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Chupa, Maradona!

Clotilde Tavares | 6 de setembro de 2009

Sei que ontem todo mundo ficou pregado na tela da TV vendo o jogo Brasil x Argentina. Eu também fiquei, pelo menos durante o primeiro tempo da partida. Gosto de futebol, mas os times do meu coração são o Flamengo do Rio e o Treze de Campina Grande. O resto eu vejo por falta de coisa melhor para fazer mas não consigo me empolgar, e muito menos pela seleção brasileira.

Por isso é que ontem, uma vez que no final do primeiro tempo o Brasil já havia feito dois gols e eu achei que seria difícil a Argentina virar o jogo, dei minha missão patriótica por encerrada e fui para a cama com um livro.

Duas imagens me ficaram. A primeira delas, o bronzeado de Galvão Bueno; e a segunda, Maradona chupando o dedo.

Galvão Bueno é um chato, e penso que boa parte do Brasil pensa assim. É um chato irrecorrível, daqueles que “se acham”, e diz cada coisa durante a trasmissão dos jogos que eu tiro o som da TV para ficar somente vendo o futebol. Aliás, não sei porque é que tem locutor durante a transmissão na TV: a gente não está vendo tudo, ora bolas? Para mim, é a mesma coisa que colocar um locutor num alto-falante no campo de futebol, transmitindo a partida que está ali, diante dos olhos de todo mundo.

Lembrei de um cara, na década de 1960, quando a TV começou a chegar em Campina Grande. Ele ficava na frente do aparelho para ver o jogo, mas sentia falta do suspense da irradiação do rádio, onde o locutor falava sem parar para dar uma idéia do que ocorria em campo. Então, tirava o som da TV e via o jogo com o som do rádio!

Bem, mas o que era aquilo, minha gente, na pele de Galvão Bueno? Imitação de Vera Fischer – única na TV que tem bronzeado igual aquele? Eu nunca vi coisa tão horrível. O twitter está cheio de coisas engraçadas a respeito do “bronze” do Galvão.

Quanto a Maradona chupando o dedo, eu achei foi pouco. Só posso dizer, como disse alguém no Twitter:

“Chuuuuuuuuuuuuupa Maradona! Chupa que é de uva!”

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Brasil x Argentina, chupa que é de uva, Galvão Bueno, Maradona chupando dedo, Vera Fischer
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Telefone

Clotilde Tavares | 5 de setembro de 2009

Alguns modelitos interessantes.

Antigamente, todos eles eram assim.

Antigamente, todos eles eram assim.

Depois o design foi se modificando. Esse é bem anos 60.

Depois o design foi se modificando. Esse é bem anos 60.

Ficaram coloridos...

Ficaram coloridos...

Engraçados...

Engraçados...

Esquisitos...

Esquisitos...

Salvos de contaminação humana...

Salvos de contaminação humana...

Alinhados...

Alinhados...

... e objeto do desejo desta que vos tecla. Eu quero um desse!

... e objeto do desejo desta que vos tecla. Eu quero um desse!

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A arte da paquera

Clotilde Tavares | 4 de setembro de 2009

Você sabia que quando o homem começa a paquerar ele estufa o peito, encolhe a barriga e simula agressividade? E que a mulher arruma o cabelo, abaixa a cabeça, sorri, cruza as pernas e exibe as coxas?

Quem diz isso é Aílton Amélio da Silva, o maior estudioso da paquera no Brasil. Professor da faculdade de Psicologia Experimental da Universidade de São Paulo, ele analisou o flerte durante vários anos. Como resultado desse estudo, publicou um livro, “Relacionamento Amoroso“, onde mostra os fatores que contribuem para o sucesso ou o fracasso de uma relação.

Afinal, se quando a gente vai viajar procura informações sobre o país que vamos visitar, seus hábitos e costumes, e de que forma devemos nos comportar ali para não cometer gafes, e aprendemos os rudimentos do idioma para saber pelo menos perguntar onde é o banheiro, por que não se documentar sobre este país estranho e muitas vezes inóspito que é o coração da pessoa por quem estamos suspirando?

 

Essa arte da paquera faz toda a diferença e, muito embora algumas pessoas sejam bem-informadas naturalmente sobre ela, parecendo ter um dom inato para conquistar um parceiro, a maioria de nós mergulha num mar de indecisões e atitudes desajeitadas que terminam por botar a perder a empreitada amorosa.

Então, não custa nada consultar o Dr. Ailton Amélio, a quem não conheço e de cujos livros estou fazendo merchandising somente porque os achei interessantes.

No final, fique com esse trecho da música “A hipótese do hipopótamo tartamudo”, ou simplesmente “O Hipopótamo”, de Braulio Tavares:

(…)

“Imagine, novamente, um hipopótamo

Caminhando equilibrado

Num fio de arame farpado

Longuissimamente esticado

Por sobre as enormes cachoeiras de lá da foz do Iguaçu

Inquieto como um átomo

Sob o foco das câmaras de TV

Sem olhar para baixo pra não ver

A cascata rugindo pra valer

E a risada feroz de Belzebu…

 

Esta criatura trágica

Este corpanzil corcundo

Abrindo uma goela áfrica

Botando a boca no mundo

Pois é assim que eu sou

Pois é assim que sinto que sou

 

Quando fico de olho numa mulher

E ela fica também de olho em mim

E eu sei muito bem o que ela quer

Porém fico enrolado mesmo assim

Tropeçando nas minhas próprias pernas

Sem saber o que faça, como e quando

Infeliz como um homem das cavernas

Oscarito imitando Marlon Brando

 

Eu sei que tem gente que é muito mais valente

E acha essa história de trepar um negócio extremamente ótimo

Eu acho também!

Mas eu me sinto um hipopótamo…

(…)

A letra, longuíssima, engraçada e completa você encontra aqui.
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Ailton Amélio da Silva, arte da paquera, Braulio Tavares, o hipopótamo, paquera, relacionamento amoroso
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Pelo buraco da fechadura

Clotilde Tavares | 3 de setembro de 2009

Hoje foi o meu primeiro dia depois da mudança no qual eu  iria estar com o apartamento arrumado (quase), com as coisas no lugar (quase). Mas não pude desfrutar do meu espaço como gostaria. Às sete e meia da manhã um carro de som estacionou em frente ao meu prédio, que fica na lateral do D.E.R. Os funcionários daquele órgão resolveram fazer uma paralisação de um dia reivindicando reposição salarial e só podem fazer isso com muito barulho, muita zoada, incomodando quem não tem nada a ver com o assunto, no caso, eu e os outros infelizes moradores do prédio e cercanias.

Aí, depois de passar duas horas escurando músicas de gosto duvidoso e discursos cheios de retórica, referências obsoletas ao capitalismo e às forças sociais, além de sandices como “bom-dia a todos e todas”, eu não aguentei mais e fui para a casa da minha filha em outro bairro, onde estou agora.

Meu dia foi pro brejo, meu planejamento para hoje fez água e afundou e não pude desfrutar do meu apartamento arrumado (quase) pela primeira vez. Então, divido com você essas fotinhas, que fiz hoje antes de sair de lá. Depois de cinco e meia da tarde, voltarei, esperando que a barulhada já tenha acabado.

Aí estão os 1.800 livros, que já subiram para as estantes. Delas, somente a primeira à esquerda está arrumada. nas outras empilhei os volumes, que terão forçosamente que passar por uma triagem ara poderem caber nas prateleiras. Isso se eu conseguir me livrar deles.

Aí estão os 1.800 livros, que já subiram para as estantes. Delas, somente a primeira à esquerda está arrumada. Nas outras empilhei os volumes de qualquer jeito, e eles terão forçosamente que passar por uma triagem para poderem caber nas prateleiras. Isso se eu conseguir me livrar de algum, o que duvido. No braço do sofá, a bandeja com os restos do café da manhã, tomado em meio à algazarra de discursos e música ruim.

A parede em frente às estantes é azul: eu adoro essa cor. Gosto de todas as minhas quinquilarias ao meu redor, porque preciso de muitos estímulos visuais.

A parede em frente às estantes é azul: eu adoro essa cor. Gosto de todas as minhas quinquilharias ao meu redor, porque preciso de muitos estímulos visuais. O restante da parede livre será preenchido pelos quadros. Tenho muitos, e você já pode ver dois, querendo "subir" para as paredes. Mas pregar quadro exige muita reflexão, muito pensamento. Era algo que eu ia fazer hoje, mas não pude, expulsa pela zoada. Notem que tenho um binóculo pronto para espionar a vizinhança.

Outra visão da sala, com a parede azul e a grande porta de vidro de seis painéis, quase cinco metros de extensão que eu estou dando tratos à bola para encontrar um modelo de cortina que eu goste e que eu possa comprar.

Outra visão da sala, com a parede azul e a grande porta de vidro de seis painéis, quase cinco metros de extensão que eu estou dando tratos à bola para encontrar um modelo de cortina que eu goste e que eu possa comprar, porque tenho uma estranha predileção por coisa cara e acima do meu orçamento. Entra muita luz por aí, e preciso de um filtro eficaz senão tenho que andar de óculos escuros dentro de casa.

E basta de voyeurismo por hoje. Na sequência irei sempre postando aqui um pedacinho e outro da minha casa, porque sei que o meu caro leitor é curioso e adora olhar pelo buraco da fechadura.

Este post é dedicado a Denize “La Reina Madre” Barros, artista e designer maravilhosa. Se você não tem ainda uma bolsa da griffe La Reina Madre, não é uma mulher completa.

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Sobre o amor

Clotilde Tavares | 2 de setembro de 2009

 

Hoje quero falar um pouco sobre o amor. E para começo de conversa, nada melhor do que as palavras de Alain de Botton, autor de “Ensaios de amor” (Editora Rocco, 1997). Ele diz que “todos nós temos necessidade de nos sentirmos compreendidos por alguém e de compreender esse alguém, de dividir nossa vida com outro, de contar nossa vida a alguém”. Fala ainda que existem dois tipos de amor: o amor maduro e o amor imaturo.

 

No amor imaturo há uma disputa caótica entre idealização e decepção. Colocamos nas alturas o ser amado para no momento seguinte vê-lo despencar nas profundezas da dúvida e da decepção. O sentimento de amor imaturo é um estado instável em que sentimentos de êxtase e beatitude se misturam com impressões de afogamento e náuseas. Vivemos inseguros, caminhando numa corda esticada sobre o abismo, com o coração em sobressalto.

Já o amor maduro é um sentimento que resiste à idealização. Enxergamos a pessoa do jeito que ela é e não como idealizamos que ela seja, nem projetamos nela qualidades que precisamos desenvolver dentro de nós. O amor maduro também não se compraz no sofrimento, não é masoquista nem obsessivo. Poder-se-ia dizer que o amor maduro seria uma forma muito especial de amizade que permitisse uma dimensão sexual, somente “sexo e amizade”, como diz a canção popular o que, convenhamos, já é muito mais do que a maioria das pessoas consegue na vida. Sendo agradável e pacífico, este tipo de amor dura porque as duas pessoas compreendem quem são e respeitam suas diferenças.

A respeito do amor, Marilyn Fer­guson, no seu inspirado livro “A Conspiração Aquariana” (Editora Record, 1992), comenta que “nosso con­ceito cul­tural das possibilidades do amor é tão limitado que não dispo­mos de um voca­bulário apropriado para descrever as experiências holísti­cas de amor, o qual abrange sentimento, conhecimento e sensibilidade.” Mas considera que a presença do amor é constante e indis­pensável nos re­lacionamentos transfor­madores, que “são caracterizados pela confiança. Os parceiros estão desarma­dos, sabendo que nenhum deles tirará vanta­gens. Cada um arrisca, explora, falha. Não há fingimentos, ou fachadas. Os parceiros cooperam. Deleitam-se com a capaci­dade do outro em surpre­ender. O relacionamento transformador apoia-se na segurança que emana do abandono da certeza absoluta.”

Vivemos na abençoada região do Nordeste, onde as pessoas não dizem “eu te amo”. O nordestino usa outra fórmula para expressar seus mais profundos sentimentos amorosos a respeito de alguém, dizendo “eu lhe quero bem”. Amor se chama “bem-querer”, e bem querer quer dizer exatamente isso: querer o bem, o bem de alguém. Eu não amo alguém para esse alguém me amar. Eu, simplesmente, quero o bem desse alguém incondicionalmente e mobilizo todas as minhas energias para isso, havendo até a possibilidade de deixá-lo livre, se ele assim o desejar.

Gilberto Gil tem uma frase que serve de definição perfeita para o que deve ser o ato de amar: “O seu amor, ame-o e deixe-o livre para amar.”

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Com certeza

Clotilde Tavares | 31 de agosto de 2009

Nessa nossa época de muitos meios de comunicação, tudo se propaga com a maior rapidez. E, de repente, coisas estranhas e às vezes sem sentido ou sem fundamento passam a ser incorporadas ao nosso comportamento ou à nossa linguagem, sem que a gente saiba direito porque isso acontece. Não é culpa nossa, nem é porque somos colonizados, ou coisa que o valha. Isso se dá pelo imenso poder que têm os meios de comunicação de impregnar nossos sentidos, invadir nossa cabeça, e tal coisa acontece mesmo quando somos bem informados e temos consciência do processo. Avalie quem não toma consciência disso! Repete e macaqueia sem nem sequer saber o que está fazendo.

Quer ver? Pense nas coisas que a gente diz quando fala. Refiro-me às expressões que muitas vezes são puramente regionais, como o clássico “É ruim!”, que é a cara do carioca. O “É ruim!” fica absolutamente sem sentido quando pronunciado sem a entonação correta, que só o carioca “da gema” sabe dar. Então, um nordestino dizendo “É ruim!” é tão estranho quanto um carioca dizendo “Oxente!” Mas, e daí? A gente termina dizendo, mesmo com o sotaque errado, mesmo sem saber direito o sentido, porque a gente ouve na novela, e termina incorporando ao nosso falar.

Há também as expressões que substituem o pensamento. Tenho um amigo que tudo que a gente pergunta ele responde: “Sóóóóóóó…” “E aí, Fulano, vai à praia?” E ele: “Sóóóóóóó…” “Gostou da música nova da banda Tal?” E ele: “Sóóóóóóó…” O “Sóóóóóóó…” do meu amigo, assim com esse “óóóóóóó” comprido e acompanhado de um olhar enviezado e preguiçoso é como se o dispensasse de pensar na pergunta que está sendo feita, liberando seus neurônios para outras atividades que só ele sabe. Esse “Sóóóóóóó…” é mais ou menos igual ao “Hum-hum…” com o qual algumas pessoas respondem a tudo, quando não querem responder. Conheço muita gente que faz isso e tem horas em que eu perco a paciência e pergunto: “Hum-hum é sim ou não?” Pois é.

talking-through-micMas, para mim, a praga das pragas é o famigerado “Com certeza”. Ora, minha gente! “Com certeza” quer dizer exatamente isso: com certeza. Você vai sábado para a festa? Com certeza. Ou seja, vou para a festa sim, é certo que eu vá. Mas hoje, usa-se o “Com certeza!” para tudo. Ligue a TV e veja as pessoas sendo entrevistadas nas ruas: “O que a senhora acha dos juros da casa própria?” “Com certeza. Os juros estão muito altos.” ou “Você vai fazer vestibular para qual curso?” “Com certeza, para o Curso de Medicina”, ou ainda “O que você acha da política com toda essa sujeira que está acontecendo?” “Com certeza. Acho que vou votar nulo no próximo ano.”

Uma praga, uma pobreza, uma simplificação burra da linguagem, um vírus que corrói nossa forma de expressão, nos tornando mais pobres verbalmente e atrofiando cada vez mais nossa capacidade de pensar. Com certeza.

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Meio que sem tempo

Clotilde Tavares | 29 de agosto de 2009

As coisas às vezes nos atropelam e bagunçam com nosso planejamento.

Por isso, ando sem tempo de blogar.

Para você não perder a viagem, a visão de sonho do castelo de Chantilly, na França, onde eu queria estar agora, deitada numa daquelas camas com dossel de veludo vermelho, cochilhando na obscuridade, só na preguiça; ou tomando um chá numa porcelana de Sévres com croissants fresquinhos numa das varandas.

Castelo de Chatilly, França

Castelo de Chantilly, França.

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Um mundo sem plástico

Clotilde Tavares | 27 de agosto de 2009

Nesses últimos dias, onde a mudança de apartamento tem transformado minha vida e meu juízo numa amostra do caos, tem horas em que a gente não consegue encontrar as coisas simples di dia-a-dia, soterradas no meio da bagunça. Foi assim que hoje, depois que fiz um sanduíche, vi que não havia guardanapo de papel. Remexendo nas coisas ainda desarrumadas encontrei guardanapos de tecido, que uso raramente; passei um deles em volta do pão e quando ia começar a comer senti aquela sensação de estranhamento, de coisa suja, anti-higiênica.

Isso me deu o que pensar, uma vez que durante toda a minha infância e parte da adolescência era assim que eu levava o lanche para a escola: um pão com alguma coisa dentro, que podia ser um ovo frito, um naco de goiabada, uma fatia de queijo de coalho ou simplesmente a boa e velha manteiga, tudo isso embrulhado em um guardanapo de pano. É que nessa época, meu caro leitor de menos de cinqüenta anos de idade, não havia guardanapos de papel. Mais espantoso ainda: não havia plástico. Faça agora um pequeno exercício de imaginação para visualizar como era esse mundo, com era essa vida sem plástico.

As embalagens, todas elas, eram de papel, de cartão ou de cartolina; usava-se ainda o bom e velho vidro e as latas de metal. Não havia caixinhas de suco ou de leite longa vida, nem garrafinhas brancas de iogurte e muito menos bandejas de isopor recobertas com filme plástico. Mais espantoso ainda: não havia supermercados. Comprava-se alimento na feira, no açougue ou na mercearia da esquina, de onde as verduras, o feijão e o arroz, a carne, os ovos e o pão vinham embrulhados em papel, que ficava amontoado em folhas de cerca de 60 por 80 cm em cima do balcão, com um peso em cima. O bodegueiro colocava o papel aberto no balcão, e ali colocava o arroz ou o feijão. Depois, habilmente, torcia o papel entre o dedo polegar e o indicador, fazendo uma espécie de dobradura que atuava como uma verdadeira costura sobre o papel, ensacando perfeitamente o alimento. O leite era entregue na porta de casa, e vinha em latões sobre uma carroça puxada por burro. Ou então ia-se buscar o leite em algum curral perto de casa, já que não havia proibição para esse tipo de atividade na zona urbana. Pasteurização era algo desconhecido.

As galinhas chegavam vivas e estressadas da feira, atadas pelos pés e penduradas de cabeça para baixo nas bordas do balaio com as compras, equilibrado sobre a cabeça do balaieiro; ao chegar em casa, eram colocadas no quintal para engordar um pouco e sossegarem antes de serem mortas com um golpe certeiro no pescoço para aparar o sangue que, colocado no vinagre para não talhar, transformava-se pelos milagres da alquimia culinária na deliciosa cabidela. Nesses tempos sem plástico também não havia sabão em pó, amaciante, papel higiênico com perfume de baunilha, nem detergente para a pia. Não se conhecia maionese, nem iogurte com mil sabores, nem margarina. Como dizia o escritor Rubem Braga, nesse tempo todo telefone era preto e todo refrigerador era branco.

Divirto-me em levar meus filhos e netos a imaginarem um mundo sem plástico, sem isopor, sem supermercados ou shopping centers, sem TV a cabo e sem computador e sinto que é como se eu estivesse falando a eles de um outro planeta, de estranhos alienígenas que comiam pão com doce no lanche da escola e matavam as galinhas na cozinha da casa aparando o sangue para fazer cabidela. Um tempo que já se foi e que não volta mais, porque a vida agora é outra e a tecnologia que trouxe o plástico e o isopor trouxe também os antibióticos, as substâncias que prolongam a vida e promovem a saúde. A tecnologia trouxe também algo que considero ser uma das coisas mais importantes desses últimos tempos: as possibilidades cada vez mais reais e eficazes de comunicação entre as pessoas, superando diferenças, exercitando a tolerância e praticando a boa vontade. Admirável mundo novo, é esse, e estou feliz por estar vivendo nele.

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Banheiros

Clotilde Tavares | 26 de agosto de 2009

Ainda mergulhada no caos da minha mudança, não tenho tido tempo de escrever. Questões muito importantes monopolizam a minha atenção, como, por exemplo: “Onde está o fio dental?” ou “Como posso lavar a roupa se ainda não instalaram o varal?” ou a mais importante de todas, “Em que diabo de lugar foi parar meu chinelinho de antes de dormir?” Ah, meu caro leitor, a falta do chinelo velho para acolher os pezinhos 34 mortos de cansados de carregar, além do meu peso acima da tabela, as caixas e pacotes e livros e objetos, ah, a falta dos chinelinhos velhos não tem contribuído para melhorar a minha qualidade de vida.

Dos meus cinco cômodos, três  já estão razoavelmente em ordem: o quarto, a cozinha e a área de serviço. Mas a sala continua em estado parcial de caos – evoluiu do total para o parcial – e o banheiro, além de estar desarrumado, é um banheiro de tamanho médio, de apartamento antigo que não quero reformar e que constitui um formidável desafio à minha capacidade de decoração, ou melhor, de ambientação, que é assim que se diz agora.

Aí, entrei na Internet em busca de idéias. Não encontrei nenhuma, mas achei um monte de banheiro engraçado que quero compartilhar com você, enquanto resolvo o problema do meu.


O cara se exercita, come, lê, vê TV, acessa a Internet e nunca deixa de ser Rei, ou melhor, nunca abandona o Trono. Aqui.

Indicativo para porta de banheiro masculino e feminino. Achei aqui, onde tem mais.

Design arrojado e tecnologia em pouco espaço. Aqui.

Na Europa, uma versão mais limpa do que tem sido visto nas festas brasileiras como Carnaval e outras. Encontrei aqui.

Nas horas de aperto, um banheirinho portátil.

Essa é boa! Achei aqui.

O banheiro do batera. Aqui.

Cortina de banheiro inspirada no filme “Psicose”, de Hitchcock. Aqui.

Siga o link para ver os detalhes e me diga se você teria coragem de usar este banheiro!

Para encerrar, este banheiro nas nuvens, para quem gosta de esquiar.

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Marte, a Lua e a mamografia

Clotilde Tavares | 25 de agosto de 2009
Impossível!

Impossível!

Depois de amanhã, na noite de 27 de agosto, muita gente vai ficar de olhos pregados no céu por toda a madrugada atendendo a um boato que se espalhou pela Internet. A notícia – que todo ano chega às nossas caixas de e-mails e é repassada por gente crédula – é de que Marte vai surgir no céu quase do tamanho da Lua, em virtude de nesta data o planeta se encontrar na sua maior aproximação com a Terra. A notícia diz ainda que tal evento teria ocorrido pela última vez há quase sessenta mil anos e que o fenômeno só se repetirá daí a outros tantos anos.

Não há terreno mais propício à disseminação de boatos e maluquices do que a Internet. Tudo que ali (aqui) se coloca se espalha em progressão geométrica, principalmente – e muito curiosamente – se for algo ilógico e difícil de acreditar por pessoas que tenham o mínimo de sensatez. Toda semana sai um boato diferente, e quanto mais estranho e inverossímel for, mais rapidamente se espalha. As pessoas acreditam por uma simples razão: não usam o bom senso, não refletem sobre o que lêem, acreditam em tudo que lhes dizem e que lhes chega por e-mail.

Assim é mais razoável...

Assim é mais razoável...

Essa história de Marte, por exemplo. Para que o planeta vermelho pudesse aparecer do tamanho da Lua no firmamento, ele teria que estar tão perto que a interferência da sua gravidade sobre os oceanos terrestres causaria cataclismas que deixariam o tsunami da Tailândia no chinelo. É só conhecer o conceito da atração gravitacional que as massas exercem umas sobre as outras e ter noção das massas da Terra, de Marte e da Lua, coisas que, aliás, todo mundo aprende nos primeiros anos da escola e que até eu – que já passei da idade de ter obrigação de me lembrar das coisas – ainda me lembro.

A explicação científica deixo por conta dos pesquisadores do céu, que fui buscar no site do INPE. Eles explicam: “O tamanho aparente (no céu) de Marte varia de 3,1 segundos de arco a 25,1 segundos de arco, devido à variação contínua de sua distância à Terra. Por outro lado, o tamanho da Lua no céu é, em média, de 30 minutos de arco.” (Lembrem-se de que um grau equivale a 60 minutos de arco ou 3.600 segundos de arco, coisa básica de primeiro grau). “Isto significa que, mesmo em sua máxima aproximação da Terra, o planeta vermelho ainda continua sendo mais do que 70 vezes menor do que a Lua no céu.”

O site Quatrocantos também explica o fato, em linguagem mais acessível.

Achei aqui.

Achei aqui.

Finalmente isso me faz lembrar um trote que teria sido dado em Portugal. Foi notícia do jornal “O Globo”. Diz a matéria: “A ciência tem avançado tão rapidamente que algumas pessoas começam a exagerar na credulidade em relação ao alcance da tecnologia. O jornal português “Correio da Manhã” disse que dezenas de mulheres de São Bartolomeu de Messines tiraram a parte de cima da roupa em quintais, varandas, janelas e até mesmo na rua para fazer exame de “mamografia via satélite, pelo raio laser”. Em reportagem intitulada “Mamas ao léu”, o jornal garantiu que as portuguesas foram convencidas a tirar a roupa por uma mulher que, por telefone, se identificava como médica e elogiava as vantagens da “nova tecnologia de mamografia por satélite”. Para que se submetessem ao novo exame, a suposta médica afirmava, segundo o “Correio da Manhã”, que elas precisavam apenas ficar “num local visível”, de onde o “satélite as pudesse captar”.

Tudo não passou de um trote, é verdade, motivado apenas pelo pouco uso do bom senso e pelo desejo de acreditar e prodígios e fatos miraculosos. E, pelo visto, a epidemia desse tipo de trote apenas começou.

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