O quarto Rei Mago
Clotilde Tavares | 6 de janeiro de 2010Hoje é dia dos Santos Reis e a minha cidade Natal comemora em festa esses simpáticos personagens que embora não sejam santos da Igreja Católica recebem do povo desta terra a devoção e o respeito. Pensando nisso é que resolvi contar aqui a você uma história, já contada pelo escritor americano Henry Van Dyke (1852-1933) que, numa bela alegoria, fala sobre a existência de um quarto Rei Mago e o seu encontro com a divindade.
Chamava-se Artaban este sábio do Oriente que, juntamente com seus colegas Melchior, Gaspar e Baltazar resolveram ir a Belém reverenciar o menino que, diziam as profecias, seria mais tarde Rei dos judeus. Vendeu ele todos os seus bens e converteu-os em três pedras de incalculável valor com as quais pretendia presentear o menino: uma safira, um rubi e uma pérola. E partiu para encontar os três outros magos em um lugar previamente combinado. Mas Artaban não conseguiu chegar ao encontro pois demorou-se no caminho socorrendo um pobre homem, doente e morto de fome e sede, que pediu a sua ajuda.
Depois de curado, o homem lhe revelou que o Messias já havia nasido em Belém. Sem dinheiro, perdido da caravana na qual havia partido, Artaban teve que vender sua preciosa safira para conseguir atravessar o deserto. Ao chegar em Belém, encontrou muita miséria, fome, escravidão e doença. Vendeu então o rubi para comprar alimento e agasalho para os que tinham fome e frio, e salvou muitas crianças de serem degoladas pelos soldados de Herodes. Todas essas tarefas o distanciavam ainda mais do seu destino mas Artaban simplesmente não conseguia ficar indiferente aos que dele precisavam. E, sempre desviado do seu objetivo pelos apelos dos pobres e dos sofredores, foi vivendo ao longo dos anos, sempre procurando chegar até Cristo, sem, no entanto, conseguir.
Passados mais de trinta anos, ouviu dizer que estavam levando o filho de Deus ao Gólgota para crucificá-lo. Artaban ainda guardava seu mais caro tesouro: a pérola, e resolveu usá-la para livrar o Messias da morte. Mas na subida do Calvário encontrou uma mulher desesperada que lhe pediu para salvar-lhe o filho da escravidão e Artaban usou a pérola para comprar a liberdade do rapaz. Quando chegou ao cume, era a hora mesmo em que Jesus estava morrendo. O céu tornou-se escuro, raios e trovões cortavam o espaço, a terra tremia e grandes pedras começaram a rolar por cima das pessoas. Uma delas atingiu Artaban, ferindo-o gravemente.
E ele falou: “Oh, meu senhor, tanto que te procurei e agora que te encontro estou cego pela dor e pelo sangue que me cobre a vista! Será que nunca vou conseguir finalmente ver a tua face?” E Cristo respondeu: “Mas tu já viste muitas vezes a minha face. Quando eu estava doente, e me curaste; quanto eu tive fome, e tu me alimentaste; quando a morte me ameaçava, e me defendeste; quando eu estava preso, e me libertaste. Tudo aquilo que fizeste aos outros, fizeste a mim, e quando aquelas pessoas voltaram para ti os seus olhos em agradecimento, era eu que te olhava; quando elas beijaram as tuas mãos, era eu que te beijava.”
Ouvindo então essas doces palavras, Artaban, o velho sábio, o quarto Rei Mago, finalmente sossegou o seu coração, e, compreendendo que havia chegado ao fim da sua busca, fech0u os olhos e morreu em paz.