Sou chata
Clotilde Tavares | 19 de agosto de 2009Uma das coisas que mais me surpreende nas pessoas é a grande capacidade que elas têm de se acomodar. Não estou falando na capacidade de se adaptar às situações novas, que é uma coisa bem diferente e que, para mim, é sinônimo de inteligência. Estou falando na imobilidade das pessoas que se adaptam a uma situação que não lhes agrada muito, apenas por preguiça e comodismo, sem reagir, sem falar, sem se colocar. Diante de uma situação assim, em lugar de tomarem uma atitude e transformarem a situação, a maioria das pessoas se acomoda, procurando uma zona de relativo conforto, onde seja possível sobreviver com um mínimo de aporrinhação.
Agitada e inquieta por natureza e questionadora de tudo por formação, sou difícil de me acomodar passivamente seja lá com o que for. Adapto-me com relativa facilidade às vicissitudes do destino, àquelas coisas contra as quais nada podemos fazer, como a Morte, a Doença ou a Paixão. Mas não me acomodo nunca, nunca, jamais, àquilo que considero que posso modificar.
E é por isso que sou chata. Sou chata e assumo, correndo todos os riscos dessa atitude mas em paz com minha natureza e ouvindo lá dentro de mim a voz de Mamãe, que sempre dizia: se acredita que está errado, vá lá e defenda seu ponto de vista.
Sou chata porque vivo telefonando para o Banco no qual sou correntista exigindo que coloque uma mesinha nos postos de serviço, para que a gente não precise manusear contas e papéis “no ar”, sem um apoio.
Sou chata porque ligo para a administração dos shoppings pedindo para instalarem ganchos nos banheiros femininos para que nós possamos pendurar a bolsa e as sacolas enquanto usamos o sanitário.
Sou chata porque não vejo como me adaptar à barulheira infernal de carros de propaganda, dos pit-boys com seus sub-woofers ou do carro de som da paróquia anunciando a missa, que me impedem de falar ao telefone, de ouvir o aparelho de TV ou simplesmente me acordam, quando quero dormir.
Sou chata quando me torno – como irônicamente me chamaram um dia desses – “guardiã da obra de William Shakespeare” e mais da obra de Borges, de Machado, de Oscar Wilde, de Clarice Lispetor e que quem mais tiver seus textos distorcidas, mutilados, publicados com autoria trocada ou – pior, muito pior – tiver seu nome associado a um texto que nada tem a ver com sua obra.
Sou chata, e vou continuar reclamando.
Cara Clotilde,
Se 50% da população deste país fosse “chata” assim como você, tenho certeza que viveríamos com muito mais qualidade.
Eu também faço parte deste grupo dos chatos !!! Não perco a oportunidade de ao menos tentar mudar o curso das coisas que acho que estão erradas.
Quando consigo atingir meus objetivos me encho ainda mais de coragem para continuar sempre acreditando na força da atitude !!!
Beijos e viva os chatos !!!
Valentina.
Eu te admiro. E muito, viu? Quem me dera ser assim, sou tão bestona e acomodada que às vezes nem entro nas lojas pra não receber olhares de desprezo de vendedoras que se acham as trakinas mais sorridentes do pacote…
Mas isso tem de mudar, ah tem.
clotilde, sou chata também. reclamo de tudo que vejo de errado.
reclamo dos carros em velocidade de manhã cedo na avenida cabo branco, hora do cooper, é fechado para o trânsito, e lá estou eu caminhando parecendo uma louca gritando: DEVAGAR!!!!
reclamo das filas nos consultórios médicos, onde colocam mais de 30 pacientes para serem atendidos numa única tarde, hoje mesmo fiz um discurso numa ante-sala dessas e as pessoas que também esperavam a sua hora, nem se mexiam, nem nada falavam a respeito. isso é um absurdo. culpa delas que nada fazem e aceitam a situação. eu nãofico calada.
enfim, esses são apenas 2 exemplos, diante de não sei quantos e dos que você citou também.
não devemos baixar a cabeça e aceitar.
exercito isto todo dia diante de situações absurdas e que nos incomodam.
temos de ser chatas SIM, se isso for ser chata.
pra mim, isso é direito de cada um de nós. é respeito.
aproveito aqui pra dizer que leio muita coisa que você escreve e gosto muito.
continuemos. quem sabe, venceremos. hehehe!
mãos a obra.
bj,
val velloso