Superpoderes
Clotilde Tavares | 24 de agosto de 2009Um dia desses a gente estava conversando sobre os super-heróis das histórias em quadrinhos e seus superpoderes. E circulou a questão: qual o superpoder que você gostaria de ter? Saiu de tudo: voar, ficar invisível, ler o pensamento dos outros, enxergar através das paredes, transformar-se em outra pessoa… Alguns falaram que tudo isso só tinha utilidade se fosse, também a exemplo dos super-heróis, para ajudar aos fracos e oprimidos.
Aí eu fiquei pensando que, se observarmos bem direitinho, todos nós temos esses superpoderes. Pelo menos eu tenho, e se eu tenho, caro leitor, você também tem. Por exemplo: voar. É verdade que não podemos voar fisicamente, suspensos no ar como o faz o Super-Homem, mas podemos voar nas asas da imaginação, nos transportando para qualquer lugar – ou época – que a gente queira. Quanto a ler o pensamento dos outros, nada mais fácil, uma vez que as pessoas, através de seus gestos, olhares e posturas estão sempre traindo a si mesmas, se entregando e revelando o que pensam. Com um pouco de observação, você é capaz de saber quase exatamente o que se passa na cabeça do seu semelhante, na maioria das ocasiões.
A habilidade de enxergar através das paredes, a famosa visão de Raios-X, talvez não seja um superpoder muito agradável, uma vez que entrar na intimidade dos outros sempre nos revela coisas que talvez fosse melhor ficar sem saber. Transformar-se em outra pessoa, característica dos X-Men, é coisa que venho fazendo há muito tempo no teatro, quando já fui uma condessa do século XII, um vagabundo sem vintém, uma cigana velha e cheia de histórias, uma suave velhinha com seu tricô e óculos ou uma dona de casa viciada em novelas de rádio, entre outros personagens já assumidos e representados no palco.
Mas a característica maior dos super-heróis, que é ajudar os fracos e oprimidos, está ao alcance de todos nós e graças a Deus e não precisa de superpoder nenhum: basta coragem e determinação. Isso é coisa que venho fazendo há muito tempo, quando boto a boca no trombone para defender aquelas causas que abracei, como a causa do teatro, da arte, e da cultura, causas essas que sempre estão lutando com dificuldade nesta terra-brasilis de muita burocracia e pouca sensibilidade.
Pensando nessa história de superpoderes me vem à mente uma coisa que os super-heróis não têm, mas que seria um super-super-superpoder pra lá de genial: a possibilidade de comer de tudo sem engordar. Essa realmente seria uma super-habilidade fantástica e que muito nos auxiliaria na eterna briga com a balança e a fita métrica.
Finalmente, a capacidade de se tornar invisível, que todos pensam ser algo impossível, eu garanto que é muito fácil e dou a receita ao meu leitor: é só entrar em qualquer repartição pública para resolver um problema. É como se você fosse invisível, na busca desesperada de atenção de algum funcionário. Reclamar qualquer coisa em repartição pública é garantia de invisibilidade na certa. Experimente.