A eternidade do minuto
Clotilde Tavares | 14 de maio de 2009O escritor Paulo Coelho defende interessante tese em um de seus artigos, desses que são publicados em jornais de todo o país. Diz ele que o desejo de imortalidade é na verdade uma armadilha, e que o camarada que obtivesse tal dom possivelmente seria muito infeliz porque a maioria de nós, seres humanos, somos fortemente resistente às mudanças. Na verdade, diz o escritor, o que gostaríamos era de ser imortais desde que o mundo que esta à nossa volta, como o conhecemos, também ficasse imortal”, ou seja, não se modificasse.
Paulo Coelho dá como exemplo o mito do vampiro, que é aquele cara cujo corpo “não vai seguir o curso normal da natureza; será jovem para sempre, pode viver o tempo que quiser, sem ter de lidar com os problemas relacionados à idade. Seu único regime é um pouco de sangue todos os dias, e seu único cuidado com a pele é evitar a luz do sol – mas afinal isso é um preço muito pequeno que se paga diante de todas as possibilidades de uma vida eterna”, conclui, bem humorado, o escritor.
O mito do vampiro apaixonou gerações, até que, com o advento da Aids, o sangue tornou-se um líquido mais suspeito do que a água do esgoto. O próprio Paulo Coelho, no início de sua carreira, escreveu um livro sobre o tema, o Manual Prático do Vampirismo, livro esse que o próprio escritor fez por onde recolher do mercado tão logo ficou famoso pregando verdades mais amenas e mais voltadas para a “luz”. Eu, como boa bibliófila, tenho meu exemplarzinho bem guardado e não vendo por dinheiro nenhum.
Mas voltando a esse desejo de eternidade, é isso que nos faz ter filhos, escrever livros e plantar árvores, como se diz na sabedoria popular. Com esse objetivo, de eternizar nossa passagem pelo planeta, queremos deixar atrás de nós o maior número possível de marcas, de referências, de lembranças.
É natural do homem querer a eternidade, e as religiões apregoam a vida eterna como uma das suas mais sedutoras possibilidades. Vida eterna sim, mas em outro mundo, no tal “país ignorado do qual ninguém jamais voltou”, nas palavras inspiradas de Shakespeare. Nesse mundo aqui, a vida eterna se tornaria uma complicação porque todos os nossos amigos envelheceriam e morreriam; o homem amado, ao nosso lado, ficaria decrépito e depois também se finaria, e correríamos o perigo, sempre renovado, de não conseguirmos acompanhar a velocidade do avanço tecnológico, tornando-nos analfabetos eletrônicos em poucos anos.
Eternidade? Só a do minuto, deste minuto agora, enquanto você me lê, o único minuto do qual você e eu temos certeza de que é nosso, de que nos pertence e que é, certamente, o nosso minuto mais importante.