Enterrado vivo
Clotilde Tavares | 14 de junho de 2009“…escancarada a porta, apareceu, de pé, a figura altaneira e amortalhada de Lady Madeline Usher. Havia sangue na sua veste branca e vestígios de alguma luta áspera em cada parte do seu corpo emagrecido. Por um momento, ela ficou, trêmula, a vacilar no umbral – depois, com um pequeno grito lamentoso, caiu pesadamente para dentro, sobre o corpo de seu irmão, e, na sua violenta e agora final agonia, o que ela arrastou para o chão foi apenas um cadáver, a vítima dos horrores que ele mesmo previra.”
No conto A Queda da Casa de Usher, Edgard Allan Poe conta uma tragédia de horror, em que a bela Lady Madeline Usher, sofrendo de catalepsia, é enterrada vida. Poe retrata neste conto um terror atávico do ser humano que é ser sepultado por engano, quando ainda há vida no corpo. O terror é tão largo e disseminado que, em diversas culturas, dispositivos variados são adicionados aos ataúdes para que os supostos “enterrados vivos” possam pedir socorro, caso isso aconteça.
Esses casos poderiam ser possíveis em virtude de uma doença rara denominada catalepsia, espécie de ataque que pode durar de alguns minutos até alguns dias, onde as funções orgânicas diminuem de velocidade e intensidade, fazendo que com que pessoas desavisadas e sem maior informação julguem que o indivíduo está morto. A causa da catalepsia é desconhecida; mas acredita-se que hoje em dia, com todo o aparato técnico existente em hospitais e pronto-socorros não é mais possível um caso desses passar despercebido, tendo como consequência o “enterramento vivo” do paciente.
Somente em regiões longínquas sem profisionais médicos ou equipamentos seria possível que um ataque dessse tipo pudesse ser confundido com a morte. Por outro lado, o tema é excitante e dá boa margem para enredos literários, como o fantástico conto de Edgard Allan Poe, citado acima, e muitos outros.
O medo de ser enterrado vivo está associado com outra fobia semelhante: a claustrofobia, uma vez que o enterrado vivo geralmente se acorda fechado em um caixão com espaço minúsculo. Aqui, é bom lembrar de Uma Thurman em Kill Bill II, que sai do túmulo onde a enterraram literalmente “na marra”.
Para lidar com esses medos, um camarada chamado Freud de Melo, advogado, empresário e produtor rural de Hidrolândia, estado de Goiás, já tratou de construir seu túmulo com tudo o que tem direito: TV, celular, alto-falantes, sistema de ventilação e alimentos.
No You Tube tem um video; se você quiser ver, pode clicar aqui.
Eu sempre achei essas histórias todas muito curiosas. Mas é assim que são os seres humanos: curiosos e diferentes pra caramba, dando assunto abundante para blogueiras desocupadas que nem eu.