Umas & Outras

Arte, Cultura, Informação & Humor
  • rss
  • Início
  • Quem sou?
  • #DiretoDaBolha
  • Livraria
  • FotoComTexto

A convalescente

Clotilde Tavares | 8 de julho de 2023
Pode ser uma imagem de 1 pessoa
Nas três ultimas semanas
Andei daqui muito ausente
Sem postar, sem escrever
Nem uma linha somente
Nesse tempo decorrido
Eu que sou apenas gente
Feita de carne e de sangue
Como todo ser vivente
Contrário à minha vontade
Passei do status de gente
Para outra condição
De também ficar doente
Mas logo mais em seguida
Mais do que imediatamente
Fui promovida de novo
De doente a paciente
Os doutores me ajudaram
Com remédios competentes
Logo depois de alguns dias
Tornei-me convalescente
A doença se acalmou
Mas o corpo ainda sente
Parei tudo o que fazia
Até ficar mais potente
Mais disposta e mais feliz
Mais risonha e mais contente
Muito mais armorial
Muito mais inconsequente
Arengueira e atrevida
Isso é o que vem pela frente!
Você que está lendo isso
Me aguarde, que de repente,
Eu volto a ficar saudável
Curiosa, impertinente
Engraçada e encrenqueira
E escrever diariamente
Aqui deixo abraço e beijo
E voltarei brevemente.
*** Postado no Facebook em 4 de julho de 2023
*** Nessa foto eu era a cigana Gipsy, em performance solo na Casa da Ribeira.
Comentários
Comentários desativados em A convalescente
Categorias
Arte, Comportamento, Pop-filosofia
Tags
diverticulite, doença diverticular do cólon, escrever, gipsy, poesia, poesia popular

O PAVÃO MISTERIOSO: quem é o autor do romance?

Clotilde Tavares | 30 de julho de 2014

Por conta dessa minha paixão pelo folheto de cordel “O Pavão Misterioso”, sempre tem gente me perguntando isso ou aquilo sobre essa obra. E é uma peça literária tão rica e variada que qualquer dia desse reúno tudo que já escrevi ou pensei a respeito do “Pavão…” e escrevo um livro somente sobre ele.

Um dos aspectos sobre o qual mais me perguntam é a questão da autoria. Uns dizem que o autor do folheto é João Melquíades Ferreira, enquanto outros sustentam que a autoria pertence a José Camelo de Melo Rezende.

No excelente livro “Memória das Vozes: cantoria, romanceiro & cordel” (Salvador, Fundação Cultural do Estado da Bahia, 2006), na página 68 e seguintes, Idelette Muzart-Fonseca dos Santos nos conta a história dessa controvérsia.

Ela relata que nos anos 1920, José Camelo era cantador de viola pelo interior da Paraíba mas, não sendo bom improvisador, preferia compor romances em versos e cantá-los. Foi assim que compôs a história do Pavão, que cantava por onde ia, em dupla com seu parceiro Romano Elias. Em 1927 Camelo se envolveu com um crime, e teve que passar um tempo no Rio Grande do Norte. Enquanto ele estava sumido, saiu uma edição do folheto tendo como autor o poeta João Melquíades Ferreira.

Quando José Camelo voltou à Paraíba, publicou o romance por sua conta, incluindo no início uma nota acusatória a João Melquíades que aqui transcrevo.

Quem quiser ficar ciente

da história do pavão

leia agora este romance

com calma e muita atenção

que verá que essa história

é minha e de outro não.

 

Há muitos anos versei

essa história e muitos dias

fiz uso dela sozinho

em diversas cantorias

depois dei a cópia dela

ao cantor Romano Elias.

 

O cantor Romano Elias

mostrou-a a um camarada

– a João Melquíade Ferreira

e este fez-me a cilada

de publicá-la porém

está toda adulterada.

 

E como muitas pessoas

enganadas tem comprado

a diversos vendelhões

o romance plagiado

resolvi leva-lo ao prelo

para causar mais agrado.

 

Portanto eu vou começar

a história verdadeira

na estrofe imediata

e no fim ninguém não queira

dizer que ela é produção

de João Melquíade Ferreira.

E aí José Camelo segue com as estrofes do romance, que tem pouquíssimas diferenças daquelas publicadas por Melquíades. Infelizmente, apesar dos cantadores e poetas da época confirmarem a história de José Camelo, a retificação não surtiu muito efeito e, em várias obras que foram escritas depois sobre a literatura de cordel, o folheto é referido como sendo da autoria ora de Melquíades ora de José Camelo, como na “Antologia da Literatura de Cordel”, de Sebastião Nunes Batista, onde ele credita o folheto a ambos os poetas. Descendentes de Melquíades, com razão, ficam abespinhados quando, em algum artigo ou texto, se atribui a autoria a José Camelo.

Para mim, baseada em tudo que li e ouvi, aceito que “O Pavão Misterioso” é da autoria de José Camelo de Melo Rezende. Estou convencida tendo como base a argumentação de Idelette Muzart, que considero uma pesquisadora séria e competente. Além disso, desde jovem, sempre soube – não me perguntem como – que o Pavão era da autoria de José Camelo, vindo tomar conhecimento da controvérsia Camelo/Melquíades já adulta, quando comecei a ler, estudar e pesquisar o tema.

“O Pavão Misterioso” é uma história de eterno encantamento para os meus ouvidos. A literatura de cordel, apesar de escrita, é feita para ser lida em voz alta, e as estrofes dessa obra imortal continuam ecoando na minha mente, na voz de Mamãe, que lia para a gente ouvir sentada no batente da porta, nas noites da minha infância em Campina Grande.


Achei aqui a imagem que orna este post. Não consegui descobrir quem é o “Ari” da assinatura. Penso que é Arievaldo Viana, mas não tenho certeza. Se alguém souber, quem sabe o próprio “Ari”, é só entrar em contato que dou o crédito. Aliás, achei essa imagem tão bonita que imprimi e colei na capa de um dos meus cadernos. 

Comentários
4 Comentários »
Categorias
Arte, Cultura
Tags
autoria no cordel, cordel, folheto de cordel, José Camelo de Melo Rezende, O Pavão Misterioso, poesia popular, Romance do Pavão Misterioso, romanceiro, romanceiro nordestino
Comentários RSS Comentários RSS
Trackback Trackback

Deixe de pantim!

Clotilde Tavares | 27 de dezembro de 2011

Um dia desses, discutia-se numa das listas que freqüento na Internet sobre o significado das palavras “pantim” e “muganga”. Bráulio Tavares escreveu sobre isso um dia desses no seu blog.

x

Papai e Mamãe

Eu passei minha infância ouvindo as duas palavras, incorporadas no rico dialeto caririzeiro-paraibano que Mamãe falava.

Pantim é difícil de definir. É quando você faz algo para “distrair o inimigo”, ou seja, quando negaceia, disfarça, enrola… Ou quando você falsifica uma ação para obter algo que não quer explicar diretamente. Já muganga é trejeito facial ou corporal, careta.

Voltando ao “pantim”, o diálogo abaixo, travado entre meus pais numa noite, explica melhor:

– Nilo, onde tu tava até uma hora dessa? – Mamãe, direta e nada sutil, atacava com a pergunta.

– Mas minha filha, é somente uma da manhã.

– Sim, mas onde tu tava?

– Você sabe Fulano? – começava papai. – Presidente da Associação Comercial? Pois eu encontrei com ele ontem…

– Não tou falando de ontem, mas de hoje. Onde é que tu tava?

– Espere, eu preciso lhe explicar. Você sabe que em Campina, desde que o prefeito mudou, que todos esses órgãos, como a Associação Comercial, a Federação das Indústrias, a…

Era aí que mamãe interrompia, já impaciente:

– “Ômi”, deixa de pantim e diz logo onde é que tu tava até uma hora dessa!

(…)

Postei esse diálogo na lista para exemplificar o que era o tal do pantim. Aí Leo Sodré, participante da lista, escreveu:

– Mas, onde Nilo estava mesmo? É bem capaz de ter levado Omega nessa farrinha…” (Omega era o avô de Leo, amigo de Papai).

Eu escrevi:

– Nilo devia estar com Omega no cabaré de Zefa Tributino, ou na Unidade Moreninha. Os dois assinavam ponto num ou noutro lugar toda noite.” (As referências são à vida noturna de Campina Grande na década de 1950/60)

Aí Bob Motta, que é poeta, escreveu:

Nilo tava c’á bixiga, (A)
e se sintindo no céu. (B)
Lhe juro, Crotilde, amiga, (A)
foi de beréu in beréu. (B)
Teve lá no Canaríin, (C)
dispôi saiu de finíin, (C)
mode qui num tava só; (X)
duis putêro de Campina, (D)
visitô os das Bunina, (D)
da Prata e Bodocongó… (X)

O poeta Bob Motta.

(Veja o esquema de rimas: o 1º verso rima com o 3º; — o 2º com o 4º; — o 5º com o 6º; — o 7º com o 10º; — e o 8º com o 9º. A estrofe é uma décima que comporta variados esquemas de rima, sendo este citado apenas um deles. A métrica é sete sílabas, redondilha maior, que você reproduz pronunciando em voz alta as palavras “ma-ra-cá, ma-ra-ca-tu”. Além disso, Bob Motta usa a chamada “linguagem matuta”, que consiste em um “português estropiado” – que não é usada nem pelo cantador de viola, nem pelo autor de folhetos de cordel e nem por mim, que procuramos usar sempre o português correto, mas é característica da chamada “poesia matuta”, cujo principal representante foi o poeta Catulo da Paixão Cearense. Forneço essa explicação para que as pessoas entendam como é complexa e rica a arte da poesia popular nordestina.)

Eu, que não deixo verso sem resposta, respondi seguindo o mesmo esquema, mas no calor do improviso deixei escapar a rima da terceira linha.

Nilo não tava sozinho
Na rota da sacanagem
Com o seu amigo Omega
Em total camaradagem
Lá em Zefa Tributino
Beberam uísque do fino
Com Paraguaíta e Nina
E com Chiquinha Dezoito
Pintaram o sete e o oito
Nos cabarés de Campina…

Bob Motta escreveu, repondendo:

Nilo tava de zonzêra,
lá na Ìndios Carirís,
bebeu quage a noite intêra,
no Canaríin, pidiu bis.
Na Unidade Moreninha,
lá nais Bunina intêrinha,
o peste num tava só;
tava prá lá de intêro,
foi in tudo qui é putêro,
da Prata e Bodocongó…

Aí eu fechei:

E quando chegou em casa
Mais pra lá do que pra cá,
Cleuza já tava na brasa
E começou o fuá:
Neguinho, conte direito!
Me conte de todo jeito,
Eu lhe peço mesmo assim!
Onde tu tava, maldito?
Tu acha isso bonito?
Ômi, deixe de pantim!


Este post é dedicado à pesquisadora Maria Alice Amorim, minha especial amiga, cujo trabalho sobre poesia popular está merecendo um post especial somente para ela, coisa que venho devendo há meses.


Comentários
Sem Comentários »
Categorias
Comportamento, Cultura, Curiosidades, Humor, Memória
Tags
Bob Motta, Braulio Tavares, Campina Grande, décima, Eldorado, Leo Sodré, muganga, Nilo Tavares, Omega, pantim, poesia popular, poesia popular nordestina, redondilha maior, Zefa Tributino
Comentários RSS Comentários RSS
Trackback Trackback

Tópicos Recentes

  • GERÚNDIOS
  • ROMANCEIRO VIVO
  • Estranhas iguarias
  • Adiza Santa Cruz Quirino, “Tia Adiza” (1916-1990)
  • Como escolher um texto para encenar na escola?

Tags

barulho barulho urbano biblioteca blog blogosfera Braulio Tavares cabelos brancos Campina Grande Cariri Cariri Paraibano Carnatal cinema comportamento humano corrupção Coxixola cultura popular Design escrever escritor Fotografia e design gatos Gerúndios Hamlet Harold Bloom hoax idade Internet leitura Literatura literatura de cordel livros meio ambiente Memória Moda mundo blog Natal Nilo Tavares padrão de atendimento Paraíba poesia sertão Shakespeare teatro turismo Viagem

Categorias

  • Arte (57)
  • Comportamento (202)
  • Cultura (103)
  • Curiosidades (62)
  • Fotografia e design (20)
  • Humor (44)
  • Memória (45)
  • Pop-filosofia (12)
  • Qualidade de vida (30)
  • Sem categoria (39)
  • Tecnologia e Internet (26)
  • Uncategorized (65)
  • Viagens e turismo (27)

Páginas

  • #DiretoDaBolha
  • Livraria
  • Quem sou?

Arquivos

  • julho 2024 (4)
  • julho 2023 (7)
  • março 2023 (1)
  • abril 2022 (1)
  • novembro 2021 (1)
  • junho 2021 (2)
  • abril 2021 (6)
  • agosto 2020 (1)
  • julho 2020 (1)
  • junho 2020 (1)
  • outubro 2019 (2)
  • abril 2018 (1)
  • janeiro 2018 (5)
  • novembro 2017 (1)
  • agosto 2017 (2)
  • junho 2017 (1)
  • maio 2017 (2)
  • março 2015 (1)
  • fevereiro 2015 (4)
  • janeiro 2015 (9)
  • julho 2014 (2)
  • maio 2014 (4)
  • dezembro 2013 (1)
  • setembro 2013 (6)
  • junho 2013 (1)
  • março 2013 (1)
  • setembro 2012 (3)
  • agosto 2012 (1)
  • maio 2012 (1)
  • fevereiro 2012 (1)
  • janeiro 2012 (1)
  • dezembro 2011 (5)
  • novembro 2011 (2)
  • outubro 2011 (3)
  • junho 2011 (1)
  • maio 2011 (2)
  • abril 2011 (3)
  • janeiro 2011 (14)
  • outubro 2010 (3)
  • setembro 2010 (11)
  • agosto 2010 (3)
  • julho 2010 (5)
  • junho 2010 (2)
  • maio 2010 (5)
  • abril 2010 (13)
  • março 2010 (19)
  • fevereiro 2010 (18)
  • janeiro 2010 (17)
  • dezembro 2009 (25)
  • novembro 2009 (28)
  • outubro 2009 (31)
  • setembro 2009 (29)
  • agosto 2009 (28)
  • julho 2009 (30)
  • junho 2009 (27)
  • maio 2009 (29)
  • abril 2009 (29)
  • março 2009 (6)

Agenda

maio 2025
D S T Q Q S S
 123
45678910
11121314151617
18192021222324
25262728293031
« jul    

Meta

  • Acessar
  • Feed de posts
  • Feed de comentários
  • WordPress.org
rss Comentários RSS valid xhtml 1.1 design by jide powered by Wordpress get firefox