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É bom casar!

Clotilde Tavares | 8 de dezembro de 2009

Talvez o meu caro leitor não saiba que já fui casada algumas vezes. Casamento é isso mesmo, não é bom nem é ruim, é apenas uma situação como outra qualquer, que tem coisa boa e coisa ruim e que você vai fazendo a relação custo/benefício o tempo todo: quando o custo supera o benefício, está na hora dos parceiros caírem na real e ver se compensa continuar com a relação.

Se não dá, é partir para outra, mesmo que a separação seja dolorosa – e geralmente é, mais pelo hábito e pelas dependências que criamos um do outro do que propriamente pelo amor que, a essa altura, já deve ter acabado também. Aliás essa discussão do amor merece um post só pra isso e não vou enveredar por ela agora sob pena de me desviar completamente do assunto.

O curioso da separação é que vemos com surpresa que, de par com a tristeza e a saudade vem um certo alívio, e a descoberta de uma inusitada liberdade, de possibilidades até então não suspeitadas, sequer consideradas antes, porque quando a gente vive junto há coisas que geralmente a gente sequer imagina que possa fazer.

Fui casada quatro vezes. Tenho dois filhos, do primeiro e do terceiro. Uns duraram mais, outros menos. Dois me deixaram, e dois eu deixei. De dois eu ainda sou muito amiga, muito amiga mesmo – e sou amiga de um que deixei e de um que me deixou. Os outros dois um eu não quero ver (um que eu deixei) e outro não tem interesse em me ver (um que me deixou).

Então, somando e dividindo, penso que tive sorte pois os pratos da balança da minha vida de casada se equilibraram de tal forma que não lamento nada que houve, mas também não quero repetir um dia que seja. E confesso que me considero feliz no casamento porque todos os meus maridos eram – são – bonitos, inteligentes, talentosos, bons-de-cama e companheiros. Não deu certo? Deu, sim! Enquanto durou, deu certo.

Hoje, integro aquilo que se chama a “comunidade single”: pessoas que optaram por viver sozinhas, sem companheiro para dividir a casa embora uma vez ou outra coisas diferentes possam acontecer – e acontecem.

Não me sinto solitária. Como poderia, com o mundo ao meu alcance pela via presencial, pois é só pegar o meu Fiat Modelo Velho e ir para onde quiser ou, se for mais longe, pegar um avião? E pela via virtual posso penetrar em lugares onde jamais imaginei ir, pois a Internet me proporciona todas as viagens com que já sonhei?

Como me sentir solitária com esse mundo de gente que me lê, envia emails, troca idéias, reclama, critica, elogia, diz que não gostou, faz perguntas, numa balbúrdia e num tumulto virtual que chega a me cansar, e eu corro para longe do computador com um livro, e vou para a varanda fiscalizar a natureza somente para me livrar um pouco de vocês?

Pois é, meu caro leitor. Posso até viver sozinha, mas solitária, nunca!

Vocês estão sempre comigo, e estou feliz por isso.

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Firulas textuais

Clotilde Tavares | 7 de dezembro de 2009

Numa Lista que assino, um dos membros postou um texto todo escrito sem usar a letra “A”, do qual reproduzo um pequeno trecho abaixo.

Sem nenhum tropeço posso escrever o que quiser sem ele, pois rico é o português e fértil em recursos diversos, tudo isso permitindo mesmo o que de início, e somente de início, se pode ter como impossível. Pode-se dizer tudo, com sentido completo, mesmo sendo como se isto fosse mero ovo de Colombo.

Desde que se tente sem se pôr inibido pode muito bem o leitor empreender este belo exercício, dentro do nosso fecundo e peregrino dizer português, puríssimo instrumento dos nossos melhores escritores e mestres do verso, instrumento que nos legou monumentos dignos de eterno e honroso reconhecimento.

Trechos difíceis se resolvem com sinônimos. Observe-se bem: é certo que, em se querendo esgrime-se sem limites com este divertimento instrutivo. Brinque-se mesmo com tudo. É um belíssimo esporte do intelecto, pois escrevemos o que quisermos sem o “E” ou sem o “I” ou sem o “O” e, conforme meu exclusivo desejo, escolherei outro, discorrendo livremente, por exemplo sem o “P”, “R” ou “F”, o que quiser escolher, podemos, em corrente estilo, repetir um som sempre ou mesmo escrever sem verbos.

(…)

E o texto continua por mais alguns parágrafos e lamento não ter aqui a autoria para lhe informar. Quem postou não colocou o autor.

Mas textos sem “A”, sem “E” ou textos onde a única vogal é “A”, por exemplo, são exercícios corriqueiros para quem escreve. Não é nada incrível, é somente um exercício. Faz-se quase como desafio, como brincadeira. Cada um de vocês, se tentar, consegue fazer.

Eu gosto de me divertir escrevendo textos como esse. Não servem para nada, apenas para exercitar a capacidade de brincar com as palavras, do mesmo jeito que o jogador de futebol faz embaixadas, para desenvolver a habilidade com a bola.

Outro exercício legal é escrever uma história curta, de umas duas páginas, por exemplo. Depois, tentar reduzi-la a 200 palavras, depois a 100, a 50…

Veja essa décima do poeta Dedé Monteiro:

“Ô casa velha do cão,

A de vovó Januária!

Caverna bicentenária,

Sem um sinal de cristão.

Morcegos sobre o fogão,

Na sala somente pó,

No muro, uma planta só,

No jardim, rato e mosquito:

Eis o retrato esquisito,

Da casa da minha avó.

O detalhe? Não notou? Não tem um só VERBO…

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Carnatal: encerrando o assunto

Clotilde Tavares | 5 de dezembro de 2009

Sempre me nego neste blog a falar sobre temas locais, e se desde quinta-feira venho falando sobre o Carnatal é porque afeta de tal maneira a cidade em que vivo e a mim mesma como cidadã e habitante da vizinhança que é impossível ficar alheia. E você, caro leitor, mesmo que não more em Natal, talvez  já tenha passado por situações semelhantes àquelas que são descritas aqui.

Hoje – agora – estou encerrando este assunto. Supreendentemente para mim mesma, o evento não me afetou tanto quanto eu imaginava e como me deram a entender. O barulho não me impediu de dormir pois o vento está a meu favor e leva a zoada na direção contrária; a minha rua foi escolhida para reunião da peãozada que trabalha nos blocos segurando cordas, fiscalizando, e por isso não tem charme suficiente para que os pleibóis estacionem seus carros barulhentos ; além disso, é também na minha rua que estacionam os carros de fiscalização da Polícia, e onde os policiais se concentram em grande número antes de saírem para fazer o seu trabalho nas outras ruas.

Sendo assim, não precisei sair de casa para dormir em outro lugar e, com dois dias do evento – que dura quatro – a rua está limpa e nenhum odor desagradável está me aborrecendo. Ontem à noite havia muita sujeira na rua, pois durante a tarde são distribuídos lanches ao pessoal que vai trabalhar e que se aglomera na rua – estou falando de … 200, 300 pessoas – que depois de comer atiram latas e embalagens plásticas em qualquer lugar. Hoje, quando acordei às oito, a rua estava limpa.

Mesmo assim, mesmo que do ponto de vista pessoal eu não seja afetada pelo Carnatal, mantenho todas as críticas que fiz no post Festa de alguns, transtorno de muitos. Acho um absurdo a segregação de um espaço público para uso privado. Entre outras coisas, penso em todas as pessoas que não podem dormir à noite, que lidam com a dificuldade de acesso às suas casas e estabelecimentos comerciais, pessoas que não podem sair de onde moram pois têm bebês, ou gente doente ou velha que precisa dormir direito. Lembro de quando tive comigo meu pai, já esclerosado, bem velhinho, que se assustava com qualquer barulho alto e estranho vindo da rua. Infelizmente, os interesses econômicos e políticos se sobrepõem nesta cidade à necessidade de qualidade de vida de seus habitantes.

Então é isso, meu caro leitor de Natal e alhures. Encerro agora esse assunto e voltarei amanhã, domingo, retomando o ritmo de um texto por dia como você já está acostumado.

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Carnatal: outra visão.

Clotilde Tavares | 3 de dezembro de 2009

22h45

Acaba de passar o último trio da noite. Último é maneira de dizer, porque agora vai passar tudo de novo… Até agora, o som da festa não me incomodou. Ocorre acima da minha casa; o vento passa primeiro aqui e depois lá. Mas há muita gente que deve estar muito pê da vida com essa zada toda, gente, o barulho deve ser infernal para quem está da área de som dos trios.

Eu estou ficando com sono. Se eu sumir daqui, você já sabe: capotei.

21h05

O segundo trio acaba de passar pela minha esquina; como são cinco trios, e todos passam duas vezes – é minha gente: você vê e depois tem que ver denovo! – e como é cerca de meia-hora entre um e outro… esse moído deve estar terminando lá pra uma hora da manhã.

Uma amiga me questiona sobre a minha aversão por axé – olha o comentário que fiz abaixo. E diz que axé é pra pular, não pode ser levada a sério. Ah, bom. O frevo, por exemplo: é pra pular, mas é muito mais rico de que o axé, em harmonia, melodia, letras… Foi isso que falei. Música é alimento da alma, e para mim deve ser levada a sério sim.

Já fui uma grande foliã, sempre brinquei Carnaval. Eu disse Carnaval. Já falei porque não gosto do carnatal, essa festa que está ocorrendo agora – veja o post anterior a esse.

20h30

Descobri que tenho um aliado: o vento, que leva o som dos trios para o lado oposto ao do meu prédio. Agora se aproxima o Chiclete, com aquele rapaz que usa um pano na cabeça há quarenta anos e conversa mais do que canta…

19h50

Ouço ao longe os trios, que cada vez se aproximam mais. Agora me diga, e perdoe o meu gosto e a minha opinião, se a sua for diferente: tem coisa mais pobre musicalmente, letramente e esteticamente do que axé?

19h10

Continuam a passar as levas e levas de foliões em busca do local de concentração dos seus blocos. Vizinho ao meu prédio, a dez metros da minha janela, um cantinho no prédio vizinho já virou banheiro público. Muitos homens já entraram lá, ocultos pelo muro, e dali saíram abotoando a bermuda… Imagine isso amanhã como vai estar!

18h15

Continuam a passar os foliões e as pessoas que vão vender cerveja, empurrando seus carrinhos de mão com isopor em cima. É o trampo de quem precisa descolar uma grana na festa.

17h45

Começam a passar os foliões, vestidos com os abadás dos seus blocos. A maioria jovens.

17h05

Aumenta o número de passantes. A rua já está interditada para carros: só passa quem tem o adesivo escrito MORADOR. Muita gente para lá e para cá, mas trabalhando, empurrando carrinhos de mão com gelo e bebidas, policiais, e pessoas com camisetas que não é de bloco: deve ser de gente que vai varrer ou prestar outro tipo de serviço. É isso aí: minha rua é a “cozinha” da festa…

E veja o camarada que devagarinho montou seu botequim na esquina!

15h25

O chamado “corredor da folia tem seus “camarotes temáticos”, do mesmo jeito que no Carnaval do Rio de Janeiro. Luxuosos, caros, com presença de celebridades. Mas ao longo das avenidas também brotam estruturas improvisadas de madeira, cobertas de plástico, onde pessoas vão ficar em posição de ver os trios – ou quem vai em cima deles – com facilidade. São umas “marmotas”, feias , improvisadas, não sei como aquilo tudo não vai ao chão assim que se enche de gente.

E no início da Miguel Castro, antes de interromper o trânsito, policiais degustam o famoso “piucolé caseiro de Caicó”.

14h50

Começam a chegar as pessoas que trabalham no evento. Esses aí que enchem a rua são os “cordeiros”, o pessoal que fica nas cordas dos blocos. O primeiro bloco desfila às 18h30, mas essa galera já começa a trabalhar agora. O trânsito ainda flui normalmente. No canto superior esquerdo, veja os tapumes que obstruem – e defendem – a frente dos edifícios. Veja também as lâmpadas acesas, desde ontem. Policiais se preparam para interditar a rua.

14h30

Você também pode me seguir no twitter: http://twitter.com/ClotildeTavares .A hashtag é #festcarn

14h25

A partir de agora, vamos atualizar de hora em hora falando sobre o Carnatal. A minha visão é de quem está de fora mas não pode sair de dentro.

Desde manhã cedo que pessoas passam empurrando carrinhos de mão carregados de latas de cerveja. Na esquina da Miguel Castro c/Romualdo Galvão, um camarada está montando um bar na calçada, descarregando cadeiras e bebidas. E encostados aos muros da Miguel Castro, já estão alguns carrinhos, desses que vendem churrasquinhos, ainda fechados, mas já “guardando o lugar”. As luzes dos “cordões-de-luz”, luzes incandescentes, ligadas ontem no final da tarde, continuam acesas até agora, mesmo com dia claro.

Os trios descem pela Prudente de Morais e voltam pela Romualdo Galvão. Eu moro centro do mapa, onde está o "X" azul, quase na esquina da Miguel Castro com a Salgado Filho.

10h00

Pessoas que leram esse post me telefonaram dizendo que estou falando sem conhecimento de causa, uma vez que o evento ainda vai ocorrer, começando hoje no final da tarde; e que eu não posso fazer esse tipo de comentário sem ter vivido a situação eu mesma. Então hoje eu vou ficar no apartamento e a partir das 15 horas estarei postando minhas impressões aqui, num post atualizado de hora em hora. Também estarei relatando tudo no twitter (http://twitter.com/ClotildeTavares). Ficarei para “conhecer a causa”. Se estiver errada, dou a mão a palmatória e reconheço, porque sempre tive facilidade para reconhecer quando estou errada, o que é mais frequente do que você imagina e do que eu gostaria que fosse…

Links:

Veja o que diz Pablo Capistrano.

Veja aqui o comunicado da Sociedade de Infectologia do RN sobre os perigos da disseminação do vírus H1N1 no Carnatal.

Entrevista do infectologista Henio Lacerda. Aqui.

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Festa de alguns, transtorno de todos

Clotilde Tavares | 3 de dezembro de 2009

Nesta quinta feira vou ter que sair do meu apartamento e procurar um lugar para passar os próximos quatro dias. Isso porque nesta minha maravilhosa e linda cidade Natal, acontece um evento anual, que já está na sua 19ª edição: o Carnatal. É um dos tais Carnavais fora de época, inspirado nas Micaretas baianas, com trios elétricos, blocos onde os foliões se vestem de “abadás” e toneladas de som despejam música de nível duvidoso atroando os ares e impedindo o sono e o sossego de vastas zonas residenciais do bairro de Lagoa Nova.

É uma praga que existe em todo o Brasil. Se alguns deles estão perdendo a força, com o formato se esgotando ao longo dos anos, o Carnatal parece vicejar onde os outros entram em decadência. E olhe que são – ou já foram – muitos, cada um com o nome mais esquisito do que o outro: o Recifolia, (Recife), o Fortal (Fortaleza), a Micarande (Campina Grande), o Precaju (de Aracaju), o Carnabelô (Belo Horizonte), o Maceiofest (Maceió), o Marafolia (São Luís do Maranhão), o Carnabelém (Belém), e um estranhíssimo Micaracandango (Brasília). Além disso, as cidades do interior seguem a moda e no Rio Grande do Norte tem – ou teve – cite o Carnaxelita (Currais Novos), o Carnavale (Assu), e CaicoFolia (Caicó) e Festaverão (Mossoró).

A propósito do Carnaxelita, o carnaval fora de época da cidade de Currais Novos-RN, tem esse nome porque a região é rica em xelita, um minério importante pois é a matéria prima para extração do tungstênio. Corre até uma piada onde se diz que quando foi criada a festa, a população se dividiu: uns queriam colocar o nome de Carnacu , para aproveitar a primeira sílaba de Currais Novos, e outro grupo queria que se chamasse Carnaovos, para aproveitar a última sílaba. Aí o padre achou que era apelação demais, e colocou o nome de Carnaxelita. Mas isso tudo é brincadeira, meus queridos curraisnovenses que me lêem, e vamos voltar ao que interessa.

Eu não gosto do Carnatal e não é porque me incomoda pessoalmente, uma vez que já não gostava antes de vir morar no miolo da festança – aliás, esse é possivelmente o único defeito dessa minha nova morada. Não gosto do Carnatal porque não reforça nossos valores culturais. Pelo contrário, é uma demonstração da cultura baiana, visto que nos três dias de festa são tocados os hits da axé music e pagode, ritmos que não têm nada a ver com a cidade. Há uma grande uma evasão de dinheiro da capital, já que grande parte do que é arrecadado vai para pagamento das bandas baianas que abrilhantam a festança, que acontece com a interdição de uma área pública, para atender a empresa privada que organiza o evento. O trajetos dos trios impede o fluxo normal de carros e transeuntes nas grandes avenidas Prudente de Morais e Romualdo Galvão, vias principais do tráfego no bairro de Lagoa Nova, ladeadas por comércio intenso e prédios residenciais.

A minha rua, Avenida Miguel Castro, transversal das avenidas citadas, fica interditada a partir de uma hora da tarde e eu preciso colar um adesivo no carro para chegar até o meu prédio. Mas ninguém me deu adesivo para os ouvidos, para que eu usasse nas noites sob barulho intenso, das quais só vou poder fugir pois me mudo ainda hoje para o apartamento do meu filho, no bairro do Tirol. O pior vem depois, me disse um vizinho, quando o bairro inteiro, transformado em latrina gigantesca durante a festa, fica com um odor insuportável de urina. A Prefeitura manda lavar depois, mas não é suficiente, e até São Pedro ter pena e colaborar com uma das suas caudalosas chuvas de verão, temos que aturar o fedor.

A linha vermelha

A linha vermelha mostra o trajeto dos trios elétricos. Veja onde moro, quase no cruzamento da Miguel Castro com a Salgado Filho, inteiramente à mercê da confusão, do barulho e da latrina universal. Clique na foto para ver em melhor resolução.

Mas aí o meu caro leitor diz: “Não reclame, Clotilde. A festa tem hora para terminar, pois o Ministério Público multa se passar da uma hora da manhã.” Eu sei que multa. Mas o vizinho também me disse que os trios elétricos têm por hábito estacionar na minha rua, em frente ao prédio, para fazer a desmontagem do trio, e por isso ninguém dorme até as cinco da manhã. E não tem quem controle esse barulho adicional.

Só pra encerrar, as autoridades de saúde pública da capital estão preocupadas com a influência do Carnatal no aumento da propagação do vírus H1N1, por causa do aglomerado de pessoas e dos hábitos: troca de copos de bebida e beijos na boca. Estão recomendando que não usem copos uns dos outros nem beijem “pessoas estranhas”. Taí uma coisa que eu queria ver, principalmente porque me disseram que neste ano o “desafio” é “beijar pelo menos 30 pessoas por noite”.

Então, meus amigos, se nesses dias eu demorar a liberar ou responder aos comentários, saiba que estou fora do meu domicílio habitual, não porque queira mas porque fui obrigada. E eu queria muito que alguém me respondesse porque o poder público coloca tantos recursos à disposição de uma festa privada e deixa de apoiar o Carnaval de verdade, legítima manifestação popular.

UPDATE às 9h35: Pessoas que leram esse post me telefonaram dizendo que estou falando sem conhecimento de causa, uma vez que o evento ainda vai ocorrer, começando hoje no final da tarde; e que eu não posso fazer esse tipo de comentário sem ter vivido a situação eu mesma. Então hoje eu vou ficar no apartamento e a partir das 15 horas estarei postando minhas impressões aqui, num post atualizado de hora em hora. Também estarei relatando tudo no twitter (http://twitter.com/ClotildeTavares). Ficarei para “conhecer a causa”. Se estiver errada, dou a mão a palmatória e reconheço, porque sempre tive facilidade para reconhecer quando estou errada, o que é mais frequente do que você imagina e do que eu gostaria que fosse… 😉

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Troncha de saudade

Clotilde Tavares | 2 de dezembro de 2009

Eu me lembro que quando estudei no segundo grau aprendi que saudade era uma palavra que só existia na língua portuguesa e que não tinha correspondente em outros idiomas. Note que existem em outras línguas palavras para solidão, carência, tristeza, nostalgia. Mas saudade mesmo, que é bom, só tem em português.

Quero dizer: que é bom, não. Que é ruim. Pois tem coisa mais ruim do que saudade?

Como diz Luiz Gonzaga, saudade só é bom quando “a gente lembra só por lembrar um amor que a gente um dia perdeu.”  Quando a gente está assim sem ter o que fazer e começa a lembrar das aventuras, dos amores, das histórias. Aí dá aquela saudade boa, gostosa, leve, de um tempo que já passou mas que foi bom, um tempo em que a gente “foi feliz sem saber, pois não sofreu.”

Mas se é uma saudade presente, se a gente vive a sonhar “com alguém que se deseja rever”, aí, meu filho, “saudade entonce assim é ruim, saudade assim faz roer e amarga que nem jiló…”

O poeta Antonio Marinho, de São José do Egito, disse um dia que

Quem quiser plantar saudade

Escalde bem a semente

Plante num lugar bem seco

Quando o sol tiver bem quente

Pois se plantar no molhado

Ela cresce a mata a gente.

E mata mesmo, minha gente. É por isso que eu proponho que a palavra SAUDADE seja imediatamente, banida, expulsa, varrida, extirpada da língua portuguesa, como já foi feito em outros idiomas, para que a gente não fique por aí, andando sem destino dentro de casa, olhando o mundo com os olhos cegos, arrastando o nosso corpo morto e doendo, troncha de saudade de quem a gente quer bem.

Esse texto é dedicado à minha amiga Cida Lobo, à minha sobrinha-neta Maria Luísa, à minha filha Ana Morena, e ao meu amigo Cassiano Lamartine, o Orquilouco.

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Antonio Marinho, Luiz Gonzaga, que nem jiló, saudade
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Dois siris jogando bola

Clotilde Tavares | 1 de dezembro de 2009

O Colégio.

Ando escrevendo minhas memórias, abrangendo os primeiros vinte anos da minha vida. Entre esses, há dois anos especiais: os que passei no internato, no Colégio Nossa Senhora do Bom Conselho, em Bom Conselho, agreste de Pernambuco. Fui para lá com oito anos e saí com dez, no período de 1956 a 1957. Só esse período do internato dá um livro, que em breve estará aqui para download gratuito. Trecho dele segue abaixo para você.


(…)

Outros acontecimentos da vida social reduzidíssima do colégio era a visita de frades, que deviam estar cumprindo algum tipo de visita protocolar, ou de inspeção. Nessas ocasiões, e estando marcada a data da visita, o evento era comunicado às alunas e era preparado uma espécie de sarau, cheio de números musicais e poéticos para mostrar ao visitante nossos dotes artísticos.

Numa dessas sessões, coube-me apresentar uma “cançoneta”, que era uma pequena canção dramática, contando a história de uma menina chamada Sílvia que brigava com a mãe por algum motivo. Eu sempre gostei de cantar, e os ensaios eram um prazer, principalmente porque tinham o acompanhamento do piano, instrumento pelo qual eu tinha uma grande fascinação. As tardes de ensaios, onde eu cantava “Chamo-me Sílvia, e só lhe digo…” foram, no internato, algumas das tardes mais felizes que tive.

Eu, em 1956.

A recepção ao frade seria no domingo, depois da missa e do café da manhã. Fomos para a sala do piano, e um disse uma poesia, outra cantou algo, mais uma tocou uma valsa. Quando chegou a minha vez, não consegui cantar nada, não porque não soubesse ou porque estivesse envergonhada – eu só tinha oito anos! – mas porque de manhã não tenho nem nunca tive voz. Sempre acordei rouca, “com teias de aranha na garganta”, principalmente num clima frio como era aquele da região. Nos ensaios, à tarde, eu me saía bem, depois da voz já aquecida por quase um dia inteiro de gritos e brincadeiras; mas às sete e meia da manhã foi impossível. Depois de duas ou três tentativas, retirei-me arrasada para o corredor, em estado de completa e absoluta humilhação.

Fiquei sob a égide da desgraça durante quase toda a semana. Onde eu chegava, comentavam:

– Clotilde não cantou, Clotilde não cantou…

Mas na sexta-feira, a professora de terceira série, no final da aula da manhã, já aí pelas onze horas, resolveu fazer uma “sessão artística” e chamou algumas das meninas para recitar e cantar. Depois perguntou:

– Quem quer vir?

Eu levantei o braço.

Fui lá para a frente, plantei os pés no chão, coloquei as mãos para trás, como era a postura adequada para essas apresentações e cantei uma música de Luiz Gonzaga que eu sabia todinha “Siri Jogando Bola”.

Vi dois siris jogando bola lá no mar
Eu vi dois siris bola jogar, lá no mar
Fui passear no país do tatu-bola
onde o bicho tem cachola e até sabe falar,
eu vi um porco passeando de cartola,
um macaco na escola ensinando o bê-a-bá
(…)
Vi um elefante cozinhar na caçarola,
armoçar todo frajola e a dentuça palitar,
vi um jumento beber vinte Coca-Cola,
ficar cheio que nem bola e dar um arroto de lascar.

A letra da música era engraçadíssima, cheia de absurdos, e eu fui muito, mas muito aplaudida mesmo. Veio gente de outras salas para assistir à performance. Quando acabei, os aplausos foram enormes, pediram bis, e eu cantei a música inteirinha de novo.

Esse episódio foi uma das glórias da minha infância tímida e acanhada, e jamais vou esquecer daquela sensação, dos aplausos, dos rostos alegres me olhando, dos olhos brilhando, dos sorrisos largos.

Ali, naquele instante, nascia o meu gosto pelo palco.

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Você cumpre seus horários?

Clotilde Tavares | 30 de novembro de 2009

Pense assim: se você fosse ganhar dez centavos por cada hora que já passou esperando por alguém que estava atrasado, você seria quase milionário, não é? Eu, com certeza, seria.

Vivemos numa sociedade – pelo menos no Brasil, que é onde eu vivo – onde é praxe não se respeitar horário. “Ninguém chega na hora mesmo”, dizemos, e saímos calmamente com 10, 15, 30 minutos de atraso para os nossos compromissos. Chagamos ao ponto de reclamar quando as coisas começam na hora, como vi uma vez, num seminário que fiz em Natal. A programação incluía um show de encerramento de nada mais nada menos que os Titãs, um show fechado somente para os participantes, marcado para as 21h30. Na saída do show, às 22h45 mais ou menos, havia pessoas revoltadas pois haviam chegado há pouco e o show já havia terminado. Acostumadas com os espetaculares atrasos desse tipo de evento, chegaram uma hora depois.

No tempo em que eu gostava de fazer festas – década de 1980, época das grandes festas na minha casa da rua da Saudade – eu marcava o fuzuê para as nove da noite mas as pessoas só começavam a chegar à meia-noite; se eu marcasse para a meia-noite, chegavam às três da manhã, para espanto de estrangeiros que eventualmente estavam entre os convidados e que chegavam na hora certa. Lá ficava eu, entretendo esse povo até a multidão chegar, com três horas de atraso.

Os alunos chegam atrasados nas aulas – e o professor também (na UFRN, onde ensinei por quase 30 anos, era assim). A faxineira, o jardineiro, o pedreiro, ninguém chega na hora e nós, como ficamos esperando por eles para poder sair, nos atrasamos também, gerando um efeito em cascata difícil de controlar.

O pessoal que vem dar assistência técnica à TV por assinatura ou à máquina de lavar marca o dia, mas não marca a hora. E se dizem que estão vindo no “primeiro horário” – esta entidade abstrata que pode ser qualquer coisa – pode ter a certeza de que chegarão às cinco e meia da tarde, quando você já perdeu o dia inteiro esperando por eles.

No consultório médico é que a coisa é mais grave. Antes eu escolhia meus médicos pela competência técnica, pelo currículo, queria saber onde tinha feito residência, qual serviço havia frequentado na especialização. Agora não. Agora procuro aqueles que atendem com hora marcada, embora sejam muito raros; e quando não encontro, seleciono o profissional pelo conforto das poltronas da sala de espera ou pela presença de rede wi-fi para me distrair navegando na internet durante as três ou quatro horas que sei que vou passar ali.

E imagine como seria interessante a vida se os ônibus urbanos tivessem hora certa para passar nos pontos. Fico imaginando como deve ser viver num país onde se cumpre horários, na Inglaterra, por exemplo, onde há um trens que passam às 13h52, nem mais nem menos.

O que fazer? Para mim, só tem uma solução: romper com o padrão de atraso. Sempre fui considerada chata e “casquinha” pelos alunos porque começava as aulas na hora. Mas isso era somente no início, porque depois eles se acostumavam e passavam a chegar no horário. Cumprindo os compromissos na hora, cada um de nós estará dando o exemplo e rompendo com o padrão de atraso e perda de tempo que aflige todo mundo, gerando estresse, desperdício de horas preciosas e gasto de dinheiro.

E você, meu caro leitor? O que acha disso tudo? Você acha que devemos assumir mesmo o jeito atrasado de ser ou que devemos romper com o padrão? Fica a pergunta.

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A beleza de Natal

Clotilde Tavares | 29 de novembro de 2009

Nas fotos de Sandro Fortunato, um pouco da beleza de Natal, nas margens do Potengi.

Pôr-do-sol no rio Potengi. Natal-RN. Foto de Sandro Fortunato.

Um gato na janela. Natal-RN. Foto de Sandro Fortunato.

Aprendendo o ofício desde cedo. Natal-RN. Foto de Sandro Fortunato.

A camisa do garoto é o desejo de todo rubronegro neste domingo: a vitória do Mengo. Eu também quero.

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Mala de viagem

Clotilde Tavares | 28 de novembro de 2009
Quando eu vim do sertão
Seu moço, do meu Bodocó,
A malota era um saco
E o cadeado era um nó…

É assim que começa a música Pau de Arara, de Luiz Gonzaga, onde descreve a “mala” e o “cadeado”. Pensando nisso, e como hoje estou meio sem assunto, separei para você essas malas, úteis e inseparáveis companheiras quando nos aventuramos pelo meio do mundo.

A mala da menina. Achei aqui, com dicas importantes sobre viagens com a criançada.

Arrumar as malas? Aprenda aqui.

Mais dicas.

E esse conjuntinho bem básico, bem Vuitton? Aqui.

A Vuitton é tão linda e tão chique que se garante até como mesa de cabeceira! Aqui.

Não tenho culpa do meu bom-gosto. É Vuitton de novo, um escritório completo dentro de uma mala.

E, finalmente esta outra – que não é Vuitton – e foi transformada numa estação completa de maquilage…

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arrumar malas, Louis Vuitton, mala, mala de viagem
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