Casa Grande e Senzala – em quadrinhos.
Clotilde Tavares | 3 de maio de 2010Todo mundo, mesmo quem não é muito chegado à leitura, já ouviu falar da obra de Gilberto Freyre, que tem o título de “Casa Grande e Senzala”. Gilberto Freyre (1900-1987), sociólogo pernambucano, escreveu esse livro em 1933, e a importância desta obra colocou-a definitivamente na relação dos livros que devem ser lidos por qualquer pessoa que queira entender o Brasil.
Para o leitor comum, ler “Casa Grande e Senzala” é uma tarefa, pois a obra é vasta, extensa, profunda, recheada de informações. Junto com “Sobrados e Mocambos” e “Ordem e Progresso” forma a trilogia conhecida como “Introdução à História da Sociedade Patriarcal”, constituindo esses três livros um documento mestre para quem deseja entender como se formou a nossa sociedade, o seu processo de colonização, e porque somos da maneira que somos hoje.
Muita gente pode até nem concordar com as idéias de Gilberto Freyre. Eu mesma só o li recentemente, cumprindo a tarefa de preencher lacunas da minha formação que ficaram abertas por puro preconceito. O caso é que na época em que deveria ter lido a obra de Freyre, no Mestrado, estávamos em plena ditadura militar e o nosso curso – como muitos no Brasil – tinha uma orientação marxista que era mais ou menos declarada. Nós e nossos professores execrávamos esses autores como Freyre, chamados “funcionalistas”, porque achávamos que quem pensava diferente de nós não merecia o privilégio da nossa leitura. Naquele tempo, as turmas não se misturavam, marxista só andava com marxista e todos, dentro do seu gueto pessoal, estavam de acordo uns com os outros.
Essa atitude, que hoje reconheço limitada mas que era normal naquele tempo, privou-me de um monte de leituras interessantes que somente muitos anos depois pude ler sem achar que estava traindo a mim e ao povo brasileiro. Entre elas incluo textos espiritualistas e filosóficos e romances, poemas e ensaios de autores ditos “reacionários”.
Voltando a Gilberto Freyre e a “Casa Grande e Senzala”, há uma edição em quadrinhos publicada pela Global Editora. Se não é um estudioso ou acadêmico e não quer encarar o desafio das centenas de páginas mas tem uma curiosidade natural e saudável sobre a obra pode fazê-lo agora, de forma “light” e suave.
Publicado pela primeira vez em 1981, o livro foi planejado por Adolfo Azien e roteirizado por Estêvão Pinto, com ilustrações de Washt Rodrigues, posteriormente colorizadas por Noguchi. A versão quadrinizada é sucinta, didática, mas permite vislumbrar as principais idéias da obra de Freyre, fazendo um apanhado dos fatos e costumes dos povos que formaram a nação brasileira, desde o início da colonização português até a época da escravidão, mostrando o fenômeno da miscigenação e revelando de que modo cada um dos povos fundadores – portugueses, africanos e índios – influiu na nossa cultura.
E se depois de lê-la você quiser conhecer a obra original, a Global Editora também tem em catálogo, em edições cuidadosas e bonitas, os outros livros de Gilberto Freyre, leitura que vale a pena ser feita, boa para a nossa auto-estima e para o exercício da nossa nordestinidade.