Província Submersa
Clotilde Tavares | 9 de setembro de 2013Hoje trago para você a notícia de um livro: “Província Submersa”, de Octacílio Alecrim, publicado numa edição conjunta do Instituto Pró-Memória de Macaíba/RN e Senado Federal. É uma segunda edição, com 278 páginas; a primeira saiu em 1957, como edição especial do Proust Clube do Brasil, em tiragem limitada e fora de comércio.
Sobre o autor, o primoroso e elucidativo texto do jornalista Vicente Serejo, que abre esta a edição, traça com maestria o perfil deste que, nascido em Macaíba, cidade que fica pertinho de Natal, em 1906 e falecido no Rio de Janeiro em 1962, foi “talvez o maior proustiano no Brasil do seu tempo, ao longo das décadas de quarenta e cinqüenta.” E continua: “Sua importância não se consagra apenas nos textos que escreve e publica, mas na grande presença nas bibliografias dos estudos impressionistas e acadêmicos sobre o romance de Marcel Proust.”
Mas o bom mesmo é este livro “Província Submersa”, um delicioso relato da infância e juventude do autor, que extrapola o simples memorialismo e, nas entrelinhas dos fatos pessoais, retrata a história sócio-cultural e econômica daquela região, nas primeiras décadas do século XX, quando se ia de Macaíba a Natal de barca, pelo rio Jundiaí, que afluía ao Potengi. São histórias de famílias, descrição de tipos populares, relatos de brincadeiras, códigos de comportamento e vida social, descrições tão reais e detalhadas que parecemos estar vivendo junto com o autor os fatos que descreve.
E isso sem abrir mão nem por um instante da prosa elegante, da sintaxe escorreita, das imagens vívidas, tudo denotando um memorialista completo, bem no espírito da “Recherche…” de Proust, de quem Octacílio Alecrim foi, como já falei, um dos mais competentes exegetas. É um livro que agrada ao intelectual, ao estudioso, que se deleita com a erudição demonstrada, os achados estilísticos; e o leitor comum também encontra aí a história de um menino, um menino como os outros, nascido e criado no interior, tal como o Carlinhos de Zé Lins, e com ele se identifica, pois todos nós fomos um dia meninos e meninas, mergulhados na doce inocência da infância, e sentimos, através das memórias de Otacílio Alecrim, o cheiro suave de lavanda que emanava do colo da nossa mãe, o gosto do leite morno tomado ao pé da vaca em caneca de flandres, o contato áspero do tropical agajota do terno do pai, a feira, as cavalhadas, as histórias ouvidas da boca das empregadas e amas, o mistério das noites estreladas de um infância onde não havia shopping-centers, nem computador, nem videogames.
Um livro para se ler devagar, saboreando, degustando, relembrando e reconhecendo nesta “Província Submersa”, de Octacílio Alecrim, além do seu alto valor literário, uma fonte abundante de cultura e de prazer.
Nesta quinta-feira, 12 de setembro, estarei falando sobre este livro e este autor na Academia Macaibense de Letras, às 15 horas, no sessão comemorativa de aniversário da Instituição. A reunião será no Pax Clube de Macaíba.
[…] primeira obra escolhida foi sugestão do Conrado Carlos: Província Submersa, do macaibense Octacílio Alecrim. Livro de caráter memorialístico com narrativas magistrais, que […]
Clotilde,
Que alegria encontrar seu blog! Sua postagem sobre Macaíba,onde vc. presenciou a mais recente “batalha da cultura” está excelente.
Logo para nós que fomos educadas frequentando a Livraria Pedrosa e reconhecendo nos livros os nossos melhores amigos isso é lamentável, heim?
Saiba que me sinto privilegiada por ter Sr.Pedrosa e Sr. Nilo como AMIGOS dos mais queridos e admirados pela minha família.
Peço-lhe que envie p/ meu e-mail o end. de Bráulio,porque tenho um primo que gostaria de entrar em contacto c/ele.
Receba o meu abraço afetuoso e chegando aqui em Recife dê notícias. Será muito bom lhe rever.
Fátima