O Muro de Berlim: 20 anos depois
Clotilde Tavares | 9 de novembro de 2009No dia 9 de novembro de 1989 eu estava em São Luís do Maranhão onde havia ido participar de uma banca de concursos na Universidade Federal, na área de Saúde Pública. Passava o dia trancada numa sala na Universidade, almoçava ali mesmo em restaurante próximo e o trabalho era duro, pois o concurso tinha muitos candidatos inscritos, e havia que analisar todos aqueles currículos, fazer as entrevistas, corrigir as provas, assistir às provas didáticas em forma de aula e tudo o mais. Quem já passou por isso sabe que é uma maratona.
Pois bem: nesse dia eu cheguei ao hotel aí pelas sete horas na noite, mais morta do que viva. Tomei um banho e desabei na cama, buscando coragem para descer ao restaurante e jantar. Foi aí que, distraidamente, liguei a TV e não acreditei naquilo que eu estava vendo: estavam derrubando o muro de Berlim.
A Queda do Muro é um desses acontecimentos históricos espetaculares que nunca podemos esquecer e que a gente sempre sabe onde estava e o que estava fazendo quando recebemos a notícia. O 11 de setembro, o assassinato de John Lennon, o assassinato de Kennedy, a chegada do homem na Lua… Como esquecer essas datas e a nossa reação a esses eventos?
Naquele dia, longe dos meus filhos, em cidade distante, sozinha no quarto de hotel, sem amigos para comentar o que estava acontecendo, sem ter com quem falar, eu fiquei ali pensando no significado daquilo que eu estava vendo. Pensei em todas as mortes, separações, injustiças, em toda a coorte de desgraças que aquela muralha de pedra havia produzido. Pensei no Muro, ou na sua queda, como um símbolo de uma nova ordem que se instalava sobre aqueles escombros, com mais Compreensão, com mais Tolerância, com mais Harmonia entre homens e nações.
É claro que muros mais sólidos ainda estão erguidos, desafiando a Paz e a Solidariedade: são aqueles construídos nas mentes e corações dos homens, com os tijolos da Cobiça, o cimento da Intolerância, a cal do Ódio. São esses muros interiores que hoje, na comemoração dos 20 anos de derrubada do Muro de Berlim, precisam ser lembrados. Como a muralha física de pedra e cal que tombou há anos, é preciso que eles comecem também a cair por terra, melhorando a vida de todo mundo.
A jornalista Ariane Mondo, paraense/potiguar vivendo na Alemanha mantém um blog sobre a Queda do Muro. Aqui.
O escritor W. J. Solha escreve artigo fundamental sobre a efeméride, incluindo reflexões sobre a prática política, tudo embalado pelo texto elegantíssimo desse sorocabano/paraibano, festejado autor de “Relato de Prócula”. Veja o texto de W. J. Solha aqui.
Há um filme muito bom sobre o tema: “Adeus Lenin” (Wolfgang Becke, 2003).
E achei esta foto espetacular AQUI.