A produção das deusas
Clotilde Tavares | 2 de maio de 2010Não entendo porque as pessoas insistem em divulgar emails do tipo “as 50 tops mais lindas do mundo sem fotoshop e sem maquilage”.
Olha, minha gente: eu acho isso uma bobagem e nem quero ver!
Modelo não é gente. Modelo é uma coisa bonita, construída com disciplina, trabalho, maquilage, massagens, dietas, exercícios e seja lá mais o que for necessário para dar a elas esse aspectos de deusas xstra-terrenas, de seres celestiais, de divas inconsúteis, que nos fazem sonhar e abominar nossos sessenta e cinco quilos em um metro e quarenta e oito.
Lá, no fundo daquela construção midiática, existe uma menina de verdade, uma moça que sonha, que acorda de manhã, vai ao banheiro, escova os dentes e vai para a cozinha arrastando os pés tomar seu iogurte exatamente como eu faço e como você faz todo dia.
Mas ninguém está disposto a ver isso, a pagar para isso. Todos querem ver a deusa no seu pedestal, com roupas de griffe, maquilage estranha, cabelos irreais, longas unhas, olhar 45. É uma indústria como qualquer outra, com milhões de dólares em jogo, como qualquer outra indústria.
Assim, não queiram me mostrar essas fotos. Eu me recuso a vê-las, da mesma forma que me recuso a eliminar a Fantasia e o Sonho que existe na minha vida e que se reacende toda vez que vejo aquelas criaturas belas e espetaculares.
Se o ideal de Beleza que a mídia constrói e transmite através delas é impossível de ser alcançado, levando a mulherada em peso gastar os tubos na indústria das academias, cirurgias plásticas e produtos de beleza, isso é outra história, que não estou discutindo aqui.
Eu não quero ser como as super-models, nem poderia. Tenho minha própria vida e minhas próprias coisas para fazer, que não têm nada a ver com aquilo que elas fazem. Mas que gosto de vê-las desfilar nas passarelas ou piscarem para mim nos comerciais, ou encontrá-las imóveis e tão lindas nas páginas das revistas, ah, isso eu gosto, e muito.