Plágio na Internet
Clotilde Tavares | 8 de setembro de 2009Uma pessoa me perguntou o que era que eu fazia para impedir que as pessoas copiassem os meus textos publicados neste blog para publicar como se fosse delas. E eu respondi: nada. Nada mesmo. Porque não é possível fazer absolutamente nada para impedir que textos, meus e de qualquer outra pessoa, sejam copiados. O que posso fazer é acionar judicialmente alguma pessoa que publicar esses textos sem a minha licença.
É muito comum a apropriação sem licença de material publicado na rede porque as pessoas têm a impressão de que aqueles textos, ou desenhos, ou fotografias que estão ali não têm dono, são de domínio público.
Eu mesma tenho sido eventualmente copiada. Muitas pessoas copiaram e continuam copiando meu texto sobre Jackson do Pandeiro que está no site que criei em 1998 sobre o cantor e compositor de “O Canto da Ema”. No início me aborreci, e interpelei – não judicialmente, mas por e-mail ou telefone – alguns desses copiadores. A desculpa que sempre me dão é que colocaram meu nome. Aí eu vou lá e vejo meu nome colocado como “fonte”. Vocês já pensaram? Já imaginaram se a moda pega? Eu publico um livro chamado Dom Casmurro, contando a história de uma certa Capitu de olhos de ressaca e cito Machado de Assis como “fonte”…
Então é preciso saber que ninguém pode publicar o texto de outro sem licença por escrito, mesmo colocando o nome, mesmo colocando o crédito. É preciso a licença, porque você imagine que eu escrevo um texto e alguém publica num site que não tem nada a ver com as coisas que penso ou defendo? Já pensou um texto meu publicado num site racista ou preconceituoso de alguma forma? Ou num site pornográfico? Eu realmente não gostaria nem um pouquinho.
Em 1999 eu precisava de um texto engraçado para encerrar uma palestra que ia fazer no Internet Shopping, um evento que aconteceu naquele ano em Natal. Escrevi então “A Oração do Internauta” e deixei um tempo na primeira página do meu site tendo sido ela até citada na coluna do Gravatá, no Jornal O Globo.
Aí, um camarada cujo nome eu sei mas não me interessa citar, publicou a “Oração…” na Revista Internet-BR como se fosse da autoria dele. Deus e o mundo me mandou e-mail comunicando, e alguns perguntando se eu não ia tomar uma providência, mas achei que não valia a pena. Um texto pequeno, uma bobagem, que não pagava o trabalho de reivindicar a autoria. Hoje, a “Oração…” está em tudo o que é site de humor na Internet, quase sempre com alguma modificação mas mantendo a estrutura original que escrevi. Basta você digitar a palavra no Google que vai encontrá-la. Pensa que me importo? Nem um pouco. De certa forma, fico até feliz por ver o que escrevi tão aceito que todo mundo gosta e quer publicar. E acho mais fácil escrever outra, diferente, ou uma Ave-Maria do e-mail ou um Credo do software. Para mim, é fácil. Deve ser difícil para outros que, por isso, precisam copiar.
Isso também me faz lembrar do tempo da ditadura militar, quando a censura riscava os versos dos nossos poemas, as falas dos personagens das nossas peças, as letras de nossas músicas… Aí a gente ia e escrevia tudo de novo, de outro jeito, e sempre saía melhor.
Felizmente, abençoada que sou pelos deuses, me acho assim como a galinha dos ovos de ouro: me levam um ovo, mas eu ponho quantos mais eu quiser. E há também a constatação de que, quando há uma moeda falsa no mercado é porque existe em circulação a moeda verdadeira, muitas vezes mais valiosa.
Abaixo, a “Oração do Internauta” na sua forma original, do jeito que eu escrevi em 1999.
Satélite nosso que estás no céu
Acelerado seja o vosso link
Venha a nós vosso hipertexto
Seja feita a melhor conexão
Assim na terra como no céu.
O download de cada dia nos dai hoje
Perdoai o café derramado no teclado
Assim como nós perdoamos aos nossos provedores
Não nos deixei cair a conexão
E livrai-nos do spam.
Intel.
[…] compartilhando no Twitter. “Ora vejam, meu super post novo”. A parte mais humilhante? Quando você, pessoa autora que tanto trabalhou no texto, é citada no post-cópia como “fonte”. Comparação sentimental: quase o mesmo que chamar a mãe da criança de tutora, dona da creche ou […]
Definitivamente o melhor!! Realmente, quando se tem a fonte dos tesouros (palavras) ela nunca é esgotada! =) Parabens.. quanto mais leio.. mas, gosto daqui! =)