A máquina de escrever
Clotilde Tavares | 6 de maio de 2009Um dia desses, o médico Marcus Aranha, em artigo no Correio da Paraíba, falava sobre uma máquina de escrever muito querida, uma velha Olivetti que o acompanhou durante muito tempo na sua atividade de escrever.
As pessoas de menos de 25 anos não sabem o que é isso. Muitas delas provavelmente jamais se sentaram em frente a uma máquina de escrever e, ao som do matraquear de suas teclas, escreveram poesias, contos ou trabalhos escolares.
Há uma deliciosa crônica de Mario Prata, que você pode ler inteirinha no site do autor, que conta como duas crianças explicam para a mãe sobre um curioso artefato que encontraram nos guardados de uma velha tia.
As crianças dizem que é uma máquina tipo um teclado de computador e que há uma “impressora” ligada nesse teclado, só que sem fio. E continuam maravilhadas dizendo que é só digitar que a máquina imprime direto na folha de papel, sem precisar “aquela chatice” de ligar o computador, esperar entrar, entrar no Word, escrever olhando na tela, mandar para a impressora e esperar imprimir, sem precisar ligar na tomada, nem comprar cartucho, nem nada. E o único problema da máquina – que as crianças consideram de menor importância – é que não dá para trocar a fonte nem aumentar a letra!
É curioso como coisas tão indispensáveis como as máquinas de escrever se tornaram obsoletas do dia para a noite com o advento dos computadores, que simplificaram e embelezaram o trabalho de compor nossos textos, com uma variedade de tipos e formatos que tornam qualquer criança da terceira série de hoje mais cheia de recursos do que as grandes gráficas de quarenta anos atrás.
Ah, meu caro leitor! Os milagres da tecnologia são tantos que nos fazem esquecer da boa, sólida e valorosa máquina de escrever. Eu mesma, que escrevo à máquina desde os doze anos de idade, muitas vezes adormeci ao som do seu suave batucar enquanto papai escrevia na sala de jantar.
Acordava no meio da noite e lá estava o barulho da máquina, aqui e ali cortado por pausas, umas curtas, outras mais longas, as pausas da inspiração, durante as quais ele pensava, meditava, e fazia contato com esse terreno misterioso de onde vêm as idéias. Dali, daquela valente máquina, o meu pai tirava os seus textos, poemas e, mais do que tudo, o nosso sustento. Posso dizer que, em todos os aspectos, devo o que sou hoje a uma máquina de escrever.
E já que andei mexendo no baú das velharias, uma foto do passado.