Preciso salvar o planeta
Clotilde Tavares | 18 de abril de 2021Eu esqueço muito das coisas. Não é da idade. Sempre foi assim, mas somente para determinadas coisas, como nomes de filmes e livros, personagens e enredos de livros, filmes e séries. Não sei se é ruim, parece ruim, mas se você imaginar que eu tenho uns dez ou doze livros de Agatha Christie que vivo lendo sempre, porque sempre me esqueço de quem é o criminoso, talvez possa haver alguma vantagem.
Nas séries de TV, eu tenho procurado ver apenas aquelas que têm a série completa, com todas as temporadas, porque senão quando chega a temporada seguinte eu não me lembro mais da anterior, aí lá vou eu ver tudo de novo.
Com as séries escritas é a mesma coisa. Eu acompanho uma série do escritor inglês Bernard Cornwell, Crônicas Saxônicas, que já está no 12° volume. Toda vez que chega um novo, eu tenho que ler o anterior, e às vezes até recuar uns dois ou três volumes para me situar na história. Tanto assim que do 6º ou 7° em diante eu venho fazendo resumos na última página para não esquecer.
Uma das coisas que mais gosto em termos de filme e série é o Universo Marvel. Alguns desses heróis me acompanham desde a juventude e eu gosto muito da temática, principalmente aquela explorada no cinema. São grupos e subgrupos de heróis, mas o que eu gosto é aquele conhecido como A Saga do Infinito, com 23 filmes até agora divididos em várias fases. Os meus heróis preferidos são Tony Stark (o Homem de Ferro), Thor e Natasha.
Esses tais 23 filmes têm uma ordem de acontecimentos, como se fosse uma série. Há caraterísticas especiais em cada episódio, como a cena final depois dos créditos onde há um spoiler dos próximos acontecimentos, e a onda de procurar Stan Lee, que sempre faz uma presença nos filmes (com o fazia Hitchcock nos seus), e por aí vai.
O caso é que, vez por outra, por motivos variados, me desligo dessas minhas obrigações com a cultura pop e só venho me lembrar do Universo quando alguém fala nele, ou estreia um filme novo. Foi isso que aconteceu agora quando eu pedi uma indicação de série a Ana Morena e ela me mandou ver Wanda Vision. Pensa que eu sabia o que era? Aí ela disse que era do Universo Marvel e eu lembrei que já havia passado por sufoco semelhante.
Nessa hora é que eu peço permissão para plagiar a mim mesma e escrever por cima de um texto de maio de 2019, que é sobre o mesmo tema. E aviso que, enquanto eu viver, e lançarem novidades no Universo Marvel, eu vou continuar escrevendo, ou melhor, sobrescrevendo esse texto.
Em maio de 2019 os cinemas da cidade estrearam o filme Vingadores Ultimato. Lembrei então que tinha parado de acompanhar a série em 2015, com Vingadores A Era de Ultron sendo o último que eu tinha visto.
Como gosto das coisas na ordem, o 2 depois do 1 e o 3 depois do 2, para me deixar em paz com meu temperamento levemente T.O.C. tratei de atualizar a série e vi, em poucos dias, nove filmes, que estrearam entre 2015 e 2019, pela ordem. Foi uma delícia. Então eu vi
1) Homem Formiga, com esse maravilhoso ator Paul Rudd que era o marido de Phoebe em Friends e que eu adoro. E aquela coisa de aumentar e diminuir de tamanho, quem nunca? Ah, e Michael Douglas que finalmente encontrou um canal para exercer a canastrice? Filmaço.
2) Capitão América: Guerra Civil que eu não tinha visto ainda, como é possível? Com a famosa cena do aeroporto? E quando saio um pouco da fantasia realizo que deve ser difícil para a prefeitura de uma cidade ter um time como esse dos Vingadores defendo a urbe, no sentido que para defender quebram a cidade inteira. Mas é comics, é fantasy, vamos simbora botar os prédios abaixo.
3) Doutor Estranho, que estranhamente não faz parte do meu imaginário pois eu gostava dessas revistinhas até a adolescência. Como sou velha pra caramba o que rolou depois dos anos 1960 eu desconheço, como esse Dr. Estranho. Não consigo despregar a imagem desse ator do personagem de Sherlock Holmes, e fiquei o tempo todo esperando Watson; mas amei todos os efeitos especiais, como aquele dos espelhos e da realidade se torcendo sobre si mesma.
4) Amei amei amei os Guardiões da Galáxia vol2, com aqueles bichos sem noção e o Groot pequenino. No final, nos créditos, o *I am Groot* fica aparecendo por cima dos nomes… Os piratas do espaço e aquelas mulheres douradas – que coisas mais lindas! – me fizeram louvar o figurino, maquilage e direção de arte. Mas o melhor dos Guardiões para mim é a trilha sonora.
5) Nunca gostei muito do personagem do Homem-Aranha. Mas nesse filme HomeComing eu terminei curtindo muito a versão. Aquele outro, mais adulto, sempre achei chato. Esse adolescente, terno e atrapalhado com seus superpoderes é muito fofo.
6) Meu eterno herói, Thor, está nesse Thor Ragnarok, que é um verdadeiro deslumbre! Que Thor rico e maravilhoso com seu novo corte de cabelo! Que homem lindo! Aquela mulher vilã irmã dele, com aqueles adereços sobre a cabeça! Ai minha nossa senhora do Figurino! Ai João Marcelino! Thor é um filme que sempre preciso ver várias vezes. Estou apenas na primeira vez com esse.
7) Pantera Negra e essa concepção do país Wakanda, isolado do mundo no meio da floresta e com alta tecnologia, é algo que me encanta. Outro filme pra ser visto várias vezes desfrutando dos detalhes. Todos muito lindo e sobretudo as mulheres! Belíssimas.
8) Vingadores Guerra Infinita foi o oitavo filme, e na época eu não consegui entender em que Universo Paralelo eu estava quando esse filme passou no cinema e não fui assistir. A volta de Hulk, de Buck (ai, Buck!) e da turma toda reunida foi muito legal. Na época, minha percepção sobre Thanos, o vilão, foi cheia de compaixão por sua humanidade e tristeza! Um vilão profundo, quase shakespeariano, cansado, acreditando na sua missão! Hoje, não sei se por causa do vilão que nos preside, só vi um genocida, querendo acabar com metade do mundo para resolver o problema da fome e da pobreza.
9) Homem-Formiga volta e dessa vez com a Vespa. De novo o lindo Paul Hudd, atrapalhado e engraçado. Que filme delicioso, com policiais estúpidos e heróis espertos. É também uma trilha sonora muito gostosa que faz você querer ver o filme e dançar ao mesmo tempo. Amo o universo formical, com aquelas formigas ótimas e a cena em que eles veem o filme antiquíssimo das formigas gigantes – como era o nome? O Mundo Em Perigo? Só o povo da minha idade se lembra – mas que cena! E Michelle Pfiffer como Mrs. Pym, linda, etérea, quântica… Adorei.
Na época, meu projeto incluía ver também a Capitã Marvel, que na minha infância era homem, chamava-se Billy Batson e se transformava gritando a palavra Shazam! – bem, agora é mulher e linda. Como tinha sido lançado há pouco tempo, ainda não estava disponível nos sites de streaming. O mesmo se deu com Homem Aranha Longe de Casa.
Fiquei dias atordoada, pois as imagens pregam dentro da cabeça e pra todo canto que olhava via heróis, martelos e escudos que voam, formigões, deuses louros e negros, as rugas de Thanos e a cara cínica e maravilhosa de Loki – porque eu sempre amei Thor mas também amo Loki.
Voltemos então a esta realidade agora de abril de 2021, tendo eu novamente perdido o contato com este universo, sem saber quem é Wanda ou quem é Vision, ou se é uma coisa só, Wanda Vision, nome e sobrenome. Peço help, socorro e ajuda a Ana Morena: de onde saiu isso? – É dos Vingadores, mãe, responde. E então fui ver o primeiro dos três e logo nas primeiras cenas me lembrei de tudo. A memória só quer um fio, só quer um estímulo, e lá estavam os gêmeos (Wanda, a Feiticeira Vermelha, é um deles) e no final o Vision, e a paixão entre ambos. Mas aí eu resolvi ver os três filmes de novo porque parece que o início da série tem a ver com o fim do terceiro Vingadores, que é o Vingadores Ultimato.
Então, atirando para cima os textos acadêmicos que eu deveria estar estudando para a terceira avaliação do meu curso de Bacharelado em História na UFRN, fechei as cortinas e me entreguei à deliciosa empreitada.
Não sei quando vou dormir. Ou se ainda vou dormir.
Preciso salvar o planeta.