrica roupas neste país hoje em dia pensa que toda mulher tem um metro e setenta e cinco de altura, cinqüenta e cinco quilos, cinqüenta e dois centímetros de cintura e busto tamanho quarenta. Mas não é só isso.

As vendedoras, quase todas esquálidas moçoilas vestidas com roupas das griffes que vendem e com cara e atitude de modelos famosas, não fazem o menor esforço para arranjar algo que sirva para esta colunista que vos fala, com meus saborosos sessenta quilos distribuídos agradavelmente por um metro e meio de altura.

Outra coisa estranha é a questão do decote. Gosto de decotes. Aliás, o colo é uma das coisas mais bonitas e charmosas que as gordinhas possuem, devidamente valorizado pelos decotes. Pois bem: nas lojas só existe roupa decotada para quem tem busto mínimo que, aliás, torna o decote desnecessário. Mostrar o que não existe? Pois é.

Ai, como sofro nestas lojas! Deve ser esse o castigo que o céu me reservou por ter abusado das tortas, chocolates e biscoitos de que gosto tanto. Uma das vendedoras chegou a me olhar de alto a baixo e dizer: “Se a senhora emagrecesse…” Pode? Minha linda, a sua roupa é que tem que servir para mim e não eu me sacrificar para entrar na sua roupa. Onde já se viu?

Mas na maioria das vezes as vendedoras não falam. Comunicam-se em silêncio, numa linguagem secreta de olhares e movimentos de sobrancelhas que aprendi a decifrar. Quando entro na loja, elas se olham e uma sinaliza para a outra: “Outra gorda!” A resposta vem, em silêncio: “Não tem nada na loja que sirva para essa baleia”.

Foi assim sexta-feira passada, onde arrastei por todas as lojas a minha figura fofa e quase à beira de uma ataque de nervos, pois precisava do vestido para um compromisso social, onde acabei indo com uma roupa qualquer.

O pior de tudo é que, apesar das minhas medidas serem excessivas para as griffes chiques deste meu país brasileiro são ainda muito reduzidas para as lojas onde se vende roupas para gordas. Nelas descubro que para ser gorda de verdade eu teria também que ser alta, já que as blusas que provo arrastam pelo chão, como vestidos longos.

Então, caro leitor, aqui fica o meu apelo. Se você conhece algum lugar onde se venda roupas para mulheres que nem eu, tipo mignon, fofinhas e felizes, e onde as vendedoras sejam simpáticas, gostem de agradar os clientes e de vender, é só me avisar.

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O texto e o som

Clotilde Tavares | 26 de abril de 2010

Eu estava navegando na internet e li uma notícia muito interessante. Richard Johnston, um estudante de pós graduação em Harvard e coordenador de um projeto sobre Shakespeare, recomenda a leitura e a audição ao mesmo tempo da peça Hamlet. É só fazer o download para o seu e-reader (o meu é o PRS-600 da Sony) do texto e do audio-book.

O e-reader permite a execução simultânea de ambos – som e texto – e deve ser interessante, pelo menos para mim, que estudo o texto do Hamlet há bastante tempo e nunca tinha tido essa idéia. E é claro que isso pode ser feito com muitas outras obras. Já existem audio-books disponíveis para download de muitas obras clássicas em português e é uma forma interessante de unir Literatura e tecnologia. Não precisa ter e-reader. O áudio, geralmente em MP3, pode ser ouvido enquanto se lê o livro de papel.

Penso que isso poderia ser utilizado para que os alunos pré-vestibulandos tivessem um acesso mais “suave” às obras que devem obrigatoriamente ler para o vestibular. Isso tem a ver comigo neste ano pois o meu livro A Botija foi indicado para o vestibular 2011 da Universidade Federal de Campina Grande, e já começam a chegar ao meu email pedidos para que eu “ajude” professores e alunos a “transformar” o livro em “peça-de-teatro”.

Entre os professores de colégios e cursinhos há uma tendência em se transformar os livros em peças de teatro para que os alunos “conheçam a história” e “mantenham o pique” nas aulas de Literatura. São coisas que a gente ouve comumente na TV, nas matérias dos telejornais, quando se aproxima a época das provas. Um dia desses vi um dos professores entrevistados sobre o tema dizer que dessa forma “os livros ganham vida”.

Ora, minha gente! Eu milito tanto no campo do Teatro como no campo da Literatura, e fico bem à vontade para falar sobre ambos. Os romances não são meras “histórias” e não é bastante saber “o que aconteceu”. Um romance é o estilo, é a forma de contar a história, de costurar o enredo, é o uso precioso da linguagem. Um romance pode ser adaptado para o teatro, mas o resultado não vai nunca ser o romance: vai ser uma outra obra, usando uma linguagem diferente, a linguagem da cena.

E desde quando os livros só “criam vida” se forem representados no palco? Os livros criam vida na tela da nossa mente, que se torna um palco interior, povoado pelas imagens evocadas por aquilo que lemos.

Parece que o problema está aí. Entendo a imaginação como a capacidade de criar imagens mentais, e penso também que essa capacidade anda um pouco atrofiada nas mentes dos espectadores em que nos transformamos todos. Nossa vida moderna depende sempre de um écran, de uma tela: televisão, computador, games, vídeos, mostrador de celular e os inúmeros monitores espalhados pelo ambiente urbano que nos dizem o que queremos ou precisamos saber.

Então, o cérebro se acostuma a receber essa imagem já pronta e perde a capacidade de formar suas próprias imagens a partir de mensagens escritas. Por isso, o prazer dos romances deixa de existir, e é preciso transformar esse romance em “imagem” (a peça de teatro) para que ele possa tornar-se “vivo”.

Um dia desses ouvi na livraria uma jovem dizendo a outra, que manuseava um romance: “Ver um filme, tudo bem, mas ler um livro desse inteirinho… Sem condição!” E eu concordo que realmente não há condição da criatura ler um livro de trezentas páginas se ela não consegue visualizar, imaginar, criar mentalmente cenas e personagens.

É uma pena, pois além dos jovens estarem perdendo essa capacidade com a omissão ou concordância do sistema de ensino, a imagem que as telas de todo tipo jogam na mente deles já vem pronta, acabada, carregada de um conteúdo que, muitas vezes, ele não pode nem sabe criticar.

Nesta semana uma simpática jovem me enviou um email, pedindo-me para “ajudar” o grupo de alunos a transformar o meu livro em peça, num Seminário de Literatura do qual iam participar. Aí eu perguntei se, como se tratava de um seminário de Literatura, por que queriam transformar um livro em teatro? Seria a mesma coisa que, num seminário de Teatro, em vez de apresentarem as peças, as transformassem em livros e dessem para a platéia ler!

E você? O que pensa disso tudo?

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A preparação espiritual do ator

Clotilde Tavares | 25 de abril de 2010

Hoje deixem-me falar sobre teatro. O teatro, arte onde milito há anos, ora como atriz, ora como dramaturga, ora com professora, é uma atividade absorvente e muitas vezes ingrata, principalmente quando perseguimos um resultado que pretende ser mais artístico do que comercial, quando buscamos mais a evolução estética da arte que praticamos do que uma gorda bilheteria e casas lotadas.

Por outro lado, como viver de teatro sem atender aos aspectos comerciais da arte? Como pagar o aluguel, a escola das crianças e a conta do supermercado sem vender ingressos? Artistas moram, comem, têm filhos, usam luz elétrica e água encanada. Parece óbvio, mas muita gente esquece disso e adora pedir uma cortesia para não pagar dez reais por um ingresso. Conciliar arte com mercado, eis o grande dilema de produtores, diretores e atores, que vivem tendo o palco como o centro pulsante e apaixonado de suas vidas.

Entre os vários problemas que o teatro nos coloca, está um, crucial nos dias de hoje, que é a formação do ator. O espaço aqui é pequeno para uma discussão dessas, mas é possível levantar alguns pontos. Sempre defendi, como pessoa de teatro, aquilo que chamo de preparação espiritual do ator.

Essa tal preparação “espiritual” não tem nada a ver com religião, mas com a elevação do espírito, do intelecto, das idéias, dessa parte imponderável do ser humano que extrapola as habilidades corporais desenvolvidas pelos exercícios, que hoje em dia são muitas vezes colocadas como os principais requisitos para o trabalho teatral. Essas técnicas são importantes mas ficam vazias e mecânicas se o ator não tiver esse desenvolvimento interno, do “espírito”, da sua essência enquanto ser humano.

Ler, pensar, trocar idéias, ver filmes, ver quadros, ouvir música, experimentar outros tipos de artes, experienciar a transcendência, a ampliação da consciência, praticar a felicidade, tocar um instrumento musical, observar a natureza e aprender com ela…

Mas tudo isso dá trabalho e a maioria dos jovens atores continua com um pé no palco e os olhos e o desejo na TV Globo, sem sequer ir ao cinema, quanto mais ler um livro! Aí fica aquela casca seca, dominando técnicas corporais, encostando o calcanhar na nuca, mas sem referências interiores para cumprir a tarefa do ator que é criar do nada, tendo como ponto de partida apenas as falas do texto, um personagem completo.

E é aí que reside a mágica desta arte. Criar um ser humano de verdade – de verdade enquanto a cena existe – dando-lhe alma, vida, energia, emoções, suor, sangue, lágrimas e risos! Quem poderia aspirar a uma tarefa mais empolgante do que esta? Um tarefa de deuses? E isso acontece todo dia no teatro, mas num teatro feito por pessoas que, além de músculos, ossos, tendões e ligamentos tenham também espírito, alma e essência.

Este post é dedicado aos participantes da oficina “Devorando Hamlet”, promovida pelo Núcleo dos Jovens Artistas, que ministrei de 19 a 23 deste, e que me afastou deste blog por uma semana. Comemoramos com esta oficina, como o faço anualmente, o aniversário de Mr. William Shakespeare.

Entre os jovens, fico mais jovem. Da esquerda para a direita: Neto, Alexandrina, Liana, David, Maria, Thales, Ranieri, Ana Carolina e Múcia. A foto fica melhor se você clicar em cima dela para vê-la em tamanho grande.


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Parabéns para Shakespeare!

Clotilde Tavares | 23 de abril de 2010

Hoje, 23 de abril, comemora-se o aniversário do nascimento de William Shakespeare, ocorrido no ano de 1564, em Stratford-on-Avon. Aqui faço esta homenagem ao poeta inglês, objeto da minha profunda admiração e paixão desvairada, para sempre e eternamente.

Toda a produção de Shakespeare é estupenda. Foram 38 peças, além de 154 sonetos, considerados entre os mais belos em língua inglesa. Morreu em 1616, aos 52 anos, depois de uma noitada alegre com os amigos, tendo vivido toda a sua vida ligado à prática teatral, onde fez fortuna e fama.

Segundo o crítico Harold Bloom, no seu livro “A Invenção do Humano”, Shakespeare “pensou mais originalmente do que qualquer outro escritor e tinha um domínio quase sem esforço da linguagem”. Seus personagens tão humanos, quase mais humanos do que nós mesmos, nos lançam numa investigação interior da qual não podemos escapar. Ao ler, ou ver qualquer das suas tragédias, principalmente “Hamlet” ou “Macbeth”, é como se estivéssemos abrindo nossa alma no divã de um psicanalista. As comédias também não são um simples passatempo, mas nos levam à nossa própria “floresta de Arden”, onde nos perdemos para nos encontrar, como Rosalinda, em “Como Gostais”.

Bloom diz ainda que ele criou mais contextos para nos explicar, a nós, seres humanos, do que somos capazes de criar para explicar seus personagens: Hamlet, Lear, Falstaff, e os vilões Iago, Ricardo III, Edmundo e Macbeth, são um estudo profundíssimo da natureza humana. E as mulheres! Cordelia, Rosalinda, Viola e a maravilhosa Beatrice de “Muito Barulho Por Nada”… Seres que povoam os palcos do mundo há quatrocentos anos e cujas possibilidades estão longe de serem esgotadas.

Mas afinal, Shakespeare existiu mesmo? É uma pergunta que sempre escuto quando o assunto vem à tona. Quem conhece e estuda a obra do poeta inglês já está acostumado com isso e sabe que periodicamente aparece alguém colocando em dúvida a autoria das peças e sonetos, já atribuída a mais de cinqüenta nomes, incluindo Christopher Marlowe, Francis Bacon, o Conde de Oxford e até a própria rainha Elizabeth I!

Felizmente para os bardólatras, como eu, não há mais dúvidas sobre quem escreveu as peças: foi ele mesmo, William Shakespeare, quem em 1582 já vivia em Londres, fazendo e escrevendo teatro.  O jovem William foi para Londres aos vinte e três anos de idade onde, começando como ator, passou depois a escrever peças e em 1599 tornou-se um dos sócios do Globe Theatre. Em 1603, passou a fazer parte dos “Homens do Rei”, a mais importante companhia teatral da Inglaterra. São também desse período, início do século XVII, as suas obras mais importantes, como “Hamlet” (1601), “Rei Lear” (1605) e “Macbeth” (1606).

Unânimes nesse reconhecimento, os estudiosos shakespearianos já se acostumaram com o fato de que vez por outra aparece alguém em busca da notoriedade conferida por uma crítica ou um fato em relação a Shakespeare. É a grandeza do poeta inglês que leva o mundo a ficar sempre de olho nele, mesmo depois de decorridos quase quatrocentos anos da sua morte.

Foram muitos os nomes que duvidaram da sua real existência, como Mark Twain, Henry James, Sigmund Freud, Charles Dickens, Walt Withman e Charles Chaplin. A autoria foi questionada a primeira vez em 1796, por um certo Herbert Lawrence, e em 1848, por Joseph Hart. Surgiu então Delia Bacon, uma americana radicada na Inglaterra em 1853, que se dizia descendente do filósofo inglês Francis Bacon, e afirmou ter provas de que fora o seu antepassado e não Shakespeare o autor das obras famosas. O debate pegou fogo nos meios acadêmicos, nada foi provado e a sra. Bacon terminou seus dias num manicômio, talvez por não ter sido levada a sério.

Roger Pringle, diretor da Fundação Shakespeare Birthplace, não acredita nos argumentos apresentados pelos pesquisadores que vez por outra aparecem com dientidades novaa para W Shakespeare. Diz ele que o que os move é apenas o desejo de vender livros. Já Ann Thompson, professora do King’s College London e editora da série Arden Shakespeare, defende que tudo isso é puro preconceito: setores do meio acadêmico e intelectual jamais aceitaram que um homem sem instrução universitária pudesse erguer tais monumentos literários. É mais uma vez o preconceito do erudito contra o popular, deformação que persegue Shakespeare há quatrocentos anos e que nossos autores de cordel e poetas populares já experimentaram várias vezes, na própria pele.

Compartilho aqui com você algumas jóias do poeta inglês. Vejam esta, bem adequadas a estes nossos tempos, onde se fala sem pensar e se difama por distração: “O bom nome para o homem e para a mulher, meu caro senhor, é a jóia suprema da alma. Quem rouba minha bolsa, rouba uma ninharia. É qualquer coisa, nada; era minha, era dele, foi escrava de outros mil. Mas quem surrupia meu bom nome tira-me o que não o enriquece e torna-me completamente pobre.” (“Othelo”, Ato III, Cena 3).

Há, também uma peça dele, não tão conhecida, “Como Gostais” (“As you like it”), uma deliciosa comédia, cheia de tramas, onde a heroína se disfarça de homem e os poemas de amor parecem nascer nas árvores. Um dos seus melhores momentos é a fala do personagem Jacques, na Cena 7 do Ato II, sobre as “sete idades do homem” e traça um retrato entre trágico e irônico do que é a nossa vida.

Jacques começa dizendo que “…O mundo é um palco; os homens e as mulheres, meros artistas, que entram nele e saem. Muitos papéis cada um tem no seu tempo; sete atos, sete idades. Na primeira, no braço da ama grita e baba o infante. O escolar lamuriento vem depois, com a mala, de rosto matinal, e como serpente se arrasta para a escola, a contragosto. Então vem o amante, fornalha acesa, celebrando em balada dolorida as sobrancelhas da mulher amada. A seguir, estadeia-se o soldado, cheio de juras feita sem propósito, com barba de leopardo, mui zeloso nos pontos de honra, a questionar sem causa, buscando a falaz glória até mesmo na boca dos canhões. Segue-se o juiz, com ventre bem forrado de cevados capões, olhar severo, barba cuidada, impando de sentenças e de casos da prática; desta arte seu papel representa. A sexta idade em calças magras tremelica, óculos no nariz, bolsa de lado, e a voz viril e forte, que ao falsete infantil voltou de novo, chia e sopra ao cantar. A última cena, remate desta história aventurosa, é mero olvido, uma segunda infância, falha de vista, de dentes, de gosto e de tudo.”

Ah, meu caro leitor! Ninguém descreveu com tanta poesia e capacidade de síntese esta vida que levamos. Shakespeare é uma leitura grandiosa, a qualquer estado de espírito, a qualquer necessidade da alma. Sempre haverá uma peça, ou trecho dela, que exprima exatamente aquilo que estamos pensando e às vezes nem compreendemos direito; ou aquilo que queremos dizer mas não sabemos como.

E é por isso que nós aqui, mais de quatrocentos anos depois, estamos repetindo as palavras deste homem que com sua arte, conseguiu levantar o véu que encobre essa matéria sutil: a Alma Humana.

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Augosto dos Anjos, 1884-1911.

Clotilde Tavares | 20 de abril de 2010

Augusto dos Anjos

Hoje comemoramos o nascimento do poeta Augusto dos Anjos, nascido em Sapé, Paraíba, há 126 anos.

Autor de poemas imortais, que estão impressos no DNA dos paraibanos como eu, como é o caso dos “Versos Íntimos”, Augusto era dono de uma sintaxe peculiar e de uma temática que o torna único entre os poetas brasileiros. Aprendi a recitar os sonetos de Augusto quando menina, e ainda sei, passadas tantas décadas, muitos deles. Quando estou sozinha, gosto de recitá-los em voz alta, deixando que os grandiosos versos se espalhem no ar, se desenrolem pelo espaço invadindo salas e quartos, passem à varanda e tomem conta da cidade, aumentando o teor de poesia do Universo. Com isso, obviamente, corro o risco de ser considerada doida e passível de internamento pelos vizinhos, mas confio no poder da Poesia e acredito na força da Arte. E continuo recitando.

Com vocês, Augusto dos Anjos! E recitem alto, por favor.

VERSOS ÍNTIMOS

Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão – esta pantera –
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
E a mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
E escarra nessa boca que te beija!

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Cultura, Memória
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Augusto dos Anjos, poesia paraibana
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Bruges e o flâneur

Clotilde Tavares | 17 de abril de 2010

Quem disse que a gente só viaja se for lá, de corpo presente, no lugar?

Uma das boas formas de viajar é virtualmente, vendo países distantes sem sair de casa com a ajuda de blogs, e do Google Earth.

Assim é que descobri esse blog maravilhoso, cheio de posts de lugares lindos, com fotos muito boas e informações.

Uma das fotos que gostei mais fala sobre o “flâneur”, que é aquela pessoa que conjuga o verbo “flanar”, verbo que eu ouvia muito na casa dos meus pais, mas que está em desuso neste nosso tempo de horários estritos e agendas lotadas.

Flanar é andar à toa, sem lenço e sem documento, sem pressa, sem roteiro e sem destino, “no giro da venta” – como se diz aqui no Nordeste. E “flâneur” é o cara que flana.

A placa da foto diz o seguinte: “Um flâneur é alguém que perambula sem destino, sem pressa, alguém que vagueia por uma cidade sem um propósito definido mas em sintonia secreta com a história desse local, numa busca velada de aventuras estéticas ou eróticas”.

E não preciso dizer mais nada.

A luxuosa tradução é do meu irmão BT (http://mundofantasmo.blogspot.com)

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