Rocky, um lutador
Clotilde Tavares | 4 de julho de 2009O meu caro leitor já deve conhecer aquela história do homem que ia todo dia à Igreja rezar, de frente à imagem de São José, pedindo para acertar na mega-sena. Diariamente, chovesse ou fizesse sol, lá estava a criatura, de mãos postas, infernizando o santo com o insistente pedido. Um dia, São José perdeu a paciência e falou: “Tudo bem, meu filho. Seu pedido está concedido. Mas, pelo menos, jogue…”
É isso. A maioria de nós quer que as coisas caiam do céu sem que precisemos fazer o menor esforço, como o homem da nossa história, que não jogava mas almejava ganhar na loteria. Todas as histórias de sucesso mostram que é preciso correr atrás, é preciso batalhar, ter força de vontade, ser insistente e, principalmente, ter um sonho e acreditar nele.
Uma história emblemática dessa situação é a do filme “Rocky, um lutador”, estrelado por Silvester Stallone, e que conta a história do boxeador Rocky Balboa, um boxeador medíocre, que tem a grande chance de sua vida quando lhe oferecem uma luta pelo título mundial contra o grande campeão americano.
A história deste filme começou com uma idéia, um “insight”. Stallone estava vendo uma luta de box na TV quando teve a idéia de usar a figura do boxeador como o modelo do trabalhador americano, que luta e peleja pelo seu sonho. Aí trancou-se em um quarto de hotel e em três dias escreveu o roteiro. Nessa época ele estava desempregado e tinha apenas 108 dólares na conta bancária.
Levou o projeto aos estúdios, mas queria dirigir o filme para que não fosse deturpada a sua idéia original. Ofereceram-lhe 20 mil dólares, depois 80 mil , 200 mil chegando até 320 mil dólares para não o incluir como diretor do filme. Ele não abriu mão e, finalmente, um dos estúdios concordou em deixá-lo dirigir, pagando-lhe apenas 340 dólares por semana e somente 20 mil pelo roteiro que, depois de impostos e taxas, rendeu-lhe líquido apenas 8 mil dólares. Além disso fizeram-lhe assinar um termo onde ele se comprometia a gastar apenas um milhão de dólares na produção, o que é uma quantia irrisória para Hollywood em produções desse porte.
O resto da história todos já sabem. O filme fez sucesso no mundo inteiro, teve quatro continuações e rendeu 225 milhões de dólares aos estúdios, além de ter ganho o Oscar de melhor filme e direção, com indicações para melhor ator e roteiro.
Se Stallone houvesse vendido o roteiro pelos 20 mil iniciais – o que talvez fosse um bom negócio, já que ele estava desempregado e com pouco dinheiro, o estúdio teria fatalmente modificado o roteiro e transformado a história em outra coisa. No entanto, ele acreditou na força da sua idéia original e concordou em trabalhar por uma remuneração ínfima somente para mantê-la. No fundo, no fundo, obedecendo à profunda orientação da sua intuição, ele sabia que estava no caminho certo, e deve ter ouvido muitas críticas de familiares e amigos quando não vendeu o roteiro pelo preço inicialmente oferecido pelo estúdio.
Foi sorte? Não parece. Foi força de vontade, persistência e crença profunda nas magníficas forças do sonho e da intuição, que costumamos desprezar nessa nossa vidinha materialista e focada no lucro fácil e imediato. Fica aqui a história e a dica para ir até a locadora e rever este maravilhoso filme, que a maioria já viu, mas que vai ver agora com olhos diferentes.