Firulas textuais
Clotilde Tavares | 7 de dezembro de 2009Numa Lista que assino, um dos membros postou um texto todo escrito sem usar a letra “A”, do qual reproduzo um pequeno trecho abaixo.
Sem nenhum tropeço posso escrever o que quiser sem ele, pois rico é o português e fértil em recursos diversos, tudo isso permitindo mesmo o que de início, e somente de início, se pode ter como impossível. Pode-se dizer tudo, com sentido completo, mesmo sendo como se isto fosse mero ovo de Colombo.
Desde que se tente sem se pôr inibido pode muito bem o leitor empreender este belo exercício, dentro do nosso fecundo e peregrino dizer português, puríssimo instrumento dos nossos melhores escritores e mestres do verso, instrumento que nos legou monumentos dignos de eterno e honroso reconhecimento.
Trechos difíceis se resolvem com sinônimos. Observe-se bem: é certo que, em se querendo esgrime-se sem limites com este divertimento instrutivo. Brinque-se mesmo com tudo. É um belíssimo esporte do intelecto, pois escrevemos o que quisermos sem o “E” ou sem o “I” ou sem o “O” e, conforme meu exclusivo desejo, escolherei outro, discorrendo livremente, por exemplo sem o “P”, “R” ou “F”, o que quiser escolher, podemos, em corrente estilo, repetir um som sempre ou mesmo escrever sem verbos.
(…)
E o texto continua por mais alguns parágrafos e lamento não ter aqui a autoria para lhe informar. Quem postou não colocou o autor.
Mas textos sem “A”, sem “E” ou textos onde a única vogal é “A”, por exemplo, são exercícios corriqueiros para quem escreve. Não é nada incrível, é somente um exercício. Faz-se quase como desafio, como brincadeira. Cada um de vocês, se tentar, consegue fazer.
Eu gosto de me divertir escrevendo textos como esse. Não servem para nada, apenas para exercitar a capacidade de brincar com as palavras, do mesmo jeito que o jogador de futebol faz embaixadas, para desenvolver a habilidade com a bola.
Outro exercício legal é escrever uma história curta, de umas duas páginas, por exemplo. Depois, tentar reduzi-la a 200 palavras, depois a 100, a 50…
Veja essa décima do poeta Dedé Monteiro:
“Ô casa velha do cão,
A de vovó Januária!
Caverna bicentenária,
Sem um sinal de cristão.
Morcegos sobre o fogão,
Na sala somente pó,
No muro, uma planta só,
No jardim, rato e mosquito:
Eis o retrato esquisito,
Da casa da minha avó.
O detalhe? Não notou? Não tem um só VERBO…