Ode ao gato
Clotilde Tavares | 29 de julho de 2009Muitos estudos científicos têm mostrado que aquelas pessoas que possuem animais de estimação são menos estressadas e têm menos tendência às doenças cardíacas. Muita gente não vive sem o seu bichinho: cachorro, gato, passarinho e peixinho no aquário são os mais comuns, embora eu já tenha visto gente criando toda espécie de bicho esquisito, incluindo aí um jacaré, que o dono, conhecido meu, conduzia por uma coleira, como se fosse um cão, enquanto o bicho brincava de abocanhar os calcanhares de quem estivesse por perto.
Já tive toda espécie de bicho. Desde a cadela Tirolesa e o galo-de-campina cantador na minha infância ao cachorro Sultão na adolescência e depois os gatos, inúmeros, na casa da minha mãe e depois na minha própria casa, além dos peixinhos de aquário.
Mamãe tinha mania por bichos, e lembro-me de Balalaika, a cotia, que viveu conosco muito tempo; uma coruja; e até o jabuti, que atende pelo nome de Tupiara, velhíssimo, quase da minha idade, que ainda vive na minha casa em Natal.
Mas a minha paixão mesmo são os gatos. Muitos já fizeram parte da minha vida. Galileu, sábio, pintado de preto e branco; Everaldo, o gato cinzento que me abandonou uma noite e nunca mais voltou; Júlio Braga III, o gato amarelo, terceiro com este nome, cujo apelido era “Olhinhos ternos”; e Teobaldo, o rei dos gatos, o rei do pedaço, ainda vivo e deslumbrante com seus líquidos olhos contornados de preto, sensual como uma odalisca.
Considero o gato uma das criações mais perfeitas da natureza. É limpo, elegante, preciso, silencioso, auto-suficiente, o que não acontece com os cachorros, que dão mais trabalho do que uma criança pequena e levam todo o tempo livre a cavarem o jardim em busca de ossos inexistentes.
Para encerrar essa conversa sobre gatos, recomendo a leitura do belíssimo poema de Pablo Neruda “Ode o gato”onde, entre outras coisas, ele diz: “Não há unidade / como ele, / não tem / a lua nem a flor / tal contextura: / é uma coisa só / como o sol ou o topázio, / e a elástica linha em seu contorno / firme e sutil é como / a linha da proa de uma nave. / Os seus olhos amarelos / deixaram uma só / ranhura / para jogar as moedas da noite . // Oh pequeno imperador sem orbe, / conquistador sem pátria, / mínimo tigre de salão, nupcial / sultão do céu / das telhas eróticas, / o vento do amor / na intempérie / reclamas / quando passas / e pousas / quatro pés delicados / no solo, / cheirando, / desconfiando / de todo o terrestre, / porque tudo / é imundo / para o imaculado pé do gato.”
E Mark Twain, outro apaixonado por gatos, completa: “Se fosse possível cruzar o homem com o gato melhoraria o homem, mas pioraria o gato.”
E eu assino embaixo.