O baobá, gigante vegetal
Clotilde Tavares | 27 de setembro de 2009Andei um dia desses falando aqui sobre as árvores, comemorando o seu dia; aí hoje me lembrei de uma paixão que tenho por uma árvore muito especial: o baobá, que é uma árvore sagrada para muitas culturas. Sua altura descomunal e sua circunferência avantajada o tornam um gigante entre as outras espécies, elevando-o a objeto de culto entre as tribos da África, de onde parece ser nativo. Para essas culturas, não é somente uma árvore: é portadora de uma grande e poderosa energia, e em muitas comunidades é considerada um “espírito protetor”.
Somente no Rio Grande do Norte existem, catalogados, dez baobás, sendo que sete deles se encontram no município de Assu, na fazenda Curralinho, às margens da lagoa do Piató. Existe mais uma dessas árvores em Jundiaí, outra em Nísia Floresta – cuja idade real provavelmente é muito maior do que aquela que está registrada na placa que existe na árvore – e o famoso “Baobá do Poeta”, que o poeta e advogado Diógenes da Cunha Lima em boa hora salvou do sacrifício comprando o terreno onde a árvore “residia” quando o proprietário, querendo construir no local, ameaçava derrubar a árvore.
Diógenes comprou a área, mandou cercar e tomou o baobá como seu filho adotivo. Ele lá está na rua São José, quase na esquina da Avenida Alexandrino de Alencar. Sempre passo por ali para ver como vai a imponente árvore e você que está lendo, se planeja visitar Natal, não deixe de ver essa preciosidade. Não sou botânica, nem agrônoma, mas amo as árvores e elas se entendem muito bem comigo. O baobá me disse, da última vez que passei por lá, que está tudo bem, embora esteja atravessando um período de seca, natural numa espécie acostumada com os rigores do clima africano.
Por conta desse meu amor pelas árvores, fotografei os baobás de Assu e coloquei-os no meu site. Lá, eles foram descobertos pelo professor John H. Rashford, da Universidade de Carolina do Sul nos Estados Unidos. Esse cientista é especialista em baobás e árvores sagradas, e estava para fazer um levantamento dos baobás existentes na América Latina e Caribe. Viu os baobás do Rio Grande do Norte no meu site, e veio parar aqui em Natal onde peregrinamos durante dois dias, sob os auspícios de Diógenes da Cunha Lima, medindo e fotografando todas essas árvores. Segundo o Dr. Rashford, o “baobá do poeta”, o filho adotivo de Diógenes, aquele mesmo que está aqui bem pertinho de nós é o segundo maior da América Latina e Caribe.
Então, minha gente, uma vez atualizados os nossos conhecimentos sobre o baobá, eu vou aproveitar a manhã para fazer uma visita à árvore, com calma, matando as saudades, como se estivesse visitando um parente muito velho, com muita coisa para me ensinar. Vou permanecer em silêncio ao lado desse gigante vegetal, regular o meu vermelho e agitado coração com o verde e calmo coração da planta e deixar brotar em a coragem dos chefes guerreiros que, nos tempos primitivos, eram sepultados de pé, com todas as suas armas, nas fendas da árvore. E sei que vou ficar feliz de pertencer a um mundo que nos dá de presente tantos e tão inusitados prodígios.